O Dakar por pouco não deixou de ser realizado este ano, mas a prova conseguiu se manter firme, pela primeira vez ocorrendo em um único país. |
E a maior prova de
competição off-road do mundo da velocidade está de novo em ação. Os “loucos do
deserto”, como são chamados seus competidores, estão literalmente engolindo
areia na edição deste ano do Dakar, o mais famoso rali do mundo. Mas, a grosso
modo, quem andou tendo problemas mesmo foi a organização da prova, que passou
por vários momentos conturbados no ano passado, com o risco real de a prova
deste ano nem ser realizada, justamente quando a competição completa uma década
sendo realizada na América do Sul, em sua 41ª edição.
A Argentina, que
tradicionalmente era um dos países que sediava a competição, pulou fora.
Bolívia, outro país que já fez parte da prova, também desistiu. O Chile, idem.
Chegou-se a cogitar a entrada do Equador, mas as negociações não avançaram.
Brasil, nem pensar. E sobrou para o Peru pagar o pato, diga-se. E mesmo assim,
a coisa foi mais complicada do que o de costume. O motivo: dinheiro, óbvio.
Custear uma competição
como o Dakar não sai barato. Entre taxas a serem pagas para poder sediar a
prova, e a infraestrutura voltada para a competição, são mais de US$ 30
milhões, a serem bancados, e aí está o erro, pelos governos dos países
interessados na prova. E foi o que fez a maioria dos países candidatos a sediar
a competição desistirem de repetir a dose agora em 2019. A Argentina passa por
uma grave crise econômica, e os altos custos, além de divergências com os
organizadores, fizeram naufragar as opções por Chile e Bolívia. E mesmo o Peru,
por pouco não arriou, o que forçaria o provável cancelamento da competição, o
que seria a segunda vez em sua história que o Dakar não seria disputado. A
primeira vez foi em 2008, quando problemas de segurança nos países do norte
africano colocaram a prova em risco, e a organização optou pelo cancelamento
para preservar a integridade de seus participantes. Desde então, a maior prova
de competição off-road do planeta veio para o continente sul-americano, onde
está desde então.
Felizmente, a meio do
ano passado, o Peru aceitou as condições financeiras, e tratou de se preparar
para custear a competição, fazendo com que o Dakar pela primeira vez em sua
história seja realizado dentro de um único país. Para o Peru, é uma chance
única de promover seu país perante o mundo, de forma que a manutenção da
corrida passou a ser tratada como “interesse nacional”. Mas, particularmente,
será que a iniciativa privada não poderia ajudar no custeio, com troca de
publicidade? Bancar corridas com recursos públicos, em um país onde boa parte
da população tem outras necessidades, sempre é algo que gera muita discussão.
Se o retorno financeiro ao país for superior ao montante gasto, e de forma
“geral” (leia-se turismo, serviços e outros gastos realizados pelos estrangeiros
no país), isso até se justifica, mas continua sendo um debate que pode ser bem
polêmico, dependendo das circunstâncias.
As dificuldades ao
menos geraram um interesse mais forte de tentar levar a competição de volta
para o continente africano, idéia que durante alguns anos pareceu completamente
esquecida, diante dos bons momentos que o Dakar viveu aqui pelas vizinhanças.
Seria interessante ver o rali de volta a seus antigos locais de competição, mas
a situação no norte africano ainda é instável, e não tem se visto avanços de
monta nos últimos anos. O ponto positivo é que não é apenas o norte do
continente que anda sendo sondado para uma possível volta do Dakar, mas também
outros países mais ao sul. Mas tudo dependerá, contudo, da receptividade dos
países sul-americanos pela competição de 2020, o que leva a crer que a
organização da prova deverá realizar negociações paralelas com os países
africanos para receberem a competição, ao mesmo tempo em que negociam com os
sul-americanos. E quem oferecer as melhores condições, levará a prova.
Enquanto isso, os
dakaristas estão em ação nas areias do deserto da parte sul do Peru, entre a
Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. A largada da prova aconteceu esta
semana, na última segunda-feira, dia 7, em Lima, capital do país, com um
percurso de 331 Km até Pisco. Hoje, no 5º dia da competição, o cronograma é de
largada da cidade de Moquegua-Tacna, até Arequipa, com 776 Km de percurso na
competição, o terceiro maior trecho do Dakar 2019, e marca o fim da primeira
metade da prova. O Dakar encolheu em relação ao ano passado, em virtude de ser
realizado em um único país. Dos 14 dias de prova de 2018, este ano serão 10
dias. Amanhã será o tradicional dia de descanso para todos os competidores, em
Arequipa. Momento para todo mundo tentar relaxar e se recuperar de incidentes e
outros percalços sofridos durante esta semana, enquanto as equipes de apoio
tentarão “remendar” os equipamentos dos menos afortunados na disputa.
No domingo, teremos o
maior trecho de disputa do rali este ano. O percurso entre Arequipa e San Juan
de Marcona terá nada menos que 839 km a serem vencidos. Na verdade, de
Arequipa, o rali inicia sua volta para a capital Lima, mas passando por outros
percursos entre as cidades. Na última quarta-feira, os pilotos tiveram o
segundo maior trecho de competição, de Arequipa até San Juan de Marcona, com
799 Km. Dia 17, os pilotos partirão de Pisco, com chegada programada em Lima,
marcando o fim da competição. No total, teremos cerca de 5,6 mil Km de
percurso, a imensa maioria no deserto do sul do Peru, que na opinião da ASO, a
organizadora do Dakar, reabilita o verdadeiro espírito da competição do rali,
cuja imagem foi forjada pelos competidores desafiando as areias do deserto do
Saara, no norte da África, desde seus primórdios, até o ano de 2007, quando a
competição foi realizada pela última vez no continente africano.
E de certa maneira,
eles até que têm razão: pode-se dizer que os competidores não viam tanta areia
pela frente desde que deixaram o norte da África. E tome poeira mesmo. E,
apesar de uma prova menor, tanto em percurso quanto em dias de duração, a
organização optou por etapas mais curtas, e também mais difíceis, exigindo
muito mais da navegação, e também esforço físico dos competidores. E as
dificuldades inerentes dos terrenos arenosos também iriam levar mais tempo para
serem vencidas. E, em termos de competidores, o Dakar 2019 até que começou bem,
com nada menos do que 334 veículos participantes largando da capital peruana
rumo às areias do sul do país andino.
Entre os nomes de peso
na competição, Stéphane Peterhansel, o “Mr. Dakar”, com nada menos que 13
vitórias no Dakar, está de novo em ação, e mesmo aos 53 anos, vai em busca de
seu 14º triunfo. E ele mostra disposição para brigar: além de ter vencido a disputa
dos carros na última quarta-feira, naquela que foi sua 75ª vitória em especiais
da competição, em nada menos do que 31 anos de disputa neste rali, até o final
da competição nesta quinta-feira ele vinha na 2ª colocação, ao volante de seu
Mini X-Raid, a apenas 8min55s atrás de Nasser Al-Attiyah, defendendo a equipe
oficial da Toyota, e duas vezes campeão do Dakar. Uma briga que promete pegar
fogo na segunda metade da competição.
Os pilotos estão vendo areia por todos os lados na disputa entre as etapas, e os caminhões, os peso-pesados do Dakar, tratam de levantar ainda mais areia por onde passam... |
Outros competidores de
renome são Sébastien Loeb, Ciryl Despress, e Carlos “El Matador” Sainz,
vencedor do Dakar em 2018, e que tinha resolvido se aposentar, mas resolveu
revogar a aposentadoria para desafiar as areias dos desertos um pouco mais. Só
que Sainz já teve um belo azar, ao ter uma quebra de suspensão durante uma especial,
perdendo praticamente 5 horas em relação aos líderes, o que o fez despencar
para a 23ª colocação. Andando furiosamente após os reparos, “El Matador”
recuperou 20 minutos de tempo, mas as chances de uma nova vitória na competição
já eram. Loeb fechou ontem em 6º lugar nos carros, enquanto Despres foi o 7º,
ambos com praticamente 50 minutos de atraso para Al-Attiyah.
Enquanto isso, nos
UTVs, os brasileiros até que começaram bem a competição, vencendo a primeira
etapa com Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, campeões da classe no ano
passado. Mas a dupla perdeu um pouco de fôlego durante os dias seguintes,
ocupando no momento a 4ª colocação, distantes 30min30s dos líderes Sergei Kariakin
e Anton Vlasiuk. Ainda na categoria UTVs, temos a dupla brasileira Marcos Baumgart
e Kleber Cincea, que ocupam a 6ª posição; e Cristian Baungart e Alberto Andreotti,
na 11ª posição. Fazendo dupla com o português Miguel Jordão, o brasileiro
Lourival Roldan ocupa a 7ª colocação. Nas motos, Antonio Lincoln Berrocal era o
113º colocado.
Apesar das
dificuldades dos competidores, ao menos até o presente momento o rali não teve
problemas graves entre os competidores. Claro, já tivemos abandonos e
desistências, o que é mais do que natural em uma competição off-road, mas
felizmente, nenhum acidente grave ou que tenha havido problemas que deixassem a
vida de alguém em risco. Para uma competição como o Dakar, que já ganhou a
alcunha de “rali da morte”, pelos vários pilotos e outras pessoas que acabaram
morrendo nestes 40 anos de disputa contabilizados até o ano passado, é
reconfortante ver que, apesar das dificuldades enfrentadas por todos nos
percursos, nada de anormal tenha acontecido ou surgido até agora. Competição e
algumas loucuras por parte dos pilotos, é de minha torcida que não vejamos
nenhum acidente mais forte, ou percalço que acabe causando ferimentos graves a
quem quer que seja na competição, ou decorrente dela.
Mas, ainda é cedo para
comemorar. Foram apenas 4 dias de disputa, e tudo pode mudar. Se tem algo que é
certo nestas competições, é que não dá para ter certeza de nada. Por isso
mesmo, nesta sexta-feira, dependendo do que acontecer ao longo dia, o próprio
panorama do Dakar pode vir a ser outro, e favoritos podem virar azarões, e
azarões de repente podem se tornar favoritos. Não basta apenas ter talento e
capacidade: quando se desafia a natureza, um pouco de sorte sempre é
necessária, para que se possa conseguir evitar o pior. Que todos consigam
chegar até a linha de chegada na capital peruana, dia 17, inteiros, e com
saúde. E que vençam os melhores, e quem sabe, os menos azarados na
competição...
A Formula-E prepara-se para a
segunda etapa de sua 5ª temporada, e o palco é o circuito de Marrakesh, no
Marrocos. A expectativa é de vermos uma corrida bem mais organizada do que a
que vimos na Arábia Saudita, e espera-se que a organização da categoria também
defina com mais clareza e detalhes o “Modo Ataque” e suas condições de
utilização. O circuito Moulay El Hassan é muito mais bem desenhado que o da
etapa inicial árabe, e conta com uma extensão de 2,99 Km, com um total de 12
curvas. Será a primeira pista onde poderemos ver uma comparação de desempenho
entre os carros atuais Gen2, e a performance dos antigos carros, que na
temporada passada ainda precisavam ser trocados a meio da corrida, pelo fato de
o sistema de baterias não ter condições de durar a prova inteira. A vitória
nesta corrida na temporada passada foi do sueco Felix Rosenqvist, com a
Mahindra, que havia largado em 3º, e superado Sam Bird (que terminou em 3º) e
Sébastien Buemi, que largara na pole-position, e ficou em 2º lugar. Nelsinho
Piquet fez um bom 4º lugar na Jaguar, enquanto Lucas Di Grassi abandonou a
corrida com problemas em seu carro, depois de largar numa promissora 5ª
posição. A corrida terá transmissão ao vivo pelo canal pago Fox Sports a partir
das 12:30 hrs., pelo horário de Brasília.
Domingo, dia seguinte ao ePrix de
Marrakesh, a F-E realizará outro teste de novatos, e uma das novidades será a
presença de Pietro Fittipaldi, que andará com o carro da equipe Jaguar. Pietro
havia feito um teste similar no ano passado, na mesma pista, e poderá fazer uma
comparação da evolução do antigo carro com o novo Gen2. O brasileiro está
confirmado como piloto de testes da equipe Hass de F-1 este ano, o que deve
limitar suas participações em outras categorias, mesmo em testes. Por enquanto,
nossos representantes no certame de carros elétricos continuarão sendo Lucas Di
Grassi (Audi), Nelsinho Piquet (Jaguar), e Felipe Massa (Venturi). Di Grassi,
aliás, não irá competir regularmente na Stick Car Brasil este ano, preferindo
se concentrar no campeonato da F-E em tempo integral.
Na disputa na pista, Antonio
Felix da Costa defenderá a liderança do campeonato da F-E em Marrakesh, mas
sabe que a disputa para se manter na ponta será complicada, apesar da boa
estréia da parceria BMW-Andretti na abertura da competição. Tudo foi meio
bagunçado em Ad Diriyah, inclusive com a chuva atrapalhando a classificação, de
modo que alguns pilotos não conseguiram tirar tudo de seus carros. Jean-Éric
Vergne, que tinha tudo para vencer, até sofrer uma punição discutível, promete
vir com tudo, e mostrar que seu time, a Techeetah, e ele, são o conjunto a ser
batido na competição. E teremos a estréia de Pascal Werhlein no time da
Mahindra, finalmente. A escuderia indiana, aliás, venceu esta prova no ano
passado, e depois de andar relativamente bem com Jerôme D’Ambrosio na Arábia
Saudita, quer manter o bom momento do time. Já para nossos representantes no
certame, o objetivo é ter uma prova bem mais proveitosa do que a última
corrida, onde péssimas posições de largada e uma punição acabaram atrapalhando a
obtenção de melhores resultados.
E a F-E está no radar de outro
grande fabricante de automóveis: a Ford. A fábrica norte-americana está estudando
as perspectivas de oportunidades que podem ser apresentadas pela competição de
carros elétricos, com vistas a desenvolver sua tecnologia de eletrificação de
carros de rua. A direção da F-E e a Ford já mantiveram conversas recentemente,
mas nada foi acertado entre eles. Mas a Ford sabe que a eletrificação dos
veículos deverá ser o caminho do futuro, e com os rivais aportando na
competição, é preciso ficar atento para considerar as oportunidades de um
ingresso, uma vez que a empresa não parece muito entusiasmada com o novo
programa dos hipercarros que deverão ser introduzidos no WEC em futuro próximo,
no lugar dos atuais carros protótipos. Da mesma maneira, a Ford pode encerrar o
seu programa de GT nas provas de longa duração, dependendo de como os regulamentos
forem elaborados para os próximos campeonatos, dando a entender que, encerrados
os contratos atuais em vigor, eles podem não ser renovados. A F-E deverá
atingir o seu limite de participantes com a entrada da Porsche na 6ª temporada,
tendo então 12 times e 24 carros, o que obrigaria a Ford a se unir a um time já
estabelecido na competição para entrar na disputa. Mas o bom mesmo seria
permitir 13 times e 26 carros, com mais competidores nas corridas, o que seria
também um belo tapa na cara da F-1, que não consegue sair de seus 10 times e 20
pilotos na competição, sendo que no ano passado, não fosse a operação que
salvou a Force India da falência, o grid poderia ter sido reduzido a 18 carros
e 9 times...
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