sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

1994 X 2014


Todos os times lutam para se entender com seus novos carros e motores, e ninguém está escapando de fundir a cuca...e o carro, no meio dos testes...

            Com metade da pré-temporada da F-1 cumprida até esta quinta-feira, o que se pode notar é que equipes e pilotos vão ter muito trabalho este ano. A mudança no regulamento ainda está sendo digerida por todos, e muita gente vai começar o campeonato ainda sem saber até onde pode chegar. Os times chegaram a Sakhir, no Bahrein, para a segunda sessão coletiva de testes prometendo resolver os problemas, mas até o fechamento desta matéria, o que se viu foram que enquanto alguns times começam a enxergar perspectivas mais sólidas, outros continuam tateando no escuro, procurando soluções para seus problemas.
            Me veio à mente o que se passou há 20 anos atrás, quando a F-1 também passou por uma grande mudança técnica nos seus carros. O ano era 1994, e a fim de promover uma redução nos custos, e aumentar a competitividade na categoria, a FIA proibiu todas as ajudas eletrônicas de pilotagem existentes na categoria. Os sistemas eletrônicos, com especial destaque para as suspensões ativas, controladas por computador, estavam desnivelando a competição, uma vez que os times pequenos, e até mesmo os médios, não tinham condições financeiras de desenvolver estes sistemas. E, sem eles, não tinham competitividade para disputar com os times de ponta, em especial a Williams, que nos dois anos anteriores, havia conquistado os títulos de pilotos e construtores com relativa facilidade.
            Os carros de Frank Williams tinham virado verdadeiros computadores sobre rodas, e na tentativa de competir com eles, os demais times, em especial a McLaren, também desenvolveram vários sistemas eletrônicos. Além da suspensão ativa, que corrigia em tempo real a altura do carro em relação à pista, havia também controle de tração - sistema que evitava que as rodas patinassem por excesso de força no pedal do acelerador, freios ABS - antiblocantes, ou mais simplesmente à prova de travadas, sistemas "fly by wire" - sem cabos de conexão, rodas direcionais traseiras, etc. Não era qualquer um que tinha condições técnicas e principalmente financeiras de bancar e desenvolver tudo isso. Então, para 1994, tudo o que ajudasse a pilotagem foi cortado. Dos sistemas que permaneceram, ficou o câmbio eletrônico, sistema que praticamente já era adotado por todos os times, mas sem a modalidade de troca automática de marchas.
            Sem toda a parafernália eletrônica, alguns times sentiram um baque tremendo na transição. Time que melhor dominava todos os sistemas eletrônicos, e que reinava na F-1, a Williams iniciou o ano com um carro que dificilmente lembrava o anterior campeão do mundo. Ayrton Senna, novo contratado da escuderia, tinha literalmente de brigar com o carro para tirar dele a velocidade necessária para andar na frente. Quem usava menos sistemas eletrônicos sentiu menos a transição, mas os carros tinham ficado meio ariscos.
            A situação só piorou no meio da temporada, após o trágico fim de semana de Ímola. Tentando tornar os carros mais seguros a qualquer custo, e diminuir a velocidade dos mesmos, a FIA baixou um novo pacotaço de regras, e quem ainda tentava deixar o carro mais dócil e competitivo, ficou novamente perdido no acerto nas corridas seguintes, precisando novamente encontrar o caminho que começava a ser desvendado.
            Em seus devidos parâmetros, a situação de hoje guarda algumas similaridades. As novas regras técnicas visam deixar a categoria mais econômica no sentido ecológico, ao mesmo tempo em que tentam promover uma maior competitividade pela mudança radical das regras técnicas. Se em 1994 apenas os carros foram o foco das mudanças, desta vez o foco é mais abrangente, pois não apenas os carros tiveram novas especificações solicitadas, bem como também os motores são totalmente novos e diferentes, aliados a um sistema de recuperação de energia que pode dar uma reanimada na fama da F-1 como categoria anti-ecológica. O desafio é entender não apenas os próprios carros, mas o novo binômio do sistema motor-ers. E, tal como em 1994, justo o time que dominava a competição, no caso de agora a Red Bull, é quem está sentindo mais a mudança das regras.
            O time de Milton Keynes já não começou bem a pré-temporada, conseguindo dar muitas poucas voltas em Jerez de La Fronteira, na Espanha, há algumas semanas. E nesta segunda sessão, no Bahrein, embora tenha conseguido andar mais, deu mostras de que ainda está precisando encontrar o seu rumo, pois os problemas não cessaram, a ponto de alguns boatos mais pessimistas já falarem até em troca de fornecedor de motor e perda de patrocinador, o que é um evidente exagero a esta altura, claro. Mas que podem se tornar reais se o panorama da temporada for tão ruim como alguns acham que vai ser para o time que ganhou os últimos 4 campeonatos.
            As unidades de força da Renault parecem não ter atingido o mesmo estágio dos rivais Ferrari e Mercedes, e ao mesmo tempo, os próprios times precisam melhorar seus carros. Numa escala inversa, justamente a Caterham é quem está tendo a melhor quilometragem até aqui entre os times abastecidos pelos motores franceses, ainda que continuem a andar lá atrás. No meio da competição, situam-se os times equipados com as unidades de potência da Ferrari, enquanto os times que usam os propulsores da Mercedes parecem encontrar-se em posição talvez até de favoritismo, pelo menos neste início de temporada.
            Mas mesmo quem está andando aparentemente bem tem seus problemas. A Williams, por exemplo, perdeu praticamente o primeiro dia em Sakhir por complicações no carro, e os demais times tiveram em algum momento que lidar com surpresas inesperadas. Mas é para isso mesmo que existem os testes. A maior diferença entre 1994 e agora é que há 20 anos atrás os testes eram liberados, e os times tiveram muito mais tempo e chances para corrigirem seus problemas. A mesma Williams que no início da pré-temporada se debatia com um carro instável e até problemático terminou o ano com o carro mais competitivo da categoria, que só não ganhou o campeonato porque havia um Michael Schumacher guiando uma bem nascida Benetton, que se manteve competitiva até o final, em que pese o fato de o carro só render mesmo nas mãos do jovem alemão, por ser concebido especificamente para seu estilo de pilotagem.
            Hoje em Sakhir a Red Bull continua enfrentando diversos problemas, e pode mesmo iniciar o campeonato em clara desvantagem. Mas, como a Williams fez há 20 anos, nada impede que o time dos energéticos consiga reverter a situação e termine o ano com o melhor carro. Capacidade técnica e humana eles têm, além de um grande piloto, Sebastian Vettel, que poderá ter o desafio definitivo de sua carreira para mostrar que é mesmo um grande campeão, de vencer sem ter um carro competitivo. E tem uma coincidência: tanto a Williams de 1994 quando o Red Bull deste ano são projetos de Adrian Newey. Muito mais experiente e calejado, o mais famoso projetista da F-1 atual tem a tarefa de repetir o feito de 20 anos atrás, tornando um carro mal nascido vencedor novamente. Só que o problema não se resume ao carro, mas também ao sistema motor-ers, e é justamente este sistema que está se mostrando mais problemática.
            O problema é o tempo disponível. Ao fechar esta coluna, já foram 6 dos 12 dias da pré-temporada. Na semana que vem, todos voltam à pista para a última sessão coletiva de testes, novamente em Sakhir. Quem não conseguir resolver seus problemas com os carros e motores entrará na pista no início do campeonato em clara desvantagem em relação a quem tiver conseguir driblar seus percalços. Mas, dada a alta capacidade técnica dos engenheiros das escuderias, a situação tenderá a se normalizar com o avanço das provas, pelo menos no que tange aos carros, mas os motores, ao encerrar a pré-temporada. serão homologados pela FIA e terão o seu desenvolvimento a partir daí congelado, como medida de contenção de custos. Até o prazo final, os fabricantes têm de dar tudo de si para deixar seus sistemas de energia e motores na melhor estado possível. Quem não conseguir sanar todos os seus problemas pode ter um ano difícil. Quanto aos times, fica a dúvida de quem vai sair na frente de fato neste ano de 2014.
            Aguardemos a última sessão coletiva de testes. Até aqui, apenas olhando os tempos dos testes, Mercedes e McLaren parecem ser as grandes forças da temporada. Mas é claro que não sabemos todos os detalhes de cada time. Só veremos mesmo quem é quem nos primeiros treinos livres para a primeira corrida, no Albert Park, em Melbourne, na Austrália...


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