sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

ARQUIVO PISTA & BOX – JANEIRO DE 1999 – 08.01.1999


            Ano novo, vida nova! Bem, coluna nova, só semana que vem, então hoje vai mais um de meus antigos textos, que por acaso, foi também a primeira coluna minha publicada em 1999, mais exatamente no dia 08 de janeiro daquele ano. O assunto era uma das maluquices que a FIA propunha de tempos em tempos, agora querendo que a categoria máxima do automobilismo utilizasse um pneu único, que servisse tanto para pista seca como para chuva. Nem preciso dizer que a reação de todo mundo foi péssima à idéia, e felizmente, ela nunca veio a ser implantada, o que não quer dizer que a F-1 inventou de fazer das suas tentando criar algumas emoções e/ou procurando fazer algumas mudanças a pretexto de aumentar a segurança, como foi o caro dos pneus com sulcos, uma idéia que nunca rendeu os frutos esperados, além de ter tornado os carros um pouco mais lentos. Pois é, idéias bestas já circulavam na FIA naquela época. De quebra, mais alguns tópicos rápidos, com comentários a respeito de alguns acontecimentos daquela primeira semana de 1999 no mundo da velocidade. Então, uma boa leitura a todos, e vamos que vamos adiante em 2020...

O FUTURO DOS PNEUS

            No sentido de aumentar a segurança da Fórmula 1 e tentar diminuir a velocidade e aumentar também a competitividade, a FIA declarou no fim do ano passado que, a partir do ano de 2001, deixam de existir os pneus de chuva na categoria. Resumindo, só irá existir um composto de pneu, que deverá servir tanto para pista molhada como para pista seca. A reação dos pilotos não foi nada agradável quando souberam disso. E, particularmente, eu também não gostei nem um pouco.
            Um pneu destes teria de ser aderente o suficiente para garantir tração segura em piso molhado, e ao mesmo tempo, bastante resistente no mais abrasivo dos asfaltos, uma equação difícil de se acertar. Pode-se encontrar e desenvolver um pneu que atenda a estes requisitos, mas para quê? A adoção deste tipo de pneu iria tornar a categoria apenas mais monótona.
            Uma corrida sob chuva dá perspectivas bem diferentes das de uma prova em pista seca. A própria equação de forças entre os participantes se altera, e dependendo do aguaceiro, tudo pode acontecer, tornando a disputa ainda mais imprevisível. Melhor ainda se a corrida for parte na chuva e parte no seco, o que pode aumentar ainda mais as variáveis, dependendo de quando e onde a água cai. Quantas corridas já não foram ganhas e perdidas na estratégia dos pneus? Uma escolha errada, e tudo pode ir por água abaixo, literalmente. E a sensibilidade do piloto para com os pneus mais adequados à corrida também conta. Dependendo da situação, é o seu “felling” que irá determinar qual composto é o mais indicado para o momento, o que pode significar a vitória ou o fracasso.
            Se acabarem com as variedades diferentes de pneus, a F-1 perderá um dos elementos fundamentais de seu show, pela falta de opções neste quesito. Seria a mesma coisa que se por exemplo a FIA determinasse que as asas aerodinâmicas não pudessem ter regulagens: os carros então teriam de se comportar como pudessem, pois não haveria como alterar ou corrigir a situação no caso do ajuste não funcionar para determinado carro.
            Jacques Villeneuve já desandou a falar mal de tal determinação, ao dizer que a FIA está acabando com o esporte. É verdade. Os novos compostos de pneus com sulcos, adotados no ano passado, e que este ano terão um sulco adicional a mais, que deverão passar a ser usados nesta temporada, já deixaram os carros muito nervosos e inseguros nos testes de dezembro, com diversos pilotos a saírem da pista por pura falta de aderência. Em alguns casos, os pilotos nem estavam perto do limite de seus carros. Se a FIA tenciona reduzir a velocidade e melhorar a competitividade, deveria reunir-se com todos os projetistas e achar um ponto em comum onde possam trabalhar. Algumas sugestões, segundo os próprios projetistas, poderia ser no perfil extrator, a peça que fica na parte traseira, responsável por boa parte da tração dos bólidos, utilizando o efeito-solo. Mas como Max Mosley não faz nada neste sentido, receio que tenhamos que mais uma vez aceitar as imposições meio arbitrárias da FIA, e ver no que vai dar.
            A curto prazo, a tendência é os pneus perderem parte do elevado nível de desenvolvimento, agora que a Bridgestone ficou sozinha como fornecedora de pneus na F-1, a exemplo do que houve com os compostos da Goodyear durante as temporadas de 1992 a 1996, quando os ganhos de performance foram todos devidos ao desenvolvimento dos carros em si, e muito pouco devido aos pneus. Em alguns aspectos, a FIA bem que poderia aprender algo neste sentido com a CART, que discute as restrições dos seus carros com todas as equipes, sempre no sentido de aumentar a segurança e limitar o aumento de performance dos mesmos, garantindo boa competitividade ao campeonato.
            Ainda estamos em 1999, e sendo assim, espero que a FIA arrume um pouco de juízo e volte atrás nesta decisão absurda que está tomando...


Agora é oficial: O Grande Prêmio da China de Fórmula 1 foi cancelado. Em seu lugar, volta o GP da Argentina, que foi agendado como prova reserva. Os motivos foram a falta de estrutura logística para realizar a corrida, pois a região em torno de Zuhai, o autódromo que sediaria a prova, precisa ser melhor desenvolvida para dar o devido apoio estrutural à realização do GP. Agora a China só deve mesmo estrear no campeonato mundial de F-1 em 2000...


Pelo seu lado, a CART confirmou a realização do GP de Vancouver. A prova, já inscrita no calendário, corria o risco de não ser realizada devido às queixas dos pilotos em relação à pista, cujo novo traçado não agradou nem um pouco aos pilotos no ano passado. Os organizadores se comprometeram a redefinir o traçado, bem como em mudar diversos muros que ficaram muito rentes à pista e que constituíam ameaças em potencial para causar acidentes.


No sentido de diminuir ainda mais as velocidades dos carros nos circuitos ovais, a CART determinou o uso de lâminas únicas nos aerofólios para os ovais curtos de 1 milha. Ano passado, a medida tinha entrado em vigor nos ovais médios, como Madison e Homestead. Antes, os carros só usavam este tipo de configuração nos superspeedways, como Michigan e Fontana. A tendência é aumentar os tempos por volta em até 2s nestes circuitos, o que já é uma diminuição considerável na velocidade.


As equipes de F-1 já começam firme o ano de 99. Nesta semana tivemos as apresentações oficiais dos modelos 99 das escuderias Stewart e BAR. Para a novata BAR, começa agora o momento de provar a que veio para ser protagonista na F-1, e não uma figurante. Já para o time de Jackie Stewart, que entra em sua 3ª temporada, é o momento de afirmação da escuderia, que teve um péssimo ano em 1998, e busca reencontrar o caminho do crescimento nesta temporada. A meta do ex-piloto, tricampeão de F-1, é ter seu time em condições de lutar por vitórias antes do fim deste ano...


A Honda já está fazendo testes com um chassi visando sua estréia na F-1 no ano que vem. Até agora, entretanto, os resultados estão sendo mantidos em sigilo absoluto. Saber criar expectativas é uma arte, e a F-1 vive muito disso. Resta saber se no caso dos japoneses, não divulgar os resultados possa ser devido ao fato de os mesmos estarem sendo muito ruins, o que poderia comprometer todo o marketing do projeto...


A revista RACING está promovendo a eleição do piloto do século entre seus leitores e assinantes. Para participar e concorrer a alguns prêmios, é só preencher os cupons que vem encartados nas edições de janeiro e fevereiro das revistas RACING e CARRO, da Motorpress Brasil. Maiores detalhes nos próprios cupons.

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