sexta-feira, 30 de maio de 2025

DIVÓRCIO PREMATURO

Jorge Martin e Aprilia: um casamento que já terminou antes mesmo de começar propriamente nas pistas.

            E a bomba estourou na MotoGP: Jorge Martin anunciou nesta quinta-feira que está rompendo seu contrato com a Aprilia, e que buscará novos rumos em 2026. A situação já não andava boa entre as partes, quando se veiculou há algumas semanas que o piloto, em recuperação médica devido ao acidente sofrido na etapa do Qatar, estava querendo fazer valer uma cláusula contratual de performance que o liberaria de seu vínculo com a equipe da marca italiana, diante de resultados não alcançados. Esta cláusula o deixaria livre para competir por outra equipe na próxima temporada caso, após 6 provas da temporada atual, ele estivesse fora do TOP-3 do campeonato. Segundo os informes, diante da situação inesperada dos acidentes que sofreu, que impediram sua participação de modo efetivo até agora, ele teria proposto que o limite de 6 provas só passasse a contar de seu efetivo retorno à competição. De ressaltar que a Aprilia, quando de sua contratação no ano passado, chegou a concordar com essa condição, inclusive com o aval de Massimo Rivola, o chefão da Aprilia. A equipe, em pronunciamento recente, em resposta aos boatos, declarou que iria exigir o cumprimento integral do contrato, que não concordava com as novas condições propostas pelo piloto, que não estava havendo negociações neste sentido, e que Martin ficaria no time até o fim de 2026.

            A decisão da Aprilia de não abrir mão do piloto parece ter motivado Martin a encerrar de vez suas opções de permanecer no time, e executando a cláusula, ainda que as condições não sejam as previstas inicialmente. Afinal, ele só disputou uma prova, a do Qatar, depois de faltas às primeiras etapas devido a acidentes na pré-temporada, e às vésperas do início do campeonato, e não estando em condições ideais, como ficou evidente, e não se podia dizer que as condições exigidas foram validadas, tanto pelo lado da Aprilia, quanto pelo lado do piloto. A proposta de estender o período de teste da performance para contar apenas de seu retorno, se em teoria parece correta, por outro lado é preciso constatar que mesmo quando recuperados, pilotos que sofreram acidentes não retornam no ápice de sua forma, com raras exceções. E vimos pilotos em muitos momentos que, mesmo liberados para voltar à competição, demoraram a recuperar o ritmo, e por vezes, a confiança para se acelerar no limite que se exige nas disputas de pista. Com retorno às pistas especulado para o mês de agosto, diante dos ferimentos obtidos no acidente sofrido em Losail, Martin na prática competiria por menos de 4 meses na temporada atual, e certamente só estaria devidamente recuperado no final da temporada, onde é óbvio que ele jamais ocuparia as posições que a Aprilia garantiria seus serviços para 2026.

            Confirmada esta decisão, já que ainda não vimos as providências que a Aprilia irá tomar em relação a Martin, veremos um divórcio mais do que prematuro para a união do atual campeão mundial da classe rainha do motociclismo, e a casa de Noale. Uma união que já começou conturbada, e que não se concretizou como se esperava. Afinal, quando veio a decisão da Ducati de confirmar Marc Márquez como novo companheiro de “Pecco” Bagnaia para 2025 no time de fábrica, não demorou para Jorge Martin reagir anunciando seu acordo em alto e bom som com a Aprilia para 2025 e 2026.

Nas temporadas de 2023 e 2024, Martin defendeu a Pramac, onde venceu corridas e disputou o título da competição. 

            Muitos viram a decisão de Martin em 2024 como um ato de precipitação e inconformismo exagerado por parte do espanhol, cumprindo sua ameaça de deixar a Pramac, e se bandear para a Aprilia, após a Ducati confirmar que Marc Márquez, e não ele, seria o novo escolhido para integrar o time de fábrica nesta temporada. Martin tinha razão de reclamar: afinal, quase foi campeão em 2023, perdendo o título para Francesco Bagnaia na etapa final da temporada, em parte por erros próprios do piloto, ainda visto como afobado em momentos cruciais, apesar da grande velocidade demonstrada, que o levaram a vitórias e à disputa do título naquele ano. Por algum tempo, a hipótese de mudança do espanhol para o time oficial da Ducati foi ventilada. Mas a marca italiana tinha contrato com Enea Bastianini, e a temporada de 2023 foi injusta com o italiano, que havia se machucado na etapa inicial da competição e isso comprometeu sua performance em boa parte do ano, com o piloto só recuperando sua forma na metade do segundo semestre. O time, acertadamente, optou por dar uma nova chance a Bastianini no ano passado, e o piloto, mesmo recuperado, infelizmente não conseguiu validar sua posição na equipe de fábrica.

            Quanto a Martin, uma repetição dos feitos de 2023 em 2024 praticamente sacramentaria o merecimento da promoção do espanhol, e até meio da temporada, isso já estava praticamente decidido. Era a opção mais óbvia possível. Mas, entrou areia nos planos de Jorge Martin, ou melhor, um compatriota. A opção de Marc Márquez renunciar ao restante de seu contrato com a Honda, após os desempenhos pífios das temporadas de 2022 e 2023, e sua decisão de competir pela Gresini no ano passado, tinha o objetivo do hexacampeão conferir se ele ainda poderia voltar a ser o campeão de antes, algo impossibilitado pela performance fraca da Honda na competição. Na Gresini, mesmo dispondo de uma moto do ano anterior, mas comprovadamente competitiva, ele teria sua resposta. E não deu outra: a “Formiga Atômica” recuperou sua motivação, e voltou a se mostrar candidato às vitórias. Para a Ducati, seria arriscado perder a chance de contar com o maior campeão da década passada na competição em seu time de fábrica. Verdade também que Márquez usou de seu currículo para reforçar sua posição, não aceitando competir por outro time satélite da Ducati, no caso, a Pramac, que inclusive tinha as mesmas motos do ano que o time oficial da fábrica.

Um "Márquez" no meio do caminho: o hexacampeão melou uma esperada e merecida promoção de Jorge Martin ao time de fábrica da Ducati, revoltando o espanhol. 

            A Ducati ficou com um dilema nas mãos. Com dois grandes talentos na mão, e só podendo escolher um. Um grande talento do passado recente, que mostrava que ainda podia render bastante com uma moto competitiva. Um grande talento do presente que se mostrava um fenômeno, e que poderia ser uma grande aposta para o futuro da marca. Bem, a Ducati optou pelo seguro, e Marc Márquez acabou sendo o escolhido. E hoje, com a temporada de 2025 em andamento, não se pode dizer que errou, ou está arrependida da escolha.

            Claro que Jorge Martin não aceitou isso numa boa, e sua vingança foi ser o primeiro campeão da era moderna da MotoGP a se tornar campeão por um time satélite. Mais do que isso: ao aceitar competir pela Aprilia, ele também levaria o Nº 1 para uma marca concorrente, num evidente prejuízo para a Ducati, sem poder capitalizar devidamente a conquista de sua marca, mesmo que por um time satélite. Mas não ficou só nisso: a própria Pramac tomou as dores de Martin, e num gesto também considerado precipitado por alguns, rompeu com a própria Ducati, aceitando se tornar um time satélite da rival Yamaha, e deixando a marca de Borgo Panigale sem seu principal time cliente, que inclusive desfrutava do privilégio de competir com as mesmas motos do time de fábrica, enquanto as demais equipes satélites, Gresini e VR46, disputam a temporada com motos do ano anterior. Se é verdade que a Pramac e a Yamaha já tinham conversas entre si, a decisão de Martin pular fora certamente ajudou no rompimento das relações. Os prejuízos potenciais eram evidentes para Martin e para a Pramac, que poderiam ter contemporizado, e aceitado o desafio de mostrar à Ducati que eles erraram feio na escolha.

            Na época, todos concordavam que Martin estava dando um passo atrás talvez até forte em sua carreira. A Ducati certamente se manteria como a melhor moto do grid ainda em 2025, e a Aprilia, que chegou até a surpreeender há pouco tempo atrás, e começou a vencer corridas, ainda que esporadicamente, voltava a decair, e precisava de uma verdadeira revolução para voltar a se colocar como rival viável da compatriota na classe rainha do motociclismo. Para a Pramac, mudar de equipamento significa renunciar à sua força na competição, uma vez que a Yamaha vinha de uma temporada onde andava lá atrás, junto com a Honda, e igualmente precisava de uma revolução interna para voltar a ser a potência que já foi na competição.

Tomando as dores de Jorge Martin, a Pramac também rompeu com a Ducati, entrou em 2025 como time satélite da Yamaha, e ainda busca recuperar o protagonismo perdido do ano passado.

            Hoje vemos que estes prognósticos se confirmaram. A Aprilia ainda está batendo cabeças, procurando encontrar seu rumo e de como evoluir na competição. E a Pramac virou coadjuvante, uma vez que a Yamaha, que tem conseguido até surpreender nas corridas recentes, mostrando estar em franca evolução, ainda está muito aquém da força demonstrada pela Ducati, especialmente na constância de performance. Não apenas a Ducati de fábrica segue liderando a competição, em boa parte graças a Marc Márquez, como quem tem surpreendido é seu irmão, Álex, também brigando pela liderança do campeonato, em uma Gresini que conta com a moto GP24, campeã do ano passado justamente com… Jorge Martin. E olha que a Gresini nem tem os mesmos privilégios que a Pramac tinha junto à Ducati: quem tem uma posição destacada hoje é a VR46, que conta com a única GP25 para Fabio Di Giannantonio, e uma GP24 para Franco Morbidelli, que tem se saído até melhor que o companheiro de time, sendo também um dos destaques da temporada atual.

            A dupla da Pramac ocupa a 16ª posição, com Jack Miller, e a 23ª, com Miguel Oliveira, mostrando a queda de posição da escuderia, que terminou 2024 campeã com Jorge Martin, e com Franco Morbidelli em 9º lugar. Já a Aprilia tinha sido apenas a 7ª colocada com Maverick Viñalez, e 11ª com Aleix Spargaró. Hoje, a Aprilia mantém a 7ª colocação com Marco Bezzechhi, e Lorenzo Savadori é apenas o 21º. Mas no caso da Aprilia, precisamos ser justos, e a ausência de Martin certamente impactou negativamente na performance da equipe, uma vez que Savadori não tem mostrado performance até aqui, e Martin, certamente, poderia estar não apenas ao nível de Bezzecchi, como até melhor. Ainda assim, mesmo na melhor das possibilidades, não estaria nem perto de ameaçar a Ducati na briga pelas primeiras colocações.

            Tivessem mantido seus status quo, muito provavelmente Martin poderia estar novamente duelando pelas vitórias e pelo título, como Álex Márquez vem fazendo. A Pramac ainda seguiria uma força, e poderia se vangloriar de talvez até conseguir derrotar o time de fábrica uma segunda vez consecutiva. Difícil dizer que isso não seria possível, especialmente depois de quase chegar lá em 2023, e conquistar o caneco em 2024. Seria a melhor resposta para dar à Ducati. Mas, eles optaram pelo rompimento, e agora, precisam arcar com suas decisões, e respeitar suas responsabilidades quanto a isso.

            Não é errado querer mudar de time, e dar novos rumos à carreira. Muitas vezes pilotos sentem que já renderam tudo em determinado time, e precisam de um “reset”, começando tudo em novo lugar, com novas perspectivas, e quem sabe, motivação renovada. Muitas vezes, infelizmente, é um movimento para baixo, quando os pilotos perdem seus postos, diante dos mais variados motivos, e têm de procurar novo lugar para correr. É o que mais costuma ocorrer, sendo minoria os casos onde os pilotos conseguem ir “para cima”, sendo contratados por times melhores e maiores, onde poderão deslanchar suas carreiras. Muitas vezes, estas mudanças são apostas no escuro, que tanto podem dar resultado, como se revelarem uma verdadeira furada, mesmo quando as perspectivas parecem ser as mais positivas possíveis.

            A aposta de Martin se confirmou furada, mas não exatamente pelos motivos corretos. Mesmo assim, o piloto mais uma vez é que acaba ficando com a imagem ruim no episódio, porque os eventos que ocorreram foram de um azar tremendo, claro, mas o modo como ele está pulando fora é pior ainda. Lesionado, ele já perdeu a pré-temporada, e qualquer chance de se aclimatar com a nova moto, a RS-16. Sofreu novo acidente às vésperas do campeonato começar, o que só complicou sua situação, fazendo-o perder as primeiras corridas do ano. E, quando voltou, ainda deu azar de sofrer um novo acidente, com lesões ainda mais sérias, que demandam um tempo de recuperação bem mais amplo, e que certamente, já o fariam perder qualquer esperança de um bom desempenho, pelo menos nesta temporada.

Jorge Martin enfrentou e derrotou Francesco Bagnaia, bicampeão da MotoGP, e se consagrou como campeão em 2024, e se mandou para a Aprilia em revolta contra a fábrica de Borgo Panigale.

            Só que, ao invés de usar isso de maneira positiva, ele preferiu a saída mais fácil: rescindir o contrato. Em seu retorno, diante do quadro enfrentado, ele estaria livre de qualquer cobrança, e poderia usar as corridas restantes desta temporada para não apenas conhecer melhor o equipamento, como ajudar no seu desenvolvimento de forma mais concentrada para 2026. A Aprilia certamente acolheria este procedimento, deixando para Marco Bezzecchi, o outro piloto do time, a responsabilidade de colher resultados no ano. Assim, Martin ganharia mais crédito junto à Aprilia, e ajudaria no desenvolvimento do projeto para o próximo ano. Não haveria problema algum nisso, e Jorge certamente não levaria ônus algum em seu currículo.

            Mas, ao desejar pular fora, ele simplesmente dá de ombros para a chance de encarar o desafio de levar a Aprilia adiante, revelando uma ingratidão para com o time que, até então, vinha lhe dando todo o apoio possível e necessário, preferindo ir para outra escuderia que lhe ofereça um projeto potencialmente melhor. Fala-se na Honda, onde Johaan Zarco venceu o GP da França deste ano, e parece estar melhorando sua forma. E, também, onde seu amigo Aleix Spargaró, hoje piloto de testes, se encontra, lembrando que foi justamente sua aposentadoria como titular que abriu a vaga pela qual ele entrou na Aprilia para este ano. A Honda, claro, já declarou que não pretende firmar contrato com um piloto que já esteja sob contrato de uma outra equipe, mas sabemos que declarações como essa têm uma validade muito limitada.

            E, ficará a questão da imagem de Jorge Martin perante os times. A Ducati tinha algumas reservas em relação ao espanhol por seu temperamento explosivo em alguns momentos, o que o levou a insinuar, em certos momentos, que estava a ser boicotado pela marca italiana quando disputou o título com Bagnaia em 2023, algo que certamente não pegou bem em Borgo Panigale, que sempre fez questão de afirmar sua lisura na competição, quanto à possibilidade de um time satélite vencer o time de fábrica da marca. E agora, esse divórcio prematuro, sem sequer ter começado a defender a Aprilia, mas pulando fora antes mesmo de poder competir já recuperado, e sentir o potencial da moto, e como ajudar a desenvolvê-lo, deixando a Aprilia sem sequer ajudá-la a resolver seus problemas. Bom, isso não lança uma imagem positiva sobre o piloto, o que pode comprometer suas chances de defender outras escuderias, que irão preferir pilotos que honrem a palavra e não caiam fora ao menor sinal de dificuldades, mesmo as inesperadas.

            Martin se defende, dizendo que está no seu direito de escolher seu próprio caminho, e que sempre respeitou a Aprilia, e que espera que seu desejo seja respeitado. Bem, veremos como a Aprilia vai lidar com este tipo de declaração. E como outros times poderão encarar quando considerarem a possibilidade de sua contratação. Claro que contratos sempre possuem cláusulas de descumprindo e não acordo dos termos, até para que as partes, analisando a situação, em caso de necessidade, possam julgar se ainda é válido mantê-lo, ou não. A Aprilia manifestava interesse de manter o contrato até o fim de 2026, mas Martin parece ter pressa, e ao decidir saiu, simplesmente expressou não confiar mais no projeto de Noale, algo que soa bem desrespeitoso para a marca italiana, sendo que ele mal conseguiu competir este ano com a Aprilia. A Aprilia podia não estar em seu melhor momento, diante dos percalços vivenciados pelo piloto, mas não esperavam por uma atitude que certamente jogou contra a imagem da própria equipe, pelo modo como Jorge resolveu cair fora.

            Mesmo sendo campeão do mundo, isso pode refletir negativamente na carreira de Martin. O quanto, ainda não é possível afirmar. Ele pode dar sorte de não se prejudicar, ou pode acontecer o contrário. Tivemos um caso recente na Indycar, onde o espanhol Álex Palou se meteu em uma enrascada ao firmar acordo com a McLaren, enquanto defendia a Ganassi, e depois simplesmente voltando atrás, sem mais nem menos, o que deu uma tremenda zica nos tribunais, onde o próprio Palou por pouco não se enrolou feio. Ele conseguiu permanecer na Ganassi, onde está até hoje, e para sua sorte, vem vencendo corridas e conquistando campeonatos desde então, mas durante algum tempo, quase que Chip Ganassi o colocou na “geladeira”, o que poderia ter tido sérias consequências para sua carreira, além de ficar “queimado” perante os demais times, como um piloto sem palavra e sem comprometimento. Ele deu sorte de estar em uma time de ponta que, felizmente, não perdeu sua forma, mas e se tivesse ocorrido o contrário, e ele não conseguisse lugar em outra escuderia, preocupada com uma possível “traição” com outro acordo não cumprido? Em geral, times de competição valorizam muito a palavra empenhada, mesmo que contratos ainda não tenham sido assinados, mas vai depender muito dos chefes destes times, e da integridade que valorizem, o que varia muito. Se pegar com um dirigente mau-intencionado, pode dar uma confusão tremenda, então...

Marco Bezzecchi levou a Aprilia à vitória na Inglaterra e aproveitou para alfinetar o campeão do mundo, mostrando que a moto não é "tão ruim assim".

            E o momento chega a ser ainda mais comprometedor para a imagem de Martin se considerarmos que Marco Bezzecchi, que vem carregando o time nas costas como pode, venceu o GP da Grã-Breanha domingo passado em Silverstone. Certo, pode ter sido um triunfo circunstancial dos momentos da prova, onde a Ducati não mostrou a sua força de costume, e onde poderíamos ter visto a Yamaha voltar ao topo do pódio, mas mesmo assim foi uma vitória, e com direito a uma alfinetada de Bezzecchi em Jorge após a vitória, com todo o direito, por estar rolando essa conversa do espanhol pular fora. A Aprilia pode não ser como a Ducati, mas isso não dá direito de Martin pular fora do modo como está fazendo. E ele terá que lidar em como isso afetará sua imagem como piloto profissional, como já mencionei.

            A Aprilia agora precisa encontrar de fato um substituto para Martin, além de redefinir seus planos para a própria temporada em curso, que ainda visava o retorno do piloto espanhol. Quanto a Jorge, ele precisará ver como seu rompimento se dará efetivamente, resolvendo quaisquer pendências jurídicas que a Aprilia possa pôr em seu caminho. Até o fechamento desta coluna, o time de Noale não tinha apresentado sua versão dos fatos, e de como se posicionaria a respeito dessa ruptura. Vejamos como esse assunto terminará de fato, e quais seus desdobramentos para a temporada em curso, e para o campeonato de 2026.

 

 

A F-1 chega a Barcelona cheia de expectativas a respeito das novas regras de tolerância para flexibilidade das asas, vistas por alguns como ponto crucial para tentar “podar” a vantagem demonstrada pela McLaren na competição. Mas, tudo indica que este detalhe pode não fazer a menor diferença, uma vez que a competitividade do modelo MLC39 não parece estar baseada em um único ponto do carro, mas numa série de recursos do carro que lhe conferem extrema flexibilidade e adaptabilidade aos mais variados tipos de pista. Se não conseguirem desbancar os carros laranjas, alguns times, como a Red Bull, poderão até dar a temporada por perdida, e passarem a se concentrar já nos carros do próximo ano, em que pese o time dos energéticos afirmar que não desistirá de lutar por mais um título de pilotos para Verstappen tão já, e que lutará até o final. Pelo sim, pelo não, a McLaren já diz estar preparada para as novas diretrizes técnicas de flexão das asas, e mesmo assim, também não descartam uma possível melhoria da Red Bull, a exemplo do que viram na pista de Ímola..

quarta-feira, 28 de maio de 2025

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – MAIO DE 2025


            E o mês de maio, palco de algumas das mais famosas corridas do mundo, está chegando ao seu fim, e vários campeonatos mundo afora seguem firmes em seus certames, apresentando mais ou menos emoções, dependendo das circunstâncias e acontecimentos. E todo fim de mês, como já é de costume conhecido aqui, lá vamos nós para mais uma edição da Cotação Automobilística, sempre tentando fazer um apanhado amplo dos acontecimentos do mundo da velocidade, avaliando quem está indo bem, quem está indo mal, e quem está se mantendo, com alguns comentários a respeito de cada situação. Portanto, uma boa leitura para todos, no esquema que já conhecem: EM ALTA (cor verde); NA MESMA (cor azul); e EM BAIXA (cor vermelha). E até a próxima Cotação Automobilística, já no final de junho, com as avaliações dos acontecimentos do mundo do esporte a motor do próximo mês...

 

EM ALTA:

 

Álex Palou: O piloto espanhol da equipe Chip Ganassi segue deitando e rolando na temporada 2025 da Indycar, e em seis corridas, foram nada menos do que cinco vitórias, com a cereja do bolo indo para a inédita conquista das 500 Milhas de Indianápolis, a vitória mais celebrada para muitos dos pilotos do mundo na história do automobilismo mundial. Ninguém parece capaz de brecar a escalada de Palou rumo ao título da temporada deste ano, e mesmo Kyle Kirkwood, que interrompeu sua série de vitórias ao desbancar o piloto da Ganassi em Long Beach, parece incapaz de manter a constância necessária para tentar ameaçar a liderança cada vez mais distante de Álex, que já abre 112 pontos na classificação com apenas 6 provas. Mesmo em um certame onde o equilíbrio é potencialmente maior, Palou tem insistido em desafiar a lógica, vencendo por onde quer que passe, e pior ainda para os adversários, o piloto também tem se mantido longe de confusões na pista, evitando se envolver em acidentes ou outros percalços que possam comprometer seus resultados nas corridas, enquanto seus adversários potenciais não tem conseguido se esquivar de problemas e outros desatinos que só os fazem ficar ainda mais distantes e com menos chances de complicar os planos de Palou, que nesta toada, seguirá firme para mais um título na Indycar, e desta vez com várias corridas de antecipação. Se o campeonato tivesse somente mais duas corridas, ele já teria levado o título, e pode até ficar sem marcar pontos nas próximas duas etapas que ainda assim não perderá a liderança. E as chances de seguir ampliando cada vez mais sua distância para os demais pilotos pode aumentar ainda mais, se continuar nesse ritmo. Quem poderá deter Palou?

 

Oliver Rowland: O piloto da equipe Nissan vem conseguindo imprimir um domínio raras vezes visto na Formula-E, que tem tido campeonatos com muito mais disputas e imprevisibilidade do que muitos outros certames. Mas o inglês mostra, além de competência, sorte para maximizar seus resultados, mesmo quando não vence, e na rodada dupla de Tóquio, mesmo vencendo apenas uma corrida no fim de semana, foi o maior vitorioso da etapa, pois subiu ao pódio na primeira corrida, e com a vitória na segunda prova, não apenas fez a festa do público japonês, já que sua equipe é a Nissan, como ampliou ainda mais sua vantagem na classificação do campeonato, abrindo nada menos que 77 pontos para o vice-líder, o atual campeão Pascal Wherlein, que até aqui não tem conseguido se impôr na tentativa de renovar seu título. Rowland tem quase o dobro de pontos de Wehrlein (161 a 84), e precisaria ficar sem pontuar por três corridas consecutivas, e ainda assim, poderia até permanecer na liderança da competição, uma vez que os rivais não conseguem ter constância de resultados para desafiar o inglês da Nissan, que tem tido também muita sorte não se envolvendo em acidentes nas corridas, algo muito fácil de acontecer pelo tipo de pista onde a F-E costuma correr, onde erros e eventuais percalços não deixam os competidores impunes. E Rowland periga fechar a conquista do título com uma antecipação inédita na história da F-E, se os rivais não começarem a se mexer desde já, e isso se conseguirem.

 

Ferrari dominando no Mundial de Endurance: Se na F-1 o time de Maranello ainda não mostrou a que veio propriamente em 2025, no Mundial de Endurance os carros vermelhos vem detonando a concorrência na classe principal, a dos Hypercars, com três vitórias nas três provas da temporada 2025 realizadas até agora. Com dois triunfos e um pódio nas 3 provas, o carro Nº 51 da Ferrari, com o trio James Calado, Antonio Giovinazzi e Alessandro Pier Guidi lidera o campeonato, com cada um deles possuindo 75 pontos na tabela. Já o carro Nº 50, composto pelo trio Nicklas Nielsen, Miguel Molina e Antonio Fuoco ocupa a vice-liderança, com 57 pontos. E completando o sucesso ferrarista, a terceira posição na temporada é ocupada pelo carro Nº 83 pilotado pelo trio Robert Kubica,Ye Yifei, e Phillip Hanson, da equipe AF Course, com a terceira Ferrari 499P, ocupando a terceira colocação no campeonato, com 39 pontos. O time italiano vem suplantando seus rivais na classe dos Hypercars, que conta com a participação da Toyota, e da Porsche, em associação com a Penske, BMW e Cadillac, como adversários mais diretos, mas que até o presente momento não conseguiram responder à altura ao domínio dos carros de Maranello na temporada deste ano. E agora, os ferraristas preparam-se para manter o domínio na principal corrida do ano, as 24 Horas de Le Mans, e consolidarem sua hegemonia na competição. Será que eles poderiam dar algumas lições ao time de F-1 de como se prepararem devidamente para uma competição?

 

Max Verstappen: O piloto holandês deu um baile na dupla da McLaren na etapa de Ímola, se esmerando no treino de classificação, e sobretudo, fazendo um arranque fulminante que lhe permitiu tomar a liderança da corrida na disputa da primeira curva. E tratou de ir embora, ainda que com os rivais relativamente próximos na primeira metade da corrida. Só que estes acabaram se embananando com os problemas causados pela intervenção, primeiro do Safety Car Virtual, e depois, do Safety Car real, quando o pelotão foi realinhado, sem as diferenças, neste último, e mesmo assim, o piloto da Red Bull largou na frente sem ser incomodado. Pode não ser assim em todas as pistas, visto que o modelo RB21 ainda é um carro instável, mas é um sinal de que Verstappen não pode ser subestimado, e está sempre ali, na medida das possibilidades, pronto para aproveitar qualquer vacilo dos pilotos da McLaren, e do próprio time, o que convenhamos, já anda acontecendo um pouco. Ainda não o suficiente para o time de Woking perder o controle do campeonato, mas… Fiquem dando mole, que o caldo pode entornar, e já vimos isso acontecer outras vezes anteriormente.

 

Johaan Zarco: O piloto francês da equipe LCR já começa a cobiçar um posto no time oficial de fábrica da Honda, e não é para menos. No caos que se transformou a etapa francesa do campeonato, em Le Mans, por causa da chuva, Zarco conseguiu se manter na pista, enquanto todo mundo ia e voltava dos boxes trocando de moto, para vencer de forma categórica, e dar à marca nipônica o seu primeiro triunfo em dois anos, desde a vitória de Álex Rins pela mesma LCR em Austin, no Texas, em 2023. Não por acaso, Zarco é o melhor piloto da Honda no campeonato, posição que já tinha protagonizado em 2024, superando facilmente até os pilotos do time oficial de fábrica, Joan Mir e Luca Marini, sendo que este último tem contrato só até o fim do ano, e Zarco, mesmo defendendo a LCR, é um piloto sob contrato direto da Honda, o que poderia facilitar uma troca de pilotos. O problema é que a Honda, que vem progredindo, em parte também graças aos esforços do francês, começa a ficar de olho em outras possibilidades, como nos boatos de que estaria interessada em Jorge Martin, se o atual campeão do mundo conseguir rescindir seu contrato com a Aprilia, ou até mesmo em Pedro Acosta, que já anda dando alfinetadas na KTM, e diz, em tom de ameaça, que poderá buscar um lugar melhor. Por estas e outras, Zarco precisa se garantir para se tornar a escolha até óbvia da Honda para a próxima temporada, em que pese a direção do time japonês insistir em bater cabeça onde não precisa.

 

 

 

NA MESMA:

 

Equipe Ferrari: O time italiano continua devendo na temporada 2025. A classificação em Ímola foi desastrosa, mas compensada parcialmente com um bom ritmo de corrida, que resultou em um 4º e 6º lugares para a dupla ferrarista, aplacando um pouco a impaciência dos fanáticos tiffosi. E em Mônaco, Leclerc só não venceu porque perdeu o duelo pela pole-position, conquistada magistralmente por Lando Norris, que da pole partiu para vencer a corrida. Mesmo que pareça que a escuderia vai se aprumando aos poucos, ainda é muito pouco perto da forma como a Ferrari terminou 2024, brigando pelo título construtores e por vitórias, um panorama diferente do visto este ano, onde o time de Maranello está bem atrás da favorita McLaren, e atrás até mesmo da Red Bull com Max Verstappen, e da Mercedes. Algumas atualizações previstas agora para junho e julho devem dar algum alento de dias menos ruins, antes de se concentrarem na temporada de 2026, e pelo menos até o presente momento, a ira dos torcedores está caindo mais sobre a escuderia, e não sobre os pilotos, que tentam fazer o melhor que podem diante da situação, onde tanto Charles LeClerc quanto Lewis Hamilton demonstram insatisfação com o panorama atual vivenciado pela escuderia italiana, ainda que por motivos diferentes.

 

Marc Márquez líder na MotoGP: a “Formiga Atômica” segue dominando a temporada 2025 da classe rainha do motociclismo, e até o presente momento, vem se mantendo como favorito único ao título da competição, abrindo cada vez mais vantagem diante dos rivais, o mais próximo dele seu próprio irmão caçula, que até tem dificultado um pouco as coisas para o irmão mais famoso em alguns momentos, mas não tem conseguido manter a sorte e a constância em alguns momentos, como se exige de um postulante ao título. Mas Marc mostra que também está mais maduro, diante dos anos recentes de dificuldades enfrentados com a Honda. O mais velho dos irmãos Márquez não venceu as corridas principais na França e na Inglaterra, mas nem precisava, uma vez que seus principais adversários potenciais ficaram pelo meio do caminho, diante de provas complicadas e em pisos traiçoeiros. Assim, ele se contentou em terminar as corridas com alguma segurança, mesmo deixando a vitória para outros pilotos que, no presente momento, não correm pelo título, mas assegurando pontos e posições confiáveis, e abrindo cada vez mais vantagem na classificação, e mostrando que não precisa barbarizar em todo final de semana, buscando a vitória a todo custo, não importam os riscos envolvidos. E por vezes, mais vale alguns pontos do que arriscar demasiado e sair sem nada, e ele vem conseguindo tirar isso quase de letra, em que pese tenha tido lá seus deslizes, e até ficado pelo caminho em algumas provas deste ano, situações que os adversários não conseguiram explorar com toda a intensidade necessária para comprometer sua campanha no campeonato atual.

 

Yamaha na MotoGP: desde o início da temporada, a Yamaha dá algumas mostras de estar recuperando sua competitividade na classe rainha do motociclismo, primeiro com alguns passos tímidos, mas dando saltos bem mais ousados nas últimas etapas, onde Fabio Quartararo vem até largando na pole position, e brigando pelas primeiras posições, dando fortes indicações que a seca de vitórias está perto de terminar, e que a marca dos três diapasões pode voltar ao topo. Mas, para isso, primeiro eles têm que terminar as corridas, e Quartararo deu azar tanto em Le Mans quanto em Silverstone. Na França, a chuva embaralhou tudo, e tornou a corrida uma verdadeira loteria onde muitos apostaram errado e perderam, e Quartararo foi um deles. Já em Silverstone, o francês parecia que ia brigar forte pela vitória, até porque Marc Márquez e a Ducati não pareciam ter a mesma força de sempre. Mas um problema na moto acabou com os sonhos do campeão de 2021, e mostrou que, apesar das melhoras, ainda falta conseguir recuperar a fiabilidade para voltar a brilhar nos resultados, e não ficar fazendo apenas farol. Ainda há muito trabalho a fazer, assim como na arquirrival Honda, mas aos poucos, tudo deve se encaixar, mas até lá, é preciso paciência para aguentar mais algumas desilusões, antes de receber a tão esperada recompensa.

 

Equipe Porsche na Formula-E: O time alemão bem que vem tentando mostrar força, mas a atuação de Oliver Rowland e da Nissan tem conseguido eclipsar os esforços da escuderia de Pascal Wehrlein e Antônio Félix da Costa, que ocupam a vice-liderança e a terceira posição no campeonato de pilotos, com relativo equilíbrio entre ambos na pontuação, com o atual campeão com 84 pontos, e o português com 73. Mesmo assim, tem sido pouco: enquanto Rowland vem enfileirando pódios e vitórias, a Porsche até aqui venceu apenas uma corrida, e sua dupla de pilotos vem tendo altos e baixos na temporada, o que não é nada bom quando se pretende disputar o título. O único consolo, se é que se pode dizer isso, é que a situação de outra marca que se imaginava favorita na luta pelo título, a Jaguar, está tendo ainda mais baixos que altos, com sua dupla de pilotos classificada apenas em 13º e 16º colocados na temporada, situação pra lá de vexaminosa. Mesmo assim, não deixa de ser comprometedora a posição da Porsche, que se não consegue disputar o título, poderia pelo menos brigar mais pelas vitórias. Meio campeonato de 2025 já foi, e a diferença de quase três corridas aberta por Rowland contra os mais próximos rivais não é um bom indicador. Poderemos ver uma reação, ou a montanha russa teimará em se estabilizar no time alemão?

 

Duelo dentro da McLaren: O time inglês parece que ainda não se acostumou a voltar a ser vencedor de fato na F-1. Ainda que esteja dominando a temporada, e com Oscar Piastri na liderança do campeonato, Lando Norris deu uma volta por cima em Mônaco, com direito a uma pole e vitória garantida com perfeição, a equipe papaia já voltou a mostrar uma ou outra falha no planejamento, mostrando que precisa ser mais ágil quando precisa se antecipar ou alterar o script planejado. Em Ímola, por exemplo, cometeu um erro crasso ao deixar seus pilotos duelarem entre si pelo 2º e 3º lugar, permitindo a Max Verstappen escapar para vencer a corrida sem sustos após o Safety Car. Com Piastri estando com os pneus desgastados, teria sido lógico ele abrir caminho para Norris tentar o ataque a Verstappen, uma vez que o inglês estava com pneus novos, e caso não conseguisse, devolver a posição a Piastri, se fosse o caso. Mas, ao deixar os pilotos duelarem, tanto Piastri quanto Norris perderam tempo, e quando Norris finalmente superou o australiano, ele já tinha desgastado suficientemente seus pneus para um ataque a Verstappen pela vitória ser infrutífero. Não seria o caso de privilegiar Norris em detrimento de Piastri na luta pelo título, apenas na luta pela vitória na pista de Ímola. Poderia ter dado certo, e conquistado mais uma vitória, ou não, com Verstappen conquistando o triunfo de qualquer maneira, mas pelo menos a McLaren poderia ter tentado, o que não fez. Novos movimentos de indecisão como estes poderão ocorrer novamente mais à frente, e poderão fazer muita diferença, a depender das circunstâncias. Será que a McLaren aprenderá a lição de vez, ou continuará marcando passo em situação decisivas assim?

 

 

 

EM BAIXA:

 

Equipe Penske na Indycar: a Indy500 foi um desastre para o time de Roger Penske. Na classificação, os carros de Josef Newgarden e Will Power foram impedidos de disputar a pole position devido a irregularidades numa peça traseira chamada atenuador. Isso gerou um escândalo na competição, deixando Newgarden e Power largando das últimas posições, e demissão da cúpula da equipe Penske – até Tim Cindric, com décadas de trabalhos na escuderia, rodou, por ordem de Roger Penske, determinado a mitigar os danos à reputação de sua escuderia, e para mostrar que nada é mais importante do que seguir os regulamentos, em que pese alguns defenderam a exclusão de Newgarden e Power da corrida, pura e simplesmente. Na corrida propriamente dita, os problemas começaram antes mesmo da largada, quando Scott McLaughlin bateu numa das voltas de apresentação e teve de abandonar antes mesmo da corrida começar de fato. Newgarden até vinha fazendo uma corrida combativa, e poderia brigar pela vitória, quando seu carro apresentou defeito na bomba de combustível por volta do 135º giro. Sobrou Will Power, que não conseguiu fazer uma boa apresentação, terminando apenas em 19º a mais famosa corrida dos Estados Unidos, e o estrago na reputação da equipe Penske, que reviveu os problemas de lisura do time que já tinham sido abalados na desclassificação sofrida na etapa de São Petesburgo do ano passado, quando as punições só vieram a público um mês e meio depois.

 

Novas regras de pit stop para o GP de Mônaco: Mônaco parece ser um caso complicado para a F-1, e até que tentaram dar uma sacudida na prova deste ano, impondo a regra de duas paradas obrigatórias no box, para ver se conseguiam criar mais emoção na corrida monegasca. Bem, o tiro saiu pela culatra, porque no pelotão da frente, os quatro primeiros colocados terminaram do jeito que largaram, e as poucas intervenções durante a corrida, com virtual Safety Car, foram inócuas, e ninguém bateu a ponto de forçar uma interrupção da corrida ou entrada do carro de segurança. No pelotão intermediário, inclusive, aconteceu o anticlímax, com pilotos rodando excessivamente lentos para atrasar os carros atrás deles e proporcionar aos colegas de time à frente a chance de fazerem suas paradas de box sem perder posições na corrida, estratégia que irritou muitos pilotos, e ainda por cima, não produziu melhores disputas. O problema, que são as dimensões dos carros da F-1, podem dar uma pequena ajuda neste sentido em 2026, quando pelo novo regulamento os carros serão 10 cm mais estreitos, e com 20 cm menores na distância entre-eixos, mas muitos apostam que será inútil, pois não é de hoje que a F-1 tem problemas em proporcionar uma corrida emocionante em Mônaco, lembrando que até mesmo em épocas passadas, quando os carros eram menores que os atuais, as dificuldades já eram grandes, e só foram piorando com o passar dos anos. Mas não dá para acusar somente a pista pelos problemas, e a rodada da Formula-E no Principado, correndo na mesma pista, teve cerca de 364 ultrapassagens nas duas provas de seu fim de semana, no início de maio, com disputas e trocas de posição a rodo, mostrando que Mônaco pode sim, proporcionar boas corridas, dependendo da categoria, e dos carros que ali competem. E com uma F-1 que não sabe enfrentar o problema como deveria, vai continuar devendo muito por ali. O charme e o encanto de Mônaco seguram a corrida no calendário, mas até isso pode não bastar mais em algum momento…

 

Fernando Alonso: O bicampeão espanhol vem tendo uma temporada abaixo das expectativas. Com um carro que despencou no quesito competitividade, só resta ao asturiano esperar pelo novo carro de 2026, projetado pelo mago das pranchetas Adrian Newey, e tentar dar um último show antes de aposentar o capacete na F-1. Mas, enquanto isso, Fernando vem tendo o incômodo de estar zerado na pontuação na temporada de 2025, enquanto Lance Stroll já conseguiu até pontuar. Mas a sorte não tem ajudado o espanhol, e em Mônaco, mesmo estando na zona de pontos a corrida inteira, teve de abandonar com problemas de motor, saindo zerado de novo. E em Ímola, quando o carro deu nítidos sinais de melhora, as estratégias erradas durante a prova tiraram Alonso novamente da zona de pontuação. Haja zica para superar, e paciência par aguentar a situação atual. Pelo visto, vai ser um ano complicado para o bicampeão, que continua andando em boa parte muito mais do que Lance Stroll. Mas faltou ao espanhol a sorte que sobrou ao canadense, o que mostra que na F-1, sorte, talento e capacidade precisam andar mais juntas do que nunca. Do contrário, mesmo o piloto mais capaz do mundo pode não conseguir apresentar resultados, e parecer alguém sem destaque na competição.

 

Jorge Martin: O atual campeão da MotoGP está praticamente ausente da temporada 2025 até aqui, tendo se acidentado na pré-temporada, às vésperas da primeira corrida, e tendo sofrido um forte acidente no único final de semana em que esteve na pista, e só complicou sua situação física, obrigando a uma nova ausência ainda mais prolongada para sanar os ferimentos acumulados. Para agora o atual campeão estaria no foco das fofocas por uma suposta tentativa de quebra do contrato firmado no ano passado com a Aprilia, com o qual se comprometeu por duas temporadas na defesa do time de fábrica de Noale, válido pela atual temporada, e de 2025. Vendo que a Aprilia está longe de oferecer condições de disputar o título, e até mesmo de vencer corridas em condições normais, o piloto espanhol estaria tentando usar uma cláusula de performance para se ver livre de defender a escuderia em 2026, procurando opções mais competitivas, chegando até mesmo a propor um novo prazo de avaliação das condições de competição da escuderia, evocando esta cláusula de performance que ele conseguiu impôr em seu contrato. Em outras palavras, vendo que a Aprilia não está onde ele gostaria que estivesse, Martin estaria tentando quebrar seu contrato e partir para outro time mais competitivo. Comenta-se até que a Honda poderia ser o seu destino no próximo ano. Mas a Aprilia não gostou nada, e declarou que irá exigir o cumprimento atual do contrato, obrigando Martin a ficar com o time até o fim de 2026. Isso pegou mal para o lado do piloto, que estaria inclinado a deixar o barco não cumprindo com o acordado, com prejuízos claros para a Aprilia, em um momento em que o time italiano está dando todo o apoio necessário para a devida recuperação de Jorge, e que claro, espera colher os frutos da contratação do piloto. Por mais que tenha feito uma temporada impecável em 2024, a frustração do piloto por ter sido novamente preterido pela Ducati o teria levado a firmar um contrato tempestivamente com a Aprilia, e agora, vendo que o time está longe de poder brigar pelo título, querer dar para trás seria visto como nova manobra tomada por impulso, o que nunca é algo bem visto, e pode comprometer a lisura e a seriedade de Martin como piloto profissional. Quem vai ganhar esta queda de braço? Seja lá como for, é mais um revés sério para Martin, mais em sua imagem do que em suas chances de competição na atual temporada.

 

Francesco Bagnaia: Conforme a temporada avança, o bicampeão “Pecco” Bagnaia ganha cada vez mais papel de coadjuvante de luxo na briga pelo título da temporada 2025 da MotoGP, que até aqui, parece ter um único favorito de fato, Marc Márquez, mas com seu irmão caçula Álex dando o ar da graça e, se não representando uma ameaça a tempo integral, pelo menos prometendo causar alguns incômodos ao irmãos mais velho e famoso na classe rainha do motociclismo. Mas, na pista, Bagnaia tem ficado cada vez mais à sombra de Marc Márquez na Ducati, e pior, mesmo quando o hexacampeão enfrenta problemas, ele não parece capaz de capitalizar a situação, seja por apresentar uma performance ainda inferior, seja por ter seus próprios problemas. E ter abandonado as duas últimas corridas nas provas principais, as de domingo, já produziu um prejuízo que dificilmente poderá ser revertido, a menos que Bagnaia inicie uma recuperação fulminante no campeonato. Marc Márquez segue na frente com 196 pontos, enquanto Bagnaia está com 124, uma diferença de 72 pontos, e que parece só aumentar. Verdade que “Pecco” conseguiu reverter uma desvantaqem em 2022, quando virou a tabela e foi campeão pela primeira vez, mas o rival era Fabio Quartararo, cuja Yamaha começava a decair de performance, o que ajudou na recuperação implacável do italiano frente ao francês. Agora, o rival usa a mesma moto, e divide a mesma equipe de Bagnaia, não só tornando uma reação ainda mais complicada, mas precisando torcer para uma série de azares da “Formiga Atômica”, o que até pode acontecer, mas não na intensidade necessária para ajudar o bicampeão italiano a reequilibrar a competição. E “Pecco” também não pode confiar apenas na sorte. Ou ele reage, ou poderá ter o destino de outros grandes talentos que chegaram na Ducati de fábrica, e saíram pela porta dos fundos...