sexta-feira, 7 de junho de 2019

CHANCE PARA A FERRARI?


Sebastian Vettel comemorou a vitória no Canadá no ano passado. Time da Ferrari espera que circuito ajude na performance da equipe este ano.

            A Fórmula 1 chegou ao Canadá para sua primeira visita à América do Norte na temporada, e a esperança de todos é que as características particulares do Circuito Gilles Villeneuve, aqui em Montreal, consigam dar alguma emoção à temporada, que vem assistindo a um verdadeiro desfile de vitórias da equipe Mercedes, e com destaque para Lewis Hamilton. Mas quem tem maiores esperanças de ter um resultado diferente na pista canadense é a Ferrari.
            O time italiano venceu aqui no ano passado, com Sebastian Vettel, e os trechos de retas do circuito da Ilha de Notre Dame tendem a ser favoráveis às altas velocidades desenvolvidas pelo modelo SF-90 de Maranello, o que em tese também permitiria alguma facilidade com o outro problema crucial que está deixando os técnicos ferraristas desconjuntados, que é o aquecimento dos compostos da Pirelli que vem sendo utilizados nesta temporada. A esperança é que o time rosso consiga repetir aqui parte da performance exibida em Sakhir, única corrida no ano em que a Ferrari demonstrou o potencial exibido nos testes da pré-temporada, só não vencendo a prova por um problema no motor de Charles LeClerc, e por uma rodada de Vettel no duelo mano a mano com Lewis Hamilton. Pelo bem do campeonato, muita gente torce para as expectativas se confirmarem, e a Ferrari conseguir, ainda que momentaneamente, destronar a Mercedes na corrida.
            Mas torcer é uma coisa, e a realidade, muitas vezes, não costuma corresponder às expectativas. Com relação à grande velocidade de reta do carro da Ferrari, não podemos nos esquecer do que aconteceu em Baku, no Azerbaijão, onde mesmo com a imensa reta do trecho final da pista, nem isso ajudou a Ferrari a dar combate aos carros prateados. Talvez as curvas com freadas fortes da pista de Montreal ajudem, mas só saberemos ao fim do primeiro treino livre de hoje, e mesmo assim, com algumas ressalvas.
            A primeira delas, é que o time italiano chegou a Montreal basicamente com o mesmo carro da última corrida. Nada de atualizações para serem implantadas nesta pista. O time tem trabalhado intensamente na fábrica, e novos desenvolvimentos nunca deixaram de ser trabalhados, mas o problema é que nem sempre dá para implantar novidades GP a GP. E a escuderia ainda está batendo cabeça para entender o comportamento dos pneus, algo que definitivamente acabou sendo mascarado na pré-temporada, em razão das baixas temperaturas na pista de Barcelona, que até ajudaram a fazer o carro italiano mostrar aquela performance empolgante na esperança de vermos o fim da hegemonia da Mercedes. Contudo, bastou utilizar os pneus numa temperatura mais alta, para começarem os problemas de aquecimento ideal dos compostos, algo que não está afetando somente a Ferrari, mas que tem tido mais evidência no time rosso, diante dos resultados mostrados na pré-temporada que a capacitavam a ser a grande força do campeonato.
            Um detalhe que, para azar dos ferraristas, os técnicos da Mercedes parecem ter decifrado com muito mais competência, e que tem sido um dos diferenciais para explicar o domínio do time alemão até aqui. Mas seria injusto não mencionar que no campo estratégico a Ferrari anda batendo cabeça desde a primeira corrida, com uma prometida igualdade de condições à sua dupla de pilotos que jamais foi devidamente respeitada, com a escuderia a tentar privilegiar, e mais descaradamente, proteger Sebastian Vettel, impedindo que o alemão seja superado pelo novado Charles LeClerc na pista, com resultados que até agora se mostraram desastrosos, especialmente para o monegasco. Não fossem esses erros de estratégia, talvez a Ferrari estivesse em melhor situação, mas mesmo assim, sem garantias de desafiar abertamente Lewis Hamilton e Valtteri Bottas nas corridas. Mas seria um ponto negativo a menos para cobrar da equipe.
            Mas que ninguém espere ver a Mercedes dormindo no ponto, e para este circuito, a equipe germânica trouxe a nova especificação de sua unidade de potência, que deve ultrapassar os mil HPs de força. A Ferrari, na pré-temporada, não tinha assustado apenas pela performance de seu novo carro em si, mas também pela potência de sua nova unidade híbrida V-6, que estaria à frente da rival alemã. Mas, iniciada a temporada, vimos a Ferrari limitar o potencial de sua unidade de potência, fator que também contribuiu para a queda de performance frente aos rivais. Será que não dá para liberar de novo a cavalaria total do sistema, ou ele não é confiável o suficiente para isso? E esta é uma pista que, apesar das curvas fechadas, exige motor nos trechos de reta. A se confirmar a força da nova unidade da Mercedes, a tendência, mesmo de melhor performance da Ferrari, será se contentar em não ver os rivais dispararem na frente. E o perigo para o time rosso agora não é somente ver os alemães sumirem na dianteira, mas não serem superados pela Red Bull, que já anda incomodando há algum tempo, e parece ter condições de superar o time italiano na pista.
Mercedes trouxe nova especificação de sua unidade de potência para o Canadá, com mais de mil cavalos de potência. Quem vai segurar as flechas de prata?
            A Red Bull, por sua vez, não faz promessas para a prova canadense, tendo declarado que as longas retas são um teste de fogo para sua unidade de potência da Honda. Mas que ninguém fique surpreso se eles andarem melhor do que se espera. O equilíbrio do chassi projetado por Adrian Newey costuma fazer bastante diferença em pistas como Montreal, e pode contrabalançar parte da falta de velocidade em reta. E a Red Bull subiu ao pódio aqui no ano passado com Max Verstappen, tendo ainda Daniel Ricciardo em 4º lugar. E isso tudo usando a “porcaria” da unidade de potência da Renault, que eles tanto defenestraram para assinarem com a Honda, a quem tem enchido de elogios desde o início do ano. Tudo leva a crer que o time dos energéticos poderá ser uma pedra no sapato dos italianos, e a situação só não é pior porque Pierre Gasly ainda não está rendendo tudo o que o time esperava dele, ficando mais restritos ao que Max Verstappen consegue apresentar. E vale lembrar que o time austríaco já vem chegando à frente de Charles LeClerc nas corridas, mais pelo desatino estratégico da Ferrari do que pela falta de performance do monegasco, que tem tido no próprio time seu maior desafio até agora, mais até do que os rivais na pista.
            E como desgraça pouca é bobagem, a Ferrari ainda teve que lidar com o boato de que Sebastian Vettel poderia abandonar o time ao fim da atual temporada, deixando de cumprir com o seu contrato, que vai até o fim de 2020. Tanto Mattia Binotto quanto Vettel negaram a chance disso acontecer. Vettel afirmou que ainda quer levar a Ferrari ao título, e diz que seu trabalho no time italiano não estará completo sem realizar esse objetivo. Já Binotto ainda fez comparações do estado atual da Ferrari com os primeiros anos de Michael Schumacher no time, entre 1996 e 1999, que foram de preparação para o período de domínio que se veria de 2000 a 2004, para justificar as mudanças que estão sendo feitas no time, e que é preciso paciência para que elas surtam efeito. Só tem um detalhe diferente nessa história: de 1996 a 1999, a Ferrari era uma desafiante que tinha em Schumacher sua maior arma, com um carro que raramente se equivalia às das rivais Williams e McLaren, com o piloto alemão compensando no braço, no talento, e na estratégia de corrida a desvantagem da Ferrari para os rivais. Nos últimos dois anos, vimos a Ferrari com um carro extremamente forte, a ponto de no ano passado realmente balançar o domínio da Mercedes, mas que se perdeu na pista e fora dela, desperdiçando muitas chances por erros do box e de Vettel, que até agora ainda tem parte de sua motivação e capacidade questionada, algo que nunca se duvidou de Schumacher.
            Chegaram até mesmo a falar que Fernando Alonso, que não tem contrato para 2020, poderia voltar à Ferrari, e no lugar de Vettel, que o substituiu em Maranello. Heresia total, depois do modo como o espanhol deixou o time em 2014? Em tese, sim. Mas não nos esqueçamos do modo como Fernando deixou a McLaren depois da temporada fraticida de 2007, com ambos os lados jurando nunca mais estarem juntos, para vermos ambos de novo unidos em 2015. Durma-se com um barulho desses, porque para muitos, Alonso, apesar de ser intragável como pessoa, e complicar o ambiente interno de um time, teria capacidade de entregar mais resultados que Vettel no atual momento. Seria uma humilhação para Vettel e para a Ferrari. Sebastian, que veio substituir o espanhol, sendo substituído por ele, por falta de resultados? E a Ferrari, então, que teria de engolir o espanhol? Se bem que a diretoria do grupo hoje não é a mesma com quem o asturiano se desentendeu, então... Poderia até ser uma possibilidade, no desespero para ver o time ser novamente campeão... Um pouco diferente do que houve entre a McLaren e Alonso, com Ron Dennis a jurar que o piloto jamais voltaria a Woking, para alguns anos depois ambos sorrirem juntos na foto de apresentação do espanhol de volta ao time inglês, com uma expressão onde se podia sentir a ironia de ambos terem de engolir um ao outro novamente, em uma situação onde ambos ficaram sem saída. O mundo costuma dar voltas... Mas já imaginaram isso se repetir, entre Alonso e a Ferrari? Claro que foi outra história negada veementemente por Maranello, que com isso fica com um ambiente pra lá de turbulento, precisando nessa hora de calma e tranquilidade para trabalhar e encontrar o rumo no campeonato... Mas desde quando a Ferrari costuma não ter um ambiente turbulento no time?
            Por essas e outras, é preciso esperar para ver se o time italiano terá mesmo melhores chances de desafiar a Mercedes aqui em Montreal, ou na menos ruim das hipóteses, não se deixar superar pela Red Bull. Mas a corrida pode ser mais agitada do que o de costume, só pelo fato de ser o circuito Gilles Villeneuve, que geralmente costuma proporcionar corridas interessantes, e a entrada do Safety Car, que pode bagunçar um pouco as estratégias de prova de alguns pilotos e times, dependendo do seu momento de entrar na pista. Isso porque apesar de estarmos em um parque, os guard-rails estão quase colados junto à pista, e basta um erro para enfiar o bólido na barreira de proteção, e acabar com sua corrida, e também a de outros, dependendo das circunstâncias. E os bons trechos de retas devem proporcionar alguns bons duelos por posições, em especial no pelotão intermediário, que vem travando alguns bons pegas entre alguns times. Não fosse a discrepância de performance entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, e o pelotão intermediário, poderíamos estar curtindo melhor estes duelos. Infelizmente, não dá para ter tudo, e isso lembra também que, prognósticos e retrospecto à parte, nada impede que tenhamos outra corrida modorrenta por aqui. É só lembrar de Baku, que nos dois últimos anos nos presenteou com grandes disputas, mas que nesta temporada foi uma corrida bem morna e sem graça, com um domínio amplo da Mercedes. Tomara que não vejamos isso por aqui, mas é melhor ficar preparado para tudo... Afinal, a própria corrida no ano passado não foi lá essas coisas... Vejamos se temos melhor sorte este ano...


Mês passado, ficamos sabendo do dilema do jovem Harry Shaw, um garoto de cinco anos, diagnosticado com sarcoma de Edwing, um raro tipo de câncer nos ossos. A família soube do diagnóstico em abril, e as expectativas eram as piores possíveis: o garoto tinha pouco tempo de vida. Pois Lewis Hamilton e a Mercedes, num gesto humanitário, levaram até a casa do garoto o modelo W09 do pentacampeão, e ainda deu ao menino o troféu da vitória de Lewis no Grande Prêmio da Espanha, disputado alguns dias antes. Esta semana, seus pais comunicaram o falecimento do filho, vítima do câncer com o qual foi diagnosticado, ocorrida no sábado passado. O gesto de Hamilton e de sua equipe trouxeram um pequeno alento e breve momento de alegria ao garoto e sua família, neste momento tão difícil enfrentado pelo garoto. Hamilton expressou suas condolências a Harry no Twitter: "Harry, obrigado por ser uma luz tão positiva para todos nós. Você é tão corajoso e o mundo sentirá muito a sua falta. Obrigado, amigo e inspiração". Descanse em paz, Harry. Seu sofrimento chegou ao fim, felizmente, tendo tido a oportunidade de levar consigo a lembrança de uma grande homenagem de um grande ídolo do esporte, comovido com seu sofrimento, tão grande para uma vida tão curta. E Hamilton e a Mercedes mostraram que a F-1 ainda pode fazer algo por alguém, e resgatar um pouco da solidariedade e humanidade que vemos tanto em falta no mundo hoje em dia.
O pequeno Harry no colo de seu pai, segurando juntos o troféu da vitória de Hamilton no GP da Espanha, ao lado do bólido com que ele venceu a corrida. Homenagem ao menino enfermo que comoveu muitos pelo mundo inteiro.


Dentre as surpresas do GP do Canadá, sempre podemos lembrar que foi aqui que vimos a última vitória de Nélson Piquet na F-1. Foi em 1991, e a Williams dominava a corrida com Nigel Mansell, que seguia com cerca de 50s de vantagem sobre Piquet, então o segundo colocado, e o único que ainda estava na mesma volta do inglês. Na última volta, já quase para receber a bandeirada, Mansell diminuiu demais o ritmo do carro, acenando até para o público. Mas na curva do Hairpin, seu carro parou de repente, por falta de carga na bateria, que devido ao ritmo lento adotado por Mansell, não teria permitido ao alternador carregar devidamente a bateria. Alguns dizem que o inglês inadvertidamente esbarrou na ignição, desligando o carro. Seja como for, Nélson cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, festejando sua 23ª e última vitória na categoria máxima do automobilismo, e ainda aproveitou para tripudiar do azar de seu antigo rival dos tempos da Williams, ao afirmar que “quase teve um orgasmo” quando viu que iria vencer a corrida. A Mansell, só restou ficar à beira da pista, incrédulo com o ocorrido, de abandonar uma prova praticamente ganha a pouco menos de meia volta da bandeirada, por culpa própria. Piquet, aliás, teve bons momentos na corrida canadense também em 1990, quando foi o 2º colocado depois de um longo duelo contra a dupla da Ferrari, Alain Prost, e... Nigel Mansell. O inglês, aliás, também não teria o que comemorar na pista canadense em 1992, quando vinha dominando o campeonato, e superado por Ayrton Senna no início da corrida em Montreal naquele ano, veio desembestado tentando passar o brasileiro, e errou a freada da chicane para a reta dos boxes, atropelando a zebra ali existente, e quase decolando com o carro, o que o levou a abandonar  corrida, que seria sua última participação no GP do Canadá na F-1.
 
Piquet no alto do pódio do GP do Canadá de 1991, ao lado de Stefano Modena e Riccardo Patrese. Última vitória do tricampeão na F-1.

Depois da rodada dupla em Detroit, a Indycar não para, e hoje já temos os treinos para o GP do Texas, segunda pista oval da temporada, no Texas Motor Speedway, em Forth Worth. Apesar de ter abandonado a segunda prova em Detroit por um erro na tentativa de superar James Hinchcliffe, Josef Newgarden entra na pista ainda defendendo sua liderança na competição, com Alexander Rossi vindo em seus calcanhares. E atrás de ambos, temos Simon Pagenaud e Scott Dixon, um pouco mais atrás, mas determinados a encostar mais nos dois primeiros colocados, especialmente o neozelandês. Para a Foyt, com Tony Kanaan e Matheus Leist, é a esperança de que o desempenho do carro seja melhor na pista oval do que tem sido nos mistos e pistas urbanas, onde os dois brasileiros tem penado muito para conseguir um desempenho decente do carro. A prova texana terá transmissão ao vivo pelo canal pago Bandsports neste sábado à noite, a partir das 21:45 Hrs., pelo horário de Brasília.

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