sexta-feira, 14 de julho de 2017

HOMEM-ARANHA – DE VOLTA AO LAR



Fim de um jejum de três anos: Hélio Castro Neves venceu a corrida de Iowa pela Indycar e lavou a alma.

            Uso como título da coluna de hoje o mais recente filme do super-herói aracnídeo da Marvel Comics por um motivo óbvio: o retorno de Hélio Castro Neves ao degrau mais alto do pódio na Indycar, depois de um jejum de pouco mais de três anos. O último triunfo de Helinho até então havia sido na corrida 2 da rodada dupla de Detroit em 2014, disputada no dia 1º de junho de 2014. Desde então, o piloto brasileiro da equipe Penske nunca mais havia conseguido vencer uma corrida na categoria de monopostos dos Estados Unidos, até domingo passado, quando teve uma atuação irrepreensível, e cruzou a linha de chegada em primeiro lugar no GP de Iowa. E, como sempre fez, desde que venceu pela primeira vez em uma categoria Indy, lá no distante ano de 2000, quando a Penske disputava a F-Indy original, também na mesma pista de Detroit, Hélio parou o seu carro ao lado da pista, saltou do cockpit e foi para o alambrado, escalando-o em boa parte, e acenando efusivamente para a torcida, comemorando sua vitória. E, como sempre aconteceu, os torcedores corresponderam à sua entusiasmada e única forma de comemoração particular de subir o alambrado, razão pela qual o piloto ganhou o apelido de “Homem-Aranha”.
            O jejum de vitórias estava entalado na garganta do piloto há um bom tempo. Na temporada de 2014, ele acabou como vice-campeão, perdendo para o seu colega de equipe Will Power, que desencantara de vez, após ser vice-campeão nos anos anteriores, perdendo o título sempre na última corrida. De lá para cá, o piloto brasileiro, embora nunca deixasse de andar na frente, parecia estar numa fase pouco inspirada, que muitos começavam a chamar de a inevitável decadência que surge na carreira de um piloto. Talvez fosse um pouco exagerado dizer isso, mas a temporada de 2015 não foi tão inspirada para Helinho quanto a de 2014. O piloto de Ribeirão Preto passou o ano sem vencer uma única corrida, e terminou o campeonato em 5º lugar, com 453 pontos, enquanto Scott Dixon faturava o título com 556 pontos, justamente na última etapa. O resultado parecia desanimador, se levarmos em consideração que a disputa do título foi entre o neozelandês da equipe Chip Ganassi, e Juan Pablo Montoya, em seu segundo ano na equipe Penske, trazido no ano anterior, após praticamente uma década competindo na Nascar. Em outras palavras, o colombiano, em seu retorno a uma categoria de monopostos na qual já não andava há tempos, deixava o brasileiro comendo poeira dentro da Penske. Só não ficava pior para Helinho porque Simon Pagenaud, sensação da categoria, e fazendo seu primeiro ano no time do poderoso Roger Penske, terminara o ano em 11º, com 384 pontos. Em compensação, Will Power, campeão de 2014, era o 3º colocado ao fim do ano, com 493 pontos. Montoya ficou com o vice com a mesma pontuação de Dixon, mas perdendo o título por ter 2 vitórias, contra 3 do neozelandês.
O "Homem-Aranha" está de volta: Helinho escalou o alambrado do Iowa Speedway e foi aclamado pela torcida.
            Os melhores resultados de Hélio foram 3 segundos lugares, e 2 terceiros. Mas, para mostrar que continuava veloz, ele marcou 4 poles no ano. Olhando no cômputo geral, seus companheiros de equipe que ficaram à sua frente na classificação não tiveram um desempenho qualitativo tão superior assim. Apenas foram um pouco mais constantes do que o brasileiro. Um erro aqui, um azar ali, estratégias que deram errado, bandeiras amarelas estragando algumas performances. Quando se coloca tudo isso numa balança, em um certame tão competitivo como é a Indycar, são detalhes que podem fazer muita diferença. Hélio já havia passado uma temporada sem vencer pela Penske, em 2011, naquela que foi sua pior temporada desde que passara a ser piloto da Penske. Naquele ano, ele terminou a temporada em 11º, sem conseguir marcar nenhuma pole, ou vencer uma corrida, com 312 pontos. Seu companheiro na Penske, Will Power, foi o vice-campeão, com 555 pontos. O campeão foi Dario Franchiti, com 572. Até Ryan Briscoe, outro piloto da Penske, terminou o ano à frente do brasileiro, em 6º lugar, com 364 pontos. Visto por esse ângulo, a temporada de 2015 não fora ruim como muitos imaginavam, ou como alguns detratores acusavam, especialmente aqueles “torcedores” para os quais só importam mesmo vitórias ou títulos, como se comportam boa parte dos brasileiros que se dizem amantes do esporte.
            O jeito era manter a cabeça erguida e seguir em frente, como sempre fizera, mesmo no seu momento mais difícil, em 2009, quando quase foi condenado pela justiça dos Estados Unidos por evasão fiscal, e até que o julgamento terminasse, perdeu a primeira corrida da temporada, retornando apenas na segunda etapa, em Long Beach, mas compensando depois com sua terceira vitória na Indy500, o que faz dele o piloto mais vitorioso do grid atual na mítica corrida das 500 Milhas. Assim, o ano de 2016 era a chance de dar a volta por cima. Mas, nem tudo saiu como o esperado, e novas vitórias acabaram não vindo, para frustração da torcida, e do próprio piloto. Mas o ano não foi exatamente ruim: Helinho terminou a temporada em 3º lugar, com 504 pontos. Perdeu a parada para Will Power, o vice-campeão, com 532 pontos, mas tomou uma lavada de Simon Pagenaud, que em seu segundo ano na Penske, faturava o título da competição com uma performance impecável, obtendo 5 vitórias, e mais 3 segundos lugares, totalizando 659 pontos. Pela terceira vez em sua carreira, o brasileiro viu um companheiro de time mais novo do que ele na escuderia ser campeão. O primeiro havia sido Sam Horsnish Jr., em 2006. Depois, Will Power, em 2014, e agora, Pagenaud. Mais uma vez, os comentários de que o brasileiro só ia tão bem por estar no melhor time da categoria, ajudavam a compor um quadro enfatizando a “decadência” de Hélio como piloto, apesar de anotar duas poles na temporada. Os melhores resultados foram 2 segundos e 2 terceiros lugares. Além das 5 vitórias de Pagenaud, a Penske ainda averbou mais 4 triunfos com o vice-campeão Will Power, e até 1 vitória de Juan Pablo Montoya, que começou o ano na frente, mas perdeu completamente o ímpeto conforme a temporada avançava, e fechou o ano com um pífio 8º lugar, sendo substituído no time por Josef Newgarden, nova promessa da categoria. De fato, podia estar muito pior. Mesmo assim, os rumores de que a temporada seguinte poderiam ser a última do brasileiro, continuavam rolando nas fofocas.
            Mas veio 2017, e Hélio mostrou estar forte na competição. O problema era que, a exemplo de 2016, pequenos detalhes, em um ambiente tremendamente equilibrado e competitivo, continuavam a impedir que o brasileiro retornasse ao degrau mais alto do pódio. Em diversas corridas no último ano, tanto piloto quanto time cometeram erros em diversos momentos, quando não ocorriam problemas alheios ao controle de ambos. E isso parecia estar se repetindo na atual temporada. Problemas na classificação, estratégias erradas, um abandono... Faz parte do jogo, afinal. E, se for condenar o brasileiro, algumas palavras também poderiam ser dirigidas a Will Power, com sua temporada meio inconstante, alternando altos e baixos muito mais. Não fossem suas duas vitórias, o australiano certamente estaria bem mais abaixo na classificação. Mas todos os seus companheiros de equipe, Pagenaud, Power, e até o novato no time, Josef Newgarden, já haviam vencido no ano. Helinho iria repetir 2016, quando fora o único piloto do quarteto da Penske a passar o ano sem vencer?
            Uma hora, tudo teria de se encaixar, e um novo triunfo apareceria. Hélio mostrava sua velocidade, sendo pole em 3 oportunidades, perdendo neste quesito apenas para Will Power, que averbara sua 4ª pole na temporada justamente em Iowa. Mas desta vez, o brasileiro esteve perfeito, do início ao fim, mesmo quando não estava na liderança, e parecia que os rivais ririam por último, foi Hélio quem liderou a maior parte da prova, e mesmo com uma pequena interrupção, por conta de um pouco de chuva, sempre esteve seguro nas relargadas, e no ataque, voltando, enfim, a cruzar a linha de chegada na frente de todos os demais competidores. Foi a sua 30ª vitória nas categorias Indy, em uma carreira cujos números consolidados, desde sua estréia pelo time de Tony Bettenhausen Jr., em 1998, contabilizam 338 largadas, 54 poles, 41 segundos lugares, 22 terceiros lugares (totalizando 93 pódios), e 8065 pontos, em 19 temporadas completas de competição. Se levarmos em conta que desde 2000 Hélio compete pelo time mais forte da Indy, os números poderiam até parecer medianos, mas também não são nada desprezíveis, levando-se em conta a longevidade do piloto, e sua permanência sempre entre os favoritos ao título da competição, e às vitórias, o que nem sempre acontece, pelos motivos já citados acima.
Com três vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, Helinho só não correrá mais em Indy se não quiser: Roger Penske lhe garantirá um carro mesmo que ele passe para as competições de endurance com o novo time que está montando para a WheaterTech Sportscar. 
            Do grid atual, os mais antigos pilotos do grid são justamente Helinho, seu compatriota Tony Kanaan, e o neozelandês Scott Dixon. Kanaan estreou em 1998, na mesma temporada de Hélio, e segue na Indy até hoje. Dixon estreou em 2001. E, por sua longevidade na competição, é que o brasileiro poderá estar dizendo adeus à Indy em tempo integral. Desde o final do ano passado começaram a circular rumores de que Hélio estará fazendo sua última temporada agora em 2017. Seu novo destino seria a endurance americana, o IMSA WheaterTech Sports Car Campionship, onde Roger Penske pretende estrear como equipe no próximo ano, na classe protótipos, a DPi, e com Helinho como piloto, ao lado de Juan Pablo Montoya. Na prática, Hélio continuará com a Penske, que já considera o piloto praticamente um patrimônio da escuderia, um status até hoje alcançado apenas por Rick Mears, que mesmo cerca de 25 anos após sua aposentadoria das pistas, ainda é extremamente conceituado no time e pelo próprio Roger Penske. Não é qualquer um que consegue esse status, ainda mais com o velho Roger.
            E, mesmo assim, Helinho ainda estará com presença garantida na Indy500 por vários anos, no que depender do piloto, e de Penske. Os três triunfos obtidos pelo brasileiro são altamente valorizados, e Roger Penske gostaria muito de ver o brasileiro igualar, e até superar os maiores vencedores da Indy500 até hoje: A. J. Foyt, Al Unser, e Rick Mears, todos com 4 triunfos em suas carreiras. Destes, Foyt foi o único que nunca venceu as 500 Milhas com a Penske. Mears ganhou todas as suas 4 vitórias com Roger Penske. O último triunfo de Al Unser na Brickyard Line, em 1987, foi com a Penske. Poder contar com mais um recordista em seu currículo de pilotos contratados, ainda mais de vencedores da Indy500 é um sonho que Penske não pode ignorar, dada a importância da mítica corrida do oval de Indiana.
            Mas Hélio não quer dizer adeus à Indy também, e embora sua lealdade esteja com a Penske, aceitando ir para onde o enviarem para competir, como no WheaterTech, se ele for campeão da temporada, tudo pode mudar, e ele permanecer na Indycar em tempo integral, talvez por mais um ano, ou quem sabe, até mais. Tudo vai depender dele. E, agora que finalmente desencanou, e acabou com o seu jejum de vitórias, quem sabe outras venham com mais naturalidade, auxiliando-o em sua luta pelo título da temporada, o único troféu que lhe falta nos 20 anos de disputa das categorias Indy?
            Saudemos, portanto, a volta do “Homem-Aranha”, que depois de seu triunfo em Iowa, espera-se que esteja plenamente de volta ao seu lar, ou seja, o alto do pódio. E com muitas outras escaladas pelo restante da temporada, e além...


Hoje começam os treinos para o Grande Prêmio da Inglaterra, no seu mais tradicional palco, o circuito de Silverstone, que poderá estar realizando sua penúltima corrida este ano. Esta semana, a direção do BRDC, que administra o autódromo, anunciou que está fazendo uso de cláusula contratual para sediar a corrida de F-1 pela última vez em 2019. O motivo: as altas taxas em vigor do atual contrato, firmado por Bernie Ecclestone, que previa reajustes anuais na taxa exigida para sediar a corrida. Muitos apostam que a corrida não sairá deste circuito, e que com o Liberty Media agora na direção da categoria máxima do automobilismo, os termos e condições certamente serão renegociados. A conferir. Mas, seria interessante se a categoria pudesse voltar a Brands Hatch, onde correu pela última vez em 1986, não fosse o fato do autódromo precisar ter suas instalações completamente reconstruídas para poder sediar a atual estrutura exigida pela F-1. Um revezamento com Silverstone, como era feito no início dos anos 1980, não seria nada mal. Claro, sonhar ainda é válido, mas creio que dificilmente acontecerá. E Londres sediar uma corrida de F-1 em suas ruas seria interessante, mas creio que também não seja viável a curto prazo. Mas, quem sabe o que poderá acontecer? O que não pode é a Inglaterra, a pátria do automobilismo mundial, ficar sem seu GP de F-1...
Se a F-1 sair de Silverstone, para onde iria na Inglaterra? Brands Hatch atualmente não possui a infraestrutura necessária para sediar a categoria, embora fosse interessante ver os F-1 andarem por lá novamente...



A F-E chega à sua penúltima rodada, em Nova Iorque. Serão duas corridas, nas tardes deste sábado e domingo, com transmissão ao vivo a partir das 17:00 Hrs., no sábado, e 14:00 Hrs., no domingo, pelo horário de Brasília, no canal pago Fox Sports. Lucas Di Grassi tem a sua grande chance de assumir a liderança da competição, já que Sébastien Buemi terá de defender a Toyota no Mundial de Endurance, nas Seis Horas de Nurburgring, na Alemanha, e será substituído por Pierre Gasly na equipe e.dams nestes final de semana. Lucas tem 32 pontos de desvantagem para Buemi na classificação, e precisará manter sua média de finalização de corridas na temporada para passar à frente do suíço, que estará de volta na rodada dupla final, no fim de julho, em Montreal. E, se Di Grassi puder vencer ambas as provas, melhor ainda, pois jogará imensa pressão sobre Buemi na etapa final em solo canadense. Claro, falta combinar com a concorrência, que tem suas próprias idéias. Mas os carros elétricos tem tudo para apresentarem uma corrida empolgante no circuito montado na grande metrópole da costa leste dos Estados Unidos.
O traçado que a F-E usará no ePrix de Nova Iorque tem 1.947 metros, e 10 curvas, com alguns trechos de alta que podem favorecer boas disputas e tentativas de ultrapassagem.

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