sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

DAKAR 2019 EM AÇÃO

O Dakar por pouco não deixou de ser realizado este ano, mas a prova conseguiu se manter firme, pela primeira vez ocorrendo em um único país.

            E a maior prova de competição off-road do mundo da velocidade está de novo em ação. Os “loucos do deserto”, como são chamados seus competidores, estão literalmente engolindo areia na edição deste ano do Dakar, o mais famoso rali do mundo. Mas, a grosso modo, quem andou tendo problemas mesmo foi a organização da prova, que passou por vários momentos conturbados no ano passado, com o risco real de a prova deste ano nem ser realizada, justamente quando a competição completa uma década sendo realizada na América do Sul, em sua 41ª edição.
            A Argentina, que tradicionalmente era um dos países que sediava a competição, pulou fora. Bolívia, outro país que já fez parte da prova, também desistiu. O Chile, idem. Chegou-se a cogitar a entrada do Equador, mas as negociações não avançaram. Brasil, nem pensar. E sobrou para o Peru pagar o pato, diga-se. E mesmo assim, a coisa foi mais complicada do que o de costume. O motivo: dinheiro, óbvio.
            Custear uma competição como o Dakar não sai barato. Entre taxas a serem pagas para poder sediar a prova, e a infraestrutura voltada para a competição, são mais de US$ 30 milhões, a serem bancados, e aí está o erro, pelos governos dos países interessados na prova. E foi o que fez a maioria dos países candidatos a sediar a competição desistirem de repetir a dose agora em 2019. A Argentina passa por uma grave crise econômica, e os altos custos, além de divergências com os organizadores, fizeram naufragar as opções por Chile e Bolívia. E mesmo o Peru, por pouco não arriou, o que forçaria o provável cancelamento da competição, o que seria a segunda vez em sua história que o Dakar não seria disputado. A primeira vez foi em 2008, quando problemas de segurança nos países do norte africano colocaram a prova em risco, e a organização optou pelo cancelamento para preservar a integridade de seus participantes. Desde então, a maior prova de competição off-road do planeta veio para o continente sul-americano, onde está desde então.
            Felizmente, a meio do ano passado, o Peru aceitou as condições financeiras, e tratou de se preparar para custear a competição, fazendo com que o Dakar pela primeira vez em sua história seja realizado dentro de um único país. Para o Peru, é uma chance única de promover seu país perante o mundo, de forma que a manutenção da corrida passou a ser tratada como “interesse nacional”. Mas, particularmente, será que a iniciativa privada não poderia ajudar no custeio, com troca de publicidade? Bancar corridas com recursos públicos, em um país onde boa parte da população tem outras necessidades, sempre é algo que gera muita discussão. Se o retorno financeiro ao país for superior ao montante gasto, e de forma “geral” (leia-se turismo, serviços e outros gastos realizados pelos estrangeiros no país), isso até se justifica, mas continua sendo um debate que pode ser bem polêmico, dependendo das circunstâncias.
Treze vezes vencedor do Dakar, Stéphane Peterhansel (acima) mostra que ainda está em forma, aos 53 anos, e briga pelo 14º título nas areias do deserto peruano, que fica marcado pela passagem dos pilotos e suas máquinas em alta velocidade (abaixo).
            As dificuldades ao menos geraram um interesse mais forte de tentar levar a competição de volta para o continente africano, idéia que durante alguns anos pareceu completamente esquecida, diante dos bons momentos que o Dakar viveu aqui pelas vizinhanças. Seria interessante ver o rali de volta a seus antigos locais de competição, mas a situação no norte africano ainda é instável, e não tem se visto avanços de monta nos últimos anos. O ponto positivo é que não é apenas o norte do continente que anda sendo sondado para uma possível volta do Dakar, mas também outros países mais ao sul. Mas tudo dependerá, contudo, da receptividade dos países sul-americanos pela competição de 2020, o que leva a crer que a organização da prova deverá realizar negociações paralelas com os países africanos para receberem a competição, ao mesmo tempo em que negociam com os sul-americanos. E quem oferecer as melhores condições, levará a prova.
            Enquanto isso, os dakaristas estão em ação nas areias do deserto da parte sul do Peru, entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. A largada da prova aconteceu esta semana, na última segunda-feira, dia 7, em Lima, capital do país, com um percurso de 331 Km até Pisco. Hoje, no 5º dia da competição, o cronograma é de largada da cidade de Moquegua-Tacna, até Arequipa, com 776 Km de percurso na competição, o terceiro maior trecho do Dakar 2019, e marca o fim da primeira metade da prova. O Dakar encolheu em relação ao ano passado, em virtude de ser realizado em um único país. Dos 14 dias de prova de 2018, este ano serão 10 dias. Amanhã será o tradicional dia de descanso para todos os competidores, em Arequipa. Momento para todo mundo tentar relaxar e se recuperar de incidentes e outros percalços sofridos durante esta semana, enquanto as equipes de apoio tentarão “remendar” os equipamentos dos menos afortunados na disputa.
            No domingo, teremos o maior trecho de disputa do rali este ano. O percurso entre Arequipa e San Juan de Marcona terá nada menos que 839 km a serem vencidos. Na verdade, de Arequipa, o rali inicia sua volta para a capital Lima, mas passando por outros percursos entre as cidades. Na última quarta-feira, os pilotos tiveram o segundo maior trecho de competição, de Arequipa até San Juan de Marcona, com 799 Km. Dia 17, os pilotos partirão de Pisco, com chegada programada em Lima, marcando o fim da competição. No total, teremos cerca de 5,6 mil Km de percurso, a imensa maioria no deserto do sul do Peru, que na opinião da ASO, a organizadora do Dakar, reabilita o verdadeiro espírito da competição do rali, cuja imagem foi forjada pelos competidores desafiando as areias do deserto do Saara, no norte da África, desde seus primórdios, até o ano de 2007, quando a competição foi realizada pela última vez no continente africano.
"El Matador": Carlos Sainz tinha se aposentado, mas o vírus do deserto atacou de novo, e ele pegou o capacete para acelerar de novo no Dakar, tentando o tricampeonato, mas deu azar com problemas mecânicos no seu carro, ficando longe das primeiras colocações.
            E de certa maneira, eles até que têm razão: pode-se dizer que os competidores não viam tanta areia pela frente desde que deixaram o norte da África. E tome poeira mesmo. E, apesar de uma prova menor, tanto em percurso quanto em dias de duração, a organização optou por etapas mais curtas, e também mais difíceis, exigindo muito mais da navegação, e também esforço físico dos competidores. E as dificuldades inerentes dos terrenos arenosos também iriam levar mais tempo para serem vencidas. E, em termos de competidores, o Dakar 2019 até que começou bem, com nada menos do que 334 veículos participantes largando da capital peruana rumo às areias do sul do país andino.
            Entre os nomes de peso na competição, Stéphane Peterhansel, o “Mr. Dakar”, com nada menos que 13 vitórias no Dakar, está de novo em ação, e mesmo aos 53 anos, vai em busca de seu 14º triunfo. E ele mostra disposição para brigar: além de ter vencido a disputa dos carros na última quarta-feira, naquela que foi sua 75ª vitória em especiais da competição, em nada menos do que 31 anos de disputa neste rali, até o final da competição nesta quinta-feira ele vinha na 2ª colocação, ao volante de seu Mini X-Raid, a apenas 8min55s atrás de Nasser Al-Attiyah, defendendo a equipe oficial da Toyota, e duas vezes campeão do Dakar. Uma briga que promete pegar fogo na segunda metade da competição.
Os pilotos estão vendo areia por todos os lados na disputa entre as etapas, e os caminhões, os peso-pesados do Dakar, tratam de levantar ainda mais areia por onde passam...
            Outros competidores de renome são Sébastien Loeb, Ciryl Despress, e Carlos “El Matador” Sainz, vencedor do Dakar em 2018, e que tinha resolvido se aposentar, mas resolveu revogar a aposentadoria para desafiar as areias dos desertos um pouco mais. Só que Sainz já teve um belo azar, ao ter uma quebra de suspensão durante uma especial, perdendo praticamente 5 horas em relação aos líderes, o que o fez despencar para a 23ª colocação. Andando furiosamente após os reparos, “El Matador” recuperou 20 minutos de tempo, mas as chances de uma nova vitória na competição já eram. Loeb fechou ontem em 6º lugar nos carros, enquanto Despres foi o 7º, ambos com praticamente 50 minutos de atraso para Al-Attiyah.
            Enquanto isso, nos UTVs, os brasileiros até que começaram bem a competição, vencendo a primeira etapa com Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, campeões da classe no ano passado. Mas a dupla perdeu um pouco de fôlego durante os dias seguintes, ocupando no momento a 4ª colocação, distantes 30min30s dos líderes Sergei Kariakin e Anton Vlasiuk. Ainda na categoria UTVs, temos a dupla brasileira Marcos Baumgart e Kleber Cincea, que ocupam a 6ª posição; e Cristian Baungart e Alberto Andreotti, na 11ª posição. Fazendo dupla com o português Miguel Jordão, o brasileiro Lourival Roldan ocupa a 7ª colocação. Nas motos, Antonio Lincoln Berrocal era o 113º colocado.
            Apesar das dificuldades dos competidores, ao menos até o presente momento o rali não teve problemas graves entre os competidores. Claro, já tivemos abandonos e desistências, o que é mais do que natural em uma competição off-road, mas felizmente, nenhum acidente grave ou que tenha havido problemas que deixassem a vida de alguém em risco. Para uma competição como o Dakar, que já ganhou a alcunha de “rali da morte”, pelos vários pilotos e outras pessoas que acabaram morrendo nestes 40 anos de disputa contabilizados até o ano passado, é reconfortante ver que, apesar das dificuldades enfrentadas por todos nos percursos, nada de anormal tenha acontecido ou surgido até agora. Competição e algumas loucuras por parte dos pilotos, é de minha torcida que não vejamos nenhum acidente mais forte, ou percalço que acabe causando ferimentos graves a quem quer que seja na competição, ou decorrente dela.
            Mas, ainda é cedo para comemorar. Foram apenas 4 dias de disputa, e tudo pode mudar. Se tem algo que é certo nestas competições, é que não dá para ter certeza de nada. Por isso mesmo, nesta sexta-feira, dependendo do que acontecer ao longo dia, o próprio panorama do Dakar pode vir a ser outro, e favoritos podem virar azarões, e azarões de repente podem se tornar favoritos. Não basta apenas ter talento e capacidade: quando se desafia a natureza, um pouco de sorte sempre é necessária, para que se possa conseguir evitar o pior. Que todos consigam chegar até a linha de chegada na capital peruana, dia 17, inteiros, e com saúde. E que vençam os melhores, e quem sabe, os menos azarados na competição...


A Formula-E prepara-se para a segunda etapa de sua 5ª temporada, e o palco é o circuito de Marrakesh, no Marrocos. A expectativa é de vermos uma corrida bem mais organizada do que a que vimos na Arábia Saudita, e espera-se que a organização da categoria também defina com mais clareza e detalhes o “Modo Ataque” e suas condições de utilização. O circuito Moulay El Hassan é muito mais bem desenhado que o da etapa inicial árabe, e conta com uma extensão de 2,99 Km, com um total de 12 curvas. Será a primeira pista onde poderemos ver uma comparação de desempenho entre os carros atuais Gen2, e a performance dos antigos carros, que na temporada passada ainda precisavam ser trocados a meio da corrida, pelo fato de o sistema de baterias não ter condições de durar a prova inteira. A vitória nesta corrida na temporada passada foi do sueco Felix Rosenqvist, com a Mahindra, que havia largado em 3º, e superado Sam Bird (que terminou em 3º) e Sébastien Buemi, que largara na pole-position, e ficou em 2º lugar. Nelsinho Piquet fez um bom 4º lugar na Jaguar, enquanto Lucas Di Grassi abandonou a corrida com problemas em seu carro, depois de largar numa promissora 5ª posição. A corrida terá transmissão ao vivo pelo canal pago Fox Sports a partir das 12:30 hrs., pelo horário de Brasília.


Domingo, dia seguinte ao ePrix de Marrakesh, a F-E realizará outro teste de novatos, e uma das novidades será a presença de Pietro Fittipaldi, que andará com o carro da equipe Jaguar. Pietro havia feito um teste similar no ano passado, na mesma pista, e poderá fazer uma comparação da evolução do antigo carro com o novo Gen2. O brasileiro está confirmado como piloto de testes da equipe Hass de F-1 este ano, o que deve limitar suas participações em outras categorias, mesmo em testes. Por enquanto, nossos representantes no certame de carros elétricos continuarão sendo Lucas Di Grassi (Audi), Nelsinho Piquet (Jaguar), e Felipe Massa (Venturi). Di Grassi, aliás, não irá competir regularmente na Stick Car Brasil este ano, preferindo se concentrar no campeonato da F-E em tempo integral.


Na disputa na pista, Antonio Felix da Costa defenderá a liderança do campeonato da F-E em Marrakesh, mas sabe que a disputa para se manter na ponta será complicada, apesar da boa estréia da parceria BMW-Andretti na abertura da competição. Tudo foi meio bagunçado em Ad Diriyah, inclusive com a chuva atrapalhando a classificação, de modo que alguns pilotos não conseguiram tirar tudo de seus carros. Jean-Éric Vergne, que tinha tudo para vencer, até sofrer uma punição discutível, promete vir com tudo, e mostrar que seu time, a Techeetah, e ele, são o conjunto a ser batido na competição. E teremos a estréia de Pascal Werhlein no time da Mahindra, finalmente. A escuderia indiana, aliás, venceu esta prova no ano passado, e depois de andar relativamente bem com Jerôme D’Ambrosio na Arábia Saudita, quer manter o bom momento do time. Já para nossos representantes no certame, o objetivo é ter uma prova bem mais proveitosa do que a última corrida, onde péssimas posições de largada e uma punição acabaram atrapalhando a obtenção de melhores resultados.


E a F-E está no radar de outro grande fabricante de automóveis: a Ford. A fábrica norte-americana está estudando as perspectivas de oportunidades que podem ser apresentadas pela competição de carros elétricos, com vistas a desenvolver sua tecnologia de eletrificação de carros de rua. A direção da F-E e a Ford já mantiveram conversas recentemente, mas nada foi acertado entre eles. Mas a Ford sabe que a eletrificação dos veículos deverá ser o caminho do futuro, e com os rivais aportando na competição, é preciso ficar atento para considerar as oportunidades de um ingresso, uma vez que a empresa não parece muito entusiasmada com o novo programa dos hipercarros que deverão ser introduzidos no WEC em futuro próximo, no lugar dos atuais carros protótipos. Da mesma maneira, a Ford pode encerrar o seu programa de GT nas provas de longa duração, dependendo de como os regulamentos forem elaborados para os próximos campeonatos, dando a entender que, encerrados os contratos atuais em vigor, eles podem não ser renovados. A F-E deverá atingir o seu limite de participantes com a entrada da Porsche na 6ª temporada, tendo então 12 times e 24 carros, o que obrigaria a Ford a se unir a um time já estabelecido na competição para entrar na disputa. Mas o bom mesmo seria permitir 13 times e 26 carros, com mais competidores nas corridas, o que seria também um belo tapa na cara da F-1, que não consegue sair de seus 10 times e 20 pilotos na competição, sendo que no ano passado, não fosse a operação que salvou a Force India da falência, o grid poderia ter sido reduzido a 18 carros e 9 times...

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