O campeonato da
Fórmula 1 de 2019 pode ter o campeão mais conhecido dos últimos anos, mas até
que está conseguindo empolgar, ao menos nas últimas quatro provas, depois de
alguns GPs que foram realmente modorrentos, e com algumas presepadas
dispensáveis a uma categoria de alto nível como se pretende ser a F-1. Findo o
Grande Prêmio da Hungria, a categoria agora embarca para as chamadas férias de
verão, voltando apenas no dia 30 de agosto, com os primeiros treinos livres
para o Grande Prêmio da Bélgica. E com merecimento.
Afinal, depois de uma
corrida completamente sem sal em Paul Ricard, não é que a F-1 conseguiu
apresentar ótimas corridas até domingo passado? Não que a prova húngara tenha
sido uma maravilha, mas conseguiu mostrar um pouco mais de emoção e disputa do
que a corrida em Le Castellet, já que só a chuva conseguiria agitar mesmo
Hungaroring, como se viu na etapa da Alemanha, uma semana antes, onde São Pedro
aprontou das boas com todo mundo, na melhor corrida do ano até aqui. E o grande
destaque da corrida da Hungria foi o duelo pela vitória entre Lewis Hamilton e
Max Verstappen, que acabou decidida por uma dose de estratégia e arrojo.
Max Verstappen
tornou-se o 100º piloto a marcar uma pole-position na história da F-1, e dado o
histórico de pista travada de Hungaroring, o holandês só perderia a vitória se
cometesse um erro, ou se Hamilton partisse para o ataque de tal maneira que nem
mesmo o arrojado e combativo piloto da Red Bull conseguisse resistir. Bem,
aconteceram as duas coisas, mas de maneira diferente do que muitos imaginavam.
O duelo existiu sim, e durou toda a corrida, se bem que apenas em determinados
momentos o holandês foi de fato atacado em sua posição. Hamilton, depois de
superar o companheiro Valtteri Bottas na largada, foi à caça de Verstappen, mas
sem atacar de fato o líder da corrida, mantendo-se apenas logo atrás dele.
Quando ocorresse o pit stop, a idéia era tomar a liderança e correr para a
bandeirada.
E, de fato, Verstappen
foi antes para o box, mas na pista, Hamilton não conseguiu implementar o seu
plano, e graças a um novo pit stop recorde da Red Bull, que foi bem mais rápida
que a Mercedes, o holandês voltou na liderança, e até com mais folga. Aí,
Hamilton partiu mesmo para o ataque, mas com desempenhos similares, e com a
habilidade de Verstappen de vender caro uma ultrapassagem, o ataque do
pentacampeão não conseguiu consumar a tomada da liderança, e Lewis até chegou a
sair da pista numa tentativa. O duelo estava deixando o pessoal empolgado nas
arquibancadas, em especial a torcida holandesa, cada vez mais presente nos
circuitos europeus, para torcer por seu novo ídolo, que estava dando o seu show
na pista, resistindo à pressão de Hamilton com categoria.
E Lewis, que não é de
desistir, teria de tentar, numa aposta de risco cada vez maior. Mas, dada a sua
dianteira na tabela de pontuação, valeria a pena? Para a Mercedes, correr pela
vitória sempre vale a pena, mas aí o time arriscou na estratégia, ciente de que
Lewis já tinha uma imensa vantagem para o 3º colocado, e o inglês foi chamado
para uma nova troca de pneus. Nem Hamilton entendeu direito na hora, mas a
ordem do time foi clara: com pneus mais macios que o de Verstappen, e mais
novos, Hamilton teria de ir à caça do holandês na pista, e nas voltas finais,
com vantagem nos pneus, tentar a ultrapassagem em melhores condições. O
problema é que a vantagem era de praticamente 20s, e com 20 voltas para tentar
o serviço. Todo mundo ficou na dúvida se Lewis conseguiria o feito. Até ele
próprio.
Mas o inglês foi à
luta, e lembrando Michael Schumacher, quando o alemão, em seus tempos de
Ferrari, precisava tentar a ultrapassagem na parada de box, Hamilton começou a
voar na pista, em um desafio duplo: ser rápido sem desgastar prematuramente
seus pneus, pois precisaria deles em boas condições para consumar o ataque a
Verstappen. O holandês, por sua vez, também tinha o mesmo desafio: precisava
manter o ritmo, para minimizar a perda de vantagem na pista, mas também
precisaria conservar tanto quanto possível seus compostos, para tentar resistir
até o final. Só que o buraco era muito mais embaixo para Max: ele havia parado
antes que Lewis fizesse seu primeiro pit stop, e estava com os pneus duros,
para ir até o final sem trocar. Hamilton tinha pneus macios, e muito mais
novos. E, com estes detalhes expostos, ambos os pilotos foram à luta pela
vitória, numa jogada de táticas que estava surpreendendo o público.
E Hamilton começou a
voar mesmo na pista, chegando a fazer volta até 2s mais rápido que Verstappen.
E, faltando 4 voltas para final, o inglês chegou mesmo, apesar da incredulidade
de muitos se Lewis conseguiria impetrar tal perseguição com a necessidade que
se fazia. E o pior de tudo para Verstappen: Lewis conseguiu eliminar os 20s de
desvantagem sem detonar seus pneus, enquanto o holandês já estava com seus
compostos no fim. Ele até tentou resistir, mas não deu. Hamilton até teve um
pouco de trabalho no final da reta dos boxes, mas no trecho em descida logo
após, já conseguiu pôr o carro à frente, e foi-se embora. Com a vitória
perdida, Max também foi aos boxes para trocar pneus, dada a enorme vantagem,
para ao menos tentar a volta mais rápida, o que acabou conseguindo, ganhando um
ponto extra. E Hamilton averbou sua 8ª vitória na temporada, em 12 corridas
disputadas até aqui. Max Verstappen ganhou duas provas, na Áustria e Alemanha, e
Bottas, as duas restantes, na Austrália e Azerbaijão.
Guardadas as
proporções, o duelo entre Lewis Hamilton e Max Verstappen lembrou o de Nélson
Piquet e Ayrton Senna na primeira edição do GP húngaro, no distante ano de
1986. Piquet um bicampeão consagrado, teve uma grande batalha contra Ayrton
Senna, um talento já mundialmente reconhecido na F-1, mas ainda lutando para
tentar chegar ao primeiro título. Nélson aplicou aquela que é considerava a
ultrapassagem mais espetacular da história da F-1, com seu carro derrapando nas
quatro rodas para fazer a curva por dentro, fechando as chances de Senna dar o
troco logo a seguir. Hamilton não chegou a fazer nada tão espetacular
visualmente, mas seu ritmo de corrida para alcançar o holandês nas voltas que
faltavam para terminar a corrida foram precisas e decididas. Quando a Red Bull
percebeu a jogada da Mercedes, não havia mais o que fazer para evitar o triunfo
da equipe rival: se chamasse Verstappen para uma troca, Hamilton assumiria a
liderança da prova, visto já ter reduzido a vantagem o suficiente para que o
holandês não conseguisse manter a posição após o pit stop. Restava apenas
torcer para que Lewis não conseguisse manter o ritmo na escalada para alcançar
Max, e que este conseguisse defender sua posição.
Só que Hamilton, por
mais que digam que tem o melhor carro da categoria nas mãos, mostrou que não é
pentacampeão por acaso. Enquanto Bottas, seu parceiro de equipe, fez uma
corrida apática, tendo tido problemas logo na primeira volta com a asa
dianteira danificada, o finlandês esteve longe de conseguir um resultado que
fizesse juz ao carro que conduzia, tendo tomado mais de uma volta do parceiro
de equipe. Hamilton conseguiu impor o ritmo que precisava para alcançar
Verstappen, e cuidar de seus compostos o suficiente para quando precisasse
deles no duelo pela liderança. Isso não desmerece a pilotagem de Verstappen,
que foi o principal nome da corrida, ao lado de Hamilton. Como a vitória de
Piquet não desmereceu a performance de Senna em 1986, uma vez que o carro de
Ayrton não era tão competitivo quanto a Williams de Piquet, mas nem por isso
ele deixava de brigar. Como Verstappen também não deixou de dar o seu melhor,
em um carro que é bom, mas não tanto quanto o da Mercedes. E com um grande
talento ao volante, por melhor que tenha lutado, Verstappen e a Red Bull
tiveram uma derrota limpa e honesta para Lewis Hamilton e a Mercedes, que assim
apagou o péssimo GP que teve na Alemanha uma semana antes.
Quem esperava uma melhor performance da
Ferrari tomou logo de cara um banho de água fria: em nenhum momento Charles
LeClerc ou Sebastian Vettel demonstraram ritmo para rivalizar tanto com
Mercedes ou Red Bull. Não fossem as péssimas corridas de Pierre Gasly, cada vez
mais na marca do pênalti no time dos energéticos, e de Valtteri Bottas, em
situação que começa a se complicar um pouco na Mercedes, os carros vermelhos
teriam passado longe do pódio na corrida húngara, uma vez que cruzaram a
chegada com mais de 1 minuto de desvantagem para Hamilton. O ponto positivo, se
é que pode ser dito assim, é que Vettel terminou à frente de LeClerc, com uma
estratégia diferente do monegasco, mas em um resultado ganho sem que o time
desse suas controversas ordens de equipe para definir as posições de corrida.
Apesar de ter andado um bom tempo atrás de Charles, Vettel conseguiu superá-lo
na parte final da prova, e subir ao pódio pela segunda vez consecutiva. O
alemão parece ter conseguido afastar um pouco os maus fluidos que teimavam em
ficar por perto dele desde o erro que ele havia cometido na prova alemã de
2018, e parece pronto para recuperar o seu rumo. Só não dá para fazer muito
melhor porque a Ferrari infelizmente sentiu de forma contundente como seu carro
tem pontos fracos nesta temporada, e a falta de downforce em curvas de baixa
mostrou isso de forma patente em Hungaroring, onde o time de Maranello terminou
a corrida com a maior desvantagem para o vencedor, e isso sem ter nenhum problema
durante a prova. Como Vettel definiu, a Ferrari “é isso aí” para o momento.
Numa pista de alta, como Spa-Francorchamps, ou Monza, próximas etapas, o time
terá melhores esperanças de bons resultados, e quem sabe Sebastian consiga
afastar de vez a má fase, e mostrar ao time o talento e a capacidade que fez
dele um tetracampeão mundial, e também mostrar a seu novo companheiro de equipe
que ele ainda tem que ralar bastante para começar a se achar o novo dono do
time.
Encerrada a primeira
“fase” do campeonato, teremos ainda 9 provas quando o pessoal voltar à pista no
final deste mês. Hamilton tem 250 pontos, 62 de vantagem para o vice-líder, seu
parceiro de time Bottas, com 188, que no entanto, está com Max Verstappen em
seu retrovisor na tabela de classificação, apenas 7 pontos atrás. E a dupla da
Ferrari no momento está mais do que batida pelo holandês da Red Bull: Vettel é
o 4º colocado, com 156 pontos, seguido por LeClerc, com 132 pontos. Dali para
trás, uma distância imensa para os demais pilotos. Na classificação de
construtores, a Mercedes reina suprema com 438 pontos, contra 288 da vice-líder
Ferrari, enquanto a Red Bull vem com 244 pontos, disparados dos demais times.
Teremos certamente
muitas corridas ainda pela frente até o fim do ano, e com a forte torcida de
que elas sejam empolgantes ou bem disputadas como foram as últimas quatro,
salvando um ano que parecia caminhar para um marasmo retumbante depois da etapa
da França. Hamilton certamente vai ser hexacampeão este ano, mas pelo menos a
disputa pelo vice-campeonato tem tudo para ser bem mais agitada e renhida. E
não podemos nos esquecer que, no pelotão intermediário, os duelos estão
correndo soltos, sejam na pontuação entre os pilotos, sejam entre as equipes.
Que isso não apenas continue firme, como fique ainda melhor. E que possamos
curtir estas merecidas férias da F-1...
Com uma pontuação constante, e
uma performance sólida, a McLaren está reconstruindo sua reputação na F-1,
ocupando o posto de “melhor time” da categoria depois do imbatível trio Red
Bull/Ferrari/Mercedes. Com 82 pontos, a escuderia de Woking já marcou 20 pontos
a mais do que em todo o ano passado, e ocupa a 4ª posição na tabela de
construtores, tendo quase o dobro de pontos da rival mais próxima, a Toro
Rosso, com 43 pontos. Ainda há um grande abismo, se considerarmos que a Red
Bull tem 244 pontos, mas é um avanço para o time, que nos últimos anos passou
por muitos baixos e nenhum alto, sem saber o que é subir ao pódio desde o GP da
Austrália de 2014, ou vencer uma corrida desde o GP do Brasil de 2012. Na
tabela de pilotos, Carlos Sainz Jr. é o 7º colocado, com 58 pontos, com Pierre
Gasly, da Red Bull, bem à sua frente, com 63 pontos. E Lando Norris, em sua
primeira temporada na F-1, apesar do 10º lugar, com 24 pontos, tem andado bastante
forte, e só não teve melhores resultados devido a azares pontuais, que o
fizeram ficar sem pontuar em 7 das 12 provas disputadas até aqui. Já Sainz Jr.
ficou sem marcar pontos apenas em 4 corridas, tendo terminado na Alemanha e na
Hungria em 5º lugar, a melhor posição do time no ano até o presente momento. E
sem precisar de Fernando Alonso, a quem já descartou para 2020, preferindo
renovar o contrato com sua atual dupla de pilotos.
Marcando pontos firme nas últimas corridas, McLaren lidera o segundo pelotão da F-1 em 2019, consolidando sua recuperação na categoria. |
Enquanto o Grande Prêmio da
Alemanha continua na berlinda para ficar ou não no calendário da F-1 no próximo
ano, a Cidade do México conseguiu o apoio necessário para renovar o contrato de
seu GP, e o anúncio oficial saiu há poucos dias, garantindo a corrida no
circuito Hermanos Rodriguez por mais 3 temporadas, até 2022. Os bons resultados
de público verificados desde que a corrida voltou ao calendário da categoria
recentemente foram um importante trunfo para conseguir reunir na iniciativa
privada os apoios indispensáveis para bancar os custos de realização da prova,
que não contará mais com verbas públicas, o que estava colocando a corrida em
risco, pela perspectiva de não conseguir os fundos necessários para a
manutenção da prova. A notícia é boa não apenas para o torcedor mexicano, que
tem comparecido em peso ao autódromo da Cidade do México, mas também para o
piloto mexicano Sérgio Pérez, ídolo local, e que pode trocar de time para a
próxima temporada, não estando garantida a sua permanência na equipe Racing
Point. Mas, com a manutenção da corrida mexicana, fica mais fácil Carlos Slim,
o homem mais rico do país, manter os patrocínios na F-1, no time que contar com
Sergio. E uma das opções de mudança de ares para Pérez é a Hass, que estuda a
possibilidade de mexer completamente em sua dupla de pilotos, que anda entregando
resultado de menos e arrumando confusões de mais... Resta saber quem vai dançar
na escuderia norte-americana, Kevin Magnussem ou Romain Grosjean, embora o
francês esteja mais na corda bamba que o dinamarquês...
A MotoGP chega à Áustria para a
corrida em Zeltweg, depois de mais um triunfo de Marc Márquez na República
Tcheca, domingo passado. E é na pista austríaca que a Ducati tem conseguido
andar muito bem nos últimos anos. Será que repete a dose este ano? A conferir
neste domingo, com transmissão ao vivo pelo canal pago SporTV 2...
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