Sebastian Vettel comemorou a vitória no Canadá no ano passado. Time da Ferrari espera que circuito ajude na performance da equipe este ano. |
A Fórmula 1 chegou ao
Canadá para sua primeira visita à América do Norte na temporada, e a esperança
de todos é que as características particulares do Circuito Gilles Villeneuve,
aqui em Montreal, consigam dar alguma emoção à temporada, que vem assistindo a
um verdadeiro desfile de vitórias da equipe Mercedes, e com destaque para Lewis
Hamilton. Mas quem tem maiores esperanças de ter um resultado diferente na
pista canadense é a Ferrari.
O time italiano venceu
aqui no ano passado, com Sebastian Vettel, e os trechos de retas do circuito da
Ilha de Notre Dame tendem a ser favoráveis às altas velocidades desenvolvidas
pelo modelo SF-90 de Maranello, o que em tese também permitiria alguma facilidade
com o outro problema crucial que está deixando os técnicos ferraristas
desconjuntados, que é o aquecimento dos compostos da Pirelli que vem sendo
utilizados nesta temporada. A esperança é que o time rosso consiga repetir aqui
parte da performance exibida em Sakhir, única corrida no ano em que a Ferrari
demonstrou o potencial exibido nos testes da pré-temporada, só não vencendo a
prova por um problema no motor de Charles LeClerc, e por uma rodada de Vettel
no duelo mano a mano com Lewis Hamilton. Pelo bem do campeonato, muita gente
torce para as expectativas se confirmarem, e a Ferrari conseguir, ainda que
momentaneamente, destronar a Mercedes na corrida.
Mas torcer é uma
coisa, e a realidade, muitas vezes, não costuma corresponder às expectativas.
Com relação à grande velocidade de reta do carro da Ferrari, não podemos nos
esquecer do que aconteceu em Baku, no Azerbaijão, onde mesmo com a imensa reta
do trecho final da pista, nem isso ajudou a Ferrari a dar combate aos carros
prateados. Talvez as curvas com freadas fortes da pista de Montreal ajudem, mas
só saberemos ao fim do primeiro treino livre de hoje, e mesmo assim, com
algumas ressalvas.
A primeira delas, é
que o time italiano chegou a Montreal basicamente com o mesmo carro da última
corrida. Nada de atualizações para serem implantadas nesta pista. O time tem
trabalhado intensamente na fábrica, e novos desenvolvimentos nunca deixaram de
ser trabalhados, mas o problema é que nem sempre dá para implantar novidades GP
a GP. E a escuderia ainda está batendo cabeça para entender o comportamento dos
pneus, algo que definitivamente acabou sendo mascarado na pré-temporada, em
razão das baixas temperaturas na pista de Barcelona, que até ajudaram a fazer o
carro italiano mostrar aquela performance empolgante na esperança de vermos o
fim da hegemonia da Mercedes. Contudo, bastou utilizar os pneus numa
temperatura mais alta, para começarem os problemas de aquecimento ideal dos
compostos, algo que não está afetando somente a Ferrari, mas que tem tido mais
evidência no time rosso, diante dos resultados mostrados na pré-temporada que a
capacitavam a ser a grande força do campeonato.
Um detalhe que, para
azar dos ferraristas, os técnicos da Mercedes parecem ter decifrado com muito
mais competência, e que tem sido um dos diferenciais para explicar o domínio do
time alemão até aqui. Mas seria injusto não mencionar que no campo estratégico
a Ferrari anda batendo cabeça desde a primeira corrida, com uma prometida
igualdade de condições à sua dupla de pilotos que jamais foi devidamente
respeitada, com a escuderia a tentar privilegiar, e mais descaradamente,
proteger Sebastian Vettel, impedindo que o alemão seja superado pelo novado
Charles LeClerc na pista, com resultados que até agora se mostraram
desastrosos, especialmente para o monegasco. Não fossem esses erros de
estratégia, talvez a Ferrari estivesse em melhor situação, mas mesmo assim, sem
garantias de desafiar abertamente Lewis Hamilton e Valtteri Bottas nas
corridas. Mas seria um ponto negativo a menos para cobrar da equipe.
Mas que ninguém espere
ver a Mercedes dormindo no ponto, e para este circuito, a equipe germânica
trouxe a nova especificação de sua unidade de potência, que deve ultrapassar os
mil HPs de força. A Ferrari, na pré-temporada, não tinha assustado apenas pela
performance de seu novo carro em si, mas também pela potência de sua nova
unidade híbrida V-6, que estaria à frente da rival alemã. Mas, iniciada a temporada,
vimos a Ferrari limitar o potencial de sua unidade de potência, fator que
também contribuiu para a queda de performance frente aos rivais. Será que não
dá para liberar de novo a cavalaria total do sistema, ou ele não é confiável o
suficiente para isso? E esta é uma pista que, apesar das curvas fechadas, exige
motor nos trechos de reta. A se confirmar a força da nova unidade da Mercedes,
a tendência, mesmo de melhor performance da Ferrari, será se contentar em não
ver os rivais dispararem na frente. E o perigo para o time rosso agora não é
somente ver os alemães sumirem na dianteira, mas não serem superados pela Red
Bull, que já anda incomodando há algum tempo, e parece ter condições de superar
o time italiano na pista.
Mercedes trouxe nova especificação de sua unidade de potência para o Canadá, com mais de mil cavalos de potência. Quem vai segurar as flechas de prata? |
A Red Bull, por sua
vez, não faz promessas para a prova canadense, tendo declarado que as longas
retas são um teste de fogo para sua unidade de potência da Honda. Mas que
ninguém fique surpreso se eles andarem melhor do que se espera. O equilíbrio do
chassi projetado por Adrian Newey costuma fazer bastante diferença em pistas
como Montreal, e pode contrabalançar parte da falta de velocidade em reta. E a
Red Bull subiu ao pódio aqui no ano passado com Max Verstappen, tendo ainda
Daniel Ricciardo em 4º lugar. E isso tudo usando a “porcaria” da unidade de
potência da Renault, que eles tanto defenestraram para assinarem com a Honda, a
quem tem enchido de elogios desde o início do ano. Tudo leva a crer que o time
dos energéticos poderá ser uma pedra no sapato dos italianos, e a situação só
não é pior porque Pierre Gasly ainda não está rendendo tudo o que o time
esperava dele, ficando mais restritos ao que Max Verstappen consegue
apresentar. E vale lembrar que o time austríaco já vem chegando à frente de
Charles LeClerc nas corridas, mais pelo desatino estratégico da Ferrari do que
pela falta de performance do monegasco, que tem tido no próprio time seu maior
desafio até agora, mais até do que os rivais na pista.
E como desgraça pouca
é bobagem, a Ferrari ainda teve que lidar com o boato de que Sebastian Vettel
poderia abandonar o time ao fim da atual temporada, deixando de cumprir com o
seu contrato, que vai até o fim de 2020. Tanto Mattia Binotto quanto Vettel
negaram a chance disso acontecer. Vettel afirmou que ainda quer levar a Ferrari
ao título, e diz que seu trabalho no time italiano não estará completo sem
realizar esse objetivo. Já Binotto ainda fez comparações do estado atual da
Ferrari com os primeiros anos de Michael Schumacher no time, entre 1996 e 1999,
que foram de preparação para o período de domínio que se veria de 2000 a 2004,
para justificar as mudanças que estão sendo feitas no time, e que é preciso
paciência para que elas surtam efeito. Só tem um detalhe diferente nessa
história: de 1996 a 1999, a Ferrari era uma desafiante que tinha em Schumacher
sua maior arma, com um carro que raramente se equivalia às das rivais Williams
e McLaren, com o piloto alemão compensando no braço, no talento, e na
estratégia de corrida a desvantagem da Ferrari para os rivais. Nos últimos dois
anos, vimos a Ferrari com um carro extremamente forte, a ponto de no ano
passado realmente balançar o domínio da Mercedes, mas que se perdeu na pista e
fora dela, desperdiçando muitas chances por erros do box e de Vettel, que até
agora ainda tem parte de sua motivação e capacidade questionada, algo que nunca
se duvidou de Schumacher.
Chegaram até mesmo a
falar que Fernando Alonso, que não tem contrato para 2020, poderia voltar à
Ferrari, e no lugar de Vettel, que o substituiu em Maranello. Heresia total,
depois do modo como o espanhol deixou o time em 2014? Em tese, sim. Mas não nos
esqueçamos do modo como Fernando deixou a McLaren depois da temporada fraticida
de 2007, com ambos os lados jurando nunca mais estarem juntos, para vermos
ambos de novo unidos em 2015. Durma-se com um barulho desses, porque para
muitos, Alonso, apesar de ser intragável como pessoa, e complicar o ambiente
interno de um time, teria capacidade de entregar mais resultados que Vettel no
atual momento. Seria uma humilhação para Vettel e para a Ferrari. Sebastian,
que veio substituir o espanhol, sendo substituído por ele, por falta de
resultados? E a Ferrari, então, que teria de engolir o espanhol? Se bem que a
diretoria do grupo hoje não é a mesma com quem o asturiano se desentendeu,
então... Poderia até ser uma possibilidade, no desespero para ver o time ser
novamente campeão... Um pouco diferente do que houve entre a McLaren e Alonso,
com Ron Dennis a jurar que o piloto jamais voltaria a Woking, para alguns anos
depois ambos sorrirem juntos na foto de apresentação do espanhol de volta ao
time inglês, com uma expressão onde se podia sentir a ironia de ambos terem de
engolir um ao outro novamente, em uma situação onde ambos ficaram sem saída. O
mundo costuma dar voltas... Mas já imaginaram isso se repetir, entre Alonso e a
Ferrari? Claro que foi outra história negada veementemente por Maranello, que
com isso fica com um ambiente pra lá de turbulento, precisando nessa hora de
calma e tranquilidade para trabalhar e encontrar o rumo no campeonato... Mas
desde quando a Ferrari costuma não ter um ambiente turbulento no time?
Por essas e outras, é
preciso esperar para ver se o time italiano terá mesmo melhores chances de
desafiar a Mercedes aqui em Montreal, ou na menos ruim das hipóteses, não se
deixar superar pela Red Bull. Mas a corrida pode ser mais agitada do que o de
costume, só pelo fato de ser o circuito Gilles Villeneuve, que geralmente
costuma proporcionar corridas interessantes, e a entrada do Safety Car, que
pode bagunçar um pouco as estratégias de prova de alguns pilotos e times,
dependendo do seu momento de entrar na pista. Isso porque apesar de estarmos em
um parque, os guard-rails estão quase colados junto à pista, e basta um erro
para enfiar o bólido na barreira de proteção, e acabar com sua corrida, e
também a de outros, dependendo das circunstâncias. E os bons trechos de retas
devem proporcionar alguns bons duelos por posições, em especial no pelotão
intermediário, que vem travando alguns bons pegas entre alguns times. Não fosse
a discrepância de performance entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, e o pelotão
intermediário, poderíamos estar curtindo melhor estes duelos. Infelizmente, não
dá para ter tudo, e isso lembra também que, prognósticos e retrospecto à parte,
nada impede que tenhamos outra corrida modorrenta por aqui. É só lembrar de
Baku, que nos dois últimos anos nos presenteou com grandes disputas, mas que
nesta temporada foi uma corrida bem morna e sem graça, com um domínio amplo da
Mercedes. Tomara que não vejamos isso por aqui, mas é melhor ficar preparado
para tudo... Afinal, a própria corrida no ano passado não foi lá essas coisas...
Vejamos se temos melhor sorte este ano...
Mês passado, ficamos sabendo do
dilema do jovem Harry Shaw, um garoto de cinco anos, diagnosticado com sarcoma
de Edwing, um raro tipo de câncer nos ossos. A família soube do diagnóstico em
abril, e as expectativas eram as piores possíveis: o garoto tinha pouco tempo
de vida. Pois Lewis Hamilton e a Mercedes, num gesto humanitário, levaram até a
casa do garoto o modelo W09 do pentacampeão, e ainda deu ao menino o troféu da
vitória de Lewis no Grande Prêmio da Espanha, disputado alguns dias antes. Esta
semana, seus pais comunicaram o falecimento do filho, vítima do câncer com o
qual foi diagnosticado, ocorrida no sábado passado. O gesto de Hamilton e de
sua equipe trouxeram um pequeno alento e breve momento de alegria ao garoto e
sua família, neste momento tão difícil enfrentado pelo garoto. Hamilton
expressou suas condolências a Harry no Twitter: "Harry, obrigado por ser
uma luz tão positiva para todos nós. Você é tão corajoso e o mundo sentirá
muito a sua falta. Obrigado, amigo e inspiração". Descanse em paz, Harry.
Seu sofrimento chegou ao fim, felizmente, tendo tido a oportunidade de levar
consigo a lembrança de uma grande homenagem de um grande ídolo do esporte,
comovido com seu sofrimento, tão grande para uma vida tão curta. E Hamilton e a
Mercedes mostraram que a F-1 ainda pode fazer algo por alguém, e resgatar um
pouco da solidariedade e humanidade que vemos tanto em falta no mundo hoje em
dia.
Dentre as surpresas do GP do
Canadá, sempre podemos lembrar que foi aqui que vimos a última vitória de
Nélson Piquet na F-1. Foi em 1991, e a Williams dominava a corrida com Nigel
Mansell, que seguia com cerca de 50s de vantagem sobre Piquet, então o segundo
colocado, e o único que ainda estava na mesma volta do inglês. Na última volta,
já quase para receber a bandeirada, Mansell diminuiu demais o ritmo do carro,
acenando até para o público. Mas na curva do Hairpin, seu carro parou de
repente, por falta de carga na bateria, que devido ao ritmo lento adotado por
Mansell, não teria permitido ao alternador carregar devidamente a bateria.
Alguns dizem que o inglês inadvertidamente esbarrou na ignição, desligando o
carro. Seja como for, Nélson cruzou a linha de chegada em primeiro lugar,
festejando sua 23ª e última vitória na categoria máxima do automobilismo, e
ainda aproveitou para tripudiar do azar de seu antigo rival dos tempos da
Williams, ao afirmar que “quase teve um orgasmo” quando viu que iria vencer a
corrida. A Mansell, só restou ficar à beira da pista, incrédulo com o ocorrido,
de abandonar uma prova praticamente ganha a pouco menos de meia volta da
bandeirada, por culpa própria. Piquet, aliás, teve bons momentos na corrida
canadense também em 1990, quando foi o 2º colocado depois de um longo duelo
contra a dupla da Ferrari, Alain Prost, e... Nigel Mansell. O inglês, aliás,
também não teria o que comemorar na pista canadense em 1992, quando vinha
dominando o campeonato, e superado por Ayrton Senna no início da corrida em
Montreal naquele ano, veio desembestado tentando passar o brasileiro, e errou a
freada da chicane para a reta dos boxes, atropelando a zebra ali existente, e
quase decolando com o carro, o que o levou a abandonar corrida, que seria sua última participação no
GP do Canadá na F-1.
Depois da rodada dupla em
Detroit, a Indycar não para, e hoje já temos os treinos para o GP do Texas,
segunda pista oval da temporada, no Texas Motor Speedway, em Forth Worth.
Apesar de ter abandonado a segunda prova em Detroit por um erro na tentativa de
superar James Hinchcliffe, Josef Newgarden entra na pista ainda defendendo sua
liderança na competição, com Alexander Rossi vindo em seus calcanhares. E atrás
de ambos, temos Simon Pagenaud e Scott Dixon, um pouco mais atrás, mas
determinados a encostar mais nos dois primeiros colocados, especialmente o
neozelandês. Para a Foyt, com Tony Kanaan e Matheus Leist, é a esperança de que
o desempenho do carro seja melhor na pista oval do que tem sido nos mistos e
pistas urbanas, onde os dois brasileiros tem penado muito para conseguir um
desempenho decente do carro. A prova texana terá transmissão ao vivo pelo canal
pago Bandsports neste sábado à noite, a partir das 21:45 Hrs., pelo horário de
Brasília.
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