Stirling Moss, ao lado de Lewis Hamilton. Ex-piloto era reverenciado e respeitado por diversos profissionais da F-1, e lamentaram sua morte. |
Enquanto o mundo
continua parado e sem rumo por mais uma semana, ao menos um grande nome do
esporte acabou nos deixando no último domingo, justamente no domingo de páscoa.
Stirling Moss, um dos grandes mitos da história da Fórmula 1, faleceu aos 90
anos de idade, na Inglaterra. Com ele, foi-se o último grande nome que
desbravou as pistas da categoria máxima do automobilismo na sua primeira década
de existência ainda vivo, um nome para se reverenciar junto aos gigantes do
automobilismo mundial. E, que por injustiça das circunstâncias da vida e do
esporte, sem nunca ter sido campeão da F-1.
Sim, isso mesmo.
Stirling Moss até hoje é conhecido como o “maior campeão sem título” da F-1, a
grande menção que sempre faltou em sua carreira na categoria máxima do
automobilismo. Não foi por falta de tentativa, porém. Seu azar foi ter tido que
enfrentar, em sua época, um dos maiores nomes do automobilismo mundial, um
certo argentino chamado Juan Manuel Fangio, que naqueles tempos mais do que
heróicos que travestiam a aura dos pilotos, conseguiu a façanha de ser
pentacampeão mundial, feito que só seria igualado em 2002, por Michael
Schumacher, que conseguiria superar a marca de títulos de Fangio, tornando-se
heptacampeão ao vencer os campeonatos também de 2003 e 2004.
Costumou-se dizer, na
época, que Moss virara uma “sombra” de Fangio, tal o modo como sempre estava
nos calcanhares do piloto argentino. Não é mera força de expressão. Tendo
estreado no Grande Prêmio da Suíça de 1951, Moss só foi se fazer notar na
categoria máxima do automobilismo quatro anos depois, em 1955, ao ter
finalmente um equipamento competitivo que lhe permitisse fazer uso de seu
imenso talento ao volante, a Mercedes “Flecha de Prata”. Ganhou seu primeiro GP
justamente em seu país, a Inglaterra, naquele ano, quando a prova foi disputada
no circuito de Aintree. Marcou 23 pontos, terminando o ano como vice-campeão,
atrás de Fangio, que ali conquistava o seu tricampeonato, já tendo sido campeão
nas temporadas de 1951 e 1954. Pela capacidade de pilotagem, muitos apostavam
que o piloto inglês seria capaz de desbancar o argentino. Ledo engano.
Não que Moss não tenha
tentado. Se em 1955 Fangio venceu com uma relativa folga o campeonato, a
disputa foi bem mais renhida em 1956, com o argentino a ter trabalho com o novo
rival, derrotando-o pela menor margem até então, de apenas 3 pontos (30 para
Fangio, e 27 para Moss), com Stirling conquistando seu segundo vice-campeonato
consecutivo. Em 1957, nova derrota para Moss, com Fangio conquistando seu 5º e
último título, e dando ao inglês mais um vice-título. Todos se perguntavam se
Moss conseguiria desbancar mesmo Fangio. A chance parecia ter chegado em 1958,
quando Juan Manuel Fangio anunciou sua retirada da F-1. Sem o argentino pela
frente, o caminho estaria aberto para Moss finalmente conquistar um título,
não? Nem tanto... em um campeonato equilibrado, o inglês encontrou em um
compatriota, Mike Hawthorn, um inesperado novo algoz, perdendo o título para o
piloto da Ferrari por apenas 1 ponto, ao fim da temporada. Era o quarto
vice-título consecutivo de Moss.
Com a Mercedes, em 1955, no Grande Prêmio da Grã-Bretanha, sua primeira vitória, e o primeiro vice-campeonato na F-1, atrás somente de Juan Manuel Fangio. |
Seria também o último.
Dali em diante, por várias circunstâncias, apesar de ainda continuar vencendo
na F-1, o inglês acabou as temporadas de 1959, 1960, e 1961, em 3º lugar no
campeonato. Uma curiosidade sobre a derrota de 1958 para seu compatriota ganha
ares quase incrédulos nos dias atuais: Mike Hawthorn havia sido desclassificado
do GP de Portugal daquele ano, antepenúltima corrida da temporada, por ter sido
considerado culpado de causar um incidente na prova. Isso o faria perder os
pontos daquela prova, e consequentemente, o título ao fim do campeonato. E foi
o próprio Moss que tratou de inocentar Mike ao informar aos fiscais que o
incidente de que o acusavam ser culpado não fora dele. Seu testemunho, e seu
currículo de piloto, fizeram com que os fiscais revertessem a punição,
devolvendo os pontos a Hawthorn. Sem eles, Stirling poderia ter comemorado um
título, mas nunca se arrependeu do que fez, em um gesto de caráter e
honestidade que muitos hoje em dia poderiam criticar, dado alguns vale-tudos
que já vimos nas pistas em algumas oportunidades.
Em 1962, quis o
destino que Moss acabasse encerrando sua carreira, aos 32 anos. O piloto sofreu
um forte acidente ao volante de um carro Lotus em Goodwood, que o fez ir parar
no hospital, onde ficou praticamente um mês em coma, além de ter ficado com
parte do corpo semiparalisado por vários meses. Refeito, ele até tentou retomar
a carreira, mas viu que não estava mais conseguindo domar o comportamento do
carro como conseguia fazer até então, não sendo capaz de andar no mesmo ritmo.
Preferiu então aposentar o capacete como piloto profissional, uma vez que não
seria justo com os torcedores, por encontrar-se mais lento. Preferiu ser
honesto, e leal a si mesmo, sem tentar iludir ninguém.
Moss, pilotando a Maserati, no Grande Prêmio de Mônaco de 1956, ano de seu segundo vice-título na F-1. |
Terminava ali uma
carreira relativamente bem-sucedida, iniciada em 1948, na Formula 3 500cc
britânica, passando por vários certames e provas diversas, até estrear na F-1,
em 1951. De lá até o fim de sua carreira, foram praticamente mais de 520
provas, com cerca de 212 vitórias, 16 delas só na F-1, onde se tornou o maior
vencedor inglês da competição, marca que levaria três décadas para ser
superada, o que só aconteceu em 1991, quando Nigel Mansell venceu o Grande
Prêmio da França, alcançando sua 17ª vitória, e deixando Moss finalmente para
trás. Stirling mostrava talento com praticamente todos os carros que pilotava,
e entre 1951 e 1961, também disputou as 24 Horas de Le Mans, onde ficou duas
vezes em 2º lugar, além das 12h de Sebring e a prova da Mille Miglia, provas em
que conseguiu anotar uma vitória em cada pista, entre muitas outras corridas.
Sua capacidade de pilotagem era enaltecida pelos rivais, assim como seu caráter
e cavalheirismo. Todos sempre foram unânimes em afirmar que, dos pilotos que
nunca foram campeões na F-1, Moss era o maior de todos, e seus números,
superiores aos de vários pilotos que foram campeões na categoria máxima do
automobilismo, atestam isso.
Encerrada a carreira
de piloto profissional, mas com grande respeito de todos nos meios
automobilísticos, Moss acabaria se tornando repórter da rede ABC dos Estados
Unidos, e nessa função continuou acompanhando a F-1 por mais quase vinte anos,
até deixar a função. Mesmo assim, sempre aparecia aqui e ali em diversos GPs,
como convidado, além de participar de algumas atividades de promoção do
esporte. Em 1990, seu nome foi incluído no Hall da Fama da International
Motorsports, um Hall da Fama dedicado a consagrar aqueles que mais contribuíram
para os esportes a motor em todo o mundo. E no ano 2000, acabou sendo sagrado
“Sir” pela realeza britânica, por seus trabalhados dedicados ao esporte a motor.
Por onde quer que passasse, em um fim de semana de corrida, era sempre reverenciado
e respeitado por aqueles que tinham chance de conhecê-lo, sendo também
entrevistado por muitos profissionais que cobrem o mundo do automobilismo, nas
mais diversas oportunidades.
Em 2016, passou alguns
meses internado em um hospital de Singapura, devido a uma infecção pulmonar.
Com uma saúde já debilitada, o velho piloto sentiu que era hora de sair de
cena, ao menos publicamente. De lá para cá, seu quadro foi aos poucos se
debilitando, até o seu passamento, domingo passado, aos 90 anos de idade. Um grande
ídolo para muitos fãs do esporte a motor, cuja fama, até hoje na Grã-Bretanha,
ainda é imensa, mesmo entre aqueles que nunca o viram pilotar, nem eram
nascidos em sua época. E outra mostra de quão respeitado ele era foi o grande
número de personalidades do mundo da velocidade que prestaram pêsames ao
falecimento do ex-piloto, lamentando o ocorrido, algo que não é pouca coisa.
Descanse em paz,
Stirling Moss, após receber sua derradeira bandeirada de chegada.
Desde a estréia no Grande Prêmio
da Suíça, em Brengartem, até seu último GP, nos Estados Unidos, em Watkins
Glen, Stirling Crawford Moss disputou 66 corridas, obtendo 24 pódios, dos quais
16 vitórias, marcando 16 pole-positions, e 19 voltas mais rápidas, só na F-1.
Levando-se em conta que naqueles anos as temporadas tinham cerca de dez
corridas em média, são números muito bem alcançados, ainda mais em uma época
onde pilotar era um ato de coragem, com pistas e, por vezes, carros que não
ofereciam as melhores condições de segurança, os quais vitimaram vários
pilotos. Não por acaso, no acidente que sofreu em Goodwood, em abril de 1962,
pode-se dizer que Moss teve muita sorte, uma vez que passou praticamente um mês
inconsciente no hospital, antes de recobrar os sentidos. E ainda teve sorte das
sequelas não terem sido graves, mesmo tendo ficado com parte do corpo
semiparalisado por meses. Ao ver que não conseguia mais lidar com o carro com a
mesma capacidade de antes, resolveu parar, já que não conseguia mais ser veloz
como era. E seus números na F-1 demoraram muito tempo para serem igualados e
superados.
Mesmo sem ganhar um título, Moss foi respeitado e reverenciado por diversos rivais e profissionais da F-1. Caráter, carisma e talento marcaram a carreira do piloto inglês. |
Stirling Moss é venerado até hoje
pelos ingleses amantes do esporte a motor, como um dois gigantes do
automobilismo britânico. E isso não leva em conta os escoceses Jackie Stewart e
Jim Clark. Nigel Mansell e Lewis Hamilton, com este último tendo a
possibilidade de se tornar o maior vencedor e campeão da história da F-1,
fizeram questão de lembrar os feitos de seu compatriota, e prestar-lhe o maior
respeito, mesmo que Moss nunca tenha sido campeão da F-1. Apesar de
estigmatizado por ser o piloto com maior número de vice-campeonatos na F-1,
Stirling nunca deixou de ser respeitado por seus torcedores, que sempre
reconheceram seus feitos, e seu talento ao volante. Fico imaginando se Moss
tivesse sido brasileiro, como ele seria tratado por aqui no nosso país, onde só
os campeões são lembrados, e respeitados. A cultura do “segundo colocado ser o
primeiro dos perdedores” certamente teria um prato cheio para esculhambar Moss,
justamente por nunca ter chegado a um título. Rubens Barrichello e Felipe
Massa, que também foram vice-campeões, viraram motivo de chacota e, para muitos
“fãs”, de vergonha nacional do esporte a motor, mesmo tendo números bem
respeitáveis na F-1. Curioso que ambos os dois são respeitados lá fora por quem
curte o universo das corridas, como bons pilotos que foram. Não se trata de
dizer que foram tão bons quanto Moss, mas mesmo assim, ganharam sua parcela de
respeito, sendo criticados e até defenestrados apenas aqui no Brasil, no pior
sentido da palavra. Por estes critérios, de uma grande massa de “fãs”, Moss
poderia ser classificado como o “maior fracassado” da história da F-1, pelos
seus quatro vice-títulos. Felizmente, ele não nasceu brasileiro, para sorte
dele, e menos vergonha nossa, se recebesse tal tratamento de muitos
“entendidos” em competições do esporte a motor deste país...
E a equipe Hass é mais um time a
efetuar corte e dispensa de funcionários, em decorrência da paralisação das
atividades do meio automobilístico devido à pandemia da Covid-19. Os
funcionários da sede britânica do time estadunidense que estão agora de licença
irão receber a ajuda emergencial do governo inglês para auxiliar trabalhadores
com atividades suspensas. Outro time que também resolveu tomar a mesma medida é
a Renault, que possui fábrica na cidade de Enstone. A medida também vale para a
fábrica em Viry-Châtillon, na França, onde a Renault produz seus propulsores.
As licenças devem valer até o fim do mês de maio, dependendo de como a situação
da pandemia progredir nas próximas semanas.
Um time que enfrenta uma situação
preocupante é a Williams. O grupo acabou vendendo sua divisão de engenharia
avançada no final do ano passado, e agora, teria recebido um financiamento de
Michael Latifi, pai de um dos pilotos do time, Nicholas, que faria sua estréia
na F-1 este ano. O empréstimo, calculado e cerca de 50 milhões de libras, teria
sido avalizado com garantias como hipoteca dos terrenos e edifícios da escuderia,
além das instalações e máquinas da fábrica. Também estariam incluídos como
segurança no negócio, os chamados "ativos patrimoniais", na forma de
mais de 100 carros da Williams produzidos na F1, cobrindo 42 anos de história
da equipe, desde os primórdios nos anos 1970. Parte do refinanciamento do time
foi feito com o banco HSBC, de Hong Kong, que já chegou a patrocinar a equipe
de Jackie Stewart na F-1, em fins dos anos 1990. Decididamente, parece que o
time fundado por Frank Williams está cada vez mais andando no fio da navalha
para equilibrar suas contas e sua participação na categoria máxima do
automobilismo, onde já foi uma das forças dominantes da competição, até a
segunda metade dos anos 1990, quando conquistou seu último título, em 1997, com
o canadense Jacques Villeneuve. A última vitória veio em 2012, com o
venezuelano Pastor Maldonado, na Espanha. A última pole, com Felipe Massa, em
2014. O último pódio, com Lance Stroll, em 2017. A má gestão da escuderia,
especialmente nos últimos anos, traça um quadro desanimador para um dos times
mais tradicionais da história da F-1 até hoje. Espero sinceramente que essa
operação não seja mais um prego em um caixão que ameaça fechar mais dia, menos
dia...
Enquanto tudo ainda permanece
indefinido quanto ao início do campeonato da F-1 para 2020, outra prova entra
em possibilidade de ter de ser adiada: o governo da Bélgica estabeleceu a
proibição de eventos no país até o dia 31 de agosto, visando combater a
pandemia da Covid-19. A prova de F-1, marcada inicialmente para 30 de agosto,
poderia ser afetada pela proibição. Caso aconteça, um adiamento poderá ser a
solução, se bem que ainda não dá para fazer a mínima idéia de como serão as
datas das corridas, caso a competição possa ser finamente iniciada, muito
provavelmente a partir de julho, na hipótese mais otimista...
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