sexta-feira, 28 de abril de 2017

DUELO NA RÚSSIA


A F-1 disputa neste final de semana a etapa da Rússia. No ano passado, houve muita confusão logo na largada. O que veremos este ano?

            O circo da F-1 chegou a Sochi para a disputa da quarta etapa do campeonato coma perspectiva de mais um duelo renhido entre as principais forças da competição, Mercedes e Ferrari. Sébastian Vettel, depois de sua bela vitória em Sakhir, lidera a competição, e como quem não quer nada, já veio avisando que a Mercedes deve ter favoritismo na pista russa. Será mesmo? Muitos apostam que é mais uma jogada para colocara pressão sobre o time alemão, e fazê-lo trabalhar no limite para que cometam erros. Depois do que vimos no Bahrein, não é difícil de acreditar nesta teoria. Até Toto Wolf admitiu que seu time precisa se acostumar com a nova realidade, e que os anos de domínio ficaram para trás. A Ferrari chegou pra valer, e a dor de cabeça só não é maior porque Kimi Raikkonen não está rendendo o que poderia, acumulando até o presente momento apenas metade da pontuação de Vettel.
            Lewis Hamilton saiu derrotado da Austrália, e conseguiu dar o troco na etapa seguinte, na China. Será que o tricampeão inglês repete a dose neste GP? Em tese, uma vitória de Lewis é praticamente obrigação para a Mercedes, que fecharia a primeira fase da temporada na frente. Daqui de Sochi todos os times retornam às suas fábricas, para na etapa de Barcelona colocarem na pista os primeiros megapacotes de atualizações de seus bólidos. A Red Bull é quem terá maisa mostrar: pretende estrear um chassi completamente revisado, se não novo, do modelo RB13, que até agora não rendeu o que equipe e pilotos esperavam. Como uma nova versão da unidade de potência da Renault só deve vir para a etapa do Canadá, as maiores chances do time dos energéticos tentar reequilibrar a luta com Mercedes e Ferrari reside na melhoria significativa de seu chassi, e numa temporada onde a aerodinâmica foi aumentada, causou espanto Adrian Newey, conhecido justamente por ser um mago nesta área, não ter conseguido produzir um carro tão notável como se poderia esperar.
            Mas, outra pergunta paira no ar: a Ferrari mostrou um chassi com melhor ritmo de corrida até aqui, enquanto a Mercedes ainda é o carro mais veloz em volta lançada. Quem garante queos pacotes de atualizações que ambos os times prometem estrear em Barcelona não alterem essa equação que rendeu até agora pelo menos duas corridas bem interessantes. O modelo W08 criado em Brackley é um carro extremamente competitivo, e com um potencial de desenvolvimento que só a equipe técnica da Mercedes pode mensurar. No caso da Ferrari, ainda paira certa dúvida no ar: o novo modelo SF70-H foi desenvolvido pelo novo corpo técnico que assumiu a Ferrari em meados do ano passado, ou pelo time coordenado por James Allison, dispensado pela escuderia italiana no primeiro semestre de 2016? Todos concordam que o trabalho começou com Allison, e que o novo corpo técnico, que muitos esperavam não conseguir produzir um carro tão competitivo em tão pouco tempo, soube muito bem finalizá-lo, e garantir que o resultado final fosse o melhor carro da Ferrari nos últimos anos, capaz realmente de permitir ao time de Maranello sonhar efetivamente com a conquista do título, obtido pela última vez em 2007. Mas será que o novo corpo técnico conseguirá dar o devido desenvolvimento ao modelo SF70-H para mantê-lo à altura da competitividade do W08?
            Há outro detalhe interessante nesta equação: James Allison, demitido da Ferrari no ano passado, hoje está justamente na Mercedes. E em integração com o corpo técnico do time alemão, deve saber em que pontos o carro vermelho pode ser melhor desenvolvido, e estudar maneiras de incrementar o desenvolvimento do carro prateado. Se a Mercedes conseguir apresentar uma melhoria maior do que a Ferrari, as chances de uma temporada bem disputada pelo título pode ser abreviada. E, se a Red Bull acertar o rumo do seu carro, Daniel Ricciardo e Max Verstappen poderão ter condições reais de se meterem na luta por vitórias na pista, o que poderia também complicar os planos de Maranello, que no momento tem de se preocupar somente com a dupla Lewis Hamilton-Valtteri Bottas. Deixar mais gente entrar na brincadeira pode ter consequências indesejáveis para todos, por mais que se pronunciem a favor de uma disputa mais equilibrada e emocionante na pista.
            E é por isso que obter uma nova vitória aqui na Rússia ganha importância capital. A Ferrari precisa continuar no ataque, a fim de garantir mais uma vitória, e ganhar uma dianteira que seja a maior possível, a fim de minimizar possíveis problemas que possam surgir quando implantar seu pacote de atualizações. Se a Mercedes trabalhar melhor, e dotar o modelo W08 de muito mais performance, as chances de competição da Ferrari podem se reduzir, de modo que Vettel poderá ter muito mais dificuldades para manter a luta parelha. Lógico que o equilíbrio de forças também pode se manter, e tudo continuar do modo como se encontra hoje. Mas, pelo sim, pelo não, é tratar de dar outro golpe contundente na rival, para se manter à frente. A Ferrari soube usar muito melhor a estratégia de corrida do que a Mercedes, mas uma hora a sorte pode mudar, portanto, não se pode dar chance ao azar. Se os prateados acertarem todos os detalhes da competição no fim de semana, e seus pilotos conduzirem à perfeição, eles podem muito bem sair vencedores.
            O circuito de Sochi tem certas similaridades com o do Albert Park, com várias curvas fechadas, além de uma pista mais estreita do que as de Sakhir e Shangai. Isso já dá uma preocupação maior com a dificuldade de ultrapassagens, que pode voltar a se manifestar na pista russa, a exemplo do que aconteceu em Melbourne. Os times deverão tentar obter dados a respeito das chances de ultrapassagens nos dois treinos livres de hoje, e caso as informações não sejam animadoras, a classificação para o grid terá importância ainda maior. Se nas corridas anteriores disputadas aqui, quem largou na primeira fila teve meio caminho para a vitória, agora isso poderá ser ainda mais crucial, em que pese voltarmos novamente a um detalhe que também foi fundamental para a reversão das expectativas na Austrália; a estratégia de corrida. Em Melbourne, a capacidade de conservar melhor os pneus foi fundamental para Vettel ficar mais tempo na pista em seu início, e depois, já na frente, não apenas defender-se de um eventual ataque dos pilotos da Mercedes, mas de ir-se embora com autoridade, de modo a não ser ameaçado.
A pista de Sochi desgasta muito menos os pneus do que em outros circuitos. Isso pode fazer as estratégias de pneus variarem de time para time.
            Pois este circuito de Sochi tem uma baixa taxa de degradação dos compostos, a ponto de Nico Rosberg ter tido um pneu furado logo no início da etapa de 2014, e mesmo efetuando somente aquela troca, ter ido direto até o fim da prova com o mesmo composto de pneus. E estou falando dos compostos da Pirelli que, em tese, não deveriam render tanto, a fim de provocar mais emoções e disputadas nas corridas. Então, a capacidade do carro da Ferrari de cuidar melhor de seus pneus poderá vir a ser um fator decisivo na estratégia de corrida. Se Hamilton largar na pole, ele terá de ir com tudo para a frente, procurando deixar todos para trás, e garantir que Vettel não esteja por perto o suficiente para repetir a tática de Melbourne, e para evitar perder tempo com tráfego na volta dos boxes. Mas, se na teoria parece simples, na prática a história é outra: a Ferrari, já tendo ciência deste detalhe, vai mandar Vettel ir com tudo também desde o início. Largar na melhor posição possível será obrigatório para definir a melhor estratégia para a prova. E a conservação dos pneus poderá ser o fator decisivo: assim como na Austrália Lewis acabou detonando seus compostos antes do que esperava, ele também precisará cuidar para que seus pneus não acabem prematuramente se tiver que impor um ritmo alucinante logo de cara. A pista russa pode ajudar, mas a capacidade e equilíbrio dos carros também influenciarão neste parâmetro, e o melhor comportamento do modelo SF70-H em relação os pneus certamente pode vir a ser um trunfo contundente.
            Ficamos na expectativa também de como a Mercedes se posicionará a respeito de Bottas na pista. No Bahrein, o time errou na calibragem dos pneus do finlandês, e ele não conseguiu render o que poderia na pista. A escuderia então, precisou apelar para “ordens de equipe”, a fim de que Bottas deixasse Hamilton passar, para duelar com Vettel, o que jogou contra a imagem de esportividade que a Mercedes vinha conseguindo cultivar tão cuidadosamente nos últimos anos ao promover a igualdade de sua dupla de pilotos. Ter de apelar para tal recurso novamente poderá ter efeitos negativos em Bottas, que se verá sem maiores perspectivas dentro do time alemão, e quem sabe, resolva até sair ao fim de seu ano de contrato. Isso se o finlandês também não passar a render mais. Assim como Raikkonen, Bottas até agora só conseguiu ficar perto de Hamilton a contento na Austrália. Ele precisa afinar sua pilotagem, e se colocar como adversário real da Ferrari e de Vettel.
            Os treinos de hoje devem dar uma boa dimensão do que poderemos esperar para a corrida. Será a primeira vez que Sochi receberá os novos carros da F-1, então os times terão de ter uma idéia mais aproximada dos limites que eles poderão atingir com sua maior carga aerodinâmica e downforce. Na China, Bahrein e Austrália, pistas já com muitas edições de GPs, os times tinham uma idéia de quando corriam lá na década passada quando as regras técnicas eram outras. Aqui na Rússia, eles terão de encontrar os novos limites e testar a reação dos carros a fundo, para verem quais as possibilidades que terão a considerar pela frente.
            Esperemos, portanto, que isso possa provocar mais uma corrida bem disputada e com grandes emoções, e não uma prova chata e sem atrativos, como alguns temem que a pista possa oferecer. É verdade que não dá para esperar que todas as etapas sejam bem disputadas e emocionantes, mas quando lembramos que daqui, a próxima corrida é em Barcelona, circuito mais do que conhecido a fundo pelas escuderias, e que geralmente não tem apresentado boas corridas nos últimos tempos, esperemos então que a corrida russa seja realmente “russa”, para compensar o possível marasmo aguardado para a etapa espanhola. Claro, todo mundo espera estar errado nos seus pressentimentos... Vejamos o que o fim de semana nos aguarda...


Depois da primeira etapa em circuito misto permanente, chegou a hora da Indycar realizar sua primeira corrida em circuito oval, neste sábado à noite. O palco é o Phoenix International Raceway, circuito oval de apenas uma milha, localizado na capital do Estado do Arizona. A pista voltou ao calendário da competição no ano passado, tendo a vitória de Scott Dixon, da Ganassi, com o pódio completado por Simon Pagenaud, da Penske, e seu companheiro Will Power. A pole-position foi de Hélio Castro Neves, mas o brasileiro não conseguiu se manter na dianteira, e fechou a prova apenas em 11º. Tony Kanaan, que largou na primeira fila, ao lado de seu compatriota, teve menos azar, e finalizou em 4º lugar. A corrida será transmitida ao vivo pelo canal Bandeirantes, a partir das 22:15 Hrs. deste sábado, e também pelo canal pago Bandsports. Aliás, devo elogiar a transmissão da etapa de Barber feita pela emissora, que começou bem antes da largada, tanto no canal aberto Bandeirantes quanto no canal pago Bandsports, e aproveitou muito bem o lance da presença de Fernando Alonso na etapa do Alabama, acompanhando os bastidores da corrida, e dando vários detalhes da repercussão causada pela decisão do espanhol de disputar as 500 Milhas de Indianápolis deste ano em uma associação da McLaren com o time de Michael Andretti. E, ao contrário do que aconteceu na transmissão da F-1 na Globo, Téo José e Felipe Giaffone não se furtaram a falar da situação do espanhol na F-1, com os problemas enfrentados pela equipe McLaren, e como começou a idéia de se disputar a Indy500. A emissora ainda fica devendo ter um repórter “in loco” nas corridas, mas pelo menos já está fazendo um melhor aproveitamento do material da própria categoria, e com isso, deixando a transmissão com mais informações e detalhes do que anda ocorrendo na pista e fora dela. E isso deve dar bons prognósticos do que esperar da cobertura das provas de Indianápolis, neste mês de maio, onde a emissora deverá contar com equipe de reportagem no local para acompanhar todos os detalhes. Quem sabe não chegou a hora da Bandeirantes realmente aproveitar melhor a competição da Indycar na sua programação?
A prova de Phoenix acontece neste sábado à noite. Quem vai vencer a primeira corrida em pista oval da temporada 2017?


Ainda sobre Fernando Alonso, o espanhol terá como instrutor pessoal na sua empreitada na Indy500 deste ano ninguém menos do que o brasileiro Gil de Ferran. Gil disputou a mítica prova e venceu a etapa de 2003 competindo pela Penske. Gil ainda foi bicampeão da F-Indy original, em 2000 e 2001, também pela Penske, que na época corria com motores da Honda, fábrica à qual o brasileiro é ligado, tendo sido inclusive diretor da equipe de F-1 na década passada. O brasileiro disse que voltar a Indianápolis com a função de servir de instrutor e orientador para Alonso traz muitas lembranças da época em que competia na pista, e que a sensação agora, mesmo do lado de fora, não é tão diferente. Gil revelou que ficou impressionado com a dedicação demonstrada por Fernando na empreitada, procurando aprender o máximo que puder para encarar uma das provas mais famosas do mundo do automobilismo mundial. Alonso certamente causará uma grande sensação na Indy500. Aliás, já está causando...

quarta-feira, 26 de abril de 2017

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – ABRIL DE 2017



            E mais um mês já está indo embora. Abril já se encontra em seus últimos dias, e em breve adentraremos o mês de maio. E como acontece em todo final de mês, lá vamos nós para mais uma edição da Cotação Automobilística, fazendo uma avaliação do que aconteceu no mundo do esporte a motor neste último mês, com minhas impressões sobre os acontecimentos. Então, aproveitem o texto, no esquema tradicional de sempre das avaliações: EM ALTA (caixa na cor verde); NA MESMA (caixa na cor azul); e EM BAIXA (caixa na cor vermelho-claro). Uma boa leitura a todos, e até a cotação do mês que vem...



EM ALTA:

Sébastian Vettel: O tetracampeão parece ter renascido com o bom modelo SF70-H produzido por Maranello, e já conseguiu duas vitórias inconstestáveis e lidera o campeonato de F-1. Não é segredo que o modelo da Ferrari parece render melhor em ritmo de corrida que o modelo W08 da Mercedes, mas o time vermelho também tem cuidado melhor da estratégia de corrida, e Vettel, voltou a andar o que demonstrava nos seus tempos de Red Bull, e até parou de reclamar pelo rádio, como vivia fazendo no ano passado. Ainda é cedo para afirmar que o piloto alemão tem primazia na pista para ser o principal favorito ao título, mas se conseguir manter a disputa no nível atual, tem boas chances de fazer a Ferrari voltar ao título, mas a parada será dura, e não é permitido errar na disputa que se prenuncia com a Mercedes.

Disputa nas corridas do campeonato na F-1: Se a corrida da Austrália deu uma imagem de que as corridas poderiam ser procissões em alta velocidade, com poucas ultrapassagens, as etapas da China e do Bahrein, felizmente, corrigiram a situação, e mostraram que teremos, sim, um bom campeonato. Não apenas a Mercedes terá de se aplicar a fundo na pista a partir de agora, se quiser continuar vencendo, como a Ferrari mostra estar sabendo usar melhor as estratégias de corrida, e com isso, equilibrar a situação a assumir até mesmo certo favoritismo na competição. No pelotão intermediário, por sua vez, está havendo boas disputas, com muita briga entre vários times, sem uma relação de forças estabelecida. O único ponto negativo é que há um abismo entre Mercedes e Ferrari e o resto do grid, incluída a Red Bull, que por sua vez, está à frente de todas as outras, mas sem conseguir encostar nos times da frente. Mas há espaço para os times desenvolverem seus carros, e quem sabe as disputas fiquem mais acirradas? Podemos ter boas brigas na pista durante o ano, e isso é o mais importante.

Novo formato de rodadas duplas da Stock Car: O novo formato das rodadas duplas do campeonato nacional da Stock Car, com a duração das duas corridas do fim de semana praticamente igual foi muito bem aceito não apenas pelos times e pilotos da categoria, como também pelos torcedores. No formato antigo, os pilotos costumavam privilegiar uma das corridas, e com isso a disputa ficava prejudicada em uma das corridas, uma vez que os pilotos procuravam economizar o equipamento, e assim, não disputavam com tudo o que poderiam render. Agora, com as duas corridas tendo a mesma duração, a parada é outra, e não há mais como preterir uma prova em detrimento da outra. É pau na máquina o tempo todo, nas duas provas do fim de semana, e com isso, já estamos vendo muito mais disputas e pegas do que vínhamos tendo na pista, e quem ganha são os torcedores, que estão tendo a oportunidade de assistir a corridas muito mais emocionantes e concorridas. Tivemos 4 vencedores diferentes nas duas rodadas duplas realizadas até agora, e com dois pilotos a dividirem a liderança da competição.

Lucas Di Grassi: Vice-campeão da F-E, o brasileiro Lucas Di Grassi deu um show de perícia na etapa da Cidade do México, ao superar as adversidades da corrida para executar com maestria uma estratégia de corrida que muitos apostavam ser completamente suicida e sem chances de sucesso. Trocando de carro várias voltas antes do esperado, o piloto da equipe Audi ABT precisaria conseguir gerenciar com muita precisão o seu consumo de energia no segundo carro para chegar até o final. Assumindo a liderança após um duelo breve com o belga Jerôme D’Ambrosio, Lucas conseguiu escapar o suficiente para controlar o seu gasto de energia, enquanto o belga segurava demais os competidores atrás de si, que quando conseguiram se livrar dele, já era tarde para impedir uma vitória completamente surpreendente do brasileiro, que volta a equilibrar o duelo pelo título da temporada da F-E, que via Sébastien Buemi disparar na liderança depois de 3 triunfos consecutivos. Ainda há muito chão pela frente, e o suíço da e.dams ainda é o favorito na competição. Mas etapas como a do México mostram que a luta poderá não ser tão fácil quando Buemi pensa. Mesmo assim, o brasileiro terá de se aplicar como nunca para superar a desvantagem de equipamento que ainda possui. Talento ele já mostrou que tem...

Pietro Fittipaldi na World Series: Em seu segundo ano competindo na categoria, o neto de Émerson Fittipaldi faturou as duas corridas da rodada dupla disputadas na pista de Silverstone. Duas vitórias incontestáveis que certamente credenciam o jovem Fittipaldi a ser o favorito para o título da temporada, e quem sabe depois, permitir o seu acesso à nova F-2, e daí, à F-1. Mas é preciso ir devagar com a coisa: antes uma categoria de acesso de renome, patrocinada pela Renault, a World Series hoje não tem mais o mesmo prestígio e a classe de competição de antes. Os triunfos de Pietro são válidos, claro, mas a concorrência é muito fraca, e o número de competidores, cerca de 12, muito pouco para dizer sobre as reais qualidades do piloto, que até pode ter feito realmente bonito na pista, mas em um certame com poucas opções competitivas, isso pode dar a ele dimensões superdimensionadas de suas capacidades, e fazê-lo levar um choque desagradável de realidade quando voltar a encarar competição de nível. Que o garoto não se deixe empolgar com seu bom momento, e saiba que ainda terá muitos desafios realmente duros pela frente, se quiser chegar à categoria máxima do automobilismo.



NA MESMA:

Sébastien Bourdais: Que o bom momento iria acabar, e a realidade se imporia, era apenas questão de tempo, mas ao que parece, o período de glória para o piloto francês, que mesmo com a fraca Dale Coyne está conseguindo liderar o campeonato 2017 da Indycar ainda vai durar um pouco mais. Mesmo tendo feito sua corrida mais fraca na temporada na etapa do Alabama, o bom resultado obtido na prova de Long Beach, onde novamente subiu ao pódio, depois de uma performance quase tão espetacular quanto a de São Petesburgo, mantém o piloto francês como líder da temporada após 3 corridas disputadas. Mas não se pode ficar iludido: os concorrentes mais poderosos estão chegando perto, em especial Scott Dixon e Josef Newgarden, que estão comendo a vantagem inicial de Bourdais, e tem tudo para desbanca-lo da liderança da competição já na próxima corrida, pondo fim ao conto de fadas que muitos gostariam que perdurasse. Mas a próxima corrida é em uma pista oval, e o pessoal da Honda parece forte neste tipo de pista. Quem sabe Sébastien não continue nos surpreendendo um pouco mais? O campeonato agradeceria muito.

Marc Márquez: O piloto da equipe oficial da Honda na MotoGP pode estar em certa desvantagem no atual momento na competição, em relação à dupla da Yamaha, mas em se tratando na pista de Austin, no Texas, a “Formiga Atômica” mostra que o circuito texano tem dono. Márquez marcou a pole-position para a prova, e apesar de um duelo inicial com seu companheiro de equipe Dani Pedrosa, partiu para conquistar sua 5ª vitória consecutiva no Circuito das Américas, mantendo sua hegemonia por lá intacta, pelo menos até a próxima temporada. Que o diga Maverick Viñales, que desta vez foi para o chão sozinho ainda na primeira metade da corrida, e não pode testar a invencibilidade do atual tricampeão no circuito do Texas.

Felipe Massa e a Williams: Se há alguma coisa que se pode observar a respeito de Felipe Massa e da equipe Williams nas últimas temporadas, é que o piloto e o carro da escuderia inglesa possuem aversão a piso molhado, não conseguindo render o esperado neste tipo de condução. E nem mesmo o novo FW40 se mostrou diferente neste quesito: na prova da China, Massa terminou fora da zona de pontos, só não cruzando a linha de chegada em último por haver uma Sauber ainda na pista. Não apenas o carro não conseguia oferecer tração, como Felipe também parecia não conseguir mostrar o que sabe. Mas bastou uma corrida em pista seca para o time se reencontrar e voltar a mostrar ser a 4ª força da F-1 no momento, na pista de Sakhir, onde Massa até travou duelos com pilotos mais bem equipados, como Daniel Ricciardo e Kimi Raikkonem, mas exibindo uma performance solitária de sua posição na pista, sem conseguir ir mais à frente, mas conseguindo se defender sem problemas de quem vinha atrás. Infelizmente para a Williams, até o presente momento o time é uma equipe de um piloto só, já que Lance Stroll ainda não conseguiu se livrar dos problemas, mesmo que ele não tenha sido o responsável principal, como ocorreu na prova do Bahrein.

Valentino Rossi: O “Doutor” é simplesmente o maior nome da MotoGP na atualidade, e se mostra competitivo e forte, e se não tem a velocidade bruta dos pilotos mais jovens, como Marc Márquez e o seu novo companheiro de equipe, Maverick Viñales, o italiano compensa com experiência e sabedoria nas corridas. Por isso, Rossi é o líder do campeonato, após marcar presença no pódio em todas as corridas disputadas na temporada 2017, enquanto os rivais diretos já beijaram o chão em alguma corrida. O piloto da Yamaha mostra que apesar da pré-temporada ter ficado aquém do esperado, não se pode subestimar sua capacidade de reação, especialmente em corrida. Mas, se quiser chegar a seu oitavo título na classe rainha do motociclismo, Valentino sabe que terá desafios difíceis pela frente, em especial seu novo companheiro de time, e o sempre combativo Marc Márquez. Mas o “Doutor” mostra que ainda é um erro subestimá-lo na pista, e ele pretende dar tudo de si sempre. Segura o italiano!

Equipe Penske na Indycar: O time de Roger Penske até que se abalou um pouco com o poderio reforçado dos times da Honda na categoria, mas mostrou que ainda é o time a ser vencido. Seus pilotos marcaram a poles em todas as corridas até agora, e Josef Newgarden já averbou sua primeira vitória na sua nova escuderia, na pista de Barber, onde contou com 3 de seus pilotos entre os 4 primeiros colocados na bandeirada. A disputa na Indy este ano está mais parelha, e com boas possibilidades de outros times surpreenderem, mas não se deve subestimar a força competitiva da Penske, que mostra que deve vir firme na disputa do título em mais uma temporada.



EM BAIXA:

Kimi Raikkonen: o piloto finlandês, que pareceu renascer no ano passado obtendo boas performances e garantindo mais um ano de contrato, está decepcionando neste início de temporada. Apesar de dispor do mesmo excelente modelo que está permitindo a seu companheiro de equipe Sébastian Vettel vencer corrida e liderar o mundial, Kimi até agora ficou praticamente fora dos pódios na temporada, e dos pilotos dos dois times que comandam o campeonato, é o último colocado, tendo apenas metade dos pontos de Vettel. A situação já serviu de motivo para a direção do time chamar o finlandês para uma “conversa” a fim de solucionar a situação, e então voltamos à situação dos últimos anos, em que Kimi está novamente na corda bamba em Maranello, podendo este ser, “mais uma vez”, o seu último ano na categoria máxima do automobilismo. Se o carro da Ferrari não fosse competitivo, até se poderia compreender, mas a situação é exatamente oposta. A Ferrari é uma força real, e a cúpula da equipe quer seus dois pilotos brigando lá na frente, e não apenas um deles. E isso infelizmente é ruim para a disputa da F-1, com um piloto a menos em condições de discutir as vitórias não entregando a disputa que todos esperavam.

Will Power: O piloto australiano da equipe Penske não vem tendo um início de campeonato muito inspirador. Apesar de ter conquistado 2 pole-positions nas 3 etapas da temporada disputadas até aqui, Power não vem tendo sorte nas corridas. Em São Petesburgo, teve problemas no carro e abandonou a corrida, depois de andar sempre entre os primeiros colocados. Na etapa de Long Beach, Will se envolveu em um enrosco com Charli Kimball, com ambos os pilotos indo parar no muro, e saindo da disputa das primeiras colocações. Em Barber, Power também vinha em relativa boa posição na corrida, mas um problema num pneu o obrigou a uma parada extra nos boxes, que o fez cair para o meio de trás do pelotão, de onde não conseguiu se recuperar. Com todos estes percalços, Power ocupa apenas a 14ª posição na classificação, com 50 pontos, sendo o pior piloto da Penske na competição até aqui. Vai ser preciso fazer umas sessões de reza brava para tirar essa urucubaca toda de cima, e começar a abocanhar bons resultados, se quiser disputar o bicampeonato.

Grande Prêmio da Malásia de F-1: Que os malaios já não estavam mais empolgados em sediar uma corrida de F-1, não era nenhum segredo, e que o contrato em vigor, válido até 2018, não seria renovado, diante dos altos custos que vinham sendo praticados na gestão de Bernie Ecclestone. Pois eis que os malaios resolveram antecipar sua saída: a etapa deste ano será a última corrida da F-1 em Sepang, não sendo realizada a corrida em 2018, como previsto inicialmente. O objetivo agora é ter a MotoGP como evento principal no circuito de Kuala Lumpur, que na opinião dos organizadores, custa muito menos e oferece muito mais disputas. Com o interesse do retorno das provas da França e da Alemanha ao calendário do ano que vem, o pessoal do Liberty Media, muito mais flexível e menos “guloso” em termos de taxas de realização de corridas, não colocaram empecilhos à saída antecipada dos malaios. Qual será a próxima corrida a sair de agora em diante? Cingapura também não está mais tão seduzida pela categoria máxima do automobilismo, e pode realmente sair fora a qualquer momento...

Bernie Ecclestone: O ex-todo poderoso chefão da F-1 voltou a frequentar o grid da categoria máxima do automobilismo, no Bahrein, a convite da família real barenita, e pareceu não gostar de ser apenas uma peça decorativa, já que não tem mais poder para decidir nada. Mesmo assim, mostrou que se estivesse à frente ainda da F-1, não concordaria com certas coisas que andam acontecendo, como a decisão de Fernando Alonso de disputar a Indy500 deste ano, mesmo abrindo mão de correr o GP de Mônaco, marcado para o mesmo dia. Na sua opinião, piloto de F-1 tem de estar comprometido com a F-1, e não com outras categorias. É por este tipo de atitude que Ecclestone não deixará saudades de sua gestão. E não adianta também fazer um mea culpa, ao admitir que certas corridas ainda poderiam estar no calendário se ele tivesse cobrado taxas mais razoáveis, porque ele sabia exatamente o que estava fazendo, e tinha plena noção, melhor do que ninguém, que a situação estava ficando cada vez mais insustentável, com taxas cada vez mais altas. Os tempos definitivamente são outros, e a F-1 precisa se adaptar e mudar para atender a esse novo mundo atual. E o velho Bernie, apesar de tudo o que fez pela F-1, lamento dizer, seu tempo já passou...

Equipe Mercedes na F-1: O time alemão, campeão nos últimos três anos, parece não estar sabendo reagir direito à concorrência de verdade que está enfrentando pela primeira vez desde que se tornou uma força dominante na F-1. No Bahrein, além de cometer o erro na calibragem do pneu de Valtteri Bottas, ainda precisou se “rebaixar” e apelar para ordens de equipe, a fim de deixar Lewis Hamilton na posição de desafiar Sébastian Vettel pela vitória na etapa de Sakhir. O time alemão ainda é uma grande força na F-1, e possivelmente ainda tem o melhor carro do grid, mas a competição mais acirrada está fazendo a escuderia pecar em detalhes mínimos no final de semana que estão sendo devidamente aproveitados pelos rivais, e com isso, superando o time prateado, que terá, sim, disputa direta pelo título com uma escuderia rival, e não apenas internamente, como ocorreu de 2014 a 2016. Os prateados que botem a cabeça no lugar e tratem de se acostumar com o novo panorama da F-1, muito mais interessante para todos que curtem o automobilismo e bons duelos. Ah, sim: também pegou mal ver que aquele papo de “igualdade de condições” que diziam dar a Hamilton e Nico Rosberg era devido apenas ao time alemão dominar a competição...