Voltando a trazer um de meus antigos textos, este foi publicado no dia 7 de abril de 2.000, e o assunto principal era o delírio dos torcedores ferraristas com a melhor estréia da Ferrari em mundiais de que havia memória. Michael Schumacher havia vencido as duas corridas iniciais da temporada, enquanto os rivais mais fortes, a dupla da McLaren, iniciava o ano cheia de problemas, o inverso do que costumava ocorrer com o time italiano. E a coluna, escrita às vésperas do GP de San Marino, mostrava com os tiffosi estavam em êxtase, e o piloto alemão era o grande favorito para vencer na pista italiana, a mais próxima de Maranello. Eles esperavam enfim terminar com o jejum de títulos que a equipe rossa enfrentava desde 1979, e teriam bem mais do que isso, pois justamente naquele ano a Ferrari e Michael Schumacher iniciavam um reinado de cinco anos ininterruptos que nunca mais foram repetidos. Confiram o texto, e boa leitura para todos...
OS TIFFOSI EM DELÍRIO
O campeonato de Fórmula 1 deste ano inicia sua fase européia, e como já tem sido hábito há muitos anos, é a pista de Ímola que dá partida às provas da maior categoria automobilística mundial no Velho Continente. E hoje, quando os carros entrarem na pista do Circuito Enzo e Dino Ferrari, os fãs da Ferrari estarão presentes em peso mais do que nunca.
É a primeira corrida em solo italiano, e Ímola, mais do que Monza, fica próximo a Maranello, onde fica a sede da Ferrari, praticamente a mais venerada instituição italiana depois do papa. E este ano, os tiffosi estão em delírio pleno como há muito não se via. O motivo, claro, não poderia ser outro: a liderança da Ferrari no mundial de F-1, tanto na classificação de pilotos como de construtores. Michael Schumacher venceu as duas etapas iniciais do certame, na Austrália e no Brasil, e chegou a Ímola como o favorito destacado para repetir no domingo mais um triunfo, e agora em casa. Se acontecer, nada mais poderia ser melhor para os torcedores italianos.
Mas há que se respeitar o poderio da McLaren. Os carros prateados ainda são os mais velozes, e Mika Hakkinen foi pole com autoridade tanto em Melbourne quanto em Interlagos. Mas na Austrália, ambos os carros de Ron Dennis ficaram pelo meio do caminho, com problemas no motor Mercedes. E em Interlagos, o panorama foi similar: Hakkinen abandonou com problemas na pressão do óleo, enquanto David Coulthard acabou desclassificado. E Schumacher, sempre pronto para agarrar as oportunidades, venceu ambas as provas, e é líder disparado da competição.
O panorama só não é melhor para a Ferrari porque Rubens Barrichello, que fez a festa completa para Maranello em Melbourne, quando estreou com um belo 2º lugar em sua corrida de estréia com os carros vermelhos, voltou a ser derrubado pelo azar no Brasil, onde abandonou com problemas hidráulicos em seu carro, impedindo uma festa igual à da Austrália. Mesmo assim, o brasileiro também é cotado para fazer bonito domingo, no seu primeiro GP em terras italianas como piloto Ferrari oficial. Mas Rubinho já sentiu o carinho dos torcedores em Monza, no ano passado, quando foi ovacionado pela bela corrida que disputou, quando todos praticamente já sabiam que ele iria para Maranello este ano.
A Ferrari tem o seu melhor início de campeonato em muitos anos, e as chances de que possa ser encerrado o jejum de títulos, que já vem perseguindo os carros vermelhos desde 1979, seja finalmente alcançado. Nos últimos anos, a Ferrari tem começado o campeonato em baixa, precisando correr atrás do prejuízo, o que tem feito com grande competência, graças à maestria de Schumacher na pista, sempre tirando dos carros mais do que eles podem dar, na grande maioria das vezes. E é graças ao bicampeão alemão que o time italiano tem conseguido equilibrar a briga com os rivais mais poderosos na pista, como foi com a Williams em 1997, e com a McLaren nos últimos dois anos. Mas o tempo perdido na recuperação tem se mostrado um crucial calcanhar de Aquiles para o time rosso: até conseguir equilibrar a disputa, os rivais abrem vantagem relativamente confortável, e isso lhes permite manter a dianteira com mais calma na competição.
Este ano, com os poderosos carros prateados a enfrentarem problemas de fiabilidade, a Ferrari enfim iniciou o ano na frente, e Schumacher já conseguiu uma boa vantagem de 20 pontos, enquanto o bicampeão Mika Hakkinen, mais provável rival de Schumacher, ainda está praticamente zerado. Se nos anos anteriores era Schumacher quem tinha de correr atrás, agora são os rivais do alemão que terão de recuperar o tempo perdido, só que Michael não tem o costume de permitir que os adversários possam se recobrar de um mal resultado. Vai tratar de abrir ainda mais vantagem para liquidar a fatura o quanto antes. E, se conseguir, pode estar a meio caminho andado para conquistar o tricampeonato.
Mas não é bom subestimar a McLaren. O time prateado ainda tem o carro mais veloz, e se resolver seus problemas de confiabilidade, podem reverter o panorama da competição rapidamente, como já fizeram nos anos anteriores, quando davam a sensação de terem perdido a dianteira na disputa. Mika Hakkinen mantém a confiança em que seu time consiga resolver todos os problemas apresentados, e voltar a vencer corridas, posição que é compartilhada por seu colega de equipe, David Coulthard, que mais uma vez, quer sair da sombra do piloto finlandês no seio do time inglês.
E a pista de Ímola, ainda de média alta velocidade, parece ser feita sob medida para os carros ingleses, que possuem uma aerodinâmica mais refinada, graças a Adrian Newey, que desde que passou a conceber os modelos MP4, o time foi campeão nos últimos dois anos. E aí, a única esperança dos ferraristas é o braço de Michael Schumacher, que sempre consegue desequilibrar, como fez no ano passado, quando venceu nesta pista, aproveitando-se do azar de Hakkinen, que havia abandonado por causa de um acidente. Mesmo assim, foi uma vitória sob risco, pois esteve com Coulthard no calcanhar praticamente toda a corrida, que venceu por apenas 4s de vantagem para o piloto da McLaren.
Um resultado favorável aqui em Ímola é crucial para a Ferrari e Schumacher, pois na corrida seguinte, na Inglaterra, o favoritismo teórico passa a ser da McLaren, que costuma dar as cartas na pista inglesa. E, para piorar a situação, a próxima prova depois é em Barcelona, pista onde os times fazem a maioria dos testes da pré-temporada, e que deve ser totalmente favorável aos carros da McLaren, a tal ponto que nem mesmo Schumacher poderá fazer a diferença por lá se Hakkinen e Coulthard não tiverem algum tipo de contratempo. A parada é ganhar aqui em San Marino e tentar se garantir em Silverstone para, na pior das hipóteses, poderem administrar a corrida da Espanha.
Para tanto, a Ferrari trouxe várias modificações no modelo F2000, com vistas a tornar o carro ainda mais veloz, e permitir encarar os McLaren em igualdade de condições. O problema é que McLaren também vem com novidades, mas a pior delas, na opinião dos ferraristas, será ter resolvido seus problemas de fiabilidade, pois o carro já é extremamente veloz. Os treinos hoje darão as primeiras pistas do que poderemos ver no domingo, e a perspectiva é de uma luta feroz por parte de ambos os lados.
Que vença o melhor, então...
O início da
temporada européia é a esperança de dias melhores para algumas das escuderias
que ainda estão zeradas na pontuação até aqui. Nada menos do que 5 times ainda
não conseguiram marcar um ponto sequer este ano: Arrows, Sauber, Prost,
Minardi, e Jaguar. De todos eles, a Jaguar é quem está decepcionando mais, por
se tratar do novo time oficial da Ford, que no ano passado, quando era a
Stewart, já tinha dado bons indícios de performance tanto na Austrália quanto
no Brasil, e só não tiveram melhor sorte por quebras nos carros. Este ano, nem
isso: os carros verdes, agora com Eddie Irvinne e Johnny Herbert, ainda não
conseguiram mostrar nem metade do desempenho do ano passado. Em 1999, o time
não foi mais longe por falta de recursos, que agora tem em fartura até. Pelo
visto, a nova direção do time ainda tem muito o que aprender sobre como conduzir
um time de F-1.
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