A Yamaha tem sua melhor chance de encerrar seu jejum de títulos na classe rainha do motociclismo em 2021, e o nome do momento é Fabio Quartararo, que domingo passado, em Assen, palco do GP da Holanda, averbou sua quarta vitória na atual temporada, com a categoria chegando ao fim de sua primeira metade de campeonato com o francês do time oficial dos três diapasões mais do que firme na liderança do campeonato. Pintou o campeão de 2021 da MotoGP?
Ainda é cedo para afirmar isso, mas é inegável que Quartararo é, neste momento, o favorito destacado ao título, quando a MotoGP parte para suas “férias” de meio do ano, voltando a competir somente em agosto. E é de se elogiar a capacidade de Fabio, que conseguiu se recompor e se reencontrar, após ter começado a temporada passada com grande alarde, e terminar o ano completamente desorientado e apagado na competição, com o piloto até declarando que precisava de ajuda psicológica para recuperar o rumo, diante do que havia acontecido. Afinal, Quartararo vencera as duas primeiras corridas do ano, em Jerez, defendendo o time satélite da Yamaha, a SRT, com uma performance que lembrava o desempenho de Marc Márquez. Mas, depois daquele rompante inicial, as coisas começaram a desandar, com o piloto vencendo apenas mais uma vez, e ficando para trás na competição, e ainda por cima vendo o companheiro de time Franco Morbidelli em franca ascenção, também vencendo corridas e chegando a disputar o título da temporada, terminando o ano com o vice-campeonato. Quartararo, de líder do início do ano, terminou 2020 apenas em 8º lugar, bem longe dos postulantes ao título.
O contraste com 2021 é patente: já “eleito” pela Yamaha para subir ao time oficial, substituindo Valentino Rossi, a pressão e responsabilidade sobre Quartararo iria naturalmente aumentar este ano. Mas o piloto conseguiu dar a volta por cima, como prometido, e se reencontrar, na pista e fora dela. Em um ano onde a relação de forças na competição parece equilibrada entre Yamaha e Ducati, com Suzuki e Honda correndo por fora, Fabio tem conseguido fazer a diferença na pista, a exemplo do que Márquez fazia com a Honda, que sem ele virou um time de meio de pelotão na categoria, como vimos no ano passado. O piloto voltou a mostrar a velocidade que encantou a direção do time nipônico, e mesmo com alguns percalços na competitividade da YZR-M1, ele conquistou 4 triunfos na temporada para a marca dos três diapasões, e eclipsando completamente Maverick Viñalez, que até começou bem o ano, vencendo a prova de estréia em Loasil, no Qatar, mas a exemplo do que ocorreu com o próprio Fabio no ano passado, não se reencontrou mais dali em diante. E o campeonato começou a se mostrar bem interessante na luta pelas vitórias nas corridas, com destaque para o embate entre Yamaha e Ducati.
Ambos até tiveram resultados similares na rodada dupla de Losail: Viñalez venceu a primeira corrida e foi 5º na segunda, enquanto Quartararo foi 5º na primeira, e venceu a segunda prova. Um resultado considerado até bom. Mas quem surpreendia era Johaan Zarco, que defendendo o time satélite da Ducati, a Pramac, discutiu a vitória nas duas provas, terminando em 2º lugar nas duas, e liderando a competição naquele momento. Com o time oficial da Ducati estreando uma nova dupla de pilotos, mas mostrando também o seu potencial técnico nas disputas de pista, parecia que teríamos um ano de bons pegas, até porque a Yamaha, apesar dos bons resultados de Quartararo, não era vista como favorita na disputa, enquanto a marca italiana deixava claro que só precisava acertar o ritmo com seus novos pilotos, porque sua moto se mostrava mais competitiva. O resto, bom, o resto tentava dar o ar da graça aqui e ali, mas sem a constância necessária para deslanchar no campeonato.
Enquanto Quartararo deslanchou, assumindo a liderança do campeonato, Viñalez despencou, voltando a ter uma performance decente apenas na etapa da Holanda, onde acabou voltando ao pódio, mas perdendo a vitória para Fabio. O ambiente do espanhol na Yamaha, que já não era dos melhores, com inúmeras queixas ao time e ao equipamento, resultou no rompimento do contrato do piloto, que deixará o time dos três diapasões ao fim do ano, e certamente sem conseguir o tão sonhado título mundial com a marca, o que pode muito bem ser conquistado pelo novo parceiro de time, algo muito desabonador para Viñalez, que chegou cheio de moral na escuderia para substituir Jorge Lorenzo, e pode acabar saindo por baixo, bem por baixo, para decepção de muitos que esperavam vê-lo como campeão. Resta saber como se dará o resto da temporada de Maverick no time nipônico, ocupando no momento a 6ª posição, com 95 pontos, encontrando-se atrás de Zarco, e dos pilotos da Ducati oficial.
Johaan Zarco tem feito uma boa temporada com a Pramac, mas vê Quartararo se distanciar cada vez mais na liderança.
A Ducati, por sinal,
vive uma situação curiosa, com seu melhor piloto sendo de um time satélite,
panorama similar ao vivenciado pela Yamaha no ano passado. Johaan Zarco vem
surpreendendo, com uma pilotagem sólida, e sem se meter em confusões,
defendendo a Pramac. O francês já subiu ao pódio 4 vezes, e foi 2 vezes 4º colocado,
e ocupa a vice-liderança do mundial, sendo até agora o piloto que mais ficou
nos calcanhares de Quartararo depois que o piloto da Yamaha assumiu a liderança
do campeonato. Mas, falta vencer, resultado que certamente está fazendo falta
para Zarco, que mesmo fazendo uma boa temporada lutando com o que tem, começa a
ver o rival se desgarrar na dianteira, tendo de encarar uma desvantagem que já
chega a 34 pontos, e que tende a aumentar, vendo Fabio manter resultados
melhores e mais constantes. E as limitações da Pramac frente ao time oficial da
Yamaha parecem começar a pesar, o que é mais uma desvantagem para Johaan na
luta contra o compatriota.
Enquanto isso, no time oficial da marca italiana, Francesco Bagnaia ocupa a 3ª posição, mas a exemplo de Zarco, precisa de melhores resultados, com maior constância, e claro, vencer corridas, algo que seu companheiro Jack Miller já conseguiu, ao faturar duas provas no ano, dando até a impressão de que poderia ir para cima do francês da Yamaha e lutar pelo título. Só que Miller tem uma campanha irregular até aqui, de modo que ocupa apenas a 5ª posição, com 100 pontos, perdendo o duelo não apenas com seu companheiro de time, mas para Joan Mir, da Suzuki, que passou à sua frente na classificação. Será que a Ducati sente saudades de Andrea Dovizioso, depois de ter dispensado o italiano sem maiores cerimônias no ano passado? Não que Bagnaia e Miller não tenham seu valor, mas a capacidade e constância de Andrea certamente parecem fazer alguma falta em Borgo Panigale neste momento. E pior é que a Desmosédici tem dado mostras de ser um equipamento tecnicamente superior à YZR-M1 na maior parte das etapas, mas seus pilotos não tem conseguido aproveitar essa vantagem competitiva como se poderia esperar. E, do modo como Quartararo vem abrindo vantagem nesse meio tempo, quando Bagnaia e Miller conseguirem extrair tudo de suas máquinas, pode ser muito tarde para tentar uma reação. Não é impossível, mas a cada oportunidade perdida, o desafio vai ficando mais difícil. De qualquer maneira, as atenções da temporada estão se concentrando no duelo entre a Yamaha, com Fabio Quartararo, e a Ducati, com Johaan Zarco à frente da dupla titular do time oficial com uma escuderia satélite. Não deve fugir muito disso, com algumas exceções, mas que não deverão fazer diferença significativa.
Enquanto isso, Honda e Suzuki assistem, frustradas, não conseguirem se meter no duelo entre as duas marcas, tendo de assistir de camarote à disputa alheia. A Honda, ainda muito dependente de Marc Márquez, até teve a satisfação de ver o hexacampeão voltar à pista, mas ainda mostrando precisar recuperar o ritmo de competição. Com Pol Spargaró penando para conseguir chegar entre os dez primeiros colocados, restava a esperança de que a “Formiga Atômica” retornasse em ponto de bala, o que não aconteceu. Com uma postura até mais prudente, Márquez está procurando readquirir todo o ritmo de competição, e ele mesmo admite que ainda sente os efeitos do ferimento do ano passado, que acabou lhe impondo um período de recuperação muito maior do que ele esperava, diante de problemas e erros cometidos na cura da lesão. Mesmo assim, aos poucos, o grande campeão vai mostrando o velho ímpeto, e a sede de vencer. Se é verdade que ele conseguiu mais uma vez alcançar o topo do pódio, ao vencer na etapa da Alemanha, por outro lado ele acumulou três abandonos consecutivos, sofrendo quedas talvez evitáveis, que alguns podem ver como tentar acelerar seu retorno à alta performance que exibia antes de 2020. O próprio Márquez já dá este ano como uma temporada de readaptação à competição, mas isso não o impede de mostrar um pouco do brilhantismo de antes, como foi sua bela corrida na Holanda, onde largou do fim do grid, e chegou em um 7º lugar no que pode ser considerada até uma vitória, levando-se em conta o forte acidente que sofreu nos treinos, e onde teve muita sorte de não se machucar feio novamente. E, mesmo com suas limitações e problemas, Marc já está à frente de seu novo companheiro de time no campeonato, mostrando sua classe, apesar de tudo. Em 2022, a “Formiga Atômica” deve voltar com tudo, e os adversários que se preparem...
Enquanto isso, a Suzuki, que foi campeã no ano passado com Joan Mir, fica ainda mais chateada de não conseguir mostrar potencial para defender a conquista de 2020. Joan até que tem conseguido manter a constância de resultados, mas o problema é que os principais rivais tem conseguido não só também manter a constância, como obter melhores resultados, e aí, não dá para esperar muita coisa, se a Suzuki não conseguir reverter a desvantagem de performance que tem demonstrado esse ano. O atual campeão é o 4º colocado na classificação, com 101 pontos, o que não é um mau resultado, mas que se torna ruim se levarmos em conta que Quartararo, o líder, tem 156 pontos, e já venceu 4 provas, enquanto a Suzuki só conseguiu dois 3ºs lugares até aqui, ambos com Mir. Vencer é preciso, se quiser ir à caça do bicampeonato, e isso parece cada vez mais difícil. Há tempo para reagir, mas isso precisa ser feito com urgência, ou será tarde demais. Ao menos, a Suzuki não está tão ruim quanto a Honda na temporada, onde até o time satélite Tech3 está mal das pernas, com desempenhos bem similares ao time oficial, com Takaaki Nakagami e Alex Márquez mostrando poucos resultados de nota.
E a KTM? A marca austríaca deu uma boa evoluída no ano passado, conseguindo vencer algumas corridas, e esperava-se que mantivesse o nível para 2021. Só que a escuderia teve um início de temporada bem fraco, com seus pilotos sofrendo só para conseguir pontuar. A equipe conseguiu acertar um pouco o rumo depois de algumas corridas, com Miguel Oliveira subindo ao pódio em três corridas consecutivas, inclusive vencendo na pista de Barcelona, um grande alento para a escuderia. O problema é que já se foi metade do ano, e apesar da evolução, a desvantagem para os líderes é grande, e tentar recuperar o tempo perdido vai exigir um grande esforço. Brad Binder, que no ano passado também conseguiu mostrar seu talento com a marca, ainda não conseguiu apresentar o mesmo nível de resultados de Oliveira este ano, com o português ocupando a 7ª posição, com 85 pontos, enquanto o sul-africano é o 9º, com 60.
De surpresa no ano, temos a Aprilia, que vem dando o ar da graça andando forte em algumas corridas, e dando até a impressão de que pode vencer uma corrida. Ainda falha nesse quesito, e a performance não é constante, mas Aleix Spargaró vem conseguindo bons resultados para a escuderia, que certamente deu uma boa incrementada em sua performance, a ponto até de ter atraído Andrea Dovizioso para um teste, sem conseguir exatamente cativar o italiano, mas um feito para um time que até o ano passado ocupava posições somente na segunda metade do grid, e que agora tenta começar a incomodar o pelotão da frente. Ainda falta ter mais constância, mas Aleix conseguiu terminar todas as corridas em que chegou ao fim dentro do TOP-10, o que é significativo. Se tiver uma dupla mais forte, pode crescer mais. Boatos dizem que Viñalez pode aportar no time em 2022, mas por enquanto, nada está confirmado nesse sentido. A vinda de Maverick seria benéfica para a Aprilia, que teria uma dupla mais completa, o que não é a realidade no momento, onde pode contar apenas com Aleix Spargaró, com Lorenzo Savadori fazendo mera figuração.
Valentino Rossi tem sofrido com a SRT, e tem tido performances abaixo do esperado. Aposentadoria do "Doutor" fica cada vez mais próxima.
Mas a maior decepção
do ano é certamente a SRT, time satélite da Yamaha, que no ano passado
surpreendeu e chegou a disputar o título, enquanto o time principal andava
praticamente à deriva. Franco Morbidelli, agora fazendo dupla com Valentino
Rossi, certamente esperava conseguir melhores resultados, mas a escuderia não
conseguiu nem chegar perto do desempenho demonstrado em 2020, apesar de um
pódio obtido pelo ítalo-brasileiro, que acumulou mais baixos que altos, e ainda
precisou desfalcar o time para passar por uma cirurgia no joelho para tratar de
uma lesão, e deve voltar à competição somente no meio de agosto. Morbidelli
ocupa a 13ª posição, com apenas 40 pontos. Muito pouco, para quem foi
vice-campeão no ano passado, tendo vencido três provas. E Rossi? O “Doutor”,
mesmo contando com uma moto igual ao do time de fábrica, e apoio técnico do
mesmo, vive uma temporada lamentável, com mais abandonos que bandeiradas de
chegada, e nem conseguindo passar perto das primeiras colocações, ocupando uma
irrisória 19ª posição, com meros 17 pontos. A aposentadoria é cada vez mais
iminente, e um anúncio oficial deve ser feito neste mês de julho, o que pode
marcar o fim de uma era na MotoGP, com o heptacampeão mundial pendurando o
capacete, com uma temporada de despedida que até agora tem sido melancólica.
Ainda temos 11 corridas até o fim da temporada, e se o nível das provas realizadas até aqui se mantiver, teremos bons pegas e disputas, para delírio dos fãs da motovelocidade e das competições do esporte a motor em geral. E que venham mesmo. Quanto mais briga, melhor...
A F-1 volta à pista hoje em Zeltweg para o Grande Prêmio da Áustria, a segunda corrida da rodada dupla a ser disputada no Red Bull Ring. Max Verstappen venceu no domingo passado, e para muitos, de um forte golpe em Lewis Hamilton, que foi o 2º colocado. E a tendência é repetir a dose neste fim de semana, e ampliar ainda mais a sua vantagem na liderança do mundial. Ou será que ainda podemos esperar alguma reação do heptacampeão e da Mercedes? A conferir, com transmissão ao vivo da Bandeirantes no domingo, a partir das 9:30 Hrs. da manhã, pelo horário de Brasília.
E a Indycar também volta a acelerar, desta vez no circuito misto de Mid-Ohio. Alex Palou defende a liderança do campeonato, com Patricio O’Ward ocupando a vice-liderança da competição. Depois da zica com Josef Newgarden nas voltas finais em Elkhart Lake, será que o calvário da Penske termina, ou continua sua via cruccis? Façam suas apostas. A TV Cultura transmite a corrida ao vivo a partir das 13:00 Hrs.
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