Encerrando as postagens de 2018,
trago hoje outra de minhas antigas colunas. Esta, publicada m 14 de agosto de
1998, falava um pouco sobre Rubens Barrichello como piloto, que na época
rolavam boatos de que poderia ser contratado para correr na Williams na
temporada 2000. O brasileiro, contudo, acabou contratado para pilotar pela
Ferrari, e ali teve sua maior chance, mas também seu período mais difícil na
categoria máxima do automobilismo, por correr ao lado de Michael Schumacher, a
maior estrela da F-1. Conforme menciono no texto, Rubens era um excelente
piloto, e tinha, guardadas as devidas proporções, condições de fazer muito mais
do que realmente fez no time italiano, não fossem suas politicagens de apoio
praticamente quase exclusivo a seu primeiro piloto, no caso, Schumacher.
Barrichello teve poucas chances de competir em pé de igualdade com o alemão no
time italiano, mas só isso não explica a diferença de resultados vista nos anos
em que lá esteve. Schumacher era um fora de série, o que Rubens não era. Mas,
para os torcedores brasileiros, isso foi só mais um motivo para crucificarem
Barrichello, por não ser campeão como o foram Émerson Fittipaldi, Nélson
Piquet, e Ayrton Senna. Para boa parte da torcida, até hoje, prevalecem as
críticas de que Rubinho era uma vergonha à nossa “tradição” vitoriosa na F-1,
rótulo que também passou a ser usado contra Felipe Massa. De quebra, alguns
tópicos rápidos a respeito da F-CART, com alguns dos acontecimentos ocorridos
na etapa de Mid-Ohio naquele ano. Uma boa leitura a todos, e nos vemos em 2019.
Boas festas para todos!
VERDADES
Rubens
Barrichello na Williams? O boato continua forte nos bastidores da Fórmula 1,
que chegou a Budapeste fervendo nos bastidores, especialmente no quesito troca
de pilotos. McLaren e Ferrari já estão oficialmente fechadas para 1999. Na Benetton,
Alexander Wurz e Giancarlo Fisichella devem permanecer. Fica a dúvida da
Williams, que pode ter Alessandro Zanardi e Rubens Barrichello.
Como
já acontece há algum tempo nas notícias que se referem a Rubinho, há quem
esteja declarando que a Williams está mesmo em processo de decadência, ao
presumir que eles devem contratar o piloto brasileiro. Realmente é uma postura
lamentável de muitos torcedores brasileiros da F-1, que simplesmente não têm
mais nenhuma fé em Barrichello.
Em
parte, a própria torcida é culpada por este tipo de atitude. Os torcedores
ficaram muito mal acostumados com o sucesso de Nélson Piquet e Ayrton Senna,
que juntos, fizeram o Brasil vencer nas pistas da F-1 por quase 15 anos, boa
parte deles disputando o título. Depois que perdemos Ayrton em 1994, muitos
acreditavam que Rubinho daria continuidade à saga vencedora do Brasil na
categoria. Mas o que houve? Tivemos apenas um ou outro pódio, resultados bem
escassos quando antes esperávamos vitórias em quase todas as corridas. Era muito
pouco para o que estávamos acostumados até então.
Os
torcedores não perdoaram: dispararam críticas e farpas na direção de
Barrichello. Não vou relacionar aqui as inúmeras críticas que deram a ele, mas
houve até quem dissesse que o brasileiro não tinha o direito de estar na F-1, e
que estava envergonhando a tradição brasileira na F-1.
Isso
é um absurdo! É verdade que Rubinho cometeu vários erros. Ele acabou
bombardeado pela mídia e pela torcida, com cobranças de resultados
exageradamente altos. Ele acabou entrando em parte dessa onda de dar seguimento
à sequência de vitórias brasileiras, e com tamanha pressão nas costas, acabou
perdendo o rumo em diversas corridas, guiando abaixo da sua média habitual. E
as cobranças então, deram lugar às críticas, que não foram poucas. Para piorar
a situação, houve ofertas de lugares em times de ponta, e o brasileiro não
aproveitou a oportunidade, então, mais críticas na direção do piloto.
Esqueceram-se do principal, que Rubens nunca teve um carro de ponta que
permitisse brigar efetivamente por vitórias, assim como Émerson Fittipaldi,
Nélson Piquet e Ayrton Senna. E Émerson, em seus tempos de Copersucar, virou
piada nacional, por não conseguir mais vencer na F-1, tentando desenvolver o
projeto da equipe nacional na F-1.
Para
esclarecer, houve uma proposta da Ferrari. Só que, no time italiano, correndo
ao lado de Michael Schumacher, o brasileiro seria tratado como reserva, sem
condições de competir em igualdade de equipamento com o piloto alemão. E,
complicando ainda mais o panorama, o próprio Schumacher vetou o brasileiro no
time, tachando-o de incompetente e inapto para guiar um F-1. É óbvio que
Michael sabia que o brasileiro poderia pôr sua situação no time em risco se
tivesse a oportunidade de guiar em igualdade de condições ou perto disso.
A
McLaren também teria oferecido um contrato a Rubinho, mas que não lhe dava
garantia nenhuma de pilotar para o time na F-1. Assim como o contrato da
Ferrari, a McLaren também poderia ser uma tremenda fria. Um exemplo disso é
Mika Hakkinem, que assinou um destes contratos em 1993 e só foi efetivado no
time no final do campeonato porque Michael Andretti foi um desastre pilotando a
McLaren. Mesmo assim, Mika precisou esperar até o fim de 1997 para conseguir
enfim vencer na F-1, pois enfrentou uma fase de transição na McLaren.
A
Benetton também propôs contratar Rubinho. Este contrato tinha até tudo para dar
certo, mas na última hora, Flavio Briatore voltou atrás e contratou Gerhard
Berger, deixando o brasileiro a ver navios.
Agora,
a chance de pilotar para a Williams, um time de ponta na F-1 que atravessa um
momento de transição, enquanto aguarda a estréia do motor BMW no ano 2000. Este
tem sido o pior ano da Williams desde a temporada de 1988, quando teve de
correr com os problemáticos motores Judd depois de perder os propulsores da
Honda. Pode ser a última chance de Barrichello guiar um carro de ponta. Há
algumas complicações para o brasileiro guiar pela Williams, mas nada que não se
possa resolver.
Espero
que dê tudo certo, e que possamos voltar a ter um piloto num time de ponta
para, pelo menos potencialmente, voltar a poder disputar as vitórias na
categoria. Ficar na Stewart por mais um ano pode significar o fim da carreira
de Rubens na F-1. A Jordan, assim como a Stewart, prometiam mais do que
conseguiram mostrar na pista, o que ajudou, pelo menos mais no caso da Jordan,
a comprometer ainda mais a imagem de Rubinho como piloto. Em 1995 e 1996, os
excelentes resultados dos testes de inverno davam a falsa impressão de que o
time de Eddie Jordan poderia brigar por vitórias, e o que se viu depois foi
muito diferente. Na Stewart, o desgaste não foi tanto, pelo contrário, até
ajudou a reabilitar um pouco a imagem de Barrichello como piloto de talento.
Mas a Stewart também parece ter, no atual momento, atingido o seu limite. É
hora de Rubinho tentar algo mais para a frente, antes que fique permanentemente
preso em times médios, algo que costuma enterrar a carreira de muitos pilotos
talentosos na F-1.
Barrichello
é um piloto muito talentoso. Quem o vê dando tudo para tirar do carro até o que
ele não pode dar enxerga isso com clareza. Rubens é um dos poucos pilotos da
F-1 que conseguem andar mais do que o carro permite. Tomara que consiga guiar
pela Williams onde, pelo menos, terá um carro mais decente para fazer brilhar
toda a sua capacidade como piloto...
Alessandro Zanardi acabou desclassificado e multado por direção
perigosa no GP de Mid-Ohio de F-CART, disputado domingo passado. O italiano, em
disputas de posição, acabou jogando fora da pista Jirky Jarvi Letho e Hélio
Castro Neves. Zanardi acabou apenas em 12º, depois de praticar diversos
impropérios durante todo o fim de semana. O italiano foi multado em US$ 50 mil
e ficou bem irritado com o ocorrido. É bom que Zanardi tome cuidado, pois se
praticar tais barbeiragens na F-1, vai ver que a FIA é muito mais contundente e
rigorosa do que a CART quando se trata de punir pilotos por direção perigosa...
Zanardi não foi o único a sofrer sanções da CART em Mid-Ohio. O canadense
Greg Moore voltou a aprontar, desta vez dentro dos boxes, acertando um pneu e
por pouco não atingindo um mecânico gravemente. Moore levou US$ 5 mil de multa
e deverá ficar em observação na prova deste domingo em Elkhart Lake. O
mesmo vale para Zanardi. Brian Herta também está na mesma situação do italiano
e do canadense, por causa do acidente em que se envolveu na largada da corrida
de Lexington, e se algum dos três aprontar de novo, poderá perder os eventuais
pontos da prova de domingo, bem como levar uma suspensão da próxima etapa.
Curiosamente, Paul Tracy, que foi advertido pelas estripulias que têm causado
desde o início do ano, passou incólume pela prova de Mid-Ohio no domingo, sem
se envolver em nenhuma confusão...