sexta-feira, 7 de junho de 2024

DANÇA NA MOTOGP 2025

No duelo fora da pista por um lugar no time de fábrica da Ducati em 2025, Marc Márquez atropelou Jorge Martin, que vai defender a Aprilia no próximo ano.

            A classe rainha do motociclismo viveu uma semana agitada em termos de anúncios para a próxima temporada. Nem mesmo as vitórias de Francesco Bagnaia na etapa de Mugello conseguiram sobrepor o impacto do anúncio da contratação de Marc Márquez para ser o novo companheiro do atual bicampeão da categoria no time oficial da Ducati para a próxima temporada, algo que dividiu opiniões, e certamente não agradou a todo mundo.

            Jorge Martin que o diga. O piloto espanhol, vice-campeão do ano passado com o time satélite da Pramac, faz uma temporada vigorosa, liderando a competição, e submetendo “Pecco” Bagnaia a ter de correr atrás do prejuízo para tentar chegar a seu terceiro título consecutivo na MotoGP. A Ducati teria acertado a contratação de Martin para 2025, mas deu para trás, e foi assinar com o hexacampeão Márquez, que está defendendo a Gresini este ano. Nem é preciso dizer que Martin ficou, mais uma vez, desencantado, e cumprindo a ameaça que já fazia há algum tempo, de que só aceitaria ir para um time de fábrica, não pensou duas vezes em assinar com a Aprilia, dando uma bela esnobada com ares de vingança para a turma de Borgo Panigale.

            Para muitos, é melhor que “Pecco” garanta o tricampeonato este ano, porque em 2025, ele poderá viver o inferno na equipe oficial da Ducati tendo Marc Márquez como companheiro de equipe. E quem conhece a “Formiga Atômica”, sabe que ele gosta de chegar chegando. Foi assim desde que estreou na classe rainha, em 2013, arrasando tudo e todos pela frente. Não se pode ignorar o talento de Bagnaia, mas fica a dúvida de como se dará o duelo entre os dois pilotos defendendo a mesma escuderia, que por tabela, ainda possui a melhor moto do grid. Márquez arrasou com todos os companheiros de equipe com os quais dividiu a equipe de fábrica da Honda, mas atravessava uma fase ruim desde 2020, tendo começado com o acidente onde fraturou o braço logo no início daquela temporada, e desde então, entre problemas de recuperação, e depois problemas de competitividade da moto japonesa, Márquez tinha assumido quase uma posição secundária na competição, diante da falta de um equipamento competitivo à altura, enquanto a Ducati assumiu o posto de equipamento reinante da MotoGP.

            O hexacampeão perdeu a paciência com a Honda no ano passado, quando tentou fazer o que sempre fazia antes, andar acima do limite, e conseguir com a moto nipônica resultados que normalmente não seriam possíveis. Mas a Honda decaiu a tal ponto que, mesmo recuperado, Márquez não conseguia tirar o time do buraco onde se enfiou. E começou a duvidar até de sua capacidade de pilotagem, depois de praticamente quatro anos de entreveros, percalços, e azares. Ele mesmo admitiu que, dado o momento da carreira, não poderia ficar esperando a recuperação da Honda, e tomou um passo ousado para um campeão de seu currículo: aceitou dar um passo para trás, para depois tentar dar um novo passo adiante. O passo para trás foi romper com a Honda, um time de fábrica, e aceitar pilotar para um time satélite, a Gresini, um time menor, ganhando menos, mas tendo à sua disposição uma moto Ducati, ainda que não o último modelo da Desmosédici. O objetivo, ele mesmo dizia, era testar a si próprio, e ver se ainda tinha o talento e capacidade que fizeram dele seis vezes campeão da MotoGP.

Mesmo liderando o campeonato de 2024, Jorge Martin (acima) acabou sendo deixado para trás, com a escolha da Ducati por Marc Márquez (abaixo), que vem fazendo uma boa temporada em sua primeira experiência com a moto italiana.


            E a resposta já foi dada. Mesmo com a moto de 2023, que diga-se de passagem não é um equipamento qualquer, a “Formiga Atômica” já voltou a dar show na temporada de 2024, mesmo ainda aprendendo a descobrir todos os macetes da Desmosédici. Tanto que Marc ocupa a 3º posição no campeonato, com 136 pontos, atrás apenas de Francesco Bagnaia, com 153, e de Jorge Martin, com 171. Mas já à frente de Enea Bastianini, da Ducati oficial, com 114 pontos. E deixando o irmão caçula, Álex, que já tinha um ano com a Gresini, comendo poeira, em 10º lugar, com apenas 51 pontos. Ainda falta vencer novamente, mas já andou marcando pole-position, e no ritmo em que vem se apresentando, que ninguém duvide que não vai demorar para voltar ao topo do pódio. E, vendo que ainda tem muita lenha para queimar, já voltava a falar grosso, dizendo que só aceitaria correr com uma moto de fábrica em 2025, jogando-se no mercado de pilotos, e atiçando os rivais. Chegou a desdenhar da Pramac, que já usa motos oficiais iguais ao do time de fábrica da Ducati, mostrando que não aceitaria apenas ter a moto do ano. E fez a fábrica italiana acabar se rendendo a ele, que ocupará o lugar de Enea Bastianini no time oficial de Borgo Panigale.

            Muitos criticaram a Ducati por “se render” à chantagem velada de Marc Márquez, alegando que o time italiano se fez campeão sem precisar dele, e que estava bem servido por seus próprios talentos, começando por Bagnaia, e tendo Jorge Martin na fila de espera, e que era a opção mais natural para finalmente ser promovido ao time de fábrica. Para eles, a rasteira que Martin sofreu agora foi muito mais grave do que a de dois anos atrás, quando a Ducati promoveu Enea Bastianini para a equipe oficial, e não ele, mas ao menos tinha a justificativa da excelente temporada que o italiano fazia na Gresini, um time satélite da Ducati, mas um piloto “da casa”, algo que não é atribuído a Márquez, que simplesmente atropelou a fila e desalojou o espanhol da Pramac de seu sonho. E, de certa forma rancoroso, ele não pensou duas vezes ante a “traição”, indo para a Aprilia. E quem pode culpa-lo por se sentir novamente preterido pela marca que defende?

            Para outros, contudo, a chance de perder alguém como Marc Márquez, que já tinha se anunciado disponível para correr por outro time de fábrica, poderia ser um passo em falso que muitos nunca perdoariam a direção da Ducati. E eles mesmos afirmaram que a decisão foi complexa e difícil de se tomar, diante das opções na mesa. E, além da capacidade de geração de marketing, algo que Marc Márquez tem como grande trunfo hoje em dia na MotoGP, a Ducati certamente deve ter analisado com muito cuidado os dados de desempenho obtidos pelo hexacampeão com a GP23, uma vez que só eles sabem exatamente a diferença de performance para o modelo atual GP24, para se convencerem de sua contratação, apesar de todos os riscos envolventes de se ter dois pilotos campeões dentro do mesmo box, o que pode se tornar uma guerra em potencial no próximo ano entre ambos, dependendo da performance de cada um. Para os críticos, a Ducati acabou de selar o fim de sua paz e provável domínio na MotoGP. Para os que aprovaram a contratação, apenas uma reafirmação da Ducati de contar com os melhores talentos do grid, sejam eles quais forem, e não se deixar levar pelos possíveis pontos negativos que isso pode gerar. Quem estará certo? Quem terá errado de fato? Respostas que só saberemos efetivamente em 2025.

Enea Bastianini (acima) sobrou, e tenta se acertar com a Tech3 para o próximo ano. Já Francesco Bagnaia (abaixo) pode ganhar uma dor de cabeça maior do que Jorge Martin na Ducati em 2025 com Marc Márquez por lá.


            Da mesma forma, há aqueles que defendem e reprovam a saída de Martin da Pramac. O piloto espanhol lidera o campeonato, e vem andando forte desde o ano passado. Sua meta, claro, era ser promovido ao time oficial da Ducati. Mas o time italiano honrou o contrato de Enea Bastianini para 2024, diante da justa colocação de que Enea não rendeu o que poderia em 2023 por causa do acidente sofrido logo na primeira etapa, em Portugal, e que merecia ter sua chance de mostrar do que é capaz este ano. Mas, mesmo assim, a promoção de Martin ao time principal já era dada como praticamente certa. Até o fator Márquez entrar na equação, e bagunçar as expectativas. Mas, por mais legítima que fosse a ambição de Martin, por outro lado, ele não podia reclamar das condições de onde estava, na Pramac, que mesmo sendo um time satélite, conta com as motos iguais às do time de fábrica, e com a política da fábrica italiana de todos os seus times compartilharem abertamente os dados de performance das motos, a Pramac tem todas as informações tanto do time de fábrica quanto das demais satélites VR46 e Gresini. E Martin tem feito bom uso dos recursos de seu time, tanto que vem liderando o campeonato com autoridade, e pode até ser campeão este ano. Em 2023, Martin quase chegou lá, numa disputa praticamente homem a homem com Bagnaia, perdendo basicamente para erros de si próprio.

            Este ano, mais centrado, Martin vem sendo o grande desafiante de Bagnaia na luta pelo título, e a expectativa é de um duelo acirrado entre ambos até o fim da temporada, e não se pode dizer quem será campeão. Para a Ducati, pode-se imaginar o impacto de ver Martin ser campeão, e perder ele para a rival Aprilia em 2025, um time que, apesar de ter conseguido inegáveis avanços nos últimos anos, não atingiu ainda o nível de ser uma ameaça séria à Ducati. Um nível de competitividade que certamente pesará nos resultados de Jorge se ele quiser defender um possível título. Permanecesse na Pramac, ele continuaria desfrutando das melhores motos da Ducati, e se campeão, teria todas as condições de defender com mais chances um título, ou de tentar novamente o mesmo, caso não tenha sucesso novamente em 2024. E mais: poderia desafiar novamente a dupla oficial da Ducati, como já vem fazendo atualmente, com o adicional de poder superar também Marc Márquez, e mostrar aos italianos uma vingança merecida superando na pista aquele que lhe “roubou” a vaga, além claro, de também superar Bagnaia mais uma vez. A insistência em ter um lugar no time de fábrica seria mais justificável se ele tivesse de competir com uma moto defasada, como fazem os pilotos da VR46 e da Gresini, mas como já mencionei, não é o caso da Pramac, que tem um status diferenciado em relação a estes times, e conta com a mesma moto oficial da equipe de fábrica, a Desmosédici GP24.

            Mas talvez tenha pesado os rumores da Pramac trocar de equipamento em 2025, já que circularam rumores de que o time poderia passar a usar as motos da Yamaha, que neste mometo estão longe de terem a mesma competitividade das Desmosédicis. A Pramac afirma que não pretende trocar de fornecedora de suas motos, mas a Ducati alega que o contrato entre ela e a Pramac para o próximo ano ainda não foi renovado, então, talvez Martin tenha optado pelo seguro, garantindo para si uma posição em um time de fábrica, e que pelo menos, no presente momento, está acima da Yamaha, que tenta se reerguer na competição, sendo mera figurante na atual temporada, a exemplo da Honda. Mas, seria a Pramac capaz de trocar um equipamento de qualidade comprovada por outro que ainda não se recuperou na competição? Só se a Yamaha oferecesse muitas compensações em troca de tal acordo, sem poder oferecer garantias de competitividade de seu equipamento. E, claro, Jorge Martin não iria querer correr o risco de perder relevância no grid, se acabar sem uma moto decente para pilotar, e portanto, preparou-se para pular fora na oportunidade disponível, se tal mudança ocorrer de fato no time da Pramac.

            Alguns criticam a falta de “lealdade” ao time do piloto, criticando inclusive Marc Márquez por abandonar a Honda depois de tantos momentos de glória juntos, diante das dificuldades atuais da marca nipônica na MotoGP, e enaltecendo Fabio Quartararo por se manter “leal” à Yamaha, mesmo nas dificuldades enfrentadas. Em primeiro lugar, eles não estão errados em querer procurar os melhores equipamentos disponíveis. Marc Márquez admitiu que não queria sair da Honda, mas precisava não apenas de uma moto melhor, mas também se provar se ainda era o piloto que foi. E podemos ver que Márquez ainda é boa parte do grande campeão que foi ao conquistar seis títulos na MotoGP, enquanto a Honda, ainda perdida, ocupa a lanterna do campeonato, sem enxergar melhorias a curto prazo. Até Ayrton Senna, na F-1, não hesitou em largar a McLaren pela Williams assim que teve chance, ao ver que o time pelo qual fora tricampeão não lhe oferecia mais as mesmas condições de vitória de seus anos de supremacia na categoria máxima do automobilismo.

            Mudanças de time nem sempre são as mais justas e corretas. São as mais possíveis, e convenientes, claro. Se a Ducati acabou por ser injusta com Jorge Martin, não dá para saber com exatidão, embora a mensagem aparente seja disso mesmo: injustiça. Não terá sido o primeiro, e certamente não será o último. Nem sempre o mundo do esporte premia os melhores de fato, mas aqueles que tiveram as chances de estarem nos lugares certos nos momentos certos. Desde já, a Ducati garante toda a atenção para si em 2025, com a provável perspectiva do duelo entre seus dois pilotos. Um deles, de uma nova geração, que vai precisar se reafirmar perante o maior campeão da MotoGP da última década, que quer voltar a reinar, de preferência esmagando seus adversários como costuma fazer em seus tempos áureos. A única certeza é que teremos um vencedor, e um perdedor. Mas até que esse duelo comece de fato, só podemos ficar na expectativa, e ter algumas prévias durante as provas desta temporada, quando ambos se cruzarem na pista em disputa por posições.

 

 

Aleix Spargaró anunciou que está pendurando o capacete ao fim da atual temporada da MotoGP, e com isso, abriu-se uma vaga até disputada no grid da classe rainha do motociclismo, que já foi devidamente preenchida por Jorge Martin, com direito até a um anúncio em tempo recorde por parte do time da Aprilia, que ainda não confirmou a renovação de seu outro piloto, Maverick Viñalez, que certamente vai ter um osso duro de roer com seu novo companheiro de equipe na próxima temporada. Depois de quinze temporadas na competição, Aleix afirmou querer poder curtir mais a família, e já afirmou que seguirá pilotando, mas agora na função de piloto de testes, e as conversas indicam que ele deverá se dedicar a essa função na Honda, não seguindo na Aprilia, onde ajudou o time a se erguer nos últimos anos, sendo capaz de fazer poles e até vencer algumas provas. Mas a Aprilia não conseguiu consumar efetivamente essa ascenção, e depois de quase disputar o título em 2022, decaiu em 2023, e este ano ainda briga com a KTM pelo posto de melhor rival da Ducati, tendo como único mérito ter vencido uma corrida com Viñalez, enquanto a marca austríaca ainda está em branco neste quesito na temporada.

 

 

A KTM, aliás, já oficializou sua equipe para 2025 da maneira mais óbvia: Brad Binder segue no time, agora com Pedro Acosta como companheiro de equipe. Acosta vem surpreendendo na Tech3, time satélite da KTM, e seu lugar deve ser ocupado por Jack Miller, que já se resignou a ser rebaixado para o time. A Tech3, aliás, pode ter uma dupla inteiramente nova no próximo ano, contando não apenas com Miller, mas possivelmente também com Enea Bastianini, que rifado da Ducati, está em negociações com a escuderia para ocupar uma de suas vagas.

 

 

A F-1 chegou a Montreal para o Grande Prêmio do Canadá, e a expectativa é alta para vermos como a Red Bull estará na pista, depois de enfrentar dificuldades nas últimas corridas. Mas a fim de semana deve ser mais agitado, já que a previsão do tempo prevê possibilidade de chuva começando por hoje, e indo até domingo. Isso tem tudo para embaralhar ainda mais as possibilidades de disputa na pista, normalmente propensa a apresentar surpresas pelas particularidades do traçado usado pela F-1. Vejamos o que irá acontecer...

O GP do Canadá pode voltar a ter interferência da chuva na edição deste ano.

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