quarta-feira, 12 de junho de 2019

A TRAJETÓRIA DOS CIRCUITOS DA F-1 – MONTREAL


            Findo o Grande Prêmio do Canadá, nada como trazer para o pessoal alguns pormenores do palco da prova, o Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, uma pista que sempre me agradou, e que em muitas ocasiões proporcionou boas corridas, e algumas surpresas até inusitadas. Então, curtam o texto, e vejam um pouco da história desta pista desde que sediou sua primeira corrida, lá na distante temporada de 1978, e que até hoje está presente na categoria máxima do automobilismo, com algumas raras exceções.



MONTREAL

            O Grande Prêmio do Canadá, disputado no último final de semana, é uma etapa já bem antiga na história da F-1. A primeira corrida da categoria máxima do automobilismo disputada em solo canadense foi realizada no já distante ano de 1961, há 58 anos atrás, muito tempo, como se pode ver. Mas a corrida foi disputada em um circuito hoje já muito esquecido pela F-1, Mosport, que sediou a corrida até 1977, com exceção das temporadas de 1968 e 1970, quando a prova foi realizada na pista de Mont-Tremblant, e de 1975, quando a corrida canadense não ocorreu, estando ausente do calendário.
            Em 1978, a corrida passaria para o seu palco definitivo, utilizado até hoje como sede do Grande Prêmio do Canadá, o Circuito Gilles Villeneuve. A pista está localizada na Ilha de Notre Dame, uma ilha artificial criada no meio do Rio São Lorenço, que corta a principal metrópole canadense, Montreal. Inicialmente, o local era um parque, chamado de Park Jean-Drapeau, concebido para sediar a Expo67, uma exposição mundial que foi realizada em Montreal. Ao fim do período da exposição, o local foi perdendo importância e deixando cada vez mais de ser visitado, até que tiveram a idéia de utilizá-lo como parte das instalações para os Jogos Olímpicos de 1976. A esta altura, o parque tinha suas ruas já delineadas dentro do parque, com ampla vegetação e até com uma raia olímpica, criada na parte interna da ilha, onde foi escavado um canal para passagem de embarcações. Com a pista de Mosport não sendo mais capaz de atender às necessidades de segurança e infraestrutura da F-1, e determinados a se manterem no calendário, não foi difícil conceber uma mobilização para transformar o local numa pista de corridas, aproveitando as ruas lá construídas.
            Em tempo recorde, o circuito já estava pronto para receber a F-1 em 1978, como prova de encerramento daquela temporada. E a estréia da nova pista não poderia ter sido melhor para os canadenses: seu novo ídolo na categoria, Gilles Villeneuve, pilotando a icônica Ferrari, foi o primeiro vencedor na nova pista canadense, para delírio dos torcedores que lotaram as arquibancadas do circuito na ilha no meio do Rio São Lourenço. Infelizmente, seria também a única vez que os canadenses veriam um compatriota no degrau mais alto do pódio de seu GP nacional. Em 1982, o circuito recebeu a sua denominação atual, Circuito Gilles Villeneuve, em homenagem ao arrojado piloto canadense, que havia falecido naquele ano em um acidente terrível na pista de Zolder, na Bélgica, no dia 8 de maio, véspera do GP belga. A prova canadense foi realizada em 13 de junho, pouco mais de um mês após o falecimento do piloto, e a torcida em Montreal estava visivelmente consternada pela perda de seu ídolo, agora imortalizado no nome da pista.
            O circuito é até hoje basicamente o mesmo desde que estreou na F-1, há 40 anos atrás, mas houve algumas mudanças nele ao longo destas quatro décadas, que podem ser desconhecidas para alguns, e até imperceptíveis para outros. Então, vamos às configurações que a pista passou.

1ª Configuração: Na sua estréia na F-1, a pista montada no parque da Ilha de Notre Dame tinha uma extensão de 4,409 km, com um total de 19 curvas. O recorde deste traçado pertence a Nélson Piquet, obtido em 1986 com Williams-Honda, com o tempo de 1min25s443. Esta configuração foi usada de 1978 até 1986. Um detalhe interessante é que a largada ficava numa pequena reta após a curva do Hairpin, sendo que ali ficavam os boxes, em estruturas temporárias, com os pilotos adentrando o pit line logo após saírem do Hairpin, e retornando à pista logo após a linha de largada/chegada, entrando na curva Casino. Na imagem abaixo, não está mostrado a linha do pit line, que corria paralela do Hairpin até a entrada da Casino.



2ª Configuração: por problemas com patrocinadores, a corrida canadense não foi realizada na temporada de 1987. Os canadenses aproveitaram o tempo para efetuar modificações no circuito, que o deixaram praticamente com a cara atual, mas ainda com algumas mudanças que seriam feitas ao longo do tempo. A mais importante foi a mudança do ponto de largada, para após a curva do Hairpin, para o local onde está até hoje, com toda uma nova estrutura de boxes e paddock no local onde estão atualmente, muito melhor do que as estruturas montadas até então junto à área após a Hairpin e a Casino. Inicialmente, haviam duas curvas neste trecho (5 e 6, como se vê na imagem acima), que foram eliminadas, criando-se um trecho de reta, mais adequado para uma reta de largada. Os demais trechos da pista permaneceram inalterados. A extensão da pista passou a ser de 4,39 Km, com 17 curvas.



3º Configuração: Esta configuração é praticamente idêntica à anterior, com a única diferença sendo feita nas curvas 3 e 4, ficando mais fechadas, praticamente em 90º, diminuindo a velocidade com que os bólidos acessavam o novo traçado da nova reta dos boxes. Esta nova configuração foi usada de 1991 até 1993, e a extensão da pista passou a ser de 4,43 Km, e o recorde oficial desta configuração é de Michael Schumacher, com 1min21s5, obtido em 1993, com Benetton/Ford. Os demais trechos da pista permaneceram inalterados.



4º Configuração: Utilizada apenas em 1994 e 1995, esta modificação da pista recebeu alterações provisórias para diminuir a velocidade dos carros, após o fatídico GP de San Marino de 1994, onde faleceram Ayrton Senna e Roland Ratzemberger. Foi introduzida uma chicane entre as curvas Hairpin e Casino, de modo a quebrar a alta velocidade dos carros naquele ponto. A mudança deixou a pista com uma extensão de 4,45 Km, e o aumento no tempo de volta foi nítido, com o recorde para esta configuração passando a ser de 1min28s927, obtido por Michael Schumacher em 1994, com Benetton/Ford. Uma diferença de cerca de 7s4 a mais do que o recorde anterior, do próprio Schumacher, conseguido no ano anterior, na configuração de pista daquele ano.



5ª Configuração: Esta nova configuração fez desaparecer a curva Casino criando um grande trecho de reta entre a saída do Hairpin, e a curva de acesso à reta dos boxes, no que resultou também em um excelente trecho para ultrapassagens na pista canadense. Este novo trecho passou a ser chamado de reta do Casino (Casino Straight), e o circuito passou a ter 13 curvas, com uma extensão de 4,421 Km. Utilizada entre 1996 e 2001, seu recorde oficial é de 1min17s205, obtido em 2001 por Ralf Schumacher, com Williams/BMW, mostrando que a pista ficou muito mais veloz com o novo trecho de reta, um dos maiores de todo o calendário da F-1.



6ª Configuração: Esta é configuração atual da pista do circuito Gilles Villeneuve, adotada a partir de 2002, até os dias atuais. Basicamente, a curva Hairpin foi encurtada, para aumentar a área de escape da mesma, caso algum carro perca a freada naquele ponto, que é de alta velocidade. Outra modificação foi a saída dos boxes, que antes era feita no fim da reta dos boxes, e desde então, passou a ser feita no lado externo da curva 2. Isso proporcionou uma volta dos carros após o pit stop mais segura à pista, uma vez que naquele trecho, os carros em corrida passam pelo lado interno da curva, tangenciando para entrar no pequeno trecho de reta a seguir, com os carros vindo do box tendo maior segurança ao entrar na pista pelo lado livre. Na saída anterior, chegou a haver um acidente quando Michael Schumacher, na Ferrari, em 1998, voltando à pista em alta velocidade após um pit stop, ignorou o carro de Heinz-Harald Frentzen que vinha pela reta dos boxes, obrigando o piloto, então na Williams, a desviar para evitar uma batida, acabando por sair da pista, e ele acabar batendo na proteção de pneus. A nova saída dos boxes veio para evitar este tipo de acidente potencial entre quem vinha pela reta dos boxes e quem vinha do pit line.




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