Lewis Hamilton chegou ao tricampeonato com o modelo W06 da Mercedes, que foi ainda mais eficiente do que o velho W05 de 2014. |
Findo o campeonato da
Fórmula 1 de 2015, podemos concluir que foi um ano em que a Mercedes, mais
ainda do que em 2014, dominou amplamente o campeonato. Quem esperava um ano com
um pouco mais de disputa teve que tirar o cavalo da chuva logo na etapa
inicial, na Austrália, onde os carros prateados fizeram sua primeira dobradinha
na temporada. Todo mundo ficou empolgado quando Sebastian Vettel venceu a prova
seguinte, na Malásia, dando a impressão de que a Ferrari, depois de um ano
complicado em 2014, voltaria a pelo menos incomodar os carros alemães. Infelizmente,
foi uma meia verdade: a Ferrari de fato se recuperou exemplarmente do péssimo
campeonato do ano passado, mas sua evolução foi insuficiente para fazer frente à
Mercedes, que evoluiu o que já era bom no campeonato de 2014 e tratou de
corrigir eventuais pontos-fracos que o projeto de seu bólido pudesse ter, na
concepção do modelo WO6.
Assim, não foi
surpresa o time germânico fechar o ano com mais um título de construtores, e
marcar nada menos do que 703 pontos nesta temporada. Em 2014, foram 701 pontos,
mas é preciso considerar que o time obteve pontuação dobrada em Abu Dhabi pela
vitória de Lewis Hamilton, artifício que felizmente não foi mais adotado esse
ano. Assim, podemos dizer que a Mercedes foi de fato bem mais eficiente nesta
temporada. Apenas em uma corrida, Cingapura, seus carros enfrentaram problemas
reais de competitividade, com o único abandono de Hamilton em todo o ano, e com
Nico Rosberg terminando em 4° lugar. Em termos de vitórias, o panorama de 2015
foi idêntico ao de 2014: foram 16 vitórias da Mercedes, enquanto o restante foi
obtido por apenas outro time. Se a Red Bull conseguiu surpreender no ano
passado e angariar as vitórias restantes, esse mérito ficou com a Ferrari nesta
temporada, com seu renovado modelo SF15T..
O time de Maranello,
aliás, conseguiu exibir uma faceta muito mais relaxada e aberta, ao contrário
do clima tenso e sério que apresentava nos últimos anos. Foi uma mudança
extremamente positiva para a escuderia, que encontrou o clima de paz e
tranquilidade que precisava para reencontrar o seu rumo e foco na competição. E
se Vettel conseguiu se aclimatar na escuderia italiana em tempo recorde e fazer
todos esquecerem o espanhol Fernando Alonso, Kimi Raikkonem infelizmente não
teve a temporada redentora que esperava, o que impediu que o time obtivesse
todo o potencial de sua melhora. Ainda assim, o finlandês ganhou uma nova
chance, e permanecerá no time em 2016, no que deve ser possivelmente sua última
temporada na categoria. Seria muito triste que ele encerrasse sua participação
com uma participação apenas mediana. A reorganização diretiva e estrutural do
time italiano mostrou seus frutos, e é consenso geral de que só não foram mesmo
melhores porque a Mercedes estava mesmo em ponto de bala, e com um Lewis
Hamilton dominante como há muito não se via, seria mesmo difícil tirar o título
da equipe de Brackley. Por isso, todo mundo encara a Ferrari como a campeã
"moral" de 2015. Talvez em 2016 eles consigam de fato destronar a
Mercedes, mas neste ano, conseguiram cumprir todos os objetivos propostos, e ir
até um pouco além.
Hamilton, aliás,
estava tão relaxado e competitivo este ano que sua primeira derrota pra valer
na pista foi na prova da Áustria. Até então, Nico Rosberg havia vencido na
Espanha e em Mônaco, mas na pista catalã foi nítido ver que Hamilton procurou não
arriscar numa disputa acirrada pela vitória, e contentou-se com o 2° lugar,
enquanto em Mônaco, erros tanto do piloto quanto da escuderia jogaram o triunfo
na pista monegasca no colo de Rosberg. O alemão estava numa temporada apagada,
até que em Zeltweg finalmente venceu com méritos para se impôr frente ao
companheiro de equipe como um adversário de fato, sem depender de erros alheios.
Infelizmente, o vice-campeão de 2014 só voltaria a mostrar performance similar
nas últimas corridas do campeonato, com o título já decidido a favor de
Hamilton, que fechara a conquista nos Estados Unidos, na prova que foi
considerada a melhor do ano, graças especialmente à chuva que mais uma vez
bagunçou as estratégias de equipes e pilotos no piso molhado e seco. Restou a
Nico Rosberg, batido por Hamilton pelo segundo ano consecutivo dentro do time
alemão, terminar o ano com a moral em alta para tentar novamente a sorte em
2016.
A Williams esperava andar mais próxima da Mercedes, mas se viu atropela por uma renascida Ferrari com Sebastian Vettel ao volante. |
A Williams terminou
2015 com um misto de satisfação e decepção. Se, ao fim de 2014 a escuderia inglesa
comemorava sua ressurreição na categoria, com a melhor classificação em mais de
uma década, onde só faltou mesmo vencer uma corrida, todos apostavam que neste
ano eles teriam mais condições de alcançar novamente esse feito, até porque o
time só engrenou mesmo quase a meio do ano, tendo enfrentado vários percalços
nas provas iniciais. A satisfação foi ver que a Williams continuou andando bem
este ano, mas a decepção foi que não foi além disso, como todos esperavam. O
time provou ser incapaz de andar mais próximo das imbatíveis Mercedes, como se
planejava, mas esse não foi o problema, e sim ter sido atropelado pela melhora
da Ferrari, que contra todas as expectativas, não apenas voltou a vencer
corridas, mesmo que ocasionalmente, mas a se mostrar como a mais próxima adversária
de Rosberg e Hamilton durante todo o campeonato.
Pior foi ver a Red
Bull, que teve um início de ano desastroso devido aos problemas das unidades de
potência da Renault evoluir em performance de forma a colocar até mesmo em
perigo a posição do time de Frank, se este já não tivesse garantido grande
folga na pontuação do campeonato, o que demonstra que a escuderia não conseguiu
resolver todos os problemas de performance do modelo FW37, que mostrou ser
particularmente deficiente em pistas travadas e de baixa velocidade, o que
denotou uma crucial falta de capacidade de geração de downforce do monoposto. Assim,
não foi agradável ver o time sair praticamente zerado nas provas de Mônaco e
Hungria. Mas foi também complicado ver o time conseguir render menos este ano
em determinadas provas em pistas de alta velocidade, como a Bélgica, onde no
ano passado subiram até o pódio. Para 2016, a ordem é renovar a base para o FW38,
mostrando que o potencial do FW37 se esgotou antes do que todos imaginavam. Nesse
ponto, a Williams ainda deu sorte da Red Bull ter caído de performance pelos
problemas de motor enfrentados no ano. Do contrário, manter o 3° lugar na competição
teria sido tarefa bem mais árdua.
Como a Renault
conseguiu produzir uma atualização de sua unidade de potência com desempenho inferior
à de 2014, ninguém se espantou com a queda de performance da Red Bull, que
havia sido a vice-campeã do ano passado. Mas, infelizmente para a competição, a
escuderia gastou boa parte de suas energias no primeiro semestre malhando
publicamente a parceria francesa, culpando-a por todos os desaires que estava
sofrendo, no que virou um dos bate-bocas mais acalorados dos últimos tempos. Passada
a saraivada de críticas, a escuderia de Milton Keynes esfriou um pouco os ânimos
e começou a trabalhar melhor no desenvolvimento do modelo RB11, que ganhou uma
melhoria de andamento notável em várias pistas, mesmo com a unidade deficiente
de potência da Renault. Tivessem se concentrado mais em melhorar o seu carro a
princípio, poderiam certamente ter fechado o ano com resultados melhores do que
os apresentados, e quem sabe, talvez até ter desbancado a Williams da 3ª
colocação. A escuderia austríaca também se atrapalhou toda nas negociações de
motor para 2016, a
ponto de ficar praticamente órfã de motor oficialmente. A truculência de
Christian Horner, Helmut Marko, e de Dietrich Mateschitz provocaram o
rompimento do contrato com a Renault, válido ainda para o próximo ano, e
negativas de acordos por parte de Mercedes e Ferrari, além de verem fechadas
portas com a Honda, e assistirem à implosão de um acordo plausível com a
Volkswagen, em decorrência de um escândalo de manipulação de dados veiculares
por parte da montadora alemã.
Restou ao time austríaco
um acordo em que continuará utilizando as unidades da Renault em 2016, mas
arcando com um desenvolvimento autônomo que será coordenado pela Ilmor, com
patrocínio da TAG-Heuer, ex-parceira da McLaren. Mas o rescaldo da luta por um
motor já garantiu sequelas no desenvolvimento do novo RB12, que segundo algumas
informações de bastidores, está bem atrasado, e vai exigir trabalho em tempo
integral na fábrica para se recuperar o tempo perdido até o início da pré-temporada
de 2016. E pensar que até alguns anos atrás a Red Bull era a escuderia mais
arejada e descontraída de todo o grid... O sucesso sem dúvida fez mal ao time,
que não soube mais sorrir e competir como fazia antes de começar a vencer na
F-1.
Apesar de estar em sua
melhor classificação no mundial de construtores, com a 5ª posição, a Force
India marcou menos pontos em 2015 do que em 2014. Foram 136 pontos nesta
temporada, frente aos 155 conquistados no ano passado. Mas não se pode negar
que, quando estreou finalmente o seu modelo 2015, o chassi VJM-08, somente a
meio da temporada, é que a escuderia enfim engrenou na competição, marcando
pontos regularmente deste a etapa da Bélgica, e conseguindo até um pódio. Um
grande mérito para a escuderia, que praticamente iniciou os testes da pré-temporada
com apenas um carro, e sem ser o modelo definitivo desta temporada, devido à
falta de recursos, o que comprometeu a primeira metade da temporada. Não fosse
este problema, a escuderia de Vijay Mallya certamente poderia ter conseguido melhores
resultados. Mesmo assim, o time termina o ano sem folga financeira para 2016, e
vai precisar continuar sabendo usar bem seus recursos para manter-se firme no
pelotão intermediário.
A Lotus teve um ano de
altos e baixos, e se não foi mais longe, foi pelas indefinições e incertezas
que rondaram o futuro do time a partir do meio da temporada para o seu final,
quando se tornou público o rompimento da Renault com a Red Bull, e cresceram os
rumores de que a fábrica francesa recompraria seu antigo time para voltar a
atuar como escuderia oficial. Isso só veio a ser formalizado após o fim da
temporada, e enquanto o acordo não saía, as finanças combalidas fizeram o time
dar várias reviravoltas dentro e fora da pista, tendo seus integrantes até de
comerem de favor no box de outros times, e precisando de alguns favores de
Bernie Ecclestone para chegarem a alguns lugares para poderem disputar as
corridas. E o time ainda conseguiu pontuar regularmente nas últimas corridas,
ainda que de maneira fraca, mas o suficiente para se manterem à frente da Toro
Rosso, que exibia desempenho muito melhor, mas também se viu tolhida em vários
momentos pelos problemas oriundos do motor Renault. Assistiremos então em 2016
ao retorno da velha equipe Renault, e damos novamente adeus a uma Lotus que nuna
foi a original, mas tal como a escuderia de Colin Chapman, desaparece tragada
pelas dificuldades financeiras impostas pela realidade econômica da F-1.
A Toro Rosso recebeu
grandes investimentos da Red Bull, e disputou uma temporada que pode ser
considerada excelente, e assim como seu time matriz, só não foi mais além pelas
dificuldades de performance das unidades de potência da Renault, mas em várias
provas conseguiu andar melhor até do que o time principal, mostrando que está
pronto para vôos mais altos em 2016, onde manterá sua atual dupla de pilotos, e
terá pelo menos as boas unidades de força da Ferrari deste ano, que certamente
serão um belo incremento de performance.
Pelo seu lado, a
Sauber teve um ano apenas razoável em 2015, mas positivo se levarmos em conta
que a escuderia precisou liquidar várias dívidas contraídas em 2014 pela péssima
performance naquela temporada, onde praticamente não conseguiu marcar pontos. Isso
comprometeu o desenvolvimento do carro desta temporada, que até começou
razoavelmente competitivo, mas que foi perdendo rendimento a cada corrida,
conforme a concorrência avançava. O orçamento do time suíço infelizmente
continuará apertado no próximo ano, com uma folga apenas um pouco maior do que
a deste ano. Mas os tempos vindouros certamente serão mais complicados, uma vez
que outros concorrentes deverão passar à sua frente em 2016, com uma McLaren
teoricamente mais competitiva, e uma estreante Hass que promete fazer bonito em
sua estréia.
Nem é preciso dizer que
a grande decepção do ano é a McLaren, que na retomada de sua parceria com a
Honda, teve o pior ano de que há memória desde que passou a ser administrada
por Ron Dennis, no início dos anos 1980. Os japoneses superestimaram sua
capacidade, e quando viram o tamanho da encrenca, já era tarde para corrigir o
rumo, algo que só poderia ser feito para 2016. A unidade de potência
nipônica falhou em praticamente todos os seus quesitos, não apresentando nem
potência nem confiabilidade. O desempenho foi tão sofrível que nem mesmo foi
possível avaliar adequadamente o chassi MP4/30 produzido por Peter Prodromou,
mas deu para ver que não foram apenas os japoneses que tiveram expectativas por
demais otimistas sobre seu trabalho. O grande mérito da escuderia foi conseguir
pôr panos quentes na crise o suficiente para evitar uma tempestade logo em seu
primeiro ano da renovada parceria, e garantir uma cooperação e fluxo de trabalho
constante para tentar uma recuperação na próxima temporada. McLaren e Honda terão
a chance de mostrar o que poderão fazer em 2016, mas se os resultados não aparecerem,
a paciência de alguém será realmente colocada à prova, e aí a crise poderá se
instalar definitivamente em Woking.
Com relação à Manor,
para um time que estava praticamente morto e enterrado, e que tinha até vendido
sua sede, conseguir chegar ao final do ano, mesmo que sempre andando em último,
e com um carro que já não era grande coisa, pode ser considerado um grande
feito. Pelo menos sempre tentaram andar com dignidade, e sem atrapalhar os
demais. Resta saber o que poderão conseguir fazer no próximo ano, além de
andarem nas últimas posições.
E assim foi o panorama
das escuderias da F-1 em 2015. Na semana que vem, veremos um pouco mais sobre
os pilotos, na última coluna deste ano. Até lá.
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