Voltando a trazer outro de meus antigos textos, esta coluna foi publicada no dia 1º de outubro de 1999, e o assunto principal era o Grande Prêmio da Europa daquele ano, disputado no domingo anterior, e que graças à chuva, tornou-se uma prova das mais loucas dos tempos recentes, com uma incerteza generalizada entre pilotos e equipes, que ficaram completamente perdidas na prova, que acabou marcada pela primeira, e única, vitória da Stewart Racing na sua curta história na F-1, obtida por Johnny Herbert, que deu sorte e competência nas condições de chuva da pista alemã de Nurburgring, que sediou aquela corrida. A vitória reabilitava Herbert, enquanto Rubens Barrichello, a estrela do time, pelo que já tinha demonstrado em outras corridas naquele ano, amargava ver o companheiro de equipe vencer pela primeira vez com a escuderia de Jackie Stewart, e terminava a corrida em 3º lugar, no melhor resultado do time até então, e que jamais se repetiria. A Ford compraria o time, e o transformaria no seu time oficial na F-1, intitulado Jaguar, mas que nunca alcançaria os mesmos resultados. Melhor ainda que o resultado ajudava a manter a disputa pelo título, entre o finlandês Mika Hakkinen, da McLaren, e o irlandês Eddie Irvinne, da Ferrari, mais aberta do que nunca, faltando duas corridas para o fim daquela temporada. De quebra, alguns tópicos rápidos sobre outros acontecimentos, com comentários de praxe. Uma boa leitura para todos, e volto em breve com mais textos antigos por aqui...
O MELHOR GP DO ANO
O Grande Prêmio da Europa de Fórmula 1 foi, disparado, o melhor GP dos últimos anos até agora. E a chuva, com o seu vai-e-vem, garantiu a emoção de uma etapa que já teve uma das mais interessantes classificações do ano. Tivemos de tudo: bons duelos, acidentes, trocas de posição a rodo, etc. A incerteza era tanta que ninguém conseguia arriscar um palpite de quem seria o vencedor da corrida.
O mérito coube a Johnny Herbert, talvez o único piloto que arriscou usar os pneus de chuva e se dar bem. Todos os demais pilotos que usaram os pneus próprios para pista molhada acabaram se complicando com os próprios pneus, e houve quem nem precisou disso para se complicar e jogar a corrida fora. O caso da Ferrari na troca de seus dois pilotos beirou o ridículo: parecia mais um daqueles filmes de comédia do que uma corrida a sério. A Ferrari, justo a equipe que costumava ser um relógio nos boxes, ficou perdida em tamanho pandemônio.
Depois disso, quando Eddie Irvinne falava que a escuderia poderia estar boicotando-o, dá até vontade de acreditar. Mas quem não andou nem um pouco contente com isso foi Lucca de Montezemolo, diretor geral da escuderia, que foi até Nurburgring justamente para acabar com esta história de “sabotagem” ao piloto irlandês. Depois da corrida, e do papelão nos boxes, a cara de Montezemolo estava ainda mais bisonha do que de costume, tamanha era sua raiva. O dirigente foi polido ao dizer que não haveria indicação de culpados pelo incidente nos boxes, mas foi enfático ao declarar que, se a Ferrari perder o título por atos como aquele, cabeças vão rolar em Maranello. Nem Jean Todt escaparia ileso, segundo alguns.
Enquanto a Ferrari aprontava das suas no pit line, na pista também tinham aqueles que mostravam aptidão para serem os personagens da corrida. Mika Hakkinen parecia Alain Prost num daqueles dias em que o francês mostrava total aversão à chuva, sendo ultrapassado até pelo pouco competitivo BAR de Ricardo Zonta. David Coulthard, mais determinado e andando entre os primeiros, acabou indo com muita sede ao pote e saiu da pista para não mais encontrar o caminho certo. Rodadas não foram novidade, e a corrida teve diversos líderes que, de uma forma ou outra, foram ficando pelo caminho. Alguns com problemas próprios, outros pelo azar, e outros por motivos ainda mais curiosos. O caso de Heinz-Harald Frentzen foi o mais incrédulo de todos, mas quem teve o maior ataque de choro foi Luca Badoer, da Minardi, cujo carro quebrou quando o italiano dava show ao andar na 4ª posição.
Às voltas com tantos problemas, a própria chuva ainda pregava suas peças: quase todos que puseram pneus de chuva deixaram passar algumas voltas antes de se aventurarem nos boxes. Quando o fizeram, não é que a chuva resolveu parar? E não foi apenas uma vez. Só para constar, Spa-Francorchamps fica ali pelas redondezas. Não é tão perto, mas também não é tão longe. Realmente, o clima de Eiffel já andou pregando muitas peças na F-1: há alguns anos atrás, por exemplo, um dos treinos precisou começar atrasado porque havia um forte nevoeiro sobre o circuito, onde ninguém conseguia enxergar nada...
No final, foi uma corrida para ninguém botar defeito. Foi bom ver o velho Jackie Stewart no pódio, ao lado de seus dois pilotos. Ele, um dos maiores vencedores da história da F-1, conseguindo sua primeira vitória como construtor. E por pouco não foi uma dobradinha: Rubens Barrichello ficou em 3º lugar, e por muito pouco não foi o 2º colocado. E Johnny Herbert salva a sua reputação no atual campeonato, conseguindo sua 3ª vitória na carreira, curiosamente, também em conseqüência de fatores extra-pista e intra-pista, o que não tira todo o seu mérito.
E o mais importante, é que mantém o panorama do campeonato totalmente inalterado. Os dois pontos que Mika Hakkinen conseguiu não são suficientes para fazer uma margem de segurança. E, faltando agora duas provas para encerrar o mundial, quem se atreve a dizer quem vai de fato ganhar a parada este ano? As últimas duas corridas mostraram que tudo ainda pode acontecer até a bandeirada final, em Suzuka. E que aconteça mesmo, a emoção está em alta, e que venha muito mais!
Incerteza geral sobre o que pode acontecer na F-1 nas duas últimas etapas do Mundial. O novo Grande Prêmio da Malásia, o próximo GP, fará sua estréia no campeonato, no novíssimo circuito de Kuala Lumpur, e até o momento é uma total incógnita para os pilotos e equipes, o que quer dizer que tudo pode acontecer nesta pista. O desenho do traçado é sugestivo, mas isso não basta muito para esclarecer as coisas, especialmente depois do que se viu em Nurburgring. Já em Suzuka, nada fica muito definido: se por um lado a McLaren tem um excelente carro que deve se adaptar bem ao circuito japonês, por outro lado Eddie Irvinne conhece como poucos a pista nipônica, devido à sua experiência no automobilismo japonês, e vai lançar mão de todas as suas armas disponíveis para chegar ao título. O desafio está lançado. Quem ganha eu não sei, mas a briga promete ser boa, e a expectativa está deixando o pessoal com água na boca...
Depois de tudo o que se passou até agora, Michael Schumacher deve estar adorando a atual situação. Se tivesse voltado a correr, provavelmente o bicampeão estaria até matematicamente com chances de ser campeão ainda, tamanho tem sido os erros e incidentes que a concorrência tem perpetrado. Mas, além de não dar para voltar atrás, Michael ainda foi superado na classificação do campeonato pelo seu irmão caçula, Ralf, que já tem 33 pontos, contra 32 do bicampeão da Ferrari.
Todo mundo levou um susto tremendo no acidente de Pedro Paulo Diniz logo na primeira volta, com sua capotagem, especialmente pelo santoantonio (rollbar, em inglês) ter se quebrado. Ficamos todos esperando pelo pior, e vieram à mente as imagens do acidente que matou o uruguaio Gonzalo Rodriguez na F-CART há poucas semanas. Felizmente, não houve nada com Pedro, o que comprovou a segurança atual dos carros de F-1. Mas, pelo sim, pelo não, a FIA já está estudando normas para maior rigor nas peças de segurança dos monopostos para a próxima temporada. Uma atitude mais do que correta...
Na F-CART, as coisas embolaram um pouco. Juan Pablo Montoya, que liderava com folga o campeonato, abandonou o GP de Houston, e viu seu principal rival, Dario Franchiti, ficar em 2º lugar, aproximando-se perigosamente do colombiano na classificação. Com duas etapas para encerrar o campeonato, tudo pode acontecer, e Montoya, apesar de ainda estar liderando, sabe que as pistas de Surfer’s Paradise e Fontana têm suas surpresas, e ele ainda não conhece estas pistas, ao contrário de Franchiti, o que pode ser uma boa vantagem técnica para o escocês conseguir derrotar o colombiano. Vejamos o que vai acontecer...
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