Apesar da bela corrida deste ano, a etapa da Alemanha na pista de Hockenhein está fora do calendário da F-1 em 2020. |
Acabou o descanso.
Depois de quase um mês de pausa, para as férias de verão europeu, a Fórmula 1
está de volta, iniciando hoje os treinos oficiais para o Grande Prêmio da
Bélgica, aqui em Spa-Francorchamps, uma de minhas pistas favoritas do
calendário, pelo belíssimo visual da região das Ardenhas, e também pelo desenho
desafiador da pista, em especial com a Eau Rouge, uma curva para ninguém botar
defeito (a menos que tenha sofrido um acidente nela, óbvio...). E lá vamos nós
de volta à rotina extenuante dos Grandes Prêmios, já que semana que vem, temos
mais uma corrida, agora na Itália, em outra pista que adoro, Monza.
E a F-1 volta mesmo
com tudo. Nesta quinta-feira já tivemos algumas novidades interessantes, mas a
que me ocuparei neste texto principal é o anúncio do calendário da temporada de
2020, com a confirmação de 22 corridas, recorde na história da categoria máxima
do automobilismo. O Liberty Media conseguiu chegar a um acordo para a expansão
para 22 provas, o que acredito que seja o limite para o campeonato mundial,
apesar de alguns comentários sobre se fazerem 25 corridas por temporada. Falar
é fácil, mas fazer acontecer tudo isso não é nada fácil, e todo mundo que
acompanha o circo da F-1 praticamente vira um peregrino que anda pelo mundo
quase sem parar.
Espanha e México
conseguiram manter suas corridas para o próximo ano. Ambas as provas estavam
ameaçadas de não ocorrerem pela recusa dos governos dos respectivos países em
continuarem bancando as corridas, o que acho até correto, por serem eventos
privados, que devem se manter com patrocinadores privados, sem onerar os cofres
públicos. Por outro lado, a Alemanha está novamente fora. Hockenhein não
conseguiu chegar a um acordo para custear a prova, e como Nurburgring também
está fora do páreo, será um ano sem visitar as belas cercanias de Heidelberg e
da Floresta Negra alemã. Em contrapartida, a Holanda está de volta ao
calendário, 34 anos depois da última corrida disputada em Zandvoort, que
receberá novamente os carros da categoria máxima do automobilismo, que
certamente lotarão para ver sua estrela nacional Max Verstappen, da mesma
maneira que anos atrás Barcelona entupia-se com os torcedores de Fernando
Alonso no auge da Alonsomania. E teremos a estréia do Vietnã no calendário, com
mais uma prova a surgir no sudeste asiático. Com 21 corridas este ano, o
Liberty Media estava em dúvida sobre qual prova seria rifada do calendário, se
a Alemanha batesse o pé para ficar no calendário. Como os germânicos resolveram
não continuar a brincadeira, tudo ficou óbvio: a corrida alemã dá lugar à
holandesa, e os vietnamitas terão sua estréia na competição.
Como parte da
compensação por mais um GP, os times da categoria acertaram uma redução dos
dias de testes da pré-temporada. Ao invés dos oito dias de testes que tivemos
nos últimos anos, teremos apenas 6 dias, em duas sessões de 3 dias, separadas
por um intervalo de quatro dias. Simplesmente ridículo, na minha opinião... E
ainda resolveram acabar com os dois dias de testes que eram feitos durante a
temporada, após os GPs em pelo menos duas pistas. Dali a pouco, não teremos
mais testes na F-1, do jeito que a coisa anda... Começo a ter muitas saudades
dos tempos em que podia testar à vontade... Por mais que entenda se tratar de
uma compensação para a inclusão de mais um GP, os testes sempre foram um
momento importante para preparação dos times para uma temporada, mas que diante
da atual política restritiva, implantada em 2009 pela primeira vez, acabou por
transformar estes momentos em algo completamente decepcionante, não empolgando
mais como costumava ocorrer, com as expectativas de todos a mil para ver o que
os times poderiam apresentar...
Infelizmente, parte da
logística de transporte do calendário continua ruim, e vai sujeitar todo mundo
a muito pé na estrada, e com pouco tempo disponível. A Austrália dá a partida
na competição, no dia 15 de março, e já no final de semana seguinte, vamos para
as areias escaldantes do Bahrein, para a segunda corrida do ano. No dia 5 de
abril, a grande novidade do calendário: Vietnã, com o circuito de Hanoi, que
parece ser bem interessante no papel. E esperemos que seja interessante também
na corrida. Do Vietnã, um pulo na China, em Shanghai, no dia 19 de abril. Aí
temos um pequeno descanso, para voltarmos no dia 3 de maio, para a reestreia da
Holanda na competição. E uma semana depois, de volta a Barcelona, na Espanha.
Ao menos, na Europa a correria é menor, pelas distâncias. Mônaco segue no dia
24 de maio, e de Monte Carlo, vamos para Baku, no Azerbaijão, ainda na Europa,
duas semanas após a prova do Principado de Mônaco.
E aí temos uma corrida
para o Canadá, só para a prova de Montreal, e tome-se um bate-volta para a
Europa, para a corrida da França, e de lá direto para a Estíria, na Áustria,
para mais uma corrida. Novo intervalo de duas semanas, e vamos a Silverstone,
para o GP da Inglaterra, e mais duas semanas depois, Budapeste, na Hungria, em
2 de agosto. Entram as férias de verão europeu, e um momento para descansar e
recarregar as baterias. No dia 30 de agosto, Bélgica, e na semana seguinte,
Itália. E acabou-se tudo o que era doce, com as provas literalmente próximas
geograficamente em território europeu. Dali em diante, vamos girar pelo mundo
novamente. E tomem aeroportos e conexões.
A pista de Hanoi, que sediará o GP do Vietnã, é a grande novidade do calendário do próximo ano na F-1. |
Se a primeira parada é
agradável, em Cingapura, no dia 20 de setembro, não dá nem para curtir a
cidade-estado asiática, pois já no dia 27 de setembro, é a corrida da Rússia,
em Sochi. Duas semanas depois, de volta ao Oriente, para o GP do Japão, em
Suzuka, circuito que gosto muito, assim como das atrações nos arredores,
principalmente em Nagoya e Kyoto. Mas, nada de descanso, e lá vamos nós para o
Texas, nos Estados Unidos, na bela pista do Circuito das Américas, em Austin,
no dia 25 de outubro. Tome mais uma semana, e mais uma corrida, com a prova da
Cidade do México, no dia 1º de novembro. No dia 15 de novembro, pausa aqui no
Brasil, para nossa etapa do calendário, última prova que realmente deixa o
pessoal empolgado no ano, porque o palco de encerramento, em Abu Dhabi, é um
completo porre de monotonia em se tratando de emoções na corrida, apesar do
belo visual do circuito de Yas Marina, com o pôr do sol dando um charme por
vezes imerecido a uma corrida que nunca conseguiu deixar o pessoal empolgado.
Mas como os árabes pagam uma nota preta para realizar a corrida, e uns cobres a
mais para encerrarem a competição, o que se pode fazer a respeito?
Sobre a possibilidade
de se aumentar o número de corridas, eu diria que já chegamos no limite aceitável,
se bem que é verdade que, anos atrás, quando tínhamos 16 corridas, muitos
achavam que era o limite, enquanto do lado dos fãs e torcedores, se queria mais
provas. Na época, isso até era bem mais plausível do que nos dias atuais. A
estrutura que cada time levava para as corridas não era tão complexa como hoje,
apesar de já ser bem grande na época. Mas as novas provas, que foram levando a
F-1 cada vez mais longe mundo afora, começaram a pesar no tempo de viagem. E a
estrutura exigida para a realização de um Grande Prêmio só aumentou de lá para
cá. Uma estrutura imensa, que precisa ser montada antes da corrida, e
desmontada imediatamente após a prova. E não falo da estrutura dos autódromos,
mas dos equipamentos do FIA e das equipes de competição. Para a imprensa e
equipes de TV que transmitem as corridas, tudo também é corrido. Cuidar das
burocracias de credenciais e achar os caminhos dentro dos autódromos. Instalar
o equipamento de trabalho (especialmente para o pessoal da TV), verificar
coisas banais, como horários para comer, e onde fazer isso, sem mencionar as
burocracias de se viajar por todo mundo. Haja carimbo nos passaportes e
solicitações de visto e outras pendengas.
E isso se aplica a
todos. Mesmo na Europa, onde o transporte é mais fácil, por todos os times
estarem mais próximos de suas bases, e contando com seus motorhomes, a situação
é menos complicada. Já vai longe o tempo onde as bases móveis das escuderias
eram ônibus e caminhões adaptados. Isso ainda existe, mas hoje todos os times
transformaram seus motorhomes em hospitality centers, alguns até faraônicos,
como o Energy Station da equipe Red Bull. Dá uma trabalheira colossal colocar
todos eles de pé, com tudo pronto já na quinta-feira pré-GP, para tudo ser
desmontado já na segunda-feira (na verdade, tudo começa no domingo mesmo,
dependendo do que acontece com a equipe e seus pilotos na corrida). Enfia-se
tudo no caminhão, e bora partir para o próximo local de GP, quando não se
retorna à sede da equipe para repor carros e outros materiais, e de lá partir
para a próxima parada.
Da mesma maneira, não
dá para comparar o calendário da Nascar, a Stock Car americana, com mais de 30
corridas por temporada, com as 22 provas da F-1, uma vez que as equipes da categoria
dos Estados Unidos, e sua própria organização possuem uma estrutura bem menor e
mais simples do que a da categoria máxima do automobilismo, demandando muito
menos custo e esforço para se efetuar seu transporte e montagem. Daí as
críticas que as escuderias fazem a qualquer tentativa de se esticar o
calendário quando proposto pela Liberty Media. E é preciso lembrar que o ritmo
de trabalho das escuderias segue frenético mesmo após encerrada a temporada,
com o intenso trabalho nas sedes das equipes na concepção e construção dos
carros que irá ser utilizados no ano seguinte, trabalho que só vai ser
encerrado praticamente às vésperas dos testes de pré-temporada, com todos os
times usando ao máximo os dias que tem para projetar e preparar seus carros o
melhor que puderem.
Então, vamos lá para a
maior temporada que a F-1 já viu em sua história. E que possa ser boa, para
pelo menos recompensar o esforço de todos que trabalham para a sua realização,
bem como aqueles que a acompanham profissionalmente.
A Mercedes acabou com a espera e
incerteza, e anunciou aqui na Bélgica que manterá sua atual dupla de pilotos
para a próxima temporada. Valtteri Bottas ganhou uma sobrevida no time
prateado, que preferiu jogar pelo seguro, com a expectativa de enfrentar uma
concorrência bem mais forte em 2020, com a Red Bull cada vez mais competitiva
com a Honda, e uma Ferrari sem cometer os mesmos erros deste ano. Como a
escuderia sabe o que esperar de Bottas na pista, apesr de algumas provas onde o
finlandês não tem rendido o que poderia, ficava a incerteza se Esteban Ocón
poderia pegar a mão do carro rapidamente para garantir os resultados
necessários que a escuderia almeja. Pesa também a dúvida se o francês,
atualmente piloto reserva do time, não iria bater de frente com Lewis Hamilton,
querendo mostrar serviço a qualquer custo, o que poderia tumultuar o ambiente
nos boxes, que é bem tranquilo atualmente, com Bottas a não causar nenhum tipo
de indisposição com o atual pentacampeão inglês. E, com Bottas garantido por
mais um ano, a decisão da Mercedes é coerente em manter seu pupilo George
Russel competindo mais um ano pela Williams, apesar do péssimo ano de estréia
do campeão da F-2 de 2018, muito mais devido à draga do carro da equipe de
Grove do que por um mau desempenho do piloto. Guiar um carro pouco competitivo
libera Russel de maiores pressões e cobrança de resultados, e faz com que o
piloto aprimore sua pilotagem, tentando superar as limitações do carro. E a
intenção de Toto Wolf é que um segundo ano pela Williams ajude Russel a
amadurecer e a evoluir sua pilotagem, o que seria muito importante para
demonstrar ganhar uma vaga na Mercedes para 2021.
Com a renovação de Valtteri
Bottas na Mercedes, quem saiu perdendo foi Esteban Ocón, que pelo menos
garantiu seu retorno ao grid, sendo anunciado pela equipe Renault como
companheiro de Daniel Ricciardo para 2020. A mudança, salvo mudanças de rumo,
deve afastar Ocón do radar da Mercedes, com a vaga de Botas, como mencionado
acima, ser considerada para George Russel em 2021, dependendo de como ele for
em seu segundo ano de Williams. Resta a Esteban torcer para que o time de
fábrica da montadora francesa acerte o rumo no próximo ano, e lhe permita lutar
por resultados muito melhores do que a escuderia tem demonstrado nesta temporada,
perdendo a luta pelo posto de 4ª força do grid para seu time cliente, a
McLaren, depois do bom campeonato feito em 2018.
Com a contratação de Esteban Ocón
pela Renault, Nico Hulkenberg está sem time para 2020, mas o alemão é um dos
nomes cogitados pela Hass para o próximo ano. Só fica a dúvida de quem vai ser
chutado do time de Gene Hass. Por enquanto, Romain Grosjean é o mais cotado
para perder a vaga, mas Kevin Magnussem tem tido algumas barbeiragens que
também não o fazem ficar tão seguro onde está. Hulkenberg ao menos não tem fama
de se meter em confusões na pista, um requisito mais do que bem visto pelo time
norte-americano neste momento em que está saindo à caça de um piloto. Outra
opção interessante para Nico poderia ser a Alfa Romeu, onde Antonio Giovinazzi
vem tomando um vareio do veterano Kimi Raikkonem até maior do que o que Pierre
Gasly estava tendo em relação a Max Verstappen...