sexta-feira, 3 de abril de 2020

RENOVAÇÕES COMPLICADAS


            Mais uma semana, e o mundo continua virado de cabeça para baixo. Ninguém sabe onde a pandemia do coronavírus Covid-19 vai parar, e depois da Itália, parece que os Estados Unidos são a bola da vez, com os casos e número de mortes começando a decolar na Terra do Tio Sam, a ponto de fazer o governo em Washington praticamente “garfar” as encomendas de materiais médicos da China que seriam destinadas a países como França e Brasil, em virtude dos estadunidenses oferecerem-se para pagar bem mais que estas nações. Enquanto a situação mundo afora ainda parece correr solta, no mau sentido da expressão, o mundo do automobilismo continua com o pé no breque, e com as perspectivas de se normalizar sendo adiadas paulatinamente, tanto quanto possível, até que se possa ter um horizonte mais confiável.
            Mas, enquanto isso não acontece, alguns problemas surgem. E um deles tem a ver com os contratos dos pilotos, onde na F-1, temos vários casos de titulares das escuderias da competição que não tem contratos para 2021, com seus atuais vínculos de trabalho vencendo ao fim de 2020, ou sendo mais específico, ao fim da temporada de 2020. Mas, e se a temporada deste ano não terminar em 2020? Começam a pipocar alguns boatos de que, dependendo de quando as atividades puderem voltar ao normal, o campeonato poderia ser prorrogado em mais um mês ou dois, para acomodar algumas corridas. A MotoGP já cogita tal possibilidade, de que a temporada de 2020 possa terminar apenas em janeiro do ano que vem, e com algum exagero, até mesmo em fevereiro. Tudo isso, contudo, ainda não passam de estudos para ver o que se pode fazer para tentar salvar as competições prejudicadas pela pandemia, que ainda segue a toda mundo afora.
            E dois nomes importantes da F-1 encontram-se nesta situação: Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. O primeiro, piloto da Mercedes, tinha boas chances de vencer a temporada de 2020, e com isso, igualar o heptacampeonato de Michael Schumacher, e até de ultrapassar o número de vitórias do piloto alemão, o que faria do inglês o maior vencedor e campeão da história da categoria. E ele estava no meio das conversas de renovação com a Mercedes, seu time atual, para a temporada de 2021. Falou-se até mesmo na possibilidade de ele ir para a Ferrari, uma vez que inicialmente, em 2021 a F-1 adotaria novas regras técnicas para tentar equalizar a competição e torna-la mais acessível, mas com a categoria mantendo o regulamento técnico para o próximo ano, as chances de Lewis renovar com o time prateado tornam-se sua única opção viável para o momento. Uma ameaça potencial, que seria a contratação de Max Verstappen, desapareceu depois que a Red Bull renovou com o holandês por várias temporadas, até 2023, procurando se garantir do assédio sobre seu principal astro no time. A questão agora seria sobre o valor do contrato, e as discussões estariam focadas não apenas nisso, mas também na duração do acordo. Se conquistar o sétimo título mundial, ninguém duvida que a meta de Hamilton seria alcançar o oitavo título, o que faria dele o maior de todos os campeões da F-1. E Lewis sabe que, no presente momento, a Mercedes é que pode lhe dar os melhores meios para isso. E, com a manutenção do regulamento técnico para 2021, adiando as novas normas para 2020, as chances de Hamilton continuar como grande favorito também no próximo ano crescem bastante, já que, antes da competição começar, a Mercedes tinha tudo para ser o time dominante na competição. A esta altura da carreira, Lewis poderia optar por um valor de contrato um pouco menos vistoso, só para garantir as melhores condições de competitividade na categoria máxima do automobilismo. Ele já ganhou o bastante para pode ser um pouco mais flexível com relação a seu valor de contrato. E claro, a Mercedes não iria querer perde-lo, mas sabe que tem este grande trunfo na mão, de possuir o equipamento mais competitivo.
Lewis Hamilton tem o caminho mais óbvio pela frente, que é renovar com a Mercedes. Basta ele não complicar a situação, pois sabe que o time prateado ainda é o melhor da F-1.
            A situação de Sebastian Vettel, por outro lado, é mais complicada. Com o seu contrato vencendo também ao fim do ano, o piloto alemão ainda não assegurou seu lugar na F-1 em 2021. A hipótese mais lógica é renovar com a Ferrari, seu time atual, e continuar, em tese, tendo à sua disposição um carro competitivo, e defender um time de ponta. O problema é que Sebastian está se tornando página virada no time italiano, que ao renovar com Charles Le Clerc até 2024, já indicou que o monegasco é sua aposta para o futuro, e que Vettel, antes a estrela, pode virar um coadjuvante de luxo na escuderia, a exemplo do que fez com Kimi Raikkonen, quando o finlandês retornou ao time para ocupar o lugar de Felipe Massa, que não estava rendendo o que os italianos esperavam. Só que Kimi, que foi o último campeão pelo time italiano, em 2007, ficaria à sombra de seus companheiros de equipe, primeiro de Fernando Alonso, em 2014, e depois do próprio Vettel, de 2015 a 2018. E todos se perguntam se o piloto alemão se prestará a esse papel.
            Segundo se comenta, a proposta da Ferrari já teria sido feita: uma renovação, mas por apenas um ano, e com um salário consideravelmente menor do que o atual. E, claro, sem o status de primeiro piloto, ou no mínimo, ter tratamento igual ao de LeClerc. E, neste ponto, a suspensão do campeonato virou um grande revés para o alemão, que contava em fazer um bom início de campeonato para poder melhorar sua condição de negociação, que não andam muito boas. Afinal, as perspectivas da Ferrari de disputar o título com a Mercedes alcançaram suas melhores possibilidades em 2017 e 2018, e em ambos os anos, ficou nítido que erros cometidos por Vettel em algumas corridas, se não comprometeram, diminuíram suas chances de pressionar mais o rival Lewis Hamilton na disputa, especialmente em 2018, onde uma sucessão de equívocos de Sebastian, em um momento de ligeira superioridade técnica da Ferrari sobre a Mercedes, facilitou sobremaneira a conquista daquele que foi o 5º título do piloto inglês. E, no ano passado, em que pese os problemas técnicos que a escuderia italiana apresentou durante o ano, Vettel acabou devendo frente ao novo companheiro Charles LeClerc, que acabou se mostrando mais veloz e competitivo, e mostrando que, não fosse a política equivocada de apoiar apenas o alemão em certas etapas, poderia ter ido além do que mostrou.
            O resultado todos sabem: Vettel acabou superado por seu novo companheiro de equipe, LeClerc, na primeira temporada do monegasco no time italiano. Mostrando-se mais combativo, arrojado, e sem medo de encarar rivais na pista, Charles conseguiu “roubar” as atenções do time e da torcida. A renovação de seu contrato com o time rosso até 2023 mostra a aposta de confiança que a escuderia faz no piloto, resultando no enfraquecimento da posição de Sebastian na escuderia. E é uma situação que Vettel não gostou de ver se repetir: em 2014, o piloto acabou superado na Red Bull por Daniel Ricciardo, novato na escuderia. E isso depois do alemão ter conquistado um tetracampeonato consecutivo nos anos anteriores, feito obtido apenas por Juan Manuel Fangio, e Michael Schumacher. Foi o que bastou para Vettel largar a Red Bull e se mandar de mala e cuia para a Ferrari, que já estava cheia do ego de Fernando Alonso, e contratou o alemão sem pestanejar.
Sebastian Vettel já não anda com a cotação em alta na Ferrari como antes, devido aos erros cometidos nos dois últimos anos, além de perder a disputa com Charles LeClerc em 2019.
            Mas, e agora? Caso opte por não renovar, e quiser continuar na F-1, para onde Vettel iria? Na Red Bull, com Max Verstappen sendo o novo queridinho da cúpula da equipe, é óbvio que não haveria lugar para ele por lá. E na Mercedes, situação parecida com relação a Lewis Hamilton. Mas começaram a surgir algumas hipóteses, como a de Vettel aceitar competir pela Renault, um time de fábrica, mas que ainda luta para voltar a disputar vitórias, e o título da categoria máxima do automobilismo, como fez em 2005 e 2006, com Fernando Alonso. Vettel já trabalhou com o pessoal da Renault, que fornecia os motores para a Red Bull quando ele foi campeão, de 2010 a 2013, e a possibilidade até poderia ser viável, mas a marca francesa já teria dado indícios de que contar com o tetracampeão não seria interessante, considerando o alemão um piloto do “passado”, enquanto eles precisam de um piloto para o futuro do time.
            Surgiu também uma fofoca a respeito da McLaren, onde o time de Woking, que voltará a competir com unidades de potência da Mercedes no próximo ano, poderia ser um lugar com potencial para Vettel correr sem muitas cobranças, e ajudar a conduzir o time de volta às vitórias, e quem sabe, ao título. Mas a McLaren tem no momento uma dupla equilibrada, relativamente barata, e que não produz brigas nos bastidores do time, e que até o presente momento, se respeitam e se ajudam na pista, sem guerras de egos. Vettel, mesmo que não seja tão egocêntrico como Fernando Alonso, já teve lá seus momentos de chiliques, e no atual momento, a calmaria nos boxes do time de Woking é um dos preceitos que o time mais preza, com todo mundo contribuindo para a reascenção do time, e sem vozes discordantes na política de convivência interna. E tem outro problema nisso: quem seria o “sacrificado” para a chegada eventual de Vettel? Carlos Sainz Jr. liderou o time nas pistas em 2019, e só não foi mais além porque o carro da McLaren o deixou na mão em algumas provas. O espanhol não cometeu erros de monta, e mostrou muita velocidade e capacidade, surpreendendo muitos. E Lando Norris, mesmo que tenha sido superado por Sainz, por estar em seu primeiro ano na F-1, mostrou o potencial que levou a McLaren a promove-lo como titular da escuderia, sabendo que o garoto ainda tem muito o que mostrar, além de também ter sido traído pelo carro em algumas oportunidades.
            Vettel, por outro lado, já fala que dinheiro não é o mais importante, e que a felicidade importa muito mais para ele neste momento. Isso poderia indicar que o alemão aceitaria a redução salarial proposta por Maranello, e quem sabe, talvez até signifique que ele poderia abrir mão de ser o protagonista do time, desde que ainda pudesse correr com liberdade para vencer. Vettel já ganhou muito dinheiro, e poderia optar por poder competir ainda em um esquema de ponta, ganhando menos, enquanto ainda sentir prazer de pilotar. E o fato de não ser o primeiro piloto também poderia lhe dar mais tranquilidade para trabalhar, com a maioria das cobranças do time e da torcida recaindo sobre LeClerc. Isso talvez deixasse Sebastian pilotar sem maiores pressões, algo sempre complicado quando se trata do time italiano, que tem a mais apaixonada torcida do mundo, mas também a mais implacável, quando sente que time e piloto estão fazendo corpo mole nas pistas.
            Casado, e pai de família, a quem mantém com discrição, longe dos holofotes, Vettel também poderia optar por deixar a F-1, e quem sabe, pendurar o capacete em definitivo, ou ir se divertir em algum campeonato menos estressante que a F-1, e com menos compromissos. Seu currículo na categoria máxima do automobilismo já o coloca entre os gigantes da história do esporte, e ele poderia sair com seu lugar garantido nos anais do esporte. Por outro lado, ele poderia também querer se despedir de forma mais digna, tentando mostrar ao mundo que ele ainda é aquele campeão que surpreendeu o mundo no início dos últimos dez anos, e que não fez aquilo somente por ter o melhor carro, como muitos de seus críticos falam, por ter corrido praticamente sozinho em pelo menos dois títulos alcançados. Uma imagem de vencedor que ele poderia querer manter, uma vez que seu prestígio nos últimos dois anos sofreu vários arranhões indeléveis.
            O caso de Hamilton e Vettel são apenas os dois exemplos mais expostos deste dilema que vários times da F-1 terão de resolver com vistas à temporada de 2021, enquanto ninguém sabe como e quando a temporada de 2020 se desenrolará. Vários pilotos tem seus contratos também encerrando ao fim deste ano, e estão igualmente sem saber como ficará sua situação para a próxima temporada, e como poderão resolver isso da melhor maneira.
            E, enquanto a situação não apresentar um mínimo de recuperação da normalidade, nada poderá ser decidido a contento, restando apenas esperar. E pode ser uma longa espera, não apenas para pilotos e escuderias, mas também para os próprios fãs...


Caso Sebastian Vettel opte por sair do time, ou resolva deixar a F-1, comenta-se que a Ferrari já teria alguns nomes em vista para substituir o piloto alemão, e um deles poderia ser Daniel Ricciardo, que atualmente está na Renault, mas cujo contrato também se encerra ao final deste ano. O piloto australiano superou Vettel no ano em que dividiram a Red Bull, e que por isso mesmo, seu nome teria sido vetado pelo alemão nas negociações da Ferrari nos últimos anos, fazendo jogo quase declarado pela manutenção de Kimi Raikkonen como companheiro de time, obviamente sabendo que sua posição de liderança poderia ser comprometida caso levasse outro banho de Daniel nos resultados de pista. Só que Sebastian não conseguiu vetar a contratação de Charles LeClerc, vontade do falecido diretor do time italiano, Sergio Marchionne, em 2018. Sem Vettel no time, a Ferrari poderia apostar no australiano, que já demonstrou ser um piloto forte, e que poderia render muito no time. Depois de sua aposta, que pelo menos no ano passado se mostrou equivocada, de defender a Renault, e sair da Red Bull, Ricciardo com certeza abraçaria a sua oportunidade de guiar para um time forte novamente, confiando no seu taco para encarar Charles LeClerc na pista. Resta saber se a Ferrari vai querer arriscar contratar alguém que pode desestabilizar o monegasco, caso comece a andar muito mais do que ele...
 
Daniel Ricciardo sempre foi vetado por Vettel nas negociações do time italiano, mas pode ter a sua chance, se o alemão não renovar com a Ferrari.

E a McLaren se tornou a primeira equipe da F-1 a adotar uma política de cortes salariais para seus integrantes, em virtude da paralisação de suas atividades de pista, em decorrência da pandemia da Covid-19. E vai ser um corte extenso, atingindo até a dupla titular de pilotos, que terão seus salários reduzidos pelos próximos meses. Vários dos empregados da escuderia sediada em Woking entrarão em licença pelos próximos 90 dias, passando a receber os salários através da ajuda do governo britânico, que adotou a medida de oferecer um apoio de cerca de até £ 2.500 para funcionários de empresas que entrarem em licença especial devido à pandemia. Outros funcionários, que continuarão trabalhando em expediente reduzido, sofrerão redução salarial pelos próximos meses. A medida foi tomada pelo time em virtude do fluxo de caixa estar praticamente paralisado neste momento, devido à suspensão do campeonato de F-1. Veremos se os outros times adotarão medidas similares, que cheguem a afetar até mesmo seus pilotos. Lewis Hamilton tem sido um defensor intenso das medidas aplicadas para tentar debelar o surto do coronavírus até aqui, e poderia muito bem também passar por tal atitude. Nada contra a atitude de Lewis, apenas que, para o que ele ganha, não seria problema, assim como para outros esportistas milionários, passar algum tempo recebendo menos, para ajudar seu time neste momento... Vejamos o que acontecerá com os demais times da F-1 em relação a este tipo de atitude...
Dupla de pilotos da McLaren também terá redução de seus salários na crise da Covid-19.

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