Com uma performance perfeita, Jean-Éric Vergne venceu a etapa de Berna e abriu grande vantagem na luta pelo bicampeonato na F-E. |
Faltando duas etapas para encerrar sua
quinta temporada, a Formula-E vê a possibilidade de ter o seu primeiro
bicampeão, com o francês Jean-Éric Vergne a caminhar cada vez mais favorito
para repetir a conquista do ano passado, quando levantou sua primeira taça de
campeão, e tem tudo para fazê-lo novamente no próximo mês, na rodada dupla em
Nova Iorque, nos Estados Unidos, que fecha novamente a competição.
Vergne, aliás, demorou a conseguir vencer na
temporada, o que só foi ocorrer na 6ª etapa, em Sanya, na China. Até então,
apesar do bom desempenho dos carros de sua equipe, a Techeetah, o atual campeão
vinha passando por um momento não muito empolgante, tendo pontuado nas duas
primeiras corridas, mas ficando zerado nos pontos em três provas, no Chile,
México, e Hong Kong. E, mesmo após vencer sua primeira corrida na atual
temporada, ainda ficou sem marcar pontos na prova de Roma. Tudo parecia
conspirar para um ano onde as chances de defender o título conquistado na
última temporada eram poucas.
O que ajudou o francês foi que, nas oito
primeiras corridas do atual campeonato, a F-E viu uma rotatividade ímpar de
vencedores, e um grande equilíbrio entre vários pilotos, com nenhum deles
conseguindo se destacar de forma a abrir vantagem sobre os demais, incluído o
próprio Vergne. Com tanta gente embolada na classificação, Jean-Éric ainda
estava na briga. Bastava acertar o passo, e torcer para uma corrida sem percalços
ou problemas, o que podia fazer muita diferença, já que os demais pilotos
alternavam posições na pontuação, de acordo com o resultado das provas. E esse
momento finalmente chegou, na etapa de Mônaco, onde Vergne largou na
pole-position, e aproveitou-se das dificuldades inerentes da pista monegasca
para ser o primeiro piloto a repetir uma vitória no ano. O francês começava a
crescer no momento mais necessário para se colocar diretamente na luta pelo
título, assumindo a dianteira da competição.
Uma luta que poderia ter um forte
adversário, com Lucas Di Grassi, da equipe Audi, a dar um show na prova de
Berlim, e também repetir vitória, assumindo a vice-liderança do campeonato, com
uma desvantagem relativamente pequena para o francês da Techeetah. Na temporada
anterior, o brasileiro terminou como vice-campeão, mas não houve um duelo pelo
campeonato entre Lucas e Jean-Éric, devido aos problemas iniciais que afetaram
Di Grassi no início da temporada. Vergne conquistara o título praticamente sem
oposição. Será que agora veríamos um duelo entre ambos pelo título? De
ressaltar que Lucas, também com um título no currículo, estava à caça do
bicampeonato. Por fora, um pouco mais atrás, vinha André Lotterer, companheiro
de Vergne na Techeetah, sem ter vencido no ano, mas com uma constância de
resultados que lhe permitiam sonhar com uma luta pela taça. Será que poderíamos
ter uma briga a três pelo título nas etapas finais? Seria muito bom,
especialmente depois de uma primeira metade de campeonato tão equilibrada e
cheia de surpresas na pista pela variedade de vencedores que a F-E presenteou
os fãs que apreciam corridas.
Infelizmente, o ePrix de Berna acabou sendo
uma ducha de água fria neste quesito. O único que saiu no lucro na etapa suíça
do calendário foi justamente Jean-Éric Vergne, que soube aproveitar a ocasião
para simplesmente despachar seus rivais potenciais, que não tiveram um fim de
semana muito auspicioso. O francês conquistou a pole-position, não apenas
marcando mais pontos importantes na classificação, mas obtendo uma vantagem
inequívoca na luta pela vitória na corrida, em um circuito que se mostrou muito
ruim em oportunidades de ultrapassagem. Um trunfo que seu principal rival,
Lucas Di Grassi, sentiu na pele, ao ter uma classificação muito ruim, que o fez
largar apenas em 19º, obrigando-o a uma corrida de recuperação onde o máximo
que poderia fazer, caso Vergne não errasse, era minimizar os prejuízos.
O brasileiro bem que tentou. Lucas até deu
sorte de não ter o carro comprometido no engavetamento que se formou na
primeira chicane na primeira largada, e até ganhou muitas posições, mas a
largada acabou anulada pela confusão, e foi feita uma nova partida, com as
posições originais, como era comum acontecer antigamente na F-1. Lucas bem que
deu o seu melhor, em um circuito difícil, terminando apenas em 10º lugar, e
depois promovido a 9º pela punição dada a André Lotterer por saída irregular do
box, o que o fez ganhar mais uma posição. Com a punição, Lotterer praticamente
dá adeus às poucas possibilidades de tentar chegar ao título, ficando 44 pontos
atrás de seu companheiro de equipe, que venceu a corrida, faturando sua 3º
vitória na temporada, e disparando na pontuação, já que Di Grassi, com o 9º
lugar, foi a 98 pontos, distante 32 do francês, com seus 130 pontos na
liderança da competição. Mas não foi um triunfo fácil para Jean-Éric, que foi
fortemente acossado por Mith Evans, da Jaguar, que com o 2º lugar, chegou à 3ª
posição na classificação, com 87 pontos, 1 a mais que Lotterer, agora o 4º
colocado. Vergne não pôde cometer um único erro enquanto se defendia de Evans,
situação que ficou bem complicada nas voltas finais, quando começou a chover, e
a pista ficou bem arisca para os pilotos e seus carros. Mas, mostrando porque é
o atual campeão da categoria de carros monopostos totalmente elétricos, foi uma
vitória contundente, especialmente para abater o único adversário com chances
razoáveis de tentar estragar sua festa rumo ao bi, Lucas Di Grassi, que agora
precisará não apenas dar o melhor de si na pista, mas também precisará torcer
para um fim de semana ruim de Vergne na pista do Brooklyn, na metrópole
norte-americana.
Vergne só foi vencer a primeira corrida da temporada em Mônaco, mas cresceu bastante nas últimas etapas, no momento decisivo da luta pelo título. |
E não será um fim de semana fácil em Nova
Iorque. A pista, montada no Brooklyn, é estreita e ruim de ultrapassagens, o
que significa que a luta será decisiva já no treino de classificação. E não vai
bastar apenas uma boa posição de largada, será necessário ser preciso e tomar
cuidado na corrida. Um enrosco, e tudo pode ir para o brejo. Serão 58 pontos em
jogo nas duas corridas nova-iorquinas, o que em tese oferece ainda chances
razoáveis de Lucas estragar a comemoração de Jean-Éric, dependendo da
combinação de resultados. São 25 pontos pela vitória, 3 pela pole-position, e
mais 1 pela volta mais rápida da corrida, se terminar entre os 10 primeiros colocados.
Mas, com 32 pontos de vantagem, Vergne pode marcar o brasileiro, e administrar
a situação. Ou ocorrer o contrário, como já vimos no ano passado, quando Vergne
venceu uma das corridas de Nova Iorque, mesmo não havendo necessidade para
tanto. Tudo vai depender de como os carros se comportarão nos treinos livres e
na classificação. E tudo pode acontecer, literalmente, não importando o
currículo dos postulantes ao título até agora na temporada.
Se Lucas teve um fim de semana ruim em
Berna, quem garante que Vergne também não pode ter um? E, independente da
posição de largada, é preciso também ficar a salvo de prováveis confusões
durante os treinos e a corrida. Um percalço que leve a alguma batida,
especialmente na prova de sábado, a primeira do final de semana, pode
comprometer não apenas aquela corrida, mas também a do domingo, dependendo dos
danos sofridos no carro, e no tempo que o time perderá para ajeitar e consertar
tudo. Mais do que talento e competência, a sorte também exercerá papel crucial
na decisão do título.
Enquanto isso, outros
nomes que até despontaram como candidatos ao título na primeira metade da
temporada se apresentam ao menos com algumas chances de terminar no TOP-3 da
temporada, como Antonio Félix da Costa, Robin Frijns, Sébastien Buemi, Jerôme D’Ambrosi,
e até Daniel Abt, e Oliver Rowland. O piloto português da equipe Andretti
começou vencendo na Arábia Saudita, numa bela estréia da BMW como participante
oficial da competição, mas a escuderia perdeu fôlego com o avançar da
temporada, e Antonio acabou caindo de performance por causa disso. Quem também
começou bem, e perdeu ritmo foi a Virgin, com Sam Bird a vencer a etapa do
Chile, mas vendo suas chances evaporarem ao ficar 4 provas sem conseguir marcar
pontos, o que o fez despencar na classificação enquanto os rivais pontuavam,
entre eles Robin Frijns, seu próprio companheiro de equipe, que chegou a vencer
a etapa de Paris, passando à frente do inglês na classificação. Sébastien Buemi
ainda não voltou a vencer na categoria, e na primeira metade da temporada,
chegou a ficar atrás de seu novo parceiro na e.dams, Oliver Rowland, mas o
suíço, se não conseguiu voltar à luta pelo título pelo segundo ano consecutivo,
ao menos colocou um pouco de ordem na casa, e retomou a dianteira na
classificação em relação a seu parceiro de time. E a Mahindra, a exemplo da
Andretti, também começou a nova temporada com perspectivas de lutar pelo
título, mas foi ficando pelo meio do caminho, como já havia acontecido também
na temporada anterior, deixando o belga Jerôme D’Ambrosio sem chances de se
manter na briga. Tudo vai depender de suas performances na rodada dupla final,
e dos resultados cruzados entre todos eles, uma vez que a briga deve ser bem
parelha, mas terão que encarar também a concorrência forte daqueles que
acabarem perdendo o duelo pelo título, como Di Grassi, Lotterer, e Evans.
Por mais que possam
criticar a F-E, tem que se admitir que suas corridas estão bem mais agitadas do
que as da F-1, e na próxima temporada, contarão oficialmente com mais duas
fábricas no grid, Mercedes e Porsche, elevando o número de competidores a 24
carros nas corridas, e com boas perspectivas de disputa entre os times e seus
pilotos, algo muito mais interessante do que a F-1 tem oferecido ultimamente,
mesmo que Jean-Éric Vergne desponte agora com um favoritismo destacado em
relação ao resto do grid. Mas, estamos na reta final do campeonato, ao
contrário do que vemos na F-1, onde não chegamos nem na metade da temporada, e
o título de campeão já parece ser mais do que óbvio para quem irá...
Por enquanto, mesmo
com seus percalços, a F-E vai cumprindo o seu papel como categoria de
competição automobilística, com vários méritos. E com um futuro que parece cada
vez mais promissor e interessante.
Depois de uma corrida onde a
emoção na pista ficou abaixo de todas as expectativas, na pista de Paul Ricard,
tudo que a Fórmula 1 espera é que a pista de Zeltweg oferece melhores chances
de uma corrida mais agitada para o Grande Prêmio da Áustria, que será disputado
neste domingo, com os primeiros treinos tendo início hoje na pista da Estíria.
Mas a empolgação de maiores disputas levou um belo tombo depois do domínio
acachapante de Lewis Hamilton domingo passado na França, onde o pentacampeão
largou na pole, e praticamente correu sem ser incomodado toda a corrida,
fazendo os concorrentes, Valtteri Bottas incluído, comerem sua poeira, com uma
facilidade que escancarou a realidade do campeonato deste ano: não haverá como
o inglês não conquistar o 6º título, salvo um milagre, ou um desastre
monumental. Hamilton, após o triunfo no GP da França, chegou a Zeltweg como
grande favorito para a corrida do domingo, em que pese a Mercedes manifestar
preocupação com relação à confiabilidade dos carros, já que aqui, no ano
passado, a dupla prateada ficou pelo caminho, no ponto mais negativo da
escuderia alemã em toda a temporada de 2018, o que abriu caminho para uma
vitória de Max Verstappen. Na pista de propriedade da Red Bull, foi o máximo,
mas este ano, as perspectivas de repetir o feito andam menores, a ponto de Max
declarar que é impossível bater a Mercedes este ano, e mesmo a luta contra a
Ferrari é complicada, pelo déficit de performance da unidade de potência da
Honda, que se hoje demonstra uma confiabilidade que andou em falta nos anos
recentes de parceria com a McLaren, por outro lado ainda deve muito em potência
para Mercedes e Ferrari, e parece estar devendo até mesmo para a Renault. A
Mercedes costuma não dar muita chance para o azar, portanto, esperar que haja
outra hecatombe com o time prateado como ocorreu em 2018 parece pouco provável,
embora não impossível. Infelizmente, vai ser preciso mais do que um abandono de
Hamilton e Bottas em um GP para resgatar a emoção que o campeonato vem devendo
este ano...
Com 79 triunfos no currículo,
Lewis Hamilton aproxima-se cada vez mais do recorde de vitórias do alemão
Michael Schumacher, com 91 triunfos em sua carreira. O que antes era tido como
praticamente impossível, que era a marca ser alcançada, agora é algo visto como
em que momento ela será superada por Hamilton, uma vez que consideram isso
praticamente inevitável, dado não só o momento de supremacia da Mercedes, mas
também o grande momento de Lewis. E começaram as apostas para ver quando isso
ocorrerá, com os mais otimistas, e talvez ousados, afirmando que isso pode
acontecer ainda este ano. São 12 vitórias para Hamilton alcançar a marca de
Schumacher, e temos, com a corrida deste domingo, 13 etapas para fechar a
temporada de 2019. Seria preciso que Lewis vencesse praticamente tudo para
passar à frente do recorde de Michael, ficando então com 92 vitórias, e
tornando-se o novo recordista neste quesito na F-1. Muito difícil, mas não
impossível. Embora muitos queiram ver Hamilton com este novo recorde o quanto
antes, obter esta marca ainda este ano significaria um domínio sem igual, e
tremendamente arrasador para quem gostaria de ver a F-1 com alguma emoção. E
seria preciso também uma sorte tremenda de Hamilton, sem querer questionar a
competência com que vem vencendo nesta temporada. Mas em algum momento,
Valtteri Bottas pode vencer uma ou outra corrida, e a Mercedes também pode ter
um final de semana negativou e até desastroso, o que poderia permitir um
triunfo de Ferrari ou Red Bull, se eles não conseguirem ao menos reverter parte
da grande desvantagem de performance para o time prateado. Mais certo é tentar
apostar em que momento de 2020 a marca de Schumacher será batida. Faltaria,
então, apenas conquistar o título de 2020, para Hamilton ser considerado o maior
da história da F-1, apenas em números estatísticos. Ele já é o recordista de
poles, e com o novo recorde de vitórias, mesmo que iguale os 7 títulos de
Schumacher, em tese já passaria à frente do alemão. E isso leva a outra aposta:
Lewis poderia conquistar um 8º título? Difícil de saber neste momento, mas
continuando na Mercedes, e com um carro competitivo e vencedor, mesmo que não
dominador como neste ano, tudo é possível. Até mesmo ir além. O futuro dirá...
Afinal, quando estreou na F-1, em 2007, Hamilton se caracterizava não apenas
por ser um grande talento, mas por ser o primeiro piloto negro a competir na
categoria máxima do automobilismo. Quem apostaria que iria tão longe? O futuro
sempre pode ser surpreendente em alguns aspectos...