quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A TRAJETÓRIA DOS CIRCUITOS DA F-1 - RIVERSIDE

            Depois de uma boa ausência, hora de voltar a falar de alguns circuitos de que fizeram parte da história da Fórmula 1. E o assunto continua a ser as pistas dos Estados Unidos que receberam a categoria máxima do automobilismo. Depois de já ter falado sobre Sebring, Detroit, e Dallas, hoje falarei um pouco sobre a segunda pista a receber um GP dos EUA, Riverside, na Califórnia, um circuito que infelizmente não existe mais, tendo sido fechado e desmontado há pouco mais de trinta anos. Confiram um pouco no texto abaixo, e boa leitura a todos...

 

RIVERSIDE

 

            Voltando às matérias a respeito das pistas que já sediaram provas da F-1, hoje veremos um pouco sobre a pista de Riverside, que foi o segundo palco de um Grande Prêmio dos Estados Unidos na Fórmula 1. A primeira pista havia sido Sebring, na Flórida, mas infelizmente o baixo público, e as condições da pista, não deixaram ninguém empolgado em repetir a iniciativa, de modo que no ano seguinte, em 1960, foi preciso procurar um novo local. E ele acabou sendo encontrado do outro lado do país, na Califórnia, em Riverside.

            Chamado oficialmente de Riverside International Raceway, o autódromo era uma pista bem recente. A pista havia sido construída no início de 1957 por uma empresa chamada West Coast Automotive Testing Corp, cujo chefe era um homem chamado Rudy Cleye, que já havia corrido na Europa, e era um entusiasta dos esportes a motor, a ponto de se lançar na empreitada de construir um autódromo, e a área escolhida acabou sendo Riverside. A construção teve problemas financeiros, mas graças a algumas ajudas, a pista acabou sendo finalizada e aberta às competições em setembro de 1957. Mas os problemas financeiros de construção seriam o menor de seus problemas.

Logo no primeiro fim de semana de corridas programadas em setembro daquele ano, um piloto, John Lawrence, de Pasadena, Califórnia, ao perder o controle de seu carro e escapar entre as curvas 5 e 6. Não havia guard-rails, e seu carro não tinha a proteção do santantônio, e embora Lawrence tenha sobrevivido ao acidente e parecesse apenas levemente ferido, ele acabou morrendo mais tarde no hospital, devido a uma lesão cerebral. Ainda em 1957, um piloto começaria a se destacar em Riverside, um jovem local e ainda inexperiente piloto chamado Dan Gurney, que acabou chamando a atenção do representante norte-americano da Ferrari na corrida em que participou no circuito, e acabou por convidá-lo a competir com uma Ferrari de fábrica nas 24 Horas de Le Mans de 1958, fazendo a carreira do piloto californiano decolar.

            A pista de Riverside havia sido projetada para ter algumas variações, entre elas o traçado Grand Prix, com uma extensão de 5,271 Km, com cerca de 9 curvas, e um grande trecho de reta onde os carros podiam atingir altas velocidades. Esta reta era em declive, levando à curva 9, feita em 180º e um raio longo, que colocava os freios à prova, sendo que estes, muitas vezes, passavam do limite de sua capacidade, tornando a operação de freada difícil e perigosa. Na verdade, a condição geral da pista, apesar de seu traçado interessante, não oferecia boas condições de segurança em toda a sua extensão. Em 1960, quando a F-1 chegou ali, isso ainda acabou relevado, diante da pista ser relativamente nova. A corrida foi disputada no dia 20 de novembro de 1960, encerrando a temporada daquele ano, composta de dez provas.


       A pole-position foi do inglês Stirling Moss, com Lotus-Climax, com o tempo de 1min54s400. Moss praticamente dominou a corrida, vencendo a prova com 38s de vantagem para Ines Ireland, seu companheiro de equipe, que havia largado em 7º. A melhor volta foi de Jack Brabham, com Cooper-Climax, com o tempo de 1min56s300. O australiano largou na primeira fila, em 2º, mas acabou terminando a corrida em 4º lugar, com uma volta de desvantagem para Moss. O pódio acabou fechado Por Bruce McLaren, companheiro de Brabham na equipe Cooper, que largara em 10º, e recebeu a bandeirada com 52s de desvantagem para o vencedor. Mas quem festejou mesmo foi Jack Brabham, que conquistava o segundo de seus três títulos na F-1, após ter sido campeão no ano anterior. Bruce McLaren foi o vice-campeão. Dos 23 pilotos que largaram, apenas 16 receberam a bandeirada. Entre os destaques desta corrida, está o fato de ter sido o último GP de F-1 onde o vencedor recebia 8 pontos. A partir do ano seguinte, até o fim da temporada de 1990, o vencedor passaria a ganhar 9 pontos pela vitória em um GP. Foi também a última corrida dos motores de 2,5 litros, sendo substituídos por novos propulsores de 1,5 litros a partir da temporada seguinte.

            Em termos de público, até que Riverside se saiu melhor do que Sebring, tendo atraído um público de cerca de 25 mil pessoas para a corrida. Mesmo assim, a organização da prova não conseguiu fundos para cobrir todas as despesas, de modo que Alec Ulmann, promotor da prova, pagou do próprio bolso o prêmio de US$ 7.500 ao vencedor Stirling Moss, um valor bem elevado para a época. Embora a corrida de F-1 não tenha tido grandes problemas (houve apenas um acidente, com John Surtess), os problemas financeiros foram determinantes para a categoria máxima do automobilismo ver que Riverside não seria a resposta para um GP de F-1 dos EUA, e resolveram procurar um novo lugar. E encontraram, em Watklins Glen, onde tudo deu certo, e o GP permaneceu naquela pista até 1980, o que veremos em outra matéria desta série sobre os circuitos da F-1.

            Sem a F-1, Riverside seguiu seu caminho, sediando provas das categorias do automobilismo norte-americano, como a Nascar e a antiga F-Indy. O circuito passou por mudanças, inclusive com a inclusão de dois traçados ovais às suas configurações de pista. O traçado Grand Prix acabou ampliado para 5,311 Km, com uma ampliação da curva 9, que ganhou um raio bem mais longo, diminuindo os riscos das antigas freadas do fim do grande retão. As condições de segurança, contudo, continuaram sendo um problema, com vários acidentes, alguns deles fatais, a vitimarem os competidores durante vários anos. Paralelamente a isso, o circuito acabou mudando de mãos algumas vezes, e o local do autódromo, Moreno Valley, antes afastado da cidade, acabou presenciando uma grande expansão urbana, de modo que a pista acabou sitiada por várias moradias, que começaram a reclamar do barulho das competições. Como desgraça pouca é bobagem, o terreno do circuito começou a ser cobiçado pela sua localização, e como as finanças com as corridas sempre foram de resultados débeis, as pressões imobiliárias foram crescendo, de modo que em julho de 1989, o circuito foi fechado, e completamente desmantelado, com seu terreno enfim vendido para a construção. Mas não sem outro acidente trágico: a última corrida disputada na pista, em 1º de julho daquele ano, viu a morte do piloto Mark Verbofsky.

            Hoje, nada mais resta no local que lembre que ali existiu um autódromo de corridas. Foram construídos um shopping center e diversos loteamentos no local. As poucas instalações remanescentes da pista que sobreviveram foram sendo demolidas ao longo dos anos. Durante seus anos de existência, Riverside acabou sendo usado como palco de filmagens de diversos seriados e filmes, devido à sua proximidade com Los Angeles. O circuito faz parte das pistas disponíveis de alguns jogos de corrida, o que dá ao fã do esporte a motor conhecer um pouco do que foi este circuito.

 

 Vista aérea da pista de Riverside nos anos 1960 (acima). Hoje o local onde existia a pista não possui mais nenhum vestígio do antigo autódromo, como se pode ver na imagem do Google Maps (abaixo), com todo o local tomado por construções.

 

 Fotos de antigas competições na pista de Riverside (acima e abaixo). Era muito fácil escapar da pista e perder completamente o controle do carro na terra, uma vez que as condições de segurança nunca foram plenamente satisfatórias no circuito.

 

 

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