Depois de passar pela América do Sul, o Dakar 2020 está agora na Arábia Saudita. E tome areia nas etapas da competição! |
E lá vão eles de novo!
Todo início de ano tem sido a mesma coisa, e em 2020 não poderia ser diferente.
Como que abrindo o ano no mundo da velocidade, o Dakar, o mais famoso e difícil
rali do mundo, está em andamento, e os “loucos do deserto” estão em ação novamente.
Agora, o palco é a Arábia Saudita, depois de praticamente uma década sendo
disputado em terras sul-americanas. No ano passado, o rali já havia tido
problemas para ser disputado em nossas vizinhanças, por problemas financeiros,
tanto que apenas o Peru se prontificou a sediar a competição. E, para este ano,
as coisas ficavam bem mais complicadas.
Afinal, Argentina
mudou de governo, e com uma crise financeira pra lá de brava, e com o país na
iminência de dar outro calote internacional... E o Chile, envolto em seus
protestos? E a Bolívia, onde Evo Morales tentou se perpetuar no poder e quebrou
a cara? No Peru, apesar de calmaria, desta vez não iria ter a mesma facilidade
de financiamento do ano passado... Não é à toa que o Dakar precisou procurar
outros ares. E como os sauditas têm dinheiro sobrando, e querem fazer do
esporte sua nova vitrine para o mundo, procurando mudar um pouco sua imagem pra
lá de conturbada, e até questionável, eis que o famoso rali veio para as areias
sauditas. É um misto de satisfação, mas também de crítica. Se por um lado o
Dakar continua ativo, com mais uma edição, por outro lado, ver que a
organização do rali meio que “se vendeu” aos anfitriões árabes, tendo inclusive
divulgado uma “cartilha” de bons modos para não melindrar os sauditas aos
competidores, pode-se mesmo questionar se a organização do rali não comprometeu
sua independência em troca da sobrevivência para receber o dinheiro árabe...
Uma das dinastias mais
criticadas do mundo, pela rigidez do Islã praticada por lá, em especial com
falta de direitos às mulheres, a Arábia Saudita vem tentando mudar um pouco as
críticas que recebe de meio mundo por causa dessa falta de respeito aos
direitos humanos. Um esforço que poderia ser até louvável, não fosse mais
propaganda para parecerem melhores do que realmente são. A principal vantagem dos
sauditas é serem aliados dos Estados Unidos, pois do contrário, o país
despertaria até mais antipatia do que o Irã e seu também odioso regime islâmico
dos aiatolás, o qual no momento está em uma saia justa com os Estados Unidos
diante destes terem eliminado um dos principais homens do regime, e que há
muito tinha uma extensa folha corrida de atos questionáveis. Mas
concentremo-nos no esporte a motor, pois esse assunto já está dando muito o que
falar no mundo todo, e a atenção aqui é sobre a competição automobilística.
Com seu poderio
econômico, e tentando mudar sua imagem, os sauditas já trouxeram para seu país
a Formula-E, que realizou as corridas iniciais de sua sexta temporada nos
subúrbios de Riad, pelo segundo ano consecutivo. E com o certame de carros
elétricos garantido pelos próximos anos graças a um contrato com polpuda verba
paga pelo governo saudita, a F-E deve correr no país pelos próximos anos, e
agora o mesmo ocorrerá com o Dakar, uma vez que os sauditas também fizeram um
contrato com boas recompensas financeiras que garantirão a prova pelos próximos
cinco anos. E já que dinheiro para competições automobilísticas anda rareando
em outros lugares, não dava para ignorar os petrodólares sauditas. E assim, o
Dakar tem lugar mais uma vez em um único país. Ao menos, o DNA da competição,
que é a disputa nas areias do deserto, está mantida, uma das principais
características do famoso rali, cujo nome hoje virou apenas uma marca,
originado de quando a prova terminava em Dakar, no Senegal, no norte da África,
após ter sua largada em plena Paris, na França. Outros tempos, que dão muita
saudade...
Fernando Alonso é um dos destaques da edição 2020 do Dakar. E o espanhol já passou por alguns problemas na disputa, mas segue animado com a experiência que está vivendo de competir no famoso rali. |
A largada da
competição foi feita no último domingo, dia 5, em Jeddah. Hoje é o sexto dia da
competição, que atinge a metade de sua duração, com um total de 12 dias. Amanhã
é um dia de descanso para todos, e no domingo, todo mundo volta para a
competição, acelerando fundo nos percursos, com previsão de término para o dia
17, em Qiddiyah, próxima à capital Riad. Com um total de 7.856 Km de percurso,
compreendendo trechos cronometrados e trechos de deslocamento, a competição
contou com nada menos do que 147 motos, 87 carros, 47 UTVs, 47 caminhões e 23
quadriciclos, com um total de 557 competidores, de 53 países diferentes.
Destes, o Brasil também está representado, com a presença de Reinaldo Varela e
Gustavo Gugelmin, que vão tentar renovar a coroa na classe dos UTVs, onde foram
campeões em 2018, enquanto teremos também Antônio Lincoln Berrocal disputando a
competição nas motos.
E, como costuma
acontecer, o Dakar, já fez algumas “vítimas” na sua nova edição. Aliás, antes
mesmo da largada ser dada, já houve uma baixa: o tcheco Martin Kolomy, que
faria sua estréia na competição de carros, lesionou a vértebra durante o
shakedown do seu veículo, no dia 2, após sofrer um forte acidente. Com
praticamente uma década competindo no Dakar entre os caminhões, ele ficou fora
de combate antes mesmo da largada. E o ambiente na competição esquentou mesmo
já no seu primeiro dia, e de forma literal, quando o carro do francês Romain
Dumas pegou fogo depois de apenas 65 Km de competição. O piloto e seu navegador
Alex Winocq mal tiveram tempo de abandonar o veículo quando viram as chamas
surgindo, mas conseguiram se salvar enquanto amargavam o abandono prematuro da
competição.
Disputa que, aliás,
como todo Dakar, está fazendo os competidores suarem bastante o macacão. Com as
planilhas sendo entregues aos participantes pouco tempo antes da largada, como
forma de se equilibrar as disputas, algumas surpresas tem ocorrido nas etapas,
e vários pilotos tiveram trabalho para acertarem o rumo, quando não ficavam
perdidos nas areias. Mas, afinal, quem quer vida fácil que ficasse em casa,
pois no Dakar tudo é complicado, e as dificuldades da prova não poupam ninguém,
de novatos a veteranos calejados, todo mundo engole muita areia durante a
competição, com alguns conseguindo se virar um pouco melhor do que o resto,
dependendo da sorte, ou de ter menos azar.
Os "loucos do deserto" aceleram furiosamente suas máquinas mais uma vez, agora em terras sauditas. E areia é o que não falta em mais da metade do percurso total do rali. |
E um dos destaques da
edição deste ano do Dakar é a presença do espanhol Fernando Alonso, competindo
nos carros pela equipe Toyota. O bicampeão mundial de F-1 está literalmente
comendo areia na disputa, tendo enfrentado vários percalços, mas já sabia que
estaria enfrentando uma prova ímpar em termos de dificuldades e complicações, e
ao menos admitiu que esperava apenas chegar ao fim da competição e não fazer
burrada durante as etapas. E depois de um início até promissor, eis que no
segundo dia o espanhol e seu navegador Marc Coma atingiram uma pedra no meio
das dunas que acabou ocasionando a quebra da suspensão dianteira esquerda de
seu carro obrigando a dupla a dar duro para reparar o veículo e retomar a
competição. E depois de conseguirem colocar o veículo de novo para acelerar,
ainda tinham que dosar a velocidade, pois tinham ficado sem o freio dianteiro.
E Alonso tem dito que disputar o Dakar é uma grande experiência. E apesar dos
problemas, Fernando vai pegando o jeito, e nesta quinta-feira, ao terminar em
7º lugar, está em 15º na classificação geral dos carros, com cerca de 3 horas
de desvantagem para o líder, Carlos Sainz.
Aliás, Carlos “El
Matador” Sainz está firme em busca do tricampeonato na competição. O espanhol,
que chegou a anunciar a aposentadoria do rali, mostrou que ainda tem lenha para
queimar, já venceu duas etapas na edição deste ano do Dakar, e é o líder da
categoria dos carros, estando em disputa direta com Nasser Al-Attiyah, do Qatar,
que também busca mais um título na competição. E a disputa entre ambos promete
ser ferrenha, já que Sainz tem apenas 6 minutos de vantagem no cômputo geral, o
que no mundo do rali pode não significar praticamente nada. Um momento ruim
durante uma das etapas e lá se vai a vantagem. É preciso ficar de olho e evitar
quaisquer erros durante o trajeto. E atrás destes dois, com uma desvantagem de
17 minutos, vem outro nome de peso que também quer garantir mais um trófeu,
entre tantos outros, em sua enorme estante: Stéphane Peterhansel, o “Mister
Dakar’, com nada menos do que 13 vitórias no rali. Será que ele garante o 14º
troféu? Se Sainz e Al-Attiyah tiverem algum azar, o francês certamente vai
aproveitar a chance.
Se entre os carros a
chance de um novo título é promessa de uma disputa acirrada entre seus
participantes, no caso dos UTVs, Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin
dificilmente conseguirão repetir o triunfo de 2018. Com vários percalços e
problemas enfrentados até aqui, eles ocupam a 16ª posição em sua classe,
estando com pouco mais de 4 horas de desvantagem para a dupla líder, formada
pelos russos Sergei Kariakin e Anton Vlasiuk. E olhe que Varela e Gugelmim por
pouco não abandonaram a competição logo no primeiro dia, quando tiveram o
volante quebrado, e praticamente repetiram um feito protagonizado por Tazio
Nuvolari décadas atrás, quando o italiano, em competição em um Grand Prix antes
da F-1 ser criada, teve de guiar um carro utilizando chaves de fenda como
volante para se manter na competição. E guiar mais de 150 Km pelos trajetos
off-road do Dakar utilizando esse recurso é praticamente um feito a ser respeitado.
Mesmo que as chances de vitória tenham ido para o espaço, a meta agora é
receber a bandeirada final do Dakar, o que por si só também já é uma grande
vitória, pois não é qualquer um que consegue chegar ao final de competição tão
dura e por vezes implacável com seus participantes. Já nosso outro
representante, Antônio Lincoln Berrocal, ocupa a 73ª posição nas motos, estando
com quase 9 horas e meia de desvantagem para o líder, o estadunidense Ricky
Brabec. Para ele também, chegar ao final valerá como vitória moral, e olha que
a classe das motos é uma onde muitos ficam pelo caminho, vitimados pelo terreno
que percorrem. Todo cuidado é pouco, mas nunca se pode relaxar no acelerador
também...
Clima quente: o carro do francês Romain Dumas pegou fogo logo no primeiro dia de competição, mas o piloto e seu navegador felizmente saíram ilesos. |
Enquanto isso, na
classe dos caminhões, os pesos-pesados do Dakar apresentam mais uma vez a turma
russa da Kamaz em uma disputa quase particular. O trio do veículo Nº 511, formado
por Andrey Karginov, Andrey Mokeev, e Igor Leonov está na dianteira da
competição, com uma vantagem de quase 15 minutos para o trio do veículo 516,
com o trio Anton Shibalov, Dmitrii Nikitin, e Ivan Tatarinov.
Ao menos por enquanto,
até aqui, o rali não teve nenhum problema mais sério. A disputa segue dura e
com os competidores tendo várias dificuldades, mas pelo menos não tivemos
nenhum acidente muito mais sério, ou uma vítima fatal. E isso deve ser
comemorado. É uma competição difícil, onde por mais estrutura e tecnologia que
se tenha à disposição, o a incerteza está presente a todo momento no trajeto da
competição. É a disputa do homem tentando vencer as adversidades do terreno e a
natureza em si, o desafio de superar limites, e provar sua capacidade. E os
problemas que surgem exigem bastante dos competidores, que tem de dar o seu
melhor para superar e ao menos contornar as dificuldades que estão vivenciando.
É uma experiência que, como declarou Fernando Alonso, não tem igual no mundo da
competição do esporte a motor.
E é por isso que os
dakaristas aceleram fundo na competição, muitas vezes em manobras até temerosas
no meio das areias. Não é à toa que eles ganham o apelido de “loucos do deserto”
nesta competição. Pode parecer um desvario, e até um insulto, mas é preciso
certa dose de loucura para desafiar os limites que a natureza nos impõe. Sempre
torcendo, claro, para que todos cheguem bem ao final da competição, e que
aqueles que tenham que abandonar a prova, ao menos possam fazê-lo sem maiores
complicações. E tenham certeza de que muitos estarão novamente presentes no
Dakar 2021, mais uma vez acelerando fundo nas areias do deserto.
Que vençam os
melhores, e todos possam receber na bandeirada final da competição a sua
vitória pessoal de terem conseguido concluir o mais famoso e difícil rali do
mundo. Um desafio para poucos, e perseguido por muitos...
A edição 2020 é a 42ª edição do
Rali Dakar, que foi disputado pela primeira vez em 1979. Naquele ano, a corrida
iniciou-se em Paris, capital da França, na Europa, tendo terminado nas areias de
Dakar, capital do Senegal, no norte da África. A prova foi disputada entre 26
de Dezembro de 1978 e 14 de Janeiro de 1979, e contou com 170 participantes,
dos quais apenas 69 conseguiram receber a bandeirada de chegada em Dakar, após
cerca de 10 mil quilômetros de competição entre Paris, passando pela França e
países do norte da África.
Até 2007, o rali foi disputado
começando na Europa e passando pelo continente africano, tendo sempre Dakar
como ponto final/começo ou passando por lá, com exceção das edições de 1992,
quando a prova terminou na Cidade do Cabo, na África do Sul; e em 2003, quando
a prova começou em Marselha, e foi terminar em Sharm el-Sheikh, no Egito. Em
2008, a competição foi cancelada próximo de seu início, devido à falta de
segurança no norte do continente africano, devido a grupos radicais islâmicos
que prometiam atacar a competição. Em 2009, o “Dakar”, nome que virou a marca
registrada do rali, passou a ser disputado aqui na América do Sul, fornecendo
todo um novo panorama de desafios igualmente difíceis aos competidores. Foram
11 edições disputadas em terras sul-americanas, até o ano passado. E a partir
deste ano, e pelos próximos cinco, a prova ocorrerá na Arábia Saudita.
Depois de conseguir retornar á
F-1 e disputar a temporada do ano passado como piloto titular da equipe
Williams, o polonês Robert Kubica vai continuar a fazer parte da categoria
máxima do automobilismo em 2020. Robert assinou contrato para ser o piloto
reserva e de desenvolvimento da Alfa Romeo este ano. A contratação de Kubica também
traz para a escuderia o patrocínio da petrolífera polonesa Orlem, que dá apoio
ao piloto polonês. Robert gostou de rever alguns conhecidos na escuderia, que
era a antiga Sauber, que entre 2007 e 2009, teve Kubica como um de seus pilotos
titulares, na parceria que tinha com a BMW, sendo que o polonês inclusive
conseguiu a única vitória da escuderia fundada por Peter Sauber na F-1, ao
vencer o GP do Canadá de 2008. O time acabou vendido para a Alfa Romeo há dois
anos, trazendo a tradicional marca campeã do primeiro ano da F-1 de volta à
categoria. Kimi Raikkonem e Antonio Giovinazzi continuarão a ser os pilotos
titulares nesta temporada.
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