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O incidente entre Max Verstappen e George Russell: punição bem aplicada a um confronto exasperado que o holandês poderia ter evitado. |
A McLaren levou mais uma, e venceu o GP da Espanha, domingo passado, quase com um pé nas costas. Oscar Piastri, depois de alguns “percalços” nas últimas etapas, retomou o controle da situação e simplesmente dominou a prova com competência e habilidade. Mas o cerne das discussões foi Max Verstappen, no bom e no mau sentido.
O holandês tentou uma jogada alternativa junto com a Red Bull procurando achar alguma possibilidade de surpreender a McLaren, e tentar a vitória, objetivo mais do que válido. E chegou perto disso, mas o safety car perto do final da corrida complicou a situação que já encaminhava um pódio certo para o tetracampeão, com os pilotos indo aos boxes, e aproveitando a relargada para conseguirem posições melhores. Nico Hulkenberg foi um que fez bom uso disso, e conseguiu um resultado que já era excelente para a Sauber, e ficou ainda melhor, exaltando seu senso de oportunidade, e dando ao time algum alento em uma temporada cheia de desafios e complicações, enquanto espera pela nova era Audi em 2026.
Para Verstappen, contudo, não deu certo. A parada nos boxes para trocar pneus foi desastrosa não pela parada em si, mas pelos pneus disponíveis: duros novos, ou macios usados. E o time dos energéticos escolheu os primeiros, uma escolha completamente equivocada, que deixou o piloto acertadamente irritado, uma vez que os rivais, com pneus mais adequados, foram para cima dele na relargada, e o que era um 3º lugar garantido, acabou virando um 5º. Mas não foi só isso que aconteceu: Max bateu rodas com Charles LeClerc, e com George Russell, saindo da pista e cortando caminho pela pista auxiliar da curva 1, deixando no ar a possibilidade de uma punição por ter ganhado vantagem sobre o piloto da Mercedes. E, como a FIA anda inconsistente neste quesito, por vezes aplicando punições variadas, a equipe pediu para Max devolver a posição, o que ele até pareceu que iria fazer, abrindo a trajetória, para depois acertar deliberadamente a Mercedes de Russell, em um acidente que, embora não tenha ocasionado nada sério, poderia ter tido consequências mais adversas. E a FIA aqui meteu uma no cravo, e outra na ferradura: puniu o holandês com 10s ao tempo de corrida, derrubando-o do então 5º para o 10º lugar, e ainda colocando mais 3 pontos em sua carteira, deixando o piloto da Red Bull potencialmente perto de ser suspenso por um GP, se ele não tomar cuidado nas próximas etapas. Mas o pior foi saber que ele não precisava devolver a posição para Russell, conforme a FIA comunicou depois em anúncio oficial pós-GP.
Max Verstappen é um dos grandes destaques da F-1 nos últimos tempos, e muitas vezes seu estilo de pilotagem nos lembra dos grandes pilotos do passado, pelo modo determinado, agressivo, e até tresloucado com que pilota. E isso é um grande alívio e necessidade numa época onde estes predicados parecem em falta na categoria máxima do automobilismo, pelo menos a ponto de fornecerem um destaque tão plausível de um piloto para os outros. Ele não desiste, luta, e dá tudo de si. Isso é bom para a competição, mas de vez em quando, pode passar dos limites, e aí, o que era vantagem e diferencial positivos podem se tornar negativos, e até preocupantes, para a imagem do piloto, e para a competição em si.
Neste ponto, podemos
ver que Verstappen há muito já anda no fio da navalha em certas situações. Em
seus primeiros anos, ele agia de forma muito impetuosa na pista, e chegava a
efetuar manobras temerárias em algumas disputas com pilotos, como mudar de
direção e até frear inesperadamente em cima da hora, colocando o piloto com
quem estava em disputa em risco, caso a manobra desse errado. Lógico que
automobilismo sempre foi e será um esporte de risco, mas por vezes, alguns
ímpetos podem ser temerários, se você levar a coisa muito a o extremo. E aí,
ocorre o que é pior: vem a FIA, e normatiza que tal comportamento é proibido.
Mas, se ocorre, infelizmente deriva do fato de que alguns pilotos andaram
abusando do tema em questão, mais do que seria aceitável. E mais regras, num
esporte já cheio de normas que soam frescas e exageradas em muitos pontos, só
ajudam a competição a ficar mais engessada, com os pilotos não podendo isso,
não podendo aquilo, etc. Um pouco mais civilidade e respeito para com o rival
na pista poderia ter evitado que a F-1 e a FIA acabassem instituindo diversas
regras, e o pior de tudo é que, quanto mais regras, maiores os riscos também
com as punições às infrações delas, e vamos convir que, nos últimos tempos, a
entidade que comanda o automobilismo mundial não tem sido um primor na
aplicação das punições às regras aos pilotos, hora sendo meio conivente, hora
sendo implacável, a ponto de alguns GPs virarem uma verdadeira zona quando seus
resultados, diante dos acontecimentos da corrida, precisam ser “corrigidos”
para se adequara castigos e punições. A F-1 podia passar sem essa, mas
infelizmente…
E aqui voltamos a Verstappen. O holandês é um fenômeno, um gênio que já assegurou seu lugar de honra entre os gigantes da história da F-1, e perder a cabeça, ainda que aceitável, exige certo comedimento para não se envolver em momentos que comprometem sua imagem como competidor na pista. Não é não querer que ele fique puto da vida, furioso, ou mande todo mundo para aquele lugar, porque, no final das contas, ele é humano, não um robô, e atos assim são o que humanizam os pilotos, que deixam de ser vistos por vezes como autômatos por conseguirem manter tudo sob controle, e darem declarações pasteurizadas e politicamente corretas. Não tem problema Verstappen sair dizendo algumas besteiras por aí, ainda mais em um esporte onde em determinados momentos os competidores ficam com os nervos à flor da pele, e saem xingando deus e o mundo, extravasando tudo a que tem direito.
Mas, é preciso tomar cuidado com certas atitudes, que se praticadas com exagero, podem ser prejudiciais, e ainda por cima, gerar um efeito bumerangue em volta. O ato do holandês simplesmente jogar o seu carro contra a Mercedes de George Russell foi condenável, mesmo que a posição da pista e velocidade do ato não fossem de periculosidade mediana, se compararmos onde as coisas poderiam ter sido bem mais sérias. Fosse algo isolado, é caso de tratar como algo excepcional, que sempre pode acontecer, e seguir a vida. Mas Verstappen já vem tendo um histórico de atitudes agressivas que andam forçando o limite, e o colocando em situações onde claramente podemos ver que o tetracampeão, no inconformismo de não conseguir vencer, parece extrapolar exageradamente suas reações. Ele poderia ter todas as razões para fazer o que fez, diante dos fatos que ocorreram, mas foi sua decisão (voluntária ou involuntária) de acertar o carro de um rival, e mesmo em baixa velocidade, muitas vezes podem haver consequências sérias num contato como este. Saísse esbravejando depois da prova seria muito mais aceitável, plenamente humano e sincero, e muito menos prejudicial a si próprio, pois ainda teria mantido a 5ª posição. Se bem que, como mencionei, a implantação de regras estúpidas pela FIA, como sua recente “cruzada de bons costumes” contra palavrões, é mais um exemplo de quão ridícula as entidades vão se tornando, diante de situações que não deveriam chamar tanto atenção, e aí, talvez Verstappen levasse também punição da FIA por sua boca suja. Compreensível, mas nem por isso menos revoltante com as palhaçadas feitas recentemente pela entidade em sua “investida pelos bons modos” nas competições...
Mais uma dobradinha da McLaren: O ano é dos papaias, mas mesmo assim, ninguém por lá comemora antecipadamente.
Estes exageros de
Verstappen podem se tornar uma bomba relógio tanto para ele, como para os
outros pilotos, que certamente poderão começar a devolver também na pista
certas atitudes do piloto, que poderão ser intencionais, ou mero acaso, mas que
só servirão para deixar os ânimos mais acalorados. O quase enrosco com Charles
LeClerc poderia ser um indício, embora involuntário aqui, onde no momento da corrida
às vezes os competidores acabam roçando nos carros dos outros, mas com George
Russell, que já bateu boca com Verstappen em outras ocasiões, já faz um
histórico de rixa potencial que pode precisar ser acompanhada com cuidado, no
caso de ambos se estranharem novamente numa disputa de posição mais acirrada.
Para Verstappen, contudo, LeClerc deveria ter sido punido pelo toque na
relargada, e o fato de nada ter acontecido com o monegasco também foi algo que
apimentou o ambiente, com o holandês ficando mais irritado também por isso. Mas
ir “descontar” em cima de outro piloto, como vimos com Russell depois, vamos
devagar aí, por favor...
Verstappen por vezes também precisa ser comedido: não dá para ficar sempre no topo, e temporadas como a de 2023, onde ele varreu a concorrência, vencendo quase todas as provas do ano, deixando migalhas para os outros, é algo excepcional, e que não ocorre sempre. Há, e haverá sempre momentos de vacas magras, onde o carro não é tão bom, e os resultados nem sempre serão os mais compensadores, não importa o quão você seja talentoso e dê tudo por tudo na pista. Aceitar estes momentos não é ser conformista, apenas realista, e é preciso perseverar, até a chance de voltar ao topo. Não dá para ficar com chiliques permanentes, como se o momento atual é um desastre. Verstappen ainda é o 3º colocado, o que não é algo ruim, é um dos destaques, e até vem vencendo algumas corridas, o que não é pouca coisa, diante do carro superior da McLaren. Mas é exagerado também: imagine se ele fosse apenas o 8º colocado então na competição, e se tivesse que batalhar para marcar míseros pontos? Ele sairia quebrando tudo no box, revoltado? Menos, cara. Menos obsessão pela vitória e por títulos.
Ayrton Senna também
tinha às vezes uma obsessão por triunfos, como se ficar sem poder disputar o
título fosse algo insuportável, o que pudemos ver nos chiliques que o piloto
deu durante a temporada de 1992, dominada amplamente por Nigel Mansell e o
“carro de outro planeta” da Williams à época, com o brasileiro chegando a dar
declarações como se a F-1 tivesse obrigação de lhe dar um carro campeão sempre.
Ele baixou um pouco a bola, mas sua perseguição às vezes obstinada pela vitória
o levou à Williams no momento errado, e infelizmente, a um fim trágico
imerecido diante de sua trajetória profissional.
Verstappen não precisa ter essa mesma paixão doentia pelo sucesso, deixando as coisas extrapolarem além da conta. Basta saber manter um pouco a cabeça no lugar. Mas o fato de ele aparentemente não se preocupar com as repercussões de tais atitudes, se por um lado mostra personalidade, por outro pode incitar ainda mais outros rivais na pista a “devolverem” gentilezas na mesma moeda, ajudando a acirrar ânimos que podem se tornar perigosos, se as coisas fugirem ao controle. E com Max dando a impressão de cair nestas provocações, quando as coisas não correm conforme ele espera, pode ser um prato cheio para os concorrentes tirarem suas lasquinhas na pista, sejam legítimas ou não. Uma armadilha que ele precisa evitar, se quiser evitar complicações que podem deixar o ambiente mais carregado e tenso do que seria admissível permitir.
O tetracampeão já mostrou que consegue dominar esta situação em alguns momentos, o que é admirável. O problema é que ele também já mostrou que pode perder a compostura com mais frequência também. Ele vai conseguir equilibrar suas reações?
Barcelona pode ter sediado seu último GP no futuro próximo. A estréia da nova pista urbana em Madri, que chega à categoria com um contrato para vários anos, indica a despedida do circuito da Catalunha do mundial, onde estava presente desde 1991, quando sediou pela primeira vez o GP, em substituição ao palco anterior, em Jerez de La Frontera, na região da Andaluzia. Circuito muito moderno e com curvas e trechos variados, que fizeram da pista a preferida para os times para testes de pré-temporada, Barcelona teve como ponto negativo o fato das equipes conhecerem tanto a pista que as corridas ali ficaram meio enfadonhas, impossibilitando maiores surpresas. Mas o circuito também acabou passado para trás como palco dos testes de pré-temporada, que passaram a ser feitos no Bahrein, por uma questão mais mercadológica do que técnica, com os barenitas oferecendo mais vantagens financeiras para os testes serem feitos ali, em que pese a maior vantagem mesmo ser o clima mais quente do que na Europa, crucial para os times testarem seus carros. Se bem que, diante das pré-temporadas cada vez mais pífias e mirradas que vem sendo realizadas (três dias apenas é completamente ridículo), não se pode dizer que a vantagem compensa, exceto os cobres que FIA e Liberty ganham em cima disso. As possibilidades de Barcelona permanecer diminuem na perspectiva da Liberty querer incluir mais corridas no calendário, e como 24 parece ser o limite do teto aceitável, alguém tem de pular fora para outro ser incluído, a ponto de se cogitar fazer revezamento de pistas para acomodar mais gente, uma idéia que não é exatamente ruim, dependendo de como será utilizada. Mas, como primeiro circuito a ser “escolhido” para isso ser Spa-Francorchamps, uma das pistas mais icônicas do calendário, isso já mostra que os critérios da Liberty poderão não agradar muito os fãs…
Com a nova pista de Madri chegando para 2026, Barcelona pode ter dado seu adeus à F-1 com a corrida deste ano.
A perspectiva de Lance Stroll ficar de fora do GP do Canadá, o que faria Felipe Drugovich ter a chance potencial de finalmente estrear como titular em um GP, diante dos problemas do canadense com a mão machucada ainda em 2023 adquire perspectivas que vão da grande oportunidade ao um fiasco completo. Felipe poderia ter a chance de enfim fazer uma corrida como titular, afinal, é o piloto reserva do time da Aston Martin, e em tese, é para isso que ele foi contratado. Mas os boatos de que a escuderia poderia escolher Valtteri Bottas, ou até mesmo outro piloto podem indicar que o time não valoriza o brasileiro como diz afirmar. Não ajuda o fato da etapa de Montreal bater de frente com as 24 Horas de Le Mans, uma das mais famosas corridas do mundo, onde Drugovich iria competir inicialmente, e agora, pelo menos até o fechamento desta coluna, deixa Felipe na berlinda: desistir de Le Mans e correr no Canadá, ou manter o compromisso no WEC, e perder uma chance que finalmente se abre? A postura da equipe, de pesquisar nomes alternativos, seria justificada pelo desejo de não comprometer o compromisso de Felipe na mais importante corrida de endurance do Mundo, mas o brasileiro parece disposto a sacrificar sua participação pela chance de correr na F-1. Mas, a situação de Lance Stroll ainda não está definida: ele fez a cirurgia na mão, e sua participação na prova de casa ainda é completamente incerta, de modo que, quando sair um a decisão, Drugovich por sair perdendo em todos os lados: fica sem correr em Le Mans, e fica também sem correr pela Aston Martin no Canadá. E não vamos esquecer que, para muitos, o brasileiro deveria dar melhor foco à sua carreira do que ficar esperando por uma chance que parece ser cada vez mais improvável, do time efetivá-lo a titular. Se acontecer o pior, e Felipe ficar sem correr me lugar nenhum, pelas indefinições da escuderia, e quaisquer outros motivos que o façam não ser o escolhido do time para correr no lugar de Stroll, talvez o melhor mesmo seja fazer as malas e partir para outro rumo na carreira, lembrando que a própria Aston Martin tem um time no WEC, e não escolheu Drugovich para ser um dos pilotos, quando poderia ter aproveitado devidamente os talentos do brasileiro. E temos o exemplo de Pietro Fittipaldi, que dedicou anos à Haas como piloto reserva, e nunca foi efetivado na escuderia, tendo disputado dois GPs apenas, substituindo Romain Grosjean no fim da temporada de 2020, e nada mais...
Felipe: chance de finalmente correr na F-1, ou mais uma enrolação que pode deixá-lo de fora da competição?
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