quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

ARQUIVO PISTA & BOX – JANEIRO DE 1999 – 15.01.1999


            E dando seguimento às postagens do novo ano, trago mais um antigo texto, este, publicado em 15 de janeiro de 1999, há mais de vinte anos atrás. O assunto em destaque era a nova limitação dos testes particulares das equipes de F-1, uma vez que alguns times estavam extrapolando neste sentido, e criando um desnível cada vez maior nas performances das equipes na competição. Comparado ao que temos hoje, os 50 dias de testes estipulados ainda eram uma barbaridade, mas se levarmos em conta que alguns times testavam mais do que o dobro disso, então... Que tempos diferentes... E ainda assim, melhores do que atualmente, onde praticamente não se testa mais. Até a pré-temporada, guardadas as proporções, virou uma quase uma piada, cada vez menor e com apenas um carro na pista. Muito ruim mesmo. E a competição não melhorou, muito pelo contrário...
            De resto, alguns tópicos rápidos de alguns acontecimentos do início daquele ano no mundo da velocidade. A Williams perderia mesmo o patrocínio do Grupo Rothmans em 2000, como se imaginava. Já André Ribeiro, um de nossos novos talentos na então F-CART, após um ano competindo pela Penske, encerraria prematuramente sua carreira, preferindo a carreira de empresário pela de piloto. Curtam o texto, e boa leitura a todos...


PÉ NO BREQUE

            Este ano a FIA tomou como efetiva uma nova regra que vai, sem dúvida alguma, contribuir para equilibrar um pouco a categoria e baixar um pouco os custos: a limitação dos testes particulares das escuderias. Em 1999, cada time só poderá realizar 50 dias de testes privados, com direito a usar, no máximo, 200 jogos de pneus para esta finalidade.
            A medida favorece os times pequenos da categoria. Só para se ter uma idéia, só a Ferrari testou cerca de 134 dias em todo o ano passado. Em contrapartida, a equipe Stewart testou apenas 32 dias em todo o ano de 98. É uma disparidade enorme, e que só contribui para o desequilíbrio de forças na F-1. Claro que todos estes testes ajudaram a Ferrari a postergar a decisão do título para a última etapa, em Suzuka, mas por outro lado ajudou também a criar um enorme desnível dos times de ponta para as demais equipes no certame. É pensando neste desnível que a FIA agiu impondo uma limitação no número de dias que cada time poderá testar em particular. Este tipo de norma já está em vigor há anos na F-CART, e também tem o objetivo de evitar que os times mais ricos desenvolvam muito mais os seus carros do que os times médios e pequenos.
            É lógico adiantar que esta limitação, por si só, não vai reequilibrar a F-1, mas deve ajudar neste sentido. O raciocínio é óbvio: raramente os times médios e pequenos testam tantos dias assim. Os testes particulares não envolvem apenas chegar na pista e ir treinar. É preciso fazer muitas outras coisas, como reservar a pista, pagar as devidas taxas de utilização, com os esquemas de segurança necessários, etc. E tudo isso custa caro, e como as equipes não nadam em dinheiro (com pouquíssimas exceções), os testes particulares são um luxo que só os times grandes e de ponta têm condições de manter na real necessidade que enfrentam. Todos os demais times ou tentam tirar tudo o que podem em poucos dias de testes, ou se concentram apenas nos testes coletivos, patrocinados pela FIA e FOA, onde todos os custos da utilização de uma pista são rateados, barateando os custos de todos.
            Estes testes coletivos, aliás, não se incluem na limitação dos dias de testes. São sessões abertas a todas as escuderias, que treinam e testam juntas. Como nem sempre dá para trabalhar tudo o que é necessário e/ou planejado nestes dias de treinos coletivos, as equipes sempre fazem testes particulares, sejam por necessidade ou outros fatores quaisquer. Por exemplo, a Ferrari no início do ano passado fez praticamente todos os seus testes de desenvolvimento pré-temporada separada dos outros times, utilizando as suas pistas de Fiorano e Mugello. Este tipo de atitude terá de ser racionada este ano, com a limitação de 50 dias.
            Os grandes times vão sentir o peso da nova regra muito mais do que os pequenos e médios, uma vez que apenas as escuderias de ponta testam tanto assim. Mas, mesmo com esta desvantagem teórica, os times de ponta ainda ficarão em vantagem e à frente dos demais. Isso se deve à própria estrutura das grandes equipes. Um time como a McLaren, por exemplo, que possui talvez a melhor estrutura entre os times da F-1, consegue obter em apenas 1 dia de testes o que um time médio pode demorar 3 dias para conseguir. Estas escuderias, além de terem mais pessoal, também têm mais recursos para conseguir os resultados que necessitam. Mas a limitação deverá ajudar a reduzir, ainda que pouco, a diferença, e quem sabe, tornar a F-1 mais competitiva, se dermos sorte.
            Outra conseqüência desta limitação deve ser uma pequena desaceleração na velocidade de evolução das performances. Os projetistas deverão ser mais prudentes na concepção dos carros, pois se o projeto apresentar graves falhas, poderão ser necessários muitos testes para se corrigir o problema, ou na pior das hipóteses, minimizá-lo. Assim sendo, indiretamente a limitação também deve frear um pouco a escalada de performances na F-1, e conter, ainda que pouco, os custos de competição, sem poderem treinar além do limite imposto. Sinceramente, espero que a nova regra ajude a F-1 a ficar mais equilibrada, em nome de uma melhor competitividade, que traga um campeonato mais disputado.


Os novos chassis 99 da Reynard, Swift, Lola e Penske já dão mostras de serem muito superiores aos modelos 98 que disputaram o mundial da F-CART. Como é de praxe, não dá para apontar favoritos. A surpresa maior foi o bom desempenho do novo chassi Penske, que parece indicar que a maior equipe da categoria deve reencontrar o caminho das vitórias. Sem dúvida, uma boa novidade para a F-CART.


A situação atual de André Ribeiro parece dar a impressão de que o piloto brasileiro caiu em um tremendo Conto do Vigário ao ser contratado pela equipe Penske: André saiu da Tasman acreditando que, no time de Roger Penske, teria todas as condições de brilhar e entrar firme na luta pelo título. Mas, seguindo o rumo dos acontecimentos do que vem acontecendo na Newmann-Hass, onde Michael Andretti brilha e Christian Fittipaldi só coleciona azares, André pagou um tremendo mico em 98 com o problemático chassi da Penske. Enquanto Al Unser Jr. conseguia escapar de boa parte dos azares e conseguir até pontuar com alguma regularidade, o brasileiro só enfrentava um problema atrás do outro. Para este ano, a Marlboro só está patrocinando o carro de Al Unser Jr., e André está tendo de levantar patrocínio para poder correr pela equipe. O curioso é Roger Penske afirmar que confia no talento do piloto brasileiro, e que quer mantê-lo com seu piloto. Ocorre que Roger é o maior cartola da CART, com um império empresarial que engloba um sem-número de empresas, e uma conta bancária de fazer inveja, e ainda vem exigir patrocínio para André poder correr? Onde está a confiança no talento do piloto brasileiro?


A Williams está na berlinda para a próxima temporada da F-1. A British American Tobacco, que detém participação na nova equipe BAR, realizou uma fusão com o grupo Rothmans, que patrocina a Williams este ano com sua marca Winfield. Isso na prática significa o fim do patrocínio à Williams a partir do ano que vem. Para este ano o contrato de patrocínio, firmado no ano passado, está garantido. A justificativa é que a empresa não pode patrocinar um concorrente de seu time oficial, a BAR. É bom Frank Williams começar a se mexer para garantir as verbas da temporada 2000, até mesmo porque a chegada da BMW tem de apresentar resultados, e quanto mais patrocínio e verba disponíveis, melhor potencialmente a chance de fazer um bom carro.


A decisão da possibilidade da nova equipe BAR usar duas pinturas diferentes em seus carros só deve sair no fim deste mês. Um recurso utilizado com freqüência na F-CART, até o momento vem enfrentando muita resistência por parte dos demais chefes de escuderias da F-1. Cada um com seu gosto, bem ou mal...

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