O toque entre Lewis Hamilton e Max Verstappen ocorrido na primeira volta do GP da Grã-Bretanha continua rendendo discussões, e se a decisão do título da temporada se der por poucos pontos, muitos certamente alimentarão a polêmica de que o heptacampeão bateu de forma premeditada com o objetivo de tirar o rival holandês da corrida. A Red Bull, por sua vez, resolveu apresentar “novas evidências” à FIA nesta quinta-feira, mas a entidade, depois de analisar o material, optou por rejeitar a apelação do time austríaco, uma vez que não havia fato realmente relevante que justificasse uma possível alteração da punição já aplicada ao piloto da Mercedes durante o próprio GP disputado em Silverstone.
Max Verstappen tratou de não responder a perguntas sobre o assunto, e a insistência de Christian Horner e Helmut Marko no assunto começa a mostrar mais a face de má perdedora da Red Bull do que o mesmo quesito em Lewis Hamilton, que pode ter dado algumas cacetadas em alguns pilotos em disputas de pista nos últimos anos, mas não transformou isso em prática rotineira, por mais que muitos fãs ardorosos de Verstappen, além da enorme legião de fãs que torcem abertamente contra Hamilton, continuem praguejando o contrário.
Até parece que na história da F-1 nunca houve incidentes entre os pilotos, e que apenas Hamilton tenha virado o “demônio assassino sobre rodas” e o novo “Dick Vigarista” da categoria máxima do automobilismo, na opinião dessa turma, que parece esquecer também que Verstappen não é nenhum anjo ao volante, já tendo protagonizado vários incidentes na pista devido ao seu arrojo e agressividade, algo que o próprio Hamilton já protagonizou em outros tempos, sendo devidamente criticado por isso na época, e até penalizado na maioria das vezes. E como é de conhecimento mais do que notório, o automobilismo é um esporte perigoso. Impossível não acontecer problemas em alguns momentos e lugares, diante da postura dos competidores, ou das circunstâncias da situação.
Muitos fãs estão esperando que a relação entre Hamilton e Verstappen “pegue fogo” a partir deste GP da Hungria, com disputas cada vez mais acirradas e agressivas entre os dois principais pilotos de Mercedes e Red Bull. Para quem ficava achando que o inglês atualmente só era rápido por causa do carro alemão, é bom rever um pouco seus conceitos, até porque a imensa maioria dos campeões da F-1 obtiveram seus títulos pilotando excelentes carros, muitas vezes os melhores do grid no campeonato em questão. Nessa categoria é fácil citar Ayrton Senna, que teve à sua disposição alguns dos melhores carros produzidos na história da McLaren, que lhe permitiu ser tricampeão. E, claro, quando os carros ficaram menos competitivos, Senna deixou de ganhar títulos, como ocorreu em 1992 e 1993, o que não quer dizer que a McLaren tenha deixado de ser uma grande força.
Tanto o inglês quanto o holandês parecem evitar de criar maiores especulações sobre o caso, mas que ninguém duvide que, a partir da largada deste domingo, em Hungaroring, ambos estarão prestando mais atenção do que nunca um no outro. Se o duelo entre ambos vai resultar em novo acidente, só saberemos na corrida, e para que isso aconteça, ambos terão que disputar as mesmas posições na pista. O duelo pelo título voltou a ficar mais equilibrado diante do mau resultado da Red Bull em Silverstone, tanto no campeonato de pilotos quanto de construtores, mas o time dos energéticos ainda possui uma ligeira vantagem de performance sobre o time germânico. Pudemos ver isso na “corrida de classificação” em Silverstone, onde Verstappen simplesmente tomou a dianteira na largada, e não a perdeu mais, aumentando pouco a pouco sua vantagem conforme as voltas iam sendo percorridas, sem que Hamilton conseguisse responder à altura.
E é preciso considerar que a própria Red Bull admitiu que o acerto de seu carro para aquele GP, diante do pouco tempo de terem tido para mexer no ajuste do monoposto, não era o mais ideal, tanto que a Mercedes era um pouco mais veloz na reta do que o carro rubrotaurino. E estamos falando de uma pista de alta velocidade. E, na Hungria, vemos o oposto: trata-se de um circuito travado, com apenas um ponto ideal de ultrapassagem, no fim da reta principal. A maior chance de Lewis é assumir a ponta e conseguir se manter lá graças às dificuldades de se ultrapassar na pista húngara, recurso que já foi usado por vários pilotos na história da corrida de Budapeste. O problema vai ser Lewis conseguir essa ponta. O carro da Red Bull é bem mais equilibrado do que o da Mercedes, e em pistas travadas, como vimos em Monte Carlo, essa diferença de performance fica ainda mais evidente. E, depois do ocorrido em Silverstone, podem apostar que Verstappen não vai querer dar nenhuma brecha para o azar. Ele vai tentar largar na frente, e ir-se embora de uma vez logo nas primeiras voltas, a fim de não ser ameaçado por ninguém, até para reafirmar o favoritismo dele e de sua escuderia.
Teoria das mais óbvias. Resta saber se ele conseguirá executá-la a contento. Max afirmou que ainda sente um pouco os efeitos da forte batida sofrida em Silverstone, e isso pode ter algum efeito em seu desempenho. Da mesma maneira, o carro do holandês ficou destruído no impacto, a ponto de a Honda ter precisado fazer uma verificação minuciosa de sua unidade de potência para conferir se ela ainda podia ser usada. Em caso de perda do propulsor, Verstappen teria de utilizar uma nova unidade, o que poderia leva-lo a ser penalizado mais à frente, se tiver de utilizar uma nova unidade, uma vez que cada piloto só pode utilizar 3 unidades de potência em toda a temporada. No primeiro treino livre de hoje, a Red Bull e o piloto iriam testar as condições do propulsor, e atestar se ele pode de fato ser utilizado e em toda a sua potência. Se constatarem que a unidade não apresenta problemas, ela continuará sendo utilizada, caso contrário, será necessário utilizar outra unidade. E, neste caso, obter um resultado positivo frente à Mercedes torna-se mais crucial, para se conseguir mais vantagem que possa ser utilizada no momento certo em que eventualmente sofrer uma penalidade de posições no grid por uso de uma unidade de equipamento além do limite estabelecido pelo regulamento.
E o que poderemos ver na pista, caso a Red Bull veja uma Mercedes capaz, se não de superá-la, de incomodá-la fortemente? Podemos ver outro embate feroz entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, com consequências imprevisíveis. Nesta quinta-feira, quando se cruzaram no paddock de Hungaroring, Verstappen exibia um olhar fuzilante para o inglês, que parecia mais relaxado. A guerra psicológica vai vir com tudo, e neste quesito, a grande experiência de Hamilton pode vir favorece-lo, se Lewis conseguir manter a cabeça sob controle. Verstappen, por sua vez, terá de pensar duas vezes se resolver apostar novamente no tudo ou nada para defender e/ ou ganhar posições na pista. Os 8 pontos de vantagem que possui ainda são importantes, porque mesmo que Hamilton vença a corrida húngara, Verstappen continuará na liderança chegando em 2º lugar, posição que deve considerar se os riscos de lutar pela vitória forem maiores do que o esperado. A questão é que, sendo Max Verstappen quem é, possivelmente ele preferiria um abandono a perder o duelo roda a roda com um rival parrudo, como vem sendo o heptacampeão, só que as coisas não funcionam dessa maneira.
A pista da Hungria, muito travada, deve favorecer os carros da Red Bull, aumentando o desafio para a Mercedes tentar equilibrar o jogo da disputa.
Mas é por aí também
que é preciso tomar cuidado. Verstappen fecharia Hamilton, de forma até escancarada,
para defender sua liderança do campeonato, caso se veja em condição de fazer
isso? E, se fizer, como isso será visto? Retaliação ou vingança? Ambas as
opções possuem muitos riscos, e não valeriam a pena, pelo perigo potencial que
trazem. Hamilton, por sua vez, continuaria forçando tudo o que pode, de maneira
a fazer Verstappen sentir a pressão e cometer um erro. E temos também a FIA de
olho no que pode acontecer. Depois de todo o bafafá pelo ocorrido em
Silverstone, a entidade que comanda o automobilismo mundial pode não ver com
bons olhos uma nova disputa fraticida entre os dois pilotos, o que pode ser
tanto positivo quanto negativo para a competição em si. Os duelos devem
acontecer, e muitos torcedores estão de saco cheio das punições que são
aplicadas aos pilotos, por acharem que elas acabam tolhendo o potencial das
lutas de posições na pista. Porém, é igualmente grande o número de torcedores
que apóia tais punições, sendo que alguns gostariam de ver regras até mais
rigorosas. Não dá para agradar a todos, claro, mas em caso de um novo acidente
entre Verstappen e Hamilton, o clima pode esquentar ainda mais, podendo evoluir
para algo mais fraticida, e perigoso. Neste caso, a entidade pode se ver
forçada a impor limites às rusgas entre ambos na pista. O problema é calibrar
esses limites, de modo que não castigue os pilotos por tentarem correr riscos,
mas também não seja permissiva em demasiado para que eles acabem exagerando nos
riscos de pilotagem, confiando na capacidade de segurança que os bólidos atuais
desfrutam.
De uma forma ou de outra, Hamilton e Verstappen nunca foram lá muito companheiros mesmo de profissão. Em termos pessoais, nunca houve relação de amizade entre os dois, e dificilmente haveria algo a se considerar de um para o outro, depois do ocorrido na curva Copse, na prova da Brã-Bretanha. Falar de respeito pelo adversário é um tema complicado, já que o estilo superagressivo de Verstappen parece leva-lo muitas vezes a pilotar como se não tivesse mais ninguém na pista, e por isso mesmo, acabando por arrumar confusão com vários pilotos, demonstrando até não possuir muito respeito pelos colegas de profissão em determinados momentos. Então, o máximo que se pode dizer é que ambos vão encarar um ao outro de maneira ligeiramente diferente daqui para frente. Quão diferente isso vai ser dependerá unicamente de quão próximos se encontrarão na pista, e do ímpeto vencedor que cada um deles possui.
Poderá ser um grande duelo entre dois gênios da velocidade, com o heptacampeão simbolizando a experiência e conhecimento, com o holandês da Red Bull mostrando a juventude e o arrojo puro que costuma caracterizar os jovens e sua audácia de encarar os mais incautos desafios em busca de seu objetivo. Quanto antes a Red Bull resolver virar a página e se concentrar novamente no carro e na pilotagem e Max, melhor. Essa choradeira do time dos energéticos já virou algo enfadonho, de mau perdedor, com a Red Bull mostrando um completo inconformismo de um incidente de corrida que poderia ocorrer em qualquer pista e local. A escuderia austríaca já foi um time muito mais alegre e festivo, mas atualmente se tornou uma escuderia seca e amarga, sem compartilhar mais aquele clima de amizade e fraternidade que demonstravam no início de sua empreitada na categoria máxima do automobilismo.
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Aliás, da mesma forma, poderia-se dizer o mesmo em relação ao GP de São Paulo, em novembro. Mas o ritmo da vacinação no Estado parece dar esperanças aos promotores de que haverá segurança razoável para a realização da prova, uma vez que a taxa de imunização vai avançando, e os números de casos e mortes, caindo, mesmo que lentamente. Tomara que tudo corra bem, e possamos ter o nosso GP de volta...