sexta-feira, 9 de agosto de 2019

FÉRIAS MERECIDAS NA F-1

Max Verstappen conseguiu a sua primeira pole na F-1 (acima) e liderou a maior parte da corrida, até ser superado por Lewis Hamilton (abaixo) nas voltas finais, coroando a mudança de estratégia da Mercedes durante a corrida, e o impressionante ritmo de corrida do pentacampeão para fazer valer a aposta.

            O campeonato da Fórmula 1 de 2019 pode ter o campeão mais conhecido dos últimos anos, mas até que está conseguindo empolgar, ao menos nas últimas quatro provas, depois de alguns GPs que foram realmente modorrentos, e com algumas presepadas dispensáveis a uma categoria de alto nível como se pretende ser a F-1. Findo o Grande Prêmio da Hungria, a categoria agora embarca para as chamadas férias de verão, voltando apenas no dia 30 de agosto, com os primeiros treinos livres para o Grande Prêmio da Bélgica. E com merecimento.
            Afinal, depois de uma corrida completamente sem sal em Paul Ricard, não é que a F-1 conseguiu apresentar ótimas corridas até domingo passado? Não que a prova húngara tenha sido uma maravilha, mas conseguiu mostrar um pouco mais de emoção e disputa do que a corrida em Le Castellet, já que só a chuva conseguiria agitar mesmo Hungaroring, como se viu na etapa da Alemanha, uma semana antes, onde São Pedro aprontou das boas com todo mundo, na melhor corrida do ano até aqui. E o grande destaque da corrida da Hungria foi o duelo pela vitória entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, que acabou decidida por uma dose de estratégia e arrojo.
            Max Verstappen tornou-se o 100º piloto a marcar uma pole-position na história da F-1, e dado o histórico de pista travada de Hungaroring, o holandês só perderia a vitória se cometesse um erro, ou se Hamilton partisse para o ataque de tal maneira que nem mesmo o arrojado e combativo piloto da Red Bull conseguisse resistir. Bem, aconteceram as duas coisas, mas de maneira diferente do que muitos imaginavam. O duelo existiu sim, e durou toda a corrida, se bem que apenas em determinados momentos o holandês foi de fato atacado em sua posição. Hamilton, depois de superar o companheiro Valtteri Bottas na largada, foi à caça de Verstappen, mas sem atacar de fato o líder da corrida, mantendo-se apenas logo atrás dele. Quando ocorresse o pit stop, a idéia era tomar a liderança e correr para a bandeirada.
            E, de fato, Verstappen foi antes para o box, mas na pista, Hamilton não conseguiu implementar o seu plano, e graças a um novo pit stop recorde da Red Bull, que foi bem mais rápida que a Mercedes, o holandês voltou na liderança, e até com mais folga. Aí, Hamilton partiu mesmo para o ataque, mas com desempenhos similares, e com a habilidade de Verstappen de vender caro uma ultrapassagem, o ataque do pentacampeão não conseguiu consumar a tomada da liderança, e Lewis até chegou a sair da pista numa tentativa. O duelo estava deixando o pessoal empolgado nas arquibancadas, em especial a torcida holandesa, cada vez mais presente nos circuitos europeus, para torcer por seu novo ídolo, que estava dando o seu show na pista, resistindo à pressão de Hamilton com categoria.
            E Lewis, que não é de desistir, teria de tentar, numa aposta de risco cada vez maior. Mas, dada a sua dianteira na tabela de pontuação, valeria a pena? Para a Mercedes, correr pela vitória sempre vale a pena, mas aí o time arriscou na estratégia, ciente de que Lewis já tinha uma imensa vantagem para o 3º colocado, e o inglês foi chamado para uma nova troca de pneus. Nem Hamilton entendeu direito na hora, mas a ordem do time foi clara: com pneus mais macios que o de Verstappen, e mais novos, Hamilton teria de ir à caça do holandês na pista, e nas voltas finais, com vantagem nos pneus, tentar a ultrapassagem em melhores condições. O problema é que a vantagem era de praticamente 20s, e com 20 voltas para tentar o serviço. Todo mundo ficou na dúvida se Lewis conseguiria o feito. Até ele próprio.
            Mas o inglês foi à luta, e lembrando Michael Schumacher, quando o alemão, em seus tempos de Ferrari, precisava tentar a ultrapassagem na parada de box, Hamilton começou a voar na pista, em um desafio duplo: ser rápido sem desgastar prematuramente seus pneus, pois precisaria deles em boas condições para consumar o ataque a Verstappen. O holandês, por sua vez, também tinha o mesmo desafio: precisava manter o ritmo, para minimizar a perda de vantagem na pista, mas também precisaria conservar tanto quanto possível seus compostos, para tentar resistir até o final. Só que o buraco era muito mais embaixo para Max: ele havia parado antes que Lewis fizesse seu primeiro pit stop, e estava com os pneus duros, para ir até o final sem trocar. Hamilton tinha pneus macios, e muito mais novos. E, com estes detalhes expostos, ambos os pilotos foram à luta pela vitória, numa jogada de táticas que estava surpreendendo o público.
A Ferrari em nenhum momento conseguiu lutar pela vitória na Hungria. Sebastian Vettel andou quase toda a corrida atrás de Charles LeClerc, mas superou o monegasco nas voltas finais para subir ao pódio.
            E Hamilton começou a voar mesmo na pista, chegando a fazer volta até 2s mais rápido que Verstappen. E, faltando 4 voltas para final, o inglês chegou mesmo, apesar da incredulidade de muitos se Lewis conseguiria impetrar tal perseguição com a necessidade que se fazia. E o pior de tudo para Verstappen: Lewis conseguiu eliminar os 20s de desvantagem sem detonar seus pneus, enquanto o holandês já estava com seus compostos no fim. Ele até tentou resistir, mas não deu. Hamilton até teve um pouco de trabalho no final da reta dos boxes, mas no trecho em descida logo após, já conseguiu pôr o carro à frente, e foi-se embora. Com a vitória perdida, Max também foi aos boxes para trocar pneus, dada a enorme vantagem, para ao menos tentar a volta mais rápida, o que acabou conseguindo, ganhando um ponto extra. E Hamilton averbou sua 8ª vitória na temporada, em 12 corridas disputadas até aqui. Max Verstappen ganhou duas provas, na Áustria e Alemanha, e Bottas, as duas restantes, na Austrália e Azerbaijão.
            Guardadas as proporções, o duelo entre Lewis Hamilton e Max Verstappen lembrou o de Nélson Piquet e Ayrton Senna na primeira edição do GP húngaro, no distante ano de 1986. Piquet um bicampeão consagrado, teve uma grande batalha contra Ayrton Senna, um talento já mundialmente reconhecido na F-1, mas ainda lutando para tentar chegar ao primeiro título. Nélson aplicou aquela que é considerava a ultrapassagem mais espetacular da história da F-1, com seu carro derrapando nas quatro rodas para fazer a curva por dentro, fechando as chances de Senna dar o troco logo a seguir. Hamilton não chegou a fazer nada tão espetacular visualmente, mas seu ritmo de corrida para alcançar o holandês nas voltas que faltavam para terminar a corrida foram precisas e decididas. Quando a Red Bull percebeu a jogada da Mercedes, não havia mais o que fazer para evitar o triunfo da equipe rival: se chamasse Verstappen para uma troca, Hamilton assumiria a liderança da prova, visto já ter reduzido a vantagem o suficiente para que o holandês não conseguisse manter a posição após o pit stop. Restava apenas torcer para que Lewis não conseguisse manter o ritmo na escalada para alcançar Max, e que este conseguisse defender sua posição.
            Só que Hamilton, por mais que digam que tem o melhor carro da categoria nas mãos, mostrou que não é pentacampeão por acaso. Enquanto Bottas, seu parceiro de equipe, fez uma corrida apática, tendo tido problemas logo na primeira volta com a asa dianteira danificada, o finlandês esteve longe de conseguir um resultado que fizesse juz ao carro que conduzia, tendo tomado mais de uma volta do parceiro de equipe. Hamilton conseguiu impor o ritmo que precisava para alcançar Verstappen, e cuidar de seus compostos o suficiente para quando precisasse deles no duelo pela liderança. Isso não desmerece a pilotagem de Verstappen, que foi o principal nome da corrida, ao lado de Hamilton. Como a vitória de Piquet não desmereceu a performance de Senna em 1986, uma vez que o carro de Ayrton não era tão competitivo quanto a Williams de Piquet, mas nem por isso ele deixava de brigar. Como Verstappen também não deixou de dar o seu melhor, em um carro que é bom, mas não tanto quanto o da Mercedes. E com um grande talento ao volante, por melhor que tenha lutado, Verstappen e a Red Bull tiveram uma derrota limpa e honesta para Lewis Hamilton e a Mercedes, que assim apagou o péssimo GP que teve na Alemanha uma semana antes.
Pierre Gasly (acima) continua devendo na Red Bull, e sua permanência no time para 2020 não deve ocorrer. E Antonio Giovinazzi (abaixo) também continua tomando uma vareio do companheiro Kimi Raikkonen na Alfa Romeo, tendo sua participação para 2020 também posta em dúvida.
Quem esperava uma melhor performance da Ferrari tomou logo de cara um banho de água fria: em nenhum momento Charles LeClerc ou Sebastian Vettel demonstraram ritmo para rivalizar tanto com Mercedes ou Red Bull. Não fossem as péssimas corridas de Pierre Gasly, cada vez mais na marca do pênalti no time dos energéticos, e de Valtteri Bottas, em situação que começa a se complicar um pouco na Mercedes, os carros vermelhos teriam passado longe do pódio na corrida húngara, uma vez que cruzaram a chegada com mais de 1 minuto de desvantagem para Hamilton. O ponto positivo, se é que pode ser dito assim, é que Vettel terminou à frente de LeClerc, com uma estratégia diferente do monegasco, mas em um resultado ganho sem que o time desse suas controversas ordens de equipe para definir as posições de corrida. Apesar de ter andado um bom tempo atrás de Charles, Vettel conseguiu superá-lo na parte final da prova, e subir ao pódio pela segunda vez consecutiva. O alemão parece ter conseguido afastar um pouco os maus fluidos que teimavam em ficar por perto dele desde o erro que ele havia cometido na prova alemã de 2018, e parece pronto para recuperar o seu rumo. Só não dá para fazer muito melhor porque a Ferrari infelizmente sentiu de forma contundente como seu carro tem pontos fracos nesta temporada, e a falta de downforce em curvas de baixa mostrou isso de forma patente em Hungaroring, onde o time de Maranello terminou a corrida com a maior desvantagem para o vencedor, e isso sem ter nenhum problema durante a prova. Como Vettel definiu, a Ferrari “é isso aí” para o momento. Numa pista de alta, como Spa-Francorchamps, ou Monza, próximas etapas, o time terá melhores esperanças de bons resultados, e quem sabe Sebastian consiga afastar de vez a má fase, e mostrar ao time o talento e a capacidade que fez dele um tetracampeão mundial, e também mostrar a seu novo companheiro de equipe que ele ainda tem que ralar bastante para começar a se achar o novo dono do time.
            Encerrada a primeira “fase” do campeonato, teremos ainda 9 provas quando o pessoal voltar à pista no final deste mês. Hamilton tem 250 pontos, 62 de vantagem para o vice-líder, seu parceiro de time Bottas, com 188, que no entanto, está com Max Verstappen em seu retrovisor na tabela de classificação, apenas 7 pontos atrás. E a dupla da Ferrari no momento está mais do que batida pelo holandês da Red Bull: Vettel é o 4º colocado, com 156 pontos, seguido por LeClerc, com 132 pontos. Dali para trás, uma distância imensa para os demais pilotos. Na classificação de construtores, a Mercedes reina suprema com 438 pontos, contra 288 da vice-líder Ferrari, enquanto a Red Bull vem com 244 pontos, disparados dos demais times.
            Teremos certamente muitas corridas ainda pela frente até o fim do ano, e com a forte torcida de que elas sejam empolgantes ou bem disputadas como foram as últimas quatro, salvando um ano que parecia caminhar para um marasmo retumbante depois da etapa da França. Hamilton certamente vai ser hexacampeão este ano, mas pelo menos a disputa pelo vice-campeonato tem tudo para ser bem mais agitada e renhida. E não podemos nos esquecer que, no pelotão intermediário, os duelos estão correndo soltos, sejam na pontuação entre os pilotos, sejam entre as equipes. Que isso não apenas continue firme, como fique ainda melhor. E que possamos curtir estas merecidas férias da F-1...


Com uma pontuação constante, e uma performance sólida, a McLaren está reconstruindo sua reputação na F-1, ocupando o posto de “melhor time” da categoria depois do imbatível trio Red Bull/Ferrari/Mercedes. Com 82 pontos, a escuderia de Woking já marcou 20 pontos a mais do que em todo o ano passado, e ocupa a 4ª posição na tabela de construtores, tendo quase o dobro de pontos da rival mais próxima, a Toro Rosso, com 43 pontos. Ainda há um grande abismo, se considerarmos que a Red Bull tem 244 pontos, mas é um avanço para o time, que nos últimos anos passou por muitos baixos e nenhum alto, sem saber o que é subir ao pódio desde o GP da Austrália de 2014, ou vencer uma corrida desde o GP do Brasil de 2012. Na tabela de pilotos, Carlos Sainz Jr. é o 7º colocado, com 58 pontos, com Pierre Gasly, da Red Bull, bem à sua frente, com 63 pontos. E Lando Norris, em sua primeira temporada na F-1, apesar do 10º lugar, com 24 pontos, tem andado bastante forte, e só não teve melhores resultados devido a azares pontuais, que o fizeram ficar sem pontuar em 7 das 12 provas disputadas até aqui. Já Sainz Jr. ficou sem marcar pontos apenas em 4 corridas, tendo terminado na Alemanha e na Hungria em 5º lugar, a melhor posição do time no ano até o presente momento. E sem precisar de Fernando Alonso, a quem já descartou para 2020, preferindo renovar o contrato com sua atual dupla de pilotos.
Marcando pontos firme nas últimas corridas, McLaren lidera o segundo pelotão da F-1 em 2019, consolidando sua recuperação na categoria.


Enquanto o Grande Prêmio da Alemanha continua na berlinda para ficar ou não no calendário da F-1 no próximo ano, a Cidade do México conseguiu o apoio necessário para renovar o contrato de seu GP, e o anúncio oficial saiu há poucos dias, garantindo a corrida no circuito Hermanos Rodriguez por mais 3 temporadas, até 2022. Os bons resultados de público verificados desde que a corrida voltou ao calendário da categoria recentemente foram um importante trunfo para conseguir reunir na iniciativa privada os apoios indispensáveis para bancar os custos de realização da prova, que não contará mais com verbas públicas, o que estava colocando a corrida em risco, pela perspectiva de não conseguir os fundos necessários para a manutenção da prova. A notícia é boa não apenas para o torcedor mexicano, que tem comparecido em peso ao autódromo da Cidade do México, mas também para o piloto mexicano Sérgio Pérez, ídolo local, e que pode trocar de time para a próxima temporada, não estando garantida a sua permanência na equipe Racing Point. Mas, com a manutenção da corrida mexicana, fica mais fácil Carlos Slim, o homem mais rico do país, manter os patrocínios na F-1, no time que contar com Sergio. E uma das opções de mudança de ares para Pérez é a Hass, que estuda a possibilidade de mexer completamente em sua dupla de pilotos, que anda entregando resultado de menos e arrumando confusões de mais... Resta saber quem vai dançar na escuderia norte-americana, Kevin Magnussem ou Romain Grosjean, embora o francês esteja mais na corda bamba que o dinamarquês...


A MotoGP chega à Áustria para a corrida em Zeltweg, depois de mais um triunfo de Marc Márquez na República Tcheca, domingo passado. E é na pista austríaca que a Ducati tem conseguido andar muito bem nos últimos anos. Será que repete a dose este ano? A conferir neste domingo, com transmissão ao vivo pelo canal pago SporTV 2...

Nenhum comentário: