quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1998 – 30.10.1998


            E cá estou com mais um antigo texto, este publicado no dia 30 de outubro de 1998, às vésperas do Grande Prêmio do Japão, que definiria o título da temporada de Fórmula 1 daquele ano. Ajudava também ser a corrida de encerramento da temporada, quando era raro a categoria máxima do automobilismo ir para o extremo Oriente, algo que só era repetido para o GP da Austrália, mas desde que a prova havia sido transferida para o início da temporada, em 1996, a prova japonesa ficou solitária no fim do ano durante algumas temporadas. Hoje, é muito difícil o GP do Japão definir um título, visto que ainda há muitas corridas após a etapa nipônica. A chance existe, mas é pequena, exigindo um domínio arrasador por parte de um único piloto e equipe para se alcançar tal façanha, algo bem diferente do que ocorria naqueles tempos nem tão distantes assim. Na época, correu o forte boato de que a Honda pretendia transferir o GP de F-1 para a sua outra pista, em Motegi, que havia estreado muito bem sediando uma corrida da F-CART em seu traçado oval. Felizmente, isso nunca ocorreu, para sorte da F-1, que teria um traçado misto insosso e travado em Motegi, ao contrário do desafiador traçado de Suzuka. Aliás, até a logística teria ficado complicada para se chegar ao novo circuito, enquanto Suzuka, bem ao lado de Nagoya, é uma mão na roda para quem vem do exterior, facilidades que fazem diferença até hoje, especialmente depois de uma cansativa viagem de avião até a Terra do Sol Nascente.
            Nos tópicos, menção à contratação de Ricardo Zonta pela nova equipe BAR, que estrearia no ano seguinte na F-1, e que infelizmente, acabou sendo uma desilusão tanto para a categoria como para Zonta, que ali levou um tombo que comprometeria sua tentativa de marcar posição na categoria máxima do automobilismo, fazendo dele mais um brasileiro que não conseguiu ter a chance de honrar a tradição vitoriosa de nosso país na F-1. Uma boa leitura para todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...


SUZUKA, PARA MAIS UMA DECISÃO

            Chegou a hora. O Mundial de Fórmula 1 de 1998 prepara-se para conhecer o seu vencedor nesta madrugada de domingo, pelo horário de Brasília. Já em Suzuka, mais uma vez palco de uma decisão de F-1, já será o meio da tarde de domingo quando a bandeirada de chegada for dada, encerrando a disputa e mais um campeonato de F-1.
            Ninguém pode reclamar que a categoria anda chata. Pelo terceiro ano consecutivo, a decisão ficou para a última etapa do campeonato. E o Grande Prêmio do Japão, pela 8ª vez, vai ser o palco desta luta decisiva. Realmente, os japoneses, nos últimos anos, têm sido afortunados em presenciar as decisões de títulos da F-1. Das 14 edições do GP do Japão disputadas até agora, serão 8 definições de título, dando um índice de 57% de decisões em todas as provas realizadas. Isso sem contar o GP do Pacífico, disputado em 94 e 95 no circuito japonês de Aida, que também viu uma decisão, em 1995, quando Michael Schumacher ganhou a corrida e o campeonato daquele ano. Ao todo então, temos 9 decisões de título em 16 corridas disputadas em solo nipônico, algo para deixar todos os outros países com inveja, praticamente.
            O Grande Prêmio do Japão entrou para o calendário da Fórmula 1 nos anos 1970. Em 1976 foi disputada a primeira corrida, no antigo circuito de Monte Fuji. E, de cara, a corrida já foi palco de uma decisão de título, ganho por James Hunt. A prova foi marcada por uma chuva torrencial, e Niki Lauda, que disputava o título com o inglês da McLaren, abandonou a corrida por não sentir a segurança necessária para correr. Antes que crucifiquem Lauda por tal atitude, foi o ano de seu pavoroso acidente em Nurburgring, onde quase morreu, e que milagrosamente, poucas semanas depois, estava de novo correndo. Em 1977 houve a última prova em Fuji, e a corrida só retornaria em 1987 ao calendário, agora sob a influência da Honda, que praticamente dominava a categoria com seus motores turbo, e em um novo circuito, Suzuka. Nélson Piquet ficou com a honra de ganhar o primeiro título de pilotos da F-1 para a fábrica japonesa. Ayrton Senna repetiria a façanha nos anos de 1988, 1990, e 1991, conquistando todos estes títulos no “quintal” da Honda, em Suzuka. Ao todo, foram 5 títulos consecutivos de pilotos da Honda. Alain Prost foi o único não-brasileiro a vencer um mundial com a Honda, em 1989, na controvertida decisão com Senna aqui nesta mesma pista.
            Em 1992, a Honda despediria-se oficialmente da F-1, e a pista de Suzuka passaria por um jejum de decisões. Só em 1996 o circuito japonês assistiu a uma nova final de luta pelo título, que foi ganho por Damon Hill, da Williams/Renault, contra seu parceiro de time Jacques Villeneuve. Ano passado, por pouco a pista nipônica não viu outra decisão de título: a Ferrari vinha de azares seguidos e estava perdendo a parada para a Williams. Se tivesse outro resultado ruim em Suzuka, tudo terminava ali, e Jacques Villeneuve ganharia o título em cima de Michael Schumacher. Mas o time italiano conseguiu virar o jogo, e com uma excelente tática de equipe, prorrogou a decisão para a prova seguinte, o Grande Prêmio da Europa, a última etapa. Este ano, mais uma vez, a decisão acabou ficando para a última corrida, mas desta vez a prova final é em Suzuka. Uma situação impensável no início da temporada, quando a McLaren praticamente deixava toda a concorrência para trás chegando ao final das corridas com quase 1 volta de vantagem. Ao longo do campeonato, entretanto, a Ferrari foi recuperando a desvantagem, e cá estamos agora, do outro lado do mundo, para mais uma decisão em pleno Japão, onde parece não haver favoritos na briga.
            Todas as atenções da Europa estão voltadas para Suzuka. O circuito vai estar lotado desde hoje, para o primeiro dia de treinos livres. E os japoneses, que desde o título de Piquet em 1987 são ávidos pela categoria, estão na maior expectativa, mesmo sem a presença imponente da Honda e de Ayrton Senna, seu maior ídolo. Que venha a hora da largada!


Ricardo Zonta é o mais novo integrante brasileiro da F-1. Nosso novo campeão da categoria FIA GT, título conquistado domingo passado em Laguna Seca, na Califórnia, oficializou este semana o seu contrato com a nova equipe BAR para ser o companheiro de equipe de Jacques Villeneuve. E Zonta já pensa longe: se fizer uma boa temporada em 99, tudo indica que deverá ser piloto titular da McLaren no ano 2000, salvo imprevistos no percurso.


Algumas fofocas começaram a circular pelos bastidores de Suzuka e uma delas já não me agradou muito: mudança da sede do GP do Japão. Para o ano que vem, a corrida está garantida no circuito de Suzuka, mas para 2000, e por influência da Honda, a prova de F-1 seria transferida para o complexo de Motegi, o megacomplexo automobilístico construído pela Honda e inaugurado este ano com o GP do Japão de F-CART, disputado na pista oval do complexo. A F-1 usaria o traçado misto presente dentro do enorme complexo. Por mim, seria muito triste e chato: a pista mista de Motegi é muito sem graça. Suzuka, por sua vez, é um dos melhores circuitos do calendário. O seu traçado inclui curvas de baixa, média, e alta velocidades, e tem bons trechos de reta. É um desafio aos pilotos e equipes, e sempre proporciona bons pegas. O acerto dos carros tem de ser meticuloso, pois precisa-se de estabilidade para as inúmeras curvas sem comprometer os trechos de retas que, se não são longos, são importantes para as tentativas de ultrapassagem. Muitos dizem que Suzuka só perde para Spa-Francorchamps no quesito traçado, e eu concordo. Talvez só Interlagos fosse melhor ainda que Suzuka, mas se ainda tivesse o seu traçado original de 7 Km. Espero que os japoneses não cometam mais essa heresia à F-1, que nos últimos tempos só tem usado circuitos sem graça, cheios de curvas ou com traçados sem criatividade, tolhendo em boa parte os desafios de pilotagem, ou os que promovem verdadeiras procissões em alta velocidade. Mas, do jeito que andam as coisas na F-1, é melhor aproveitar e curtir o resto da F-1 em Suzuka, pois com certeza este vai ser um circuito que deixará saudades.


Com 57% de decisões em todos os seus GPs disputados, a corrida do Japão realmente tem uma média impressionante de decisões de título. Mas em toda a história da F-1, uma prova tem um índice histórico de decisão: 100%. É o Grande Prêmio do Marrocos, que foi disputado apenas uma vez, em um circuito montado em Casablanca. Foi nos distantes anos 1950, em 1958, para ser mais exato. Em sua única realização, a prova marroquina viu a decisão do título entre dois pilotos ingleses: Mike Hawthorn, pela Ferrari; e Stirling Moss, pela Cooper/Vanwall. Moss venceu a corrida, mas perdeu o título porque Hawthorn chegou em 2º lugar e faturou o campeonato por apenas 1 ponto: 42 contra 41 de Moss. Este acumulou 49 pontos no campeonato, mas perdeu o título nos descartes de pontos, que era regra na época. Foi mais um golpe do destino contra Moss, que foi 4 vezes vice-campeão de F-1, nunca conseguindo um título na categoria...

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