Mais uma semana, e o
mundo continua virado de cabeça para baixo. Ninguém sabe onde a pandemia do
coronavírus Covid-19 vai parar, e depois da Itália, parece que os Estados
Unidos são a bola da vez, com os casos e número de mortes começando a decolar
na Terra do Tio Sam, a ponto de fazer o governo em Washington praticamente
“garfar” as encomendas de materiais médicos da China que seriam destinadas a
países como França e Brasil, em virtude dos estadunidenses oferecerem-se para
pagar bem mais que estas nações. Enquanto a situação mundo afora ainda parece
correr solta, no mau sentido da expressão, o mundo do automobilismo continua
com o pé no breque, e com as perspectivas de se normalizar sendo adiadas
paulatinamente, tanto quanto possível, até que se possa ter um horizonte mais
confiável.
Mas, enquanto isso não
acontece, alguns problemas surgem. E um deles tem a ver com os contratos dos
pilotos, onde na F-1, temos vários casos de titulares das escuderias da competição
que não tem contratos para 2021, com seus atuais vínculos de trabalho vencendo
ao fim de 2020, ou sendo mais específico, ao fim da temporada de 2020. Mas, e
se a temporada deste ano não terminar em 2020? Começam a pipocar alguns boatos
de que, dependendo de quando as atividades puderem voltar ao normal, o
campeonato poderia ser prorrogado em mais um mês ou dois, para acomodar algumas
corridas. A MotoGP já cogita tal possibilidade, de que a temporada de 2020
possa terminar apenas em janeiro do ano que vem, e com algum exagero, até mesmo
em fevereiro. Tudo isso, contudo, ainda não passam de estudos para ver o que se
pode fazer para tentar salvar as competições prejudicadas pela pandemia, que
ainda segue a toda mundo afora.
E dois nomes
importantes da F-1 encontram-se nesta situação: Lewis Hamilton e Sebastian
Vettel. O primeiro, piloto da Mercedes, tinha boas chances de vencer a
temporada de 2020, e com isso, igualar o heptacampeonato de Michael Schumacher,
e até de ultrapassar o número de vitórias do piloto alemão, o que faria do
inglês o maior vencedor e campeão da história da categoria. E ele estava no
meio das conversas de renovação com a Mercedes, seu time atual, para a
temporada de 2021. Falou-se até mesmo na possibilidade de ele ir para a Ferrari,
uma vez que inicialmente, em 2021 a F-1 adotaria novas regras técnicas para
tentar equalizar a competição e torna-la mais acessível, mas com a categoria
mantendo o regulamento técnico para o próximo ano, as chances de Lewis renovar
com o time prateado tornam-se sua única opção viável para o momento. Uma ameaça
potencial, que seria a contratação de Max Verstappen, desapareceu depois que a
Red Bull renovou com o holandês por várias temporadas, até 2023, procurando se
garantir do assédio sobre seu principal astro no time. A questão agora seria
sobre o valor do contrato, e as discussões estariam focadas não apenas nisso,
mas também na duração do acordo. Se conquistar o sétimo título mundial, ninguém
duvida que a meta de Hamilton seria alcançar o oitavo título, o que faria dele
o maior de todos os campeões da F-1. E Lewis sabe que, no presente momento, a
Mercedes é que pode lhe dar os melhores meios para isso. E, com a manutenção do
regulamento técnico para 2021, adiando as novas normas para 2020, as chances de
Hamilton continuar como grande favorito também no próximo ano crescem bastante,
já que, antes da competição começar, a Mercedes tinha tudo para ser o time
dominante na competição. A esta altura da carreira, Lewis poderia optar por um
valor de contrato um pouco menos vistoso, só para garantir as melhores
condições de competitividade na categoria máxima do automobilismo. Ele já
ganhou o bastante para pode ser um pouco mais flexível com relação a seu valor
de contrato. E claro, a Mercedes não iria querer perde-lo, mas sabe que tem
este grande trunfo na mão, de possuir o equipamento mais competitivo.
Lewis Hamilton tem o caminho mais óbvio pela frente, que é renovar com a Mercedes. Basta ele não complicar a situação, pois sabe que o time prateado ainda é o melhor da F-1. |
A situação de
Sebastian Vettel, por outro lado, é mais complicada. Com o seu contrato
vencendo também ao fim do ano, o piloto alemão ainda não assegurou seu lugar na
F-1 em 2021. A hipótese mais lógica é renovar com a Ferrari, seu time atual, e
continuar, em tese, tendo à sua disposição um carro competitivo, e defender um
time de ponta. O problema é que Sebastian está se tornando página virada no
time italiano, que ao renovar com Charles Le Clerc até 2024, já indicou que o
monegasco é sua aposta para o futuro, e que Vettel, antes a estrela, pode virar
um coadjuvante de luxo na escuderia, a exemplo do que fez com Kimi Raikkonen,
quando o finlandês retornou ao time para ocupar o lugar de Felipe Massa, que
não estava rendendo o que os italianos esperavam. Só que Kimi, que foi o último
campeão pelo time italiano, em 2007, ficaria à sombra de seus companheiros de
equipe, primeiro de Fernando Alonso, em 2014, e depois do próprio Vettel, de
2015 a 2018. E todos se perguntam se o piloto alemão se prestará a esse papel.
Segundo se comenta, a
proposta da Ferrari já teria sido feita: uma renovação, mas por apenas um ano,
e com um salário consideravelmente menor do que o atual. E, claro, sem o status
de primeiro piloto, ou no mínimo, ter tratamento igual ao de LeClerc. E, neste
ponto, a suspensão do campeonato virou um grande revés para o alemão, que
contava em fazer um bom início de campeonato para poder melhorar sua condição
de negociação, que não andam muito boas. Afinal, as perspectivas da Ferrari de
disputar o título com a Mercedes alcançaram suas melhores possibilidades em
2017 e 2018, e em ambos os anos, ficou nítido que erros cometidos por Vettel em
algumas corridas, se não comprometeram, diminuíram suas chances de pressionar
mais o rival Lewis Hamilton na disputa, especialmente em 2018, onde uma
sucessão de equívocos de Sebastian, em um momento de ligeira superioridade
técnica da Ferrari sobre a Mercedes, facilitou sobremaneira a conquista daquele
que foi o 5º título do piloto inglês. E, no ano passado, em que pese os
problemas técnicos que a escuderia italiana apresentou durante o ano, Vettel
acabou devendo frente ao novo companheiro Charles LeClerc, que acabou se
mostrando mais veloz e competitivo, e mostrando que, não fosse a política
equivocada de apoiar apenas o alemão em certas etapas, poderia ter ido além do
que mostrou.
O resultado todos
sabem: Vettel acabou superado por seu novo companheiro de equipe, LeClerc, na
primeira temporada do monegasco no time italiano. Mostrando-se mais combativo,
arrojado, e sem medo de encarar rivais na pista, Charles conseguiu “roubar” as
atenções do time e da torcida. A renovação de seu contrato com o time rosso até
2023 mostra a aposta de confiança que a escuderia faz no piloto, resultando no
enfraquecimento da posição de Sebastian na escuderia. E é uma situação que
Vettel não gostou de ver se repetir: em 2014, o piloto acabou superado na Red
Bull por Daniel Ricciardo, novato na escuderia. E isso depois do alemão ter
conquistado um tetracampeonato consecutivo nos anos anteriores, feito obtido
apenas por Juan Manuel Fangio, e Michael Schumacher. Foi o que bastou para
Vettel largar a Red Bull e se mandar de mala e cuia para a Ferrari, que já
estava cheia do ego de Fernando Alonso, e contratou o alemão sem pestanejar.
Sebastian Vettel já não anda com a cotação em alta na Ferrari como antes, devido aos erros cometidos nos dois últimos anos, além de perder a disputa com Charles LeClerc em 2019. |
Mas, e agora? Caso
opte por não renovar, e quiser continuar na F-1, para onde Vettel iria? Na Red
Bull, com Max Verstappen sendo o novo queridinho da cúpula da equipe, é óbvio
que não haveria lugar para ele por lá. E na Mercedes, situação parecida com
relação a Lewis Hamilton. Mas começaram a surgir algumas hipóteses, como a de
Vettel aceitar competir pela Renault, um time de fábrica, mas que ainda luta
para voltar a disputar vitórias, e o título da categoria máxima do
automobilismo, como fez em 2005 e 2006, com Fernando Alonso. Vettel já
trabalhou com o pessoal da Renault, que fornecia os motores para a Red Bull
quando ele foi campeão, de 2010 a 2013, e a possibilidade até poderia ser
viável, mas a marca francesa já teria dado indícios de que contar com o
tetracampeão não seria interessante, considerando o alemão um piloto do
“passado”, enquanto eles precisam de um piloto para o futuro do time.
Surgiu também uma
fofoca a respeito da McLaren, onde o time de Woking, que voltará a competir com
unidades de potência da Mercedes no próximo ano, poderia ser um lugar com
potencial para Vettel correr sem muitas cobranças, e ajudar a conduzir o time
de volta às vitórias, e quem sabe, ao título. Mas a McLaren tem no momento uma
dupla equilibrada, relativamente barata, e que não produz brigas nos bastidores
do time, e que até o presente momento, se respeitam e se ajudam na pista, sem guerras
de egos. Vettel, mesmo que não seja tão egocêntrico como Fernando Alonso, já
teve lá seus momentos de chiliques, e no atual momento, a calmaria nos boxes do
time de Woking é um dos preceitos que o time mais preza, com todo mundo
contribuindo para a reascenção do time, e sem vozes discordantes na política de
convivência interna. E tem outro problema nisso: quem seria o “sacrificado”
para a chegada eventual de Vettel? Carlos Sainz Jr. liderou o time nas pistas
em 2019, e só não foi mais além porque o carro da McLaren o deixou na mão em
algumas provas. O espanhol não cometeu erros de monta, e mostrou muita
velocidade e capacidade, surpreendendo muitos. E Lando Norris, mesmo que tenha
sido superado por Sainz, por estar em seu primeiro ano na F-1, mostrou o
potencial que levou a McLaren a promove-lo como titular da escuderia, sabendo
que o garoto ainda tem muito o que mostrar, além de também ter sido traído pelo
carro em algumas oportunidades.
Vettel, por outro
lado, já fala que dinheiro não é o mais importante, e que a felicidade importa
muito mais para ele neste momento. Isso poderia indicar que o alemão aceitaria
a redução salarial proposta por Maranello, e quem sabe, talvez até signifique
que ele poderia abrir mão de ser o protagonista do time, desde que ainda
pudesse correr com liberdade para vencer. Vettel já ganhou muito dinheiro, e
poderia optar por poder competir ainda em um esquema de ponta, ganhando menos,
enquanto ainda sentir prazer de pilotar. E o fato de não ser o primeiro piloto
também poderia lhe dar mais tranquilidade para trabalhar, com a maioria das
cobranças do time e da torcida recaindo sobre LeClerc. Isso talvez deixasse
Sebastian pilotar sem maiores pressões, algo sempre complicado quando se trata
do time italiano, que tem a mais apaixonada torcida do mundo, mas também a mais
implacável, quando sente que time e piloto estão fazendo corpo mole nas pistas.
Casado, e pai de
família, a quem mantém com discrição, longe dos holofotes, Vettel também
poderia optar por deixar a F-1, e quem sabe, pendurar o capacete em definitivo,
ou ir se divertir em algum campeonato menos estressante que a F-1, e com menos
compromissos. Seu currículo na categoria máxima do automobilismo já o coloca
entre os gigantes da história do esporte, e ele poderia sair com seu lugar
garantido nos anais do esporte. Por outro lado, ele poderia também querer se
despedir de forma mais digna, tentando mostrar ao mundo que ele ainda é aquele
campeão que surpreendeu o mundo no início dos últimos dez anos, e que não fez
aquilo somente por ter o melhor carro, como muitos de seus críticos falam, por
ter corrido praticamente sozinho em pelo menos dois títulos alcançados. Uma
imagem de vencedor que ele poderia querer manter, uma vez que seu prestígio nos
últimos dois anos sofreu vários arranhões indeléveis.
O caso de Hamilton e
Vettel são apenas os dois exemplos mais expostos deste dilema que vários times
da F-1 terão de resolver com vistas à temporada de 2021, enquanto ninguém sabe
como e quando a temporada de 2020 se desenrolará. Vários pilotos tem seus
contratos também encerrando ao fim deste ano, e estão igualmente sem saber como
ficará sua situação para a próxima temporada, e como poderão resolver isso da
melhor maneira.
E, enquanto a situação
não apresentar um mínimo de recuperação da normalidade, nada poderá ser
decidido a contento, restando apenas esperar. E pode ser uma longa espera, não
apenas para pilotos e escuderias, mas também para os próprios fãs...
Caso Sebastian Vettel opte por
sair do time, ou resolva deixar a F-1, comenta-se que a Ferrari já teria alguns
nomes em vista para substituir o piloto alemão, e um deles poderia ser Daniel
Ricciardo, que atualmente está na Renault, mas cujo contrato também se encerra
ao final deste ano. O piloto australiano superou Vettel no ano em que dividiram
a Red Bull, e que por isso mesmo, seu nome teria sido vetado pelo alemão nas
negociações da Ferrari nos últimos anos, fazendo jogo quase declarado pela
manutenção de Kimi Raikkonen como companheiro de time, obviamente sabendo que
sua posição de liderança poderia ser comprometida caso levasse outro banho de
Daniel nos resultados de pista. Só que Sebastian não conseguiu vetar a
contratação de Charles LeClerc, vontade do falecido diretor do time italiano, Sergio
Marchionne, em 2018. Sem Vettel no time, a Ferrari poderia apostar no
australiano, que já demonstrou ser um piloto forte, e que poderia render muito
no time. Depois de sua aposta, que pelo menos no ano passado se mostrou
equivocada, de defender a Renault, e sair da Red Bull, Ricciardo com certeza
abraçaria a sua oportunidade de guiar para um time forte novamente, confiando
no seu taco para encarar Charles LeClerc na pista. Resta saber se a Ferrari vai
querer arriscar contratar alguém que pode desestabilizar o monegasco, caso
comece a andar muito mais do que ele...
E a McLaren se tornou a primeira
equipe da F-1 a adotar uma política de cortes salariais para seus integrantes,
em virtude da paralisação de suas atividades de pista, em decorrência da
pandemia da Covid-19. E vai ser um corte extenso, atingindo até a dupla titular
de pilotos, que terão seus salários reduzidos pelos próximos meses. Vários dos
empregados da escuderia sediada em Woking entrarão em licença pelos próximos 90
dias, passando a receber os salários através da ajuda do governo britânico, que
adotou a medida de oferecer um apoio de cerca de até £ 2.500 para funcionários
de empresas que entrarem em licença especial devido à pandemia. Outros
funcionários, que continuarão trabalhando em expediente reduzido, sofrerão
redução salarial pelos próximos meses. A medida foi tomada pelo time em virtude
do fluxo de caixa estar praticamente paralisado neste momento, devido à
suspensão do campeonato de F-1. Veremos se os outros times adotarão medidas
similares, que cheguem a afetar até mesmo seus pilotos. Lewis Hamilton tem sido
um defensor intenso das medidas aplicadas para tentar debelar o surto do
coronavírus até aqui, e poderia muito bem também passar por tal atitude. Nada
contra a atitude de Lewis, apenas que, para o que ele ganha, não seria
problema, assim como para outros esportistas milionários, passar algum tempo
recebendo menos, para ajudar seu time neste momento... Vejamos o que acontecerá
com os demais times da F-1 em relação a este tipo de atitude...
Dupla de pilotos da McLaren também terá redução de seus salários na crise da Covid-19. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário