sexta-feira, 4 de novembro de 2022

DESSA VEZ VAI?

Quem vai levar o título da MotoGP 2022: Francesco Bagnaia, da Ducati (acima), que está quase com as mãos na taça; ou Fabio Quartararo, da Yamaha (abaixo), tentando o impossível para chegar ao bicampeonato?


            A MotoGP disputa sua etapa final da temporada 2022 neste domingo, e o palco é o belo circuito Ricardo Tormo, em Valência, sede do Grande Prêmio da Comunidade Valenciana. O traçado utilizado pela classe rainha do motociclismo tem 4 Km de extensão, com 9 curvas à esquerda, e 5 à direita, em uma prova disputada em 27 voltas, totalizando 108,1 Km de percurso, com largada programada para as 10:00 Hrs. deste domingo, pelo horário de Brasília, com transmissão ao vivo pelo canal ESPN4, e pelo sistema de streaming Star+. E, em jogo, o título da temporada deste ano, a primeira disputa na etapa derradeira da competição em cinco anos.

            Na pista, a Ducati tem Francesco Bagnaia com a missão de levar para Borgo Panigale a segunda conquista de pilotos da marca italiana, que desde que estreou na MotoGP, contabiliza apenas um título, obtido por Casey Stoner, no já distante ano de 2007. A Fabio Quartararo, o atual campeão, defende seu título em busca do bicampeonato, e mais um título para a Yamaha. Quem vai levar a taça de campeão deste ano? Curiosamente, na última vez que uma decisão de título prolongou-se até à última corrida da temporada, em 2017, a Ducati também esteve presente na disputa, mas em condições opostas ao que teremos neste domingo.

            Hoje, a equipe oficial da marca italiana é a franca favorita, tendo conseguido inverter as posições ao longo da temporada, onde levou um tempo para se acertarem, tendo de ir recuperar o prejuízo, e fazer valer um favoritismo que já era esperado nos testes da pré-temporada, mas que só veio a confirmar-se, de fato, a partir do meio do ano. Do outro lado, a Yamaha, com o atual campeão mundial, tencionava repetir a campanha de 2021, e até vinha conseguindo cumprir com a estratégia, mas em bases mais frágeis do que a do ano passado, quando sagrou-se com o título para Fabio Quartararo. Temos 25 pontos em jogo, e Bagnaia chegou a Valência com 23 pontos de vantagem para seu rival da Yamaha, que de favorito, virou o azarão nesta reta final do campeonato.

            Em termos de equipamento, a Ducati é hoje a melhor moto do grid, e tem uma força considerável, se levarmos em conta o time oficial de fábrica e suas equipes satélites, times independentes que competem com as motos italianas no campeonato, que até aqui, em 19 provas, venceram nada menos do que 12 provas, 63,15% das corridas. À concorrência, sobrou pouco: 3 vitórias da Yamaha, 2 da KTM, 1 da Suzuki, e 1 da Aprilia. Na disputa de construtores, a Ducati já é campeã, assim como foi em 2021. Resta a conquista do título de pilotos para coroar a bem-sucedida temporada apresentada até aqui. Mas, apesar da grande vantagem de “Peco” Bagnaia, é prematuro dar o título por conquistado antes da hora.

            Prudência excessiva? Talvez. Quartararo tem um único resultado viável em mente: a vitória! E nada mais. Se ele não chegar em primeiro, perderá a disputa, e mesmo assim, dependerá muito de Bagnaia, que precisa apenas de um 14º lugar, na hipótese de um triunfo do piloto da Yamaha, para levar o título, conquistando a taça no desempate por vitórias com “El Diablo”. Se o piloto da Ducati for 15º, e Fabio vencer, ele leva o bicampeonato por apenas 1 ponto, no que seria a maior reviravolta numa decisão de título da história da MotoGP, que em toda a sua história, viu apenas 3 inversões de posição na etapa final da disputa, e mesmo assim, nunca o campeão conseguiu uma reviravolta tão grande. Nicky Hayden, em 2006, conseguiu tirar uma diferença de 8 pontos para Valentino Rossi na prova final, ali mesmo, em Valência, e sagrar-se campeão, diferença muito menor do que a que Quartararo precisa vencer se quiser conquistar o bicampeonato, missão que pode ser considerada quase impossível. Mas esse é o detalhe: quase!

Luta para terminar o ano em alta: Enea Bastianini, da Gresini (acima) surpreendeu na primeira metade da temporada. Já Aleix Spargaró (abaixo) conquistou a primeira vitória da Aprilia, e está em briga direta com o piloto da Gresini na classificação da temporada 2022.


            Não é demais lembrar que, na mesma decisão de 2006, Hayden terminou a prova final no pódio, em 3º lugar, enquanto Rossi foi apenas 13º. Tirando três abandonos do “Doutor”, aquele foi o seu 2º pior resultado naquela temporada, ou seja, Valentino teve um desempenho excepcionalmente ruim em Valência, que aliada à regularidade de Nicky, perdeu a disputa do título para o piloto da Honda, ficando com o vice-campeonato. Claro que, em termos de favoritismo, era Rossi quem tinha as melhores cartas, mas uma corrida particularmente ruim do italiano permitiu a inversão de Hayden, que conquistou ali seu único título na classe rainha do motociclismo, derrotando ninguém menos que o “Doutor”, o grande astro da MotoGP. Portanto, imaginar que Quartararo possa reverter as expectativas, é difícil, mas não de todo impossível. E o histórico desta temporada não permite comemorações antecipadas, de nenhum dos dois.

            Afinal, “Peco” teve cinco abandonos no ano, sendo que o último deles, ocorrido no Japão, em Motegi, ocorreu em uma prova anormal diante da escalada implacável do italiano e da Ducati, que vinham de quatro vitórias e cinco pódios consecutivos. Uma situação diferente das etapas anteriores, com Bagnaia disputando posições mais para trás acabou levando-o a errar, e cair, dando adeus à prova, e a uma chance de diminuir ainda mais a vantagem do rival na classificação do campeonato. Não há garantias de que possa ocorrer de novo, por mais cuidado que se tenha, uma performance problemática na prova em Valência, e o piloto possa se complicar novamente, seja em uma disputa na pista, ou até mesmo sozinho, como também já ocorreu na primeira metade da temporada deste ano. É um risco que precisa ser evitado, e por isso mesmo, com a vantagem a seu favor, Bagnaia pode ter uma postura mais conservadora na corrida, procurando apenas garantir uma posição pontuável segura para levar o título, e ficar longe de confusões na pista tanto quanto possível. Uma queda poderia ser fatal para suas pretensões de título, mas não um desastre completo.

            Isso porque, como já mencionei, só a vitória interessa a Quartararo. Um novo abandono de seu rival ajudaria, mas sua situação continuaria extremamente difícil. Não que ele não consiga vencer a corrida, o problema é que na disputa pela vitória, Bagnaia certamente seria o menor de seus problemas. Ele teria de se preocupar com vários outros pilotos. Os principais seriam Aleix Spargaró e Enea Bastianini, que querem terminar o ano em alta, se possível, com o vice-campeonato, estando com o atual campeão mundial em sua alça de mira. Missão difícil para ambos, mas assim mesmo, não totalmente impossível. Bastianini surpreendeu no início do ano, sendo o piloto da Ducati a vencer primeiro, mesmo em um time satélite, a Gresini, e até a liderar o campeonato. Eventualmente, ocorreu o que se esperava, com a Gresini a não conseguir manter o ritmo, e o time oficial da Ducati se acertar, e passar a dar as cartas, assumindo o protagonismo que todos imaginavam ocorrer. Bastianini, por seu desempenho na primeira metade do ano, foi promovido ao time de fábrica em 2023, e por isso mesmo, quer mostrar que sua escolha é mais do que justa, e nada melhor do que conseguir tirar o vice-campeonato de Quartararo, já que o título já se tornou inalcançável.

            Pelo mesmo raciocínio vem Aleix Spargaró, que só não está mais perto porque a Aprilia desandou nas últimas provas por erros bobos, mas ainda pode reagir, e fazer se Aleix vice-campeão, em uma temporada onde a Aprilia surpreendeu pelo desempenho na MotoGP, chegando até a vencer corrida e marcar pole-position. Mesmo que Bastianini e Spargaró não superem Quartararo na classificação final da temporada, eles podem fazê-lo na corrida, azedando os planos do piloto da Yamaha de tentar a vitória, e um título que viria nos extremos, dependendo dos acontecimentos a seu favor. E não é só com eles: Jack Miller, já dispensado da Ducati, quer pelo menos também terminar o ano em alta, e dispondo da melhor moto do grid, ele poderia fazer o jogo de equipe perfeito para a escuderia de Bolonha, partindo para a vitória, como franco-atirador, e com isso garantindo o título para o colega de equipe.

            E Quartararo? O francês vai jogar no ataque, como ele já declarou, num autêntico tudo ou nada, pois não tem nada a perder mesmo. O problema é se a Yamaha conseguirá lhe dar uma performance para a tarefa que precisa cumprir. A M1 perdeu desempenho este ano, e Quartararo tem carregado o time nas costas na luta pelo título, aproveitando todas as chances que se apresentaram. Mas, como ele mesmo declarou, e isso ainda na primeira metade da temporada, os rivais tinham evoluído muito mais, e ele estava tendo de pilotar no limite, para conseguir equilibrar as chances. Só que, guiar sempre no limite não lhe dava brechas para eventuais erros ou problemas, e infelizmente, eles ocorreram, ao mesmo tempo em que a Ducati resolveu seus problemas de ajuste da moto, e principalmente “Peco” Bagnaia deslanchou na temporada, melhorando a olhos vistos, e tirando todo o potencial da Desmosédici com uma pilotagem das mais inspiradas.

            Isso já tinha acontecido em 2021, mas na temporada passada, a reação da Ducati e de seus pilotos tardou a acontecer, e enquanto isso, “El Diablo” deslanchou na temporada, aproveitando a falta de constância de seus adversários, e apesar da falta de potência da Yamaha frente à Ducati, a M1 ainda conseguia oferecer um equilíbrio e agilidade que permitiram ao francês equilibrar a luta, e administrar sua enorme vantagem quando os rivais começaram a ter melhores resultados. E assim, Quartararo chegou ao seu primeiro título no time oficial dos três diapasões. Este ano, o panorama parecia se repetir, mas a evolução da Ducati foi muito superior ao obtido pela Yamaha, que mesmo com toda a pilotagem do atual campeão mundial, não conseguiu superar o déficit de performance diante da Desmosédici GP-22, que deu algum trabalho nas corridas iniciais, que com um desempenho abaixo do esperado de Bagnaia, deu à Yamaha e a Quartararo razões para crer que poderiam repetir a estratégia do ano anterior.

A pista de Valência mais uma vez encerra a temporada da MotoGP.

            Não foi o que ocorreu, e a partir da etapa da Alemanha, a Ducati desembestou no campeonato, com Bagnaia a ir demolindo prova a prova a vantagem do campeão mundial. E, aconteceu o inevitável: o piloto da Ducati tomou a liderança de Fabio agora na reta final, e de desafiante, virou o desafiado. Nos treinos de hoje, Quartararo até que começou impressionando, obtendo o melhor tempo no primeiro treino livre, enquanto Bagnaia, na dele, procurava apenas se manter longe de contratempos, tendo feito apenas o 17º tempo. Já no segundo treino livre, as coisas mudaram de figura, com as Ducatis voltando a mostrar força, ainda que com seus times satélites da VR46, Pramac, e Gresini, com o piloto da Yamaha caindo para a 8ª posição, e vendo “Peco” colado nele, com o 9º tempo. Entre os 10 primeiros colocados, 6 motos Ducati, incluindo aí Jack Miller com o 3º tempo, indicando que o time de fábrica pode, sim, lançar o australiano para correr pela vitória, deixando Bagnaia mais tranquilo para fazer uma corrida segura, já que, sem a vitória, as chances de Quartararo estarão liquidadas. E outro adversário que pode incomodar o ainda campeão mundial é Marc Márquez, que fez o 4º tempo, e também pode lutar pela vitória, complicando a situação do francês. Mesmo assim, treino livre é treino livre, e só amanhã poderemos ter uma idéia melhor de quem vai lutar pelas primeiras posições de fato.

            Mas é bom irem se preparando para uma comemoração dos italianos, que há muito tempo esperam por isso, e com todos os méritos...

 

 

Fabio Quartararo não escondeu de ninguém que sua luta pelo título em 2022 é uma batalha solitária de um homem só contra um “exército” de Ducatis, mencionando o fato de não ser apenas o time de fábrica da marca italiana ter vencido corridas na temporada, o que também foi feito pela Gresini, com Enea Bastianini. E reclamou de não ter uma “ajuda similar” nem dentro da Yamaha, numa crítica direcionada a seu companheiro de equipe Franco Morbidelli, que vem fazendo uma temporada muito ruim, não tendo conquistado nenhum pódio para a equipe dos três diapasões, e muito menos chegado a vencer. De fato, Franco parece não ter conseguido se adaptar à moto do time de fábrica, mas não é apenas ele a ter tal problema. O time satélite da marca, a RNF, também vem marcando passo este ano, sem conseguir resultados satisfatórios, e diante da falta de rendimento das M1, já optou com competir com motos da Aprilia em 2023, indicando que o problema não são os pilotos, mas o equipamento, situação similar à vivida pela Honda, onde apenas Marc Márquez consegue tirar desempenho de um modelo que já se mostrou igualmente problemático nas últimas temporadas, onde os demais pilotos da marca não conseguem obter resultados de monta. Se é verdade que Morbidelli teve problemas em se adaptar à versão atual da M1, por outro lado, não podemos esquecer que, em 2020, o ítalo-brasileiro deixou Quartararo comendo poeira na segunda metade da temporada, tendo vencido corridas e terminado como vice-campeão, enquanto o hoje campeão reinante tinha começado bem, mas se perdeu completamente na reta final do campeonato. Os problemas da Yamaha são maiores do que eles se atrevem a admitir, e não é de hoje que isso vem sendo falado. Valentino Rossi já dizia que a moto nipônica tinha problemas de desempenho, mas aparentemente, seus comentários não foram levados com consideração com a devida seriedade. O título de Quartararo em 2021 também teria levado a marca a superestimar sua condição, apesar da evolução contundente da Ducati já na temporada passada. Mesmo Fabio alertou no início do ano que os rivais tinham evoluído muito mais do que a Yamaha. Bem, não foi por falta de avisos...

 

 

Uma no cravo, outra na ferradura: Fernando Alonso tinha tomado punição por correr com um carro “inseguro” no GP dos Estados Unidos após o acidente ocorrido entre ele e Lance Stroll. A punição veio em resposta a um recurso da Haas, que foi aceito, mesmo depois do prazo regulamentar para tal procedimento, o que obviamente motivou um recurso da Alpine, que acabou sendo aceito, e o piloto espanhol tendo seu 7º lugar de volta, em decisão comunicada às vésperas do GP do México. E o espanhol vinha fazendo uma corrida honesta no Circuito Hermanos Rodriguez, caminhando para outro potencial 7º lugar, quando seu motor o deixou na mão, novamente deixando-o indignado com o azar que vem tendo nesta temporada, onde tem colecionado vários abandonos, sejam por causas mecânicas, sejam por azares alheios a seu controle, que fizeram o asturiano perder vários resultados potenciais que o colocariam em melhor posição no campeonato, inclusive à frente de seu companheiro de equipe Esteban Ocón. Fernando, inconformado, reclamou dos azares ocorrerem apenas em seu carro, reação natural para quem vê que poderia estar tendo uma temporada melhor do que está tendo, chegando até a insinuar algum “complô” no time, o que não deixa de ser algo totalmente implausível. Mesmo assim, para quem quer ser de fato um time de ponta novamente, as críticas do espanhol, apesar de parecerem descabidas, tem de ser levadas em consideração pela escuderia, que já há alguns anos promete subir de performance, e até agora, ficou somente nas promessas, que agora são feitas novamente em relação à temporada de 2023. Será que dessa vez a coisa vai? OU ficará apenas mais do mesmo? De qualquer modo, Alonso terá outro desafio para o próximo ano, talvez muito mais complicado, que é fazer a Aston Martin evoluir, algo que era prometido para este ano, depois de um período de “transição” no ano passado, e que esteve longe disso, inclusive com a escuderia regredindo na pista. Vejamos quem vai sentir saudade de quem: Alonso da Alpine, ou a Alpine de Alonso...

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