quarta-feira, 19 de junho de 2024

ARQUIVO PISTA & BOX – MAIO DE 2000 – 12.05.2000

            Trazendo mais uma vez uma de minhas antigas colunas, esta foi publicada no dia 12 de maio de 2000, e o assunto em pauta era o GP do Japão da F-CART, prova que era realizada na pista oval do Complexo de Motegi, criado pela Honda na segunda metade dos anos 1990 para coroar seus esforços no automobilismo de elite mundial. Depois de dominar a F-1 entre as temporadas de 1987 a 1991, a marca nipônica entrou na rival F-Indy, depois F-CART, onde passou a exercer domínio parecido, a partir de 1996, com a equipe Ganassi. Claro que a marca japonesa queria mostrar sua força a seu público, mas em Motegi, eram os rivais que vinham conquistando a vitória na casa da Honda, e naquela temporada de 2000, a sina se repetiu, com Michael Andretti a conquistar a vitória com um Lola equipado com motor Ford, para a equipe Newmann/Hass. Restou à Honda a segunda colocação na prova, com Dario Franchitti, da equipe Green, com um Reynard-Honda. Demoraria alguns anos para a Honda ter o privilégio de conquistar uma vitória em Motegi, tendo antes visto até a rival Toyota obter sucesso por lá antes dela, mas isso é assunto para outro dia. Por hora, apreciem o texto, e boa leitura a todos...

 

FESTA NA CASA DO RIVAL?

 

            Neste final de semana temos o GP do Japão, prova válida pelo campeonato da F-CART, que é realizada no circuito oval do Twin Ring Motegi, o megacomplexo automobilístico construído pela Honda há alguns anos. Erguido a um custo de cerca de US$ 500 milhões, o complexo é um grande parque destinado ao automobilismo, e uma marca do sucesso da Honda nas competições em 4 rodas, sucesso até hoje não repetido por suas rivais diretas, como Toyota ou Yamaha.

            A Yamaha teve resultados modestos em sua participação na F-1, sempre equipando times pequenos, o que não lhe permitiu ter o mesmo desempenho da Honda, que soube se associar a times de ponta que lhe permitiram dominar a categoria no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, com as escuderias Williams e McLaren. A Toyota, por sua vez, estuda participar da F-1, e seu ingresso pode ocorrer em breve.

            Na F-CART, a Honda ingressou em 1994, como fornecedora de motores, equipando o time de Bobby Rahal. Mas a fábrica japonesa começou mesmo a mostrar seus dotes em 1996, quando conquistou seu primeiro título, com Jimmy Vasser, equipando os carros da Ganassi. E de lá para cá, não vem dando chance aos rivais: foi vencedora em 1997, 1998, e 1999, sempre com a Ganassi, obtendo um bicampeonato com o italiano Alessandro Zanardi, e conquistando o título de 1999 com o colombiano Juan Pablo Montoya.

            E, em 1998, estreou a prova do Japão, promovida pela Honda, aproveitando o traçado oval do complexo de Motegi. O objetivo era o mais claro possível: vencer em casa e mostrar que está reeditando na F-CART o mesmo domínio que exerceu na F-1. Só que, até agora, o script não está funcionando muito bem: nas duas edições da corrida disputada em Motegi, quem deu o ar da graça foi a rival Ford, que venceu nesta pista tanto em 1998 quanto em 1999 com o mexicano Adrian Fernandez, pilotando um chassi Reynard equipado com motor Ford. O melhor resultado obtido pela Honda foi um 3° lugar em 1998, e um 2° lugar na corrida do ano passado, por coincidência com um mesmo piloto, o brasileiro Gil de Ferran, competindo pela equipe Walker, com um chassi Reynard.

            Se lembrarmos bem, mesmo na F-1 a Honda não teve vida fácil em no GP do Japão de F-1, mesmo quando dominava de forma escancarada: apenas duas vitórias foram conquistadas na etapa japonesa de 1987 a 1992. Se por um lado todos os seus títulos de pilotos saíram em Suzuka, apenas em 1988, e em 1991, esses títulos vieram com vitória na corrida nipônica. Em 1987, Nélson Piquet foi campeão com a desistência de Nigel Mansell após o violento acidente sofrido nos treinos para a corrida, mas Gerhard Berger foi o vencedor do GP; em 1988, Ayrton Senna fez uma exibição primorosa, caindo para o fundo do pelotão e recuperando-se a ponto de ganhar a corrida e o título mundial; em 1989, o título foi conquistado por Alain Prost, após o polêmico acidente entre ele e Senna na chicane antes da reta dos boxes, e a vitória na corrida ficou com Alessandro Nanini, da Benetton/Ford; em 1990, Senna seria bicampeão no Japão, mas a vitória da corrida foi de Nélson Piquet, após Ayrton e Prost baterem na primeira curva, num troco premeditado de Senna ao francês pelo ocorrido um ano antes; em 1991, Senna conquistaria o tricampeonato novamente em Suzuka, e a vitória na corrida ficou com Gerhard Berger, com McLaren/Honda; e em 1992, o triunfo da etapa japonesa foi de Riccardo Patrese, com Williams/Renault, time que massacrou a concorrência naquele ano.

            Este ano, a Honda renova suas esperanças de voltar a vencer em solo nipônico, mas o perigo de ver a concorrência novamente frustrar seus planos está mais forte do que nunca. A vitória na primeira corrida foi de um piloto equipado com motor Ford, Maxximiliano Papis, do time de Bobby Rahal. Já em Long Beach, corrida seguinte, o triunfo foi de Paul Tracy, da equipe Green, que corre com motores Honda. E na corrida do Brasil, Adrian Fernandez levou a vitória, mais uma vez correndo com motores Ford. Em resumo, tivemos duas vitórias da Ford e apenas uma da Honda até agora, sendo que o triunfo do propulsor nipônico se deu em uma corrida disputada em circuito de rua, enquanto as outras duas corridas, realizadas em pistas ovais, foram vencidas pela Ford.

            Pelo retrospecto, a Ford é a favorita para a corrida em Motegi novamente, mas é arriscado dizer isso só pelo retrospecto dos últimos anos. O equilíbrio que marca a F-CART é grande, e nada impede que os times equipados pela Honda enfim façam a fábrica japonesa desencantar em casa. Mas, pelo mesmo raciocínio, há bons competidores com motores Ford na parada, podendo ter chances iguais de vitória. E ainda tem mais um perigo: a Toyota. Sim, a grande rival da Honda no mercado automobilístico ingressou na F-CART em 1996, e vem trabalhando duro para melhorar seu motor desde então. Mas este ano, a Toyota conseguiu o que precisava para melhorar em definitivo suas chances: equipar um time de ponta, o que conseguiu passando a ser fornecedora de motor para a Ganassi, time que venceu todos os campeonatos da Honda até aqui na F-CART. E no treino para a corrida, a Toyota já deu um belo susto na Honda, ao marcar 3 dos 4 melhores tempos na cronometragem.

            Será que os japoneses verão a vitória de um propulsor nipônico pela primeira na corrida de seu país? Não seria bom desprezar a performance da equipe Ganassi, que vem tendo um desempenho que muitos não achavam possível logo de cara, ao trocar de motor após 4 anos competindo com os Honda. Mas não se trata apenas do bom trabalho de acerto do time de Chip: a PPI Motorsports, equipe do brasileiro Cristiano da Matta, também vem andando muito bem, o que indica que o motor turbo da Toyota atingiu um excelente estágio de performance nesta temporada, e que pode sim ameaçar a supremacia da Honda na categoria americana.

            Será que a Honda vai perder a disputa em Motegi mais uma vez? E, pior, para a principal concorrente japonesa? Seria menos vergonhoso perder para a Ford, por ser uma rival de outro país, mas no Japão, o orgulho da Honda está em jogo, e ser a primeira a vencer na F-CART em solo japonês é ponto de honra para as duas grandes fábricas, que prometem dar tudo o que podem na luta pela vitória. Um duelo que promete na prova do fim de semana...

            Só torço para, no caso do pior, a fábrica perdedora não resolva cometer harakiri após a bandeirada... Felizmente, não estamos mais na época dos samurais, onde tal prática era comum...

 

 

No duelo dos motores japoneses, as principais forças da F-CART estão bem distribuídas: a Penske e a Green são as melhores escuderias equipadas com os motores Honda. Já a Toyota tem seu melhor trunfo com a Chip Ganassi, e correndo por fora, temos a PPI Motorsports. Mas quem pode mesmo estragar a festa é a turma equipada com os Ford, que são maioria no grid, que tem grandes times, como a Newmann-Hass, a Forsythe, e a Rahal, e sem poder esquecer a Patrick.

 

 

Uma das idéias da Honda quando inaugurou a pista de Motegi era trazer para cá o Grande Prêmio do Japão de F-1, que seria disputado no traçado misto existente dentro do complexo. Felizmente, a idéia ainda não vingou: pista por pista, Suzuka possui um traçado muito mais desafiador, tanto do ponto de vista técnico como de pilotagem, e certamente a corrida de F-1 não teria em Motegi o mesmo charme que tem em Suzuka. Mas as duas pistas pertencem à Honda, e espero que a fábrica japonesa não tenha idéias erradas para o futuro de ambas as provas...

Nenhum comentário: