quarta-feira, 20 de abril de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1999 – 08.10.1999

            Trazendo novamente hoje mais um de meus antigos textos, este foi publicado no dia 8 de outubro de 1999, e trazia no texto principal a repercussão do retorno de Michael Schumacher às pistas, de onde estava ausente desde seu acidente na etapa de Silverstone daquele ano, onde havia fraturado a perna. Havia especulações sobre os motivos de retorno do então bicampeão alemão ao cockpit da Ferrari, para a disputa das duas últimas corridas do ano, e os motivos reais são nebulosos até hoje, quando Michael, infelizmente, já não está mais entre nós em termos “normais”, desde seu infeliz acidente em uma estação de esqui. Uma boa leitura para todos, e em breve espero trazer mais textos antigos por aqui...

A VOLTA DE SCHUMACHER

            O que todo mundo, especialmente Eddie Irvinne queria, finalmente aconteceu: Michael Schumacher vai voltar às pistas na Malásia. A ordem, se é que pode ser chamada assim, veio de Luca de Montezemolo, presidente da Ferrari, que chamou o alemão para uma conversa em Maranello depois de ouvir o bicampeão afirmar que só voltaria a pilotar no ano 2000. E Schumacher faz neste fim de semana testes com a Ferrari em seu circuito particular, visando checar totalmente suas condições físicas, e verificar se esta mesmo apto a pilotar.

            Uma mudança interessante de atitude. Ou será que não foi apenas isso? A segunda hipótese, mais provável, certamente nunca será admitida publicamente. Michael Schumacher não queria mesmo retornar às pistas este ano. Quem conhece o seu temperamento sabe que seria humilhante ter de correr para aquele que deveria ser apenas o seu fiel escudeiro, e segundo piloto da equipe. Tão segundo que muita gente já andou falando que ele seria na verdade um “quarto” piloto; Schumacher seria o primeiro, segundo, e até terceiro pilotos em uma só pessoa. E tudo na escuderia é, ou era, centralizado no piloto alemão, tal qual na Benetton, deixando apenas migalhas para o outro piloto da escuderia.

            Irvinne teria apenas a tarefa inglória de servir a Schumacher, fosse qual fosse. Nunca na F-1 se viu uma relação de tanta submissão a um segundo piloto como a demonstrada na Ferrari desde 1996, quando a dupla começou a correr junta. A “ditadura” Schumacher no time italiano era praticamente imbatível, a ponto de o alemão “derrubar” todo o principal grupo técnico, na época encabeçado por John Barnard, e chamar seus ex-projetistas e técnicos da Benetton para o time italiano, como Rory Byrne e Ross Brawn. E as coisas foram se delineando, a ponto de muita gente, eu inclusive, chamar a Ferrari de equipe com dois carros e apenas um piloto, porque o segundo era apenas figuração.

            Nunca condenei o jogo de equipe na Fórmula 1, que já existe há muito tempo, mas o jeito como a Ferrari usou o termo aos extremos já me faz pensar em querer a abolição de tal prática na categoria, a fim de forçar a que os pilotos tenham de se virar sozinhos sem que tenham ajuda extra na pista. Ajudou muito a ter tais pensamentos a minha antipatia por Michael Schumacher. Não nego que o piloto alemão seja o melhor piloto da F-1 atual, e que admiro o seu talento, mas suas atitudes com pessoa nunca me agradaram, especialmente o seu ar de arrogância. Isso já vem desde 1993, quando Michael, ainda em ascenção na F-1, começava a peitar de forma exagerada gente como Ayrton Senna. Não que seja ruim um “novato” desafiar os “veteranos” e consagrados pilotos, mas o jeito como Schumacher brandia suas atitudes já era meio forçado demais, às vezes comprando brigas sem necessidade. A maneira como a Benetton tratava o alemão com certeza deve ter ajudado a aumentar o seu egocentrismo: tudo era feito em virtude de Schumacher, a ponto de o segundo piloto do time ser desprezado até publicamente por Flavio Briatore, então diretor da escuderia, por solicitar melhores condições de trabalho e mais atenção ao preparo de seu carro.

            Na Ferrari, a coisa se repetiu, em grau até maior durante muito tempo. Irvinne estava fadado a ser um eterno segundo piloto. Mas o destino interferiu nisso, quando o alemão acidentou-se em Silverstone, quebrando a perna. O irlandês, de repente, foi alçado à condição de primeiro piloto, e aproveitando-se dos azares e circunstâncias alheias, venceu duas corridas e entrou na briga pelo título. Curiosamente, a Ferrari, entretanto, não pareceu ter ficado tão animada com isso como seria de se esperar. A coisa chegou a tal ponto que houve até rumores de que o time estaria boicotando Irvinne porque só Schumacher mereceria ser campeão pela escuderia. Foi preciso até que Luca de Montezemolo desse ordens expressas para o time dar todo o apoio e atenção que pudesse ao irlandês para conquistar o título, que a Ferrari não vê há praticamente 20 anos, para o time começar a se mexer de fato neste sentido. O que aconteceu depois disso chegou a ser patético nos boxes de Nurburgring, com um pneu faltando no pit stop de Irvinne, praticamente arruinando a corrida do irlandês.

            Na verdade, Michael Schumacher deve estar se remoendo por dentro, com todos os acontecimentos ocorridos desde o seu acidente. Foram tantos os erros da concorrência nos últimos GPs que, se Michael tivesse voltado no GP da Itália, como o programado inicialmente, provavelmente ainda estaria em condições de disputar o título. Mas o alemão foi postergando o seu retorno, alegando não estar em condições físicas adequadas. Chegou até a sofrer um acidente em um dos testes para verificação de suas condições.

            Agora, ao ver que Irvinne estaria mesmo com boas chances de conquistar o título, praticamente surgiu com a desculpa de só voltar no ano que vem, alegando ainda estar em recuperação. Michael é um dos pilotos de melhor preparo físico da F-1, senão o melhor de todos também nesse quesito. Até Niki Lauda conseguiu voltar mais rápido às pistas e voltar à disputa do título em 1976. Foi outra época, certo, mas Lauda por pouco não morreu, em virtude do fortíssimo acidente que sofreu em Nurburgring naquele ano, quando seu carro, após a batida, ainda pegou fogo, com o austríaco ainda nele. Agora, simplesmente Schumacher não tem mais como adiar sua volta, e pelo salário que ganha, a Ferrari tem todo o direito de pedir a volta do bicampeão alemão para ajudar Irvinne na luta pelo título, coisa mais do que justa, porque Michael tem a obrigação de demonstrar um pouco de amor e fidelidade pelo seu time. E Irvinne está bem merecendo receber essa ajuda, pois já perdi a conta de quantas vezes ele teve de sacrificar a própria corrida para atender aos interesses da escuderia, que sempre era favorecer Schumacher, muitas vezes dando passagem ao alemão e ficar apenas bloqueando os adversários atrás de si. É a vez de Michael fazer o mesmo, e ajudar a Ferrari a conquistar um título que seus torcedores viram pela última vez em 1979...

 

 

A equipe Penske deve utilizar no ano que vem o mesmo conjunto técnico que vem dominando a F-CART há 3 anos consecutivos: chassi Reynard e Motor Honda. A dúvida ainda são os pneus: a escuderia tem se mantido fiel à Goodyear, mas a paciência de Roger Penske anda bem curta ultimamente, e uma mudança para os Firestone não seria improvável...

 

 

As equipes da F-1 embarcam neste fim de semana para a Malásia. Como já é tradicional, os times partem para o Oriente com muito mais antecedência, visando se ajustar melhor ao fuso horário local. A Malásia está 10 horas adiantada em relação ao horário brasileiro, e cerca de 5 horas adiante em relação à principal hora de corridas na Europa. Na coluna da semana que vem, um pouco mais sobre a prova da Malásia, e do novo circuito da F-1, Sepang...

Nenhum comentário: