E cá estou com mais um antigo texto,
este publicado no dia 30 de outubro de 1998, às vésperas do Grande Prêmio do
Japão, que definiria o título da temporada de Fórmula 1 daquele ano. Ajudava
também ser a corrida de encerramento da temporada, quando era raro a categoria
máxima do automobilismo ir para o extremo Oriente, algo que só era repetido
para o GP da Austrália, mas desde que a prova havia sido transferida para o
início da temporada, em 1996, a prova japonesa ficou solitária no fim do ano
durante algumas temporadas. Hoje, é muito difícil o GP do Japão definir um
título, visto que ainda há muitas corridas após a etapa nipônica. A chance
existe, mas é pequena, exigindo um domínio arrasador por parte de um único
piloto e equipe para se alcançar tal façanha, algo bem diferente do que ocorria
naqueles tempos nem tão distantes assim. Na época, correu o forte boato de que
a Honda pretendia transferir o GP de F-1 para a sua outra pista, em Motegi, que
havia estreado muito bem sediando uma corrida da F-CART em seu traçado oval.
Felizmente, isso nunca ocorreu, para sorte da F-1, que teria um traçado misto
insosso e travado em Motegi, ao contrário do desafiador traçado de Suzuka.
Aliás, até a logística teria ficado complicada para se chegar ao novo circuito,
enquanto Suzuka, bem ao lado de Nagoya, é uma mão na roda para quem vem do
exterior, facilidades que fazem diferença até hoje, especialmente depois de uma
cansativa viagem de avião até a Terra do Sol Nascente.
Nos tópicos, menção à contratação de
Ricardo Zonta pela nova equipe BAR, que estrearia no ano seguinte na F-1, e que
infelizmente, acabou sendo uma desilusão tanto para a categoria como para
Zonta, que ali levou um tombo que comprometeria sua tentativa de marcar posição
na categoria máxima do automobilismo, fazendo dele mais um brasileiro que não
conseguiu ter a chance de honrar a tradição vitoriosa de nosso país na F-1. Uma
boa leitura para todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...
SUZUKA, PARA MAIS UMA
DECISÃO
Chegou
a hora. O Mundial de Fórmula 1 de 1998 prepara-se para conhecer o seu vencedor
nesta madrugada de domingo, pelo horário de Brasília. Já em Suzuka, mais uma
vez palco de uma decisão de F-1, já será o meio da tarde de domingo quando a
bandeirada de chegada for dada, encerrando a disputa e mais um campeonato de
F-1.
Ninguém
pode reclamar que a categoria anda chata. Pelo terceiro ano consecutivo, a
decisão ficou para a última etapa do campeonato. E o Grande Prêmio do Japão,
pela 8ª vez, vai ser o palco desta luta decisiva. Realmente, os japoneses, nos
últimos anos, têm sido afortunados em presenciar as decisões de títulos da F-1.
Das 14 edições do GP do Japão disputadas até agora, serão 8 definições de
título, dando um índice de 57% de decisões em todas as provas realizadas. Isso
sem contar o GP do Pacífico, disputado em 94 e 95 no circuito japonês de Aida,
que também viu uma decisão, em 1995, quando Michael Schumacher ganhou a corrida
e o campeonato daquele ano. Ao todo então, temos 9 decisões de título em 16
corridas disputadas em solo nipônico, algo para deixar todos os outros países
com inveja, praticamente.
O
Grande Prêmio do Japão entrou para o calendário da Fórmula 1 nos anos 1970. Em
1976 foi disputada a primeira corrida, no antigo circuito de Monte Fuji. E, de
cara, a corrida já foi palco de uma decisão de título, ganho por James Hunt. A
prova foi marcada por uma chuva torrencial, e Niki Lauda, que disputava o
título com o inglês da McLaren, abandonou a corrida por não sentir a segurança
necessária para correr. Antes que crucifiquem Lauda por tal atitude, foi o ano
de seu pavoroso acidente em Nurburgring, onde quase morreu, e que
milagrosamente, poucas semanas depois, estava de novo correndo. Em 1977 houve a
última prova em Fuji, e a corrida só retornaria em 1987 ao calendário, agora
sob a influência da Honda, que praticamente dominava a categoria com seus
motores turbo, e em um novo circuito, Suzuka. Nélson Piquet ficou com a honra
de ganhar o primeiro título de pilotos da F-1 para a fábrica japonesa. Ayrton
Senna repetiria a façanha nos anos de 1988, 1990, e 1991, conquistando todos
estes títulos no “quintal” da Honda, em Suzuka. Ao todo, foram 5 títulos consecutivos de
pilotos da Honda. Alain Prost foi o único não-brasileiro a vencer um mundial
com a Honda, em 1989, na controvertida decisão com Senna aqui nesta mesma
pista.
Em
1992, a Honda despediria-se oficialmente da F-1, e a pista de Suzuka passaria
por um jejum de decisões. Só em 1996 o circuito japonês assistiu a uma nova
final de luta pelo título, que foi ganho por Damon Hill, da Williams/Renault,
contra seu parceiro de time Jacques Villeneuve. Ano passado, por pouco a pista
nipônica não viu outra decisão de título: a Ferrari vinha de azares seguidos e
estava perdendo a parada para a Williams. Se tivesse outro resultado ruim em
Suzuka, tudo terminava ali, e Jacques Villeneuve ganharia o título em cima de
Michael Schumacher. Mas o time italiano conseguiu virar o jogo, e com uma
excelente tática de equipe, prorrogou a decisão para a prova seguinte, o Grande
Prêmio da Europa, a última etapa. Este ano, mais uma vez, a decisão acabou
ficando para a última corrida, mas desta vez a prova final é em Suzuka. Uma situação
impensável no início da temporada, quando a McLaren praticamente deixava toda a
concorrência para trás chegando ao final das corridas com quase 1 volta de
vantagem. Ao longo do campeonato, entretanto, a Ferrari foi recuperando a
desvantagem, e cá estamos agora, do outro lado do mundo, para mais uma decisão em pleno Japão, onde
parece não haver favoritos na briga.
Todas
as atenções da Europa estão voltadas para Suzuka. O circuito vai estar lotado
desde hoje, para o primeiro dia de treinos livres. E os japoneses, que desde o
título de Piquet em 1987 são ávidos pela categoria, estão na maior expectativa,
mesmo sem a presença imponente da Honda e de Ayrton Senna, seu maior ídolo. Que
venha a hora da largada!
Ricardo Zonta é o mais novo integrante brasileiro da F-1. Nosso novo
campeão da categoria FIA GT, título conquistado domingo passado em Laguna Seca, na
Califórnia, oficializou este semana o seu contrato com a nova equipe BAR para
ser o companheiro de equipe de Jacques Villeneuve. E Zonta já pensa longe: se
fizer uma boa temporada em 99, tudo indica que deverá ser piloto titular da
McLaren no ano 2000, salvo imprevistos no percurso.
Algumas fofocas começaram a circular pelos bastidores de Suzuka e uma
delas já não me agradou muito: mudança da sede do GP do Japão. Para o ano que
vem, a corrida está garantida no circuito de Suzuka, mas para 2000, e por
influência da Honda, a prova de F-1 seria transferida para o complexo de
Motegi, o megacomplexo automobilístico construído pela Honda e inaugurado este
ano com o GP do Japão de F-CART, disputado na pista oval do complexo. A F-1
usaria o traçado misto presente dentro do enorme complexo. Por mim, seria muito
triste e chato: a pista mista de Motegi é muito sem graça. Suzuka, por sua vez,
é um dos melhores circuitos do calendário. O seu traçado inclui curvas de
baixa, média, e alta velocidades, e tem bons trechos de reta. É um desafio aos
pilotos e equipes, e sempre proporciona bons pegas. O acerto dos carros tem de
ser meticuloso, pois precisa-se de estabilidade para as inúmeras curvas sem
comprometer os trechos de retas que, se não são longos, são importantes para as
tentativas de ultrapassagem. Muitos dizem que Suzuka só perde para
Spa-Francorchamps no quesito traçado, e eu concordo. Talvez só Interlagos fosse
melhor ainda que Suzuka, mas se ainda tivesse o seu traçado original de 7 Km.
Espero que os japoneses não cometam mais essa heresia à F-1, que nos últimos
tempos só tem usado circuitos sem graça, cheios de curvas ou com traçados sem
criatividade, tolhendo em boa parte os desafios de pilotagem, ou os que
promovem verdadeiras procissões em alta velocidade. Mas, do jeito que andam as
coisas na F-1, é melhor aproveitar e curtir o resto da F-1 em Suzuka, pois com
certeza este vai ser um circuito que deixará saudades.
Com 57% de decisões em todos os seus GPs disputados, a corrida do Japão
realmente tem uma média impressionante de decisões de título. Mas em toda a
história da F-1, uma prova tem um índice histórico de decisão: 100%. É o Grande
Prêmio do Marrocos, que foi disputado apenas uma vez, em um circuito montado em Casablanca. Foi
nos distantes anos 1950, em 1958, para ser mais exato. Em sua única realização,
a prova marroquina viu a decisão do título entre dois pilotos ingleses: Mike
Hawthorn, pela Ferrari; e Stirling Moss, pela Cooper/Vanwall. Moss venceu a
corrida, mas perdeu o título porque Hawthorn chegou em 2º lugar e faturou o
campeonato por apenas 1 ponto: 42 contra 41 de Moss. Este acumulou 49 pontos no
campeonato, mas perdeu o título nos descartes de pontos, que era regra na
época. Foi mais um golpe do destino contra Moss, que foi 4 vezes vice-campeão
de F-1, nunca conseguindo um título na categoria...
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