A Formula-E encerrou sua temporada 2023 com um novo campeão e também um novo time vencedor no campeonato. Em Londres, no Excel Arena, o piloto da casa Jake Dennis conquistou o título de campeão, o primeiro da equipe Andretti desde que a categoria passou a ser disputada. Nick Cassidy, que ainda tentava uma reviravolta na rodada dupla final do campeonato, acabou tendo de se contentar com o vice-campeonato, mas seu time, a Envision, sai como campeã do campeonato de equipes, feito inédito da escuderia também.
A decisão do título veio com uma prova de antecedência, com Dennis assegurando o título com a 2ª posição na primeira prova da rodada dupla de Londres. Mith Evans, que ainda tinha esperanças matemáticas de levar o campeonato, venceu a corrida, mas não conseguiu impedir que o piloto da equipe de Michael Andretti levasse o campeonato. A decisão, contudo, tinha tudo para ser muito mais acirrada e disputada do que foi, não fosse a barbeiragem de Evans na segunda prova de Roma, quando o neozelandês da Jaguar perdeu a freada em uma curva e acertou o compatriota Cassidy da Envision, levando ao seu abandono, e Nick a ficar zerado na prova. Sobrou de consolo Cassidy ter se vingado conquistando o vice-campeonato, vencendo a etapa final, e superando Evans por apenas 2 pontos.
Mesmo assim, a sensação de que ambos poderiam ter conquistado o título é patente. Tanto Evans quanto Cassidy acabaram “abatidos”, ou pelo menos atrapalhados, por “fogo amigo”, no que tange à convivência com seus parceiros de equipe. Vimos isso na Jaguar, onde estripulias de Sam Bird levaram ao seu abandono, mas tendo colidido com seu próprio companheiro de time em duas provas, o que levou ao abandono de ambos, e à perda de resultados potenciais que certamente fizeram falta nesta reta final do campeonato. Não é por acaso que o piloto inglês perdeu seu assento no time para 2024, embora isso tenha sido motivado mais pela falta de resultados nestes últimos dois campeonatos do que pela confusão causada em duas provas. Mas não se pode acusar Bird somente. Na reta final, em Roma, Evans também teve um erro fatal. Após vencer a primeira prova, ele vinha bem na segunda corrida, quando abalroou Cassidy na freada de uma curva, uma bobeada imperdoável para quem estava na disputa pelo título, praticamente colocando-o para fora da disputa da taça ali, ainda que se mantivesse com chances matemáticas, o que seria muito difícil de ocorrer. A pressão para descontar a diferença, mais o azar do momento, cobraram seu preço, muito mais para Mith do que para Nick, que ainda se mantinha em posição razoável, ainda que difícil.
Na Envision, o clima entre Cassidy e Sebastien Buemi já não andava bom, mas até então, era administrável. Mas, na primeira prova de Londres, Buemi acabou dividindo curvas com Cassidy que acabaram levando o neozelandês ao abandono, e por tabela, acabando totalmente com o sonho do título. Se levarmos em conta que naquela primeira prova Jake Dennis vinha atrás da dupla da Envision na prova, a chance de Cassidy ter adiado a decisão para a corrida final no domingo era grande, e isso poderia ter dado um clímax ainda maior à disputa do título, com a diferença de pontos entre Dennis e Cassidy muito menos do que foi. Buemi estava fazendo seu papel de escudeiro para Cassidy na prova, mas sua atitude ali foi incompreensível para quem, já fora da briga, deveria lutar pela equipe. O suíço alegou que o time não lhe avisou corretamente da tentativa de ultrapassagem de Nick, enquanto para outros, ele deveria ter aberto totalmente para o colega passar. Mas a visibilidade dentro do pavilhão do Excel Arena, onde foi tentada a ultrapassagem, não era das melhores, e o local escolhido por Cassidy também não foi o correto. Se Buemi iria ceder a posição, melhor se tivessem feito isso em um trecho de reta, menos arriscado. Não dá para culpar apenas Buemi por isso.
Jake Dennis também teve sua cota de azares, ocorrida a meio da temporada, quando ficou zerado em algumas provas, sendo em que pelo menos uma delas vinha para um bom resultado, e acabou atingido por outro concorrente em uma manobra imprudente, sem que o piloto pudesse fazer nada. Felizmente, ele se aprumou a partir da segunda corrida de Berlim, e de lá para cá, efetuou excelentes provas, terminando quase todas no pódio, e dando sorte de ficar longe de encrencas que poderiam complicar sua situação no campeonato. A tradicional sorte de campeão, sem a qual ninguém chega a um título, o que não quer dizer que o piloto não mereceu a conquista. Dennis venceu a primeira corrida, e depois de Berlim, sou aproveitar o potencial do trem de força da Porsche, conseguindo resultados melhores no conjunto do que os do time oficial da marca alemã. E quando surgiu a oportunidade de vencer em Roma, ele não a desperdiçou, apesar do forte assédio dos rivais, que sempre estiveram na sua cola.
Jake Dennis é mais um piloto que sonhou com a Fórmula 1, mas acabou encontrando sua redenção na categoria de carros elétricos. Praticamente todos que foram campeões no certame acabaram migrando para ele após verem suas expectativas se chegarem ou se manterem na categoria máxima do automobilismo minguarem. Dennis flertou com a F-1 entre 2018 e 2020, quando ocupou a posição de piloto de desenvolvimento da Red Bull, trabalhando nos simuladores do time dos energéticos, chegando até a andar com o carro da escuderia em duas ocasiões durante a temporada de 2018. Mas as chances de ser efetivado como titular jamais foram boas, e ele precisou buscar novos caminhos. E isso acabou por leva-lo para a Formula-E, estreando na temporada 2021 como piloto da equipe Andretti, à época time oficial da BMW na competição. E o britânico não deixou por menos: terminou o ano em 3º lugar, o melhor resultado da Andretti até então na F-E, tendo chegado perto da conquista do título, ainda que a escuderia tenha fraquejado na reta final. Jake marcou 91 pontos, enquanto Nyck De Vries, o campeão, fez 99 pontos. Edoardo Mortara foi o vice-campeão, com 92 pontos. O resultado de Dennis é expressivo se compararmos com Maxximilian Gunther, seu companheiro de time na Andretti, que foi apenas o 16º colocado, com 66 pontos. A Andretti venceu três corridas na temporada, sendo duas delas de Jake, na segunda prova de Valência, e na primeira corrida de Londres daquela temporada.
A temporada de 2022 foi menos frutífera. Embora continuasse na Andretti, esta havia perdido o apoio com a saída da BMW da competição, embora mantivesse o fornecimento de seu trem de força ao time norte-americano. Mas o equipamento deixou de ser desenvolvido, de modo que a performance da Andretti caiu, diante da evolução dos concorrentes. Mesmo assim, Jake Dennis ainda fez uma temporada bem satisfatória, terminando em 6º lugar, com 126 pontos. De positivo, ele ainda venceu de novo uma das provas da rodada dupla de Londres, repetindo o feito do ano anterior. E mais uma vez se sobressaiu sobre o companheiro de equipe, Oliver Askew, que terminou o ano apenas em 16º, com 24 pontos. Dennis já estava mais do que consolidado como o líder da Andretti na pista.
O Excel Arena foi novamente palco do ePrix de Londres (acima). Pascal Wehrlein (abaixo) foi o grande derrotado da temporada, depois de pintar como favorito no início do ano com a Porsche.
A temporada de 2023 abriu a nova era dos carros Gen3, a terceira geração de bólidos da F-E, com muito mais potência e nova dinâmica de comportamento dos carros e de gerenciamento de energia, com todos os times precisando descobrir os segredos e capacidades dos novos equipamentos. E o time de Michael Andretti ensaiou sua nova parceria, sendo agora cliente da Porsche, que passava a ser a nova fornecedora do trem de força para o time norte-americano. Mais do que sorte, a Andretti também soube capitalizar com o excelente equipamento que recebeu, e Dennis iniciou o ano com uma vitória firme na Cidade do México, iniciando a temporada na liderança da competição.
O piloto inglês conseguiu se manter firme na briga após a rodada dupla em Diryah, onde Pascal Wehrlein deu a entender que a Porsche seria a grande força da temporada de estréia dos carros Gen3, com o piloto alemão vencendo de forma incontestável as duas corridas em solo saudita. Dennis foi o 2º colocado em ambas as corridas, e poderíamos ver um duelo particular entre a Porsche e seu time cliente, a Andretti, enquanto os demais adversários ainda procuravam um rumo para se acertarem na competição. Na etapa seguinte, em Hyderabad, as coisas começaram a dar um pouco errado para Dennis, que além de acabar saindo zerado da prova, ainda viu Wehrlein terminar em 4º, marcando vários pontos importantes. O pódio de Antonio Félix da Costa, em 3º, mostrava que a Porsche ainda era a força a ser batida, em que pese o triunfo ter sido de Jean-Éric Vergne na reestruturada DS Penske. Mas poucos imaginaram que o pódio de Nick Cassidy, na 2º colocação, seria apenas o início da ascenção do trem de força da Jaguar na temporada, já que o panorama ainda apontava para o duelo entre Wehrlein e Dennis pelo título, até aquele momento.
Na prova seguinte, na Cidade do Cabo, mais uma vitória da Porsche, mas com Antonio Félix da Costa, com o português ajudando o time germânico a se manter como a grande força da competição. Wehrlein acabou abandonando por causa de um acidente, e isso deu certo alívio à temporada, impedindo que o alemão disparasse ainda mais na liderança. Para Jake, não fazia muita diferença, já que ele ficou sem marcar pontos pela segunda prova consecutiva, de modo que a oportunidade para diminuir a desvantagem acabou perdida. Mas Nick Cassidy conseguia seu segundo pódio consecutivo, e isso começaria a chamar um pouco a atenção, embora as atenções de Vergne, com mais um pódio para a DS Penske indicasse que o time de Jay Penske poderia ser um adversário potencial mais capacitado.
Na etapa de São Paulo, o panorama mudou totalmente: a Porsche, antes tão temida e dando a percepção de que dominaria a temporada, acabou não apenas batida como vencida na pista, sem problemas do time alemão. A Jaguar vinha com tudo, e Mith Evans venceu a corrida com autoridade, e Nick Cassidy marcou seu 3º pódio consecutivo, lembrando a todos que a Envision também usava o trem de força da marca britânica, que praticamente monopolizou o pódio brasileiro com Sam Bird, colega de time de Evans, em 3º lugar. Da Costa terminou em 4º, mas sem exibir a mesma força que a Porsche demonstrara no início da competição. A etapa de São Paulo marcou o abandono de Dennis, em mais um resultado perdido para o piloto britânico, enquanto Pascal Wehrlein, com um 7º lugar, ia acumulando seus pontinhos, mas iniciando uma constância de resultados medianos que começava a preocupar os torcedores da marca alemã, diante da queda de rendimento. Novos ares em definitivo, ou apenas algo do momento? A F-E é muito menos previsível do que a F-1, e bem mais competitiva, então não dava para apontar favoritos destacados, apenas aproveitar que não veríamos um passeio dos times Porsche como se presumia, e que poderíamos ter um duelo com os times da Jaguar.
E foi o que aconteceu, com a marca britânica assumindo o estrelato da competição. Na etapa seguinte, em Berlim, vimos a Jaguar faturar a vitória nas duas provas. O time oficial venceu a primeira corrida, com Mith Evans, mas seu time cliente, a Envision, faturou a segunda, novamente com Nick Cassidy, com seu 4º pódio em 5 provas. Até então, a Porsche, com seu time de fábrica e sua cliente Andretti, haviam vencido 4 corridas, mas a Jaguar já acumulava 3 triunfos somando seus dois times, sendo que as vitórias eram consecutivas. A marca britânica era de fato a nova força da competição. Era exagero subestimar a força da Porsche, que poderia “acordar” de novo na competição, e voltar a dominar, mas isso foi ficando cada vez mais improvável de ocorrer. Em sua corrida “em casa”, a Porsche não conseguiu batalhar pela vitória, e nem mesmo pelo pódio. Quem salvou a “honra” da marca alemã foi justamente Jake Dennis, que conseguiu anotar um 2º lugar na segunda prova em Tempelhof, e dar adeus à maré de azar que vinha tendo nas últimas corridas.
Aliás, foi dali em diante que o britânico da Andretti não perdeu mais a mão da competição, terminando sempre no pódio, com exceção da primeira prova de Roma, onde foi 4º colocado. Ele ainda coroou o fim de semana na capital italiana com seu segundo triunfo na temporada, feito decisivo para se impor definitivamente na luta pelo título. Mas a parada seguia complicada e parelha até a rodada dupla de Roma, uma vez que Jaguar e Envision cresceram a olhos vistos na competição. Pascal Wehrlein deu uma reagida na primeira prova de Jakarta, mas seu fôlego acabou ali, não conseguindo resultados à altura para se manter firme na briga pelo título, posição que acabou abraçada justamente por Mith Evans e Nick Cassidy, que engrossaram a briga, em um duelo sem grandes favoritos, como a F-E já tinha visto em temporadas anteriores. Se a Porsche não conseguia reagir, tanto na pista quanto fora dela, a Andretti conseguiu manter a performance e eficiência de seu carro, com o mesmo trem de força, e com Dennis fazendo a parte dele na pista.
E não foi à toa então que Jake Dennis acabou sendo o campeão. Se ele venceu menos que Evans e Cassidy, por outro lado conseguiu ser mais constante do que ambos, e estabeleceu um novo recorde na temporada, ao conquistar 11 pódios nas 16 provas do ano, deixando para trás do recorde estabelecido em 2022 por Stoffel Vandoorne, com 8 presenças no pódio, o que lhe valeu o título daquele ano. Para não mencionar que na reta final, ele não cometeu erros cruciais, ou sofreu problemas inesperados sobre os quais não tivesse controle. O maior deslize foi um erro de estratégia que o fez terminar “apenas” em 4º na primeira prova de Roma, onde tinha tudo para marcar mais um pódio. Mas por outro lado, ele não viu o acidente pavoroso causado pela rodada e batida de Sam Bird que tirou vários carros daquela corrida. E na segunda prova na capital italiana, como mencionado, Evans e Cassidy acabaram ficando fora de combate pelo erro de Mith, enquanto Jake aguentou a forte pressão de Norman Nato e Sam Bird para vencer a corrida com méritos.
Temporada encerrada, já começam os preparativos para a temporada de 2024, que começará dia 13 de janeiro, mais uma vez, na Cidade do México. E com Jake Dennis como novo campeão, e piloto a ser batido. Rei morto, rei posto...
A Indycar acelera fundo neste fim de semana, com mais uma corrida em circuito urbano, agora em Nashville, prova que tem proporcionado grandes emoções desde que estreou no calendário da competição. Depois de vencer as duas corridas na rodada dupla de Iowa, Josef Newgarden, da Penske, que é da cidade, tenta diminuir a grande vantagem de Álex Palou, da Ganassi, na liderança do campeonato. A prova terá transmissão ao vivo da TV Cultura, do Star+, e da ESPN4 a partir das 13:00 Hrs. de domingo, horário de Brasília.
E a MotoGP também volta a acelerar, depois das férias de verão, com o GP da Grâ-Bretanha, no circuito de Silverstone. Amanhã, sábado, teremos a prova Sprint, a partir das 11:00 Hrs., e a corrida, domingo, terá largada às 9:00 Hrs., ambas com transmissão ao vivo pelo Star+ e ESPN4. Francesco Bagnaia, da Ducati, lidera o campeonato, buscando seu segundo título.
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