Na série sobre circuitos que
sediaram etapas do Mundial de F-1, hoje falarei um pouco da pista de Sebring,
localizada na cidade de mesmo nome no Estado da Flórida, nos Estados Unidos.
Apesar de ser um nome até razoavelmente conhecido para quem acompanha o
universo de competições do mundo do esporte a motor, poucos sabem que o
circuito já esteve presente na F-1. Acompanhem então o texto, e conheçam um
pouco da história desta pista. Uma boa leitura a todos...
SEBRING
Quem
acompanha a Fórmula 1 e conhece um pouco de sua história já deve ter ouvido
falar que as famosas 500 Milhas de Indianápolis já fizeram parte do calendário
da categoria máxima do automobilismo, não? Bem, isso era apenas força de
expressão, a fim de fazer o campeonato mundial do certame, nascido em 1950, ter
ares mesmo de competição mundial. Mas a verdade é que a famosa corrida do
circuito oval da capital do Estado de Indiana estava ali apenas por estar, constando
nas estatísticas, mas era como um objeto estranho numa sala, estando lá, mas ao
mesmo tempo não fazendo parte da sala. Pois era isso que a “participação” da
Indy500 era no campeonato de F-1, entre 1950 e 1960. Nenhum piloto que competia
na F-1 participava das 500 Milhas de Indianápolis, e vice-versa.
Foi só em
1959 que os Estados Unidos ganharam de fato aquele que é o seu primeiro Grande
Prêmio de Fórmula 1. E o palco do primeiro GP foi uma pista que hoje já se
tornou icônica para os fãs do esporte a motor dos Estados Unidos, o Sebring
International Raceway, localizado na cidade de Sebring, no Estado da Flórida.
Curiosamente,
a história da pista de Sebring guarda algumas semelhanças com a de Silverstone,
a mais tradicional das pistas da Grã-Bretanha. O circuito estadunidense também
nasceu de uma base aérea, e ambas com atividades decorrentes da Segunda Guerra
Mundial. No caso da pista de Sebring, ela havia sido criada no início dos anos
1940 para servir como campo de treinamento aéreo, em terreno que havia sido
doado pela Prefeitura de Sebring para essa finalidade. E a base de treinamento
ganhou uma estrutura excelente para a época, quase uma minicidade independente,
tendo sido escolhida para sediar cursos de treinamento para pilotos de
bombardeiros pesados, os B-17, a primeira dos Estados Unidos com essa
finalidade. Isso exigiu que as pistas tivessem placas de concreto reforçado, a
fim de aguentar os imensos pesos das aeronaves que ali pousavam e decolavam. E
durante os anos da Segunda Guerra Mundial, os trabalhos em Sebring, ou melhor,
no Hendricks Army Airfield, como a base era conhecida à época, era frenético.
Mas, com o
fim da guerra, a imensa estrutura montada na base começou a ficar ociosa,
diante da diminuição dos trabalhos e movimentação de aviões. Era preciso
encontrar uma nova utilidade para o local, a fim de evitar que ele ficasse
abandonado, diante das instalações ali construídas. A antiga base acabou se
tornando então o Aeroporto Regional de Sebring, e ele segue ativo até os dias
de hoje, sendo utilizado para muitos pousos e decolagens de algumas linhas
aéreas civis. Mas, e como ele virou também um circuito de corridas?
Aí entrou
em cena Alec Ulmann, um engenheiro aeronáutico que, ao procurar locais para
conversão de aeronaves militares para uso civil, notou que as pistas do campo
de Sebring poderiam dar um bom local para corridas. E ele apostou nessa idéia,
tanto que em 1950, o circuito, montado nas pistas e estradas existentes dentro
da antiga base aérea militar, sediou sua primeira corrida, já com o estilo de
uma prova de resistência. Apesar do amadorismo como a corrida foi organizada e
disputada, ela rendeu um sucesso suficiente para que a empreitada de utilizar o
local como autódromo em alguns momentos fosse repetida mais vezes. Tanto que em
1952, começaria a ser disputada ali aquela que se tornaria sua prova mais
famosa e tradicional, as 12 Horas de Sebring, uma corrida de longa duração nos
mesmos moldes das famosas 24 Horas de Le Mans.
As 12 Horas
de Sebring se tornaram uma das mais famosas corridas dos Estados Unidos, e são
disputadas até hoje. Apenas em 1974, devido à crise do Petróleo, a corrida
acabou não sendo realizada. Atualmente, a prova faz parte do campeonato de
endurance dos Estados Unidos, o IMSA Wheater Tech Sportscar Championship, e a
prova já teve três brasileiros vencedores por lá. O primeiro foi Christian
Fittipaldi, que venceu as 12 Horas em 2015, competindo pela equipe Action
Express na categoria protótipos, em companhia do português João Barbosa e do
francês Sébastien Bourdais. No ano seguinte, Pipo Derani, em parceria com os
estadunidenses Scott Sharp, Ed Brown, e Johannes van Overbeek, defendendo a
equipe Tequila Patrón ESM, subiria ao degrau mais alto do pódio, situação que
repetiu em 2018, pela mesma equipe Tequila Patrón ESM, mas agora com os pilotos
Johannes van Overbeek e Nicolas Palierre (França). Pipo repetiria novamente a
vitória em Sebring no ano passado, agora competindo pela equipe Whelen
Engineering Racing, com companhia do compatriota Felipe Nasr, e do
estadunidense Eric Curran.
Uma das
grandes dificuldades da pista de Sebring é o piso do seu traçado. Ele utiliza
parte das antigas pistas de pouso usadas na época de base militar, e é de se
lembrar que, para suportarem o grande peso das aeronaves B-17, as pistas eram
de concreto, e beeem grossas. Já as demais pistas internas da base, utilizadas
apenas por carros e veículos convencionais, que não tinham a necessidade de
suportarem tais pesos, eram de asfalto convencional. Daí que, ao unir estes
trechos para se criar o traçado do circuito, de modo também a aproveitar as
instalações existentes para uso nos momentos das provas de competição, criou-se
uma discrepância de pisos, já que os trechos de concreto e de asfalto oferecem
aderência e superfícies distintas, e os pilotos acabam sentindo isso, de modo
que é preciso regular bem os carros para evitar que eles fiquem sensíveis
demais às mudanças que terão durante a prova, nas trocas de piso. Obviamente,
já foram feitas obras tentando equacionar estes pisos, e minimizar as
diferenças existentes, mas mesmo assim, é impossível oferecer as mesmas reações
tanto da parte de asfalto quanto da parte de concreto no traçado.
Mas, e a
Fórmula 1? Bem, em uma grande jogada, Alec Ulmann conseguiu atrair para sua
pista a Fórmula 1, com a realização de uma etapa que encerraria o campeonato de
1959. O traçado era o original montado em 1952, com um total de 8,368 Km de
extensão, com cerca de 17 curvas. A corrida foi disputada no dia 12 de
dezembro, e contou com 42 voltas, em um percurso total de 351,12 Km. A pole foi
do inglês Stirling Moss, com um Cooper-Climax, com o tempo de 3min0s00. A volta
mais rápida da prova ficou com o francês Maurice Trintignant, também com um
Cooper-Climax, com o tempo de 3min05s00. A prova foi vencida pelo neozelandês
Bruce McLaren, também com um Cooper-Climax, com o tempo de 2h12min35s7. Maurice
Trintignant terminou a corrida em 2º lugar, com uma diferença de apenas 0,6s
para McLaren. Dos 19 carros que largaram, apenas 7 foram classificados, sendo
que apenas 6 receberam a bandeirada. Stirling Moss, o pole-position, foi um dos
que capitularam no meio da corrida, com problemas de transmissão. O péssimo
piso de concreto se mostrou um adversário muito mais tenebroso do que os
pilotos poderiam imaginar para seus modernos carros de competição, que
vitimaram freios, sistemas de transmissão, e embreagens dos bólidos.
Por
curiosidade, tivemos um brasileiro presente no grid naquela prova. Frederico
José Carlos Themudo d’Orey, ou mais simplesmente conhecido como Fritz d'Orey,
alinhou na 17ª posição com um carro Maserati Tec-Mec, mas ele foi mais um a
ficar pelo meio da corrida, após percorrer apenas 6 voltas, devido a um
vazamento de óleo. Infelizmente, a corrida não foi bem-sucedida em termos
financeiros, de modo que aliada à péssima condição da pista, contribuiu para
Sebring nunca mais sediar uma corrida de F-1. Mas o circuito continua sendo
muito usado, ao lado das pistas que hoje recebem os aviões civis em Sebring,
para as corridas de longa duração, e vez por outra, recebendo testes da Indycar
em seu traçado, cujas dificuldades seguem marcantes para os pilotos, apesar do
traçado atual ser um pouco diferente, tendo sido reduzido para 5,954 Km de
extensão, tendo pertido em 1987 parte de suas imensas retas, substituídas por
trechos menores e com curvas.
O traçado utilizado
pela Fórmula 1 em 1959 era bem maior do que o existente hoje em dia, com mais
de 8 Km de extensão, e a diferença de pisos entre concreto e asfalto castiga os
carros durante as corridas disputadas nesta pista. Abaixo, a versão atual do
circuito, além de uma vista aérea do local, onde ainda funciona junto à pista o
Aeroporto Regional de Sebring.
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