sexta-feira, 23 de outubro de 2020

DECISÃO NA INDYCAR

 

Adiada no início do ano, a prova de São Petesburgo encerra neste final de semana a temporada 2020 da Indycar.

           Com o mês de outubro, e o próprio ano de 2020 aproximando-se de seu final, é natural que os campeonatos do mundo do esporte a motor também cheguem às suas etapas finais. Mas este é um ano anormal, devido à pandemia do coronavírus, que virou o mundo de cabeça para baixo, e ainda está dando muita dor de cabeça. Por isso mesmo, apesar de tudo o que se passou este ano, quando o mundo inteiro meio que parou por cerca de dois meses e meio, na esteira do que se poderia fazer para tentar retomar algumas atividades, é muito satisfatório ver que um dos certames que foi castigado pela pandemia está conseguindo chegar ao seu encerramento neste final de semana.

            A Indycar disputa neste domingo o GP de São Petesburgo, não por acaso a corrida que deveria ter dado início à temporada, no mês de março, quando acabou supensa de última hora, devido à pandemia, que se espalhava mundo afora, e atingiu alguns países com muita severidade, como os Estados Unidos. O campeonato só seria retomado, em outras bases, no início de junho, e mesmo assim, com o cancelamento de muitas corridas, adiamento de outras, e o uso do expediente de rodadas duplas para se conseguir fazer um número satisfatório de provas para podermos ter de fato um campeonato. E, com a prova deste domingo, na cidade da Flórida, nos Estados Unidos, podemos dizer que a tarefa foi bem-sucedida, com um campeonato composto por 14 corridas. Nada mal mesmo.

            Claro, não foi sem percalços pelo caminho. Mesmo com a readequação do calendário, algumas corridas, como as etapas nos circuitos mistos de Laguna Seca e Portland, foram para o vinagre, fazendo companhia às provas que acabaram canceladas em Alabama, Detroit, e Long Beach, por exemplo. Em algumas corridas não foi possível ter a presença de público, o que nos fez presenciar a etapa deste ano das 500 Milhas de Indianápolis com as arquibancadas imensas do Indianapolis Motor Speedway completamente desertas. E, do jeito que a situação da pandemia ainda está pelo mundo, inclusive com um novo aumento de casos nos Estados Unidos, fica completamente incerto saber como se darão as competições em 2021. Por enquanto, o que podemos dizer é que, apesar de tudo, a temporada 2020 teve lá seus atrativos, e chega à sua última etapa pronta para a decisão do campeonato, que será entre o neozelandês Scott Dixon, da equipe Ganassi, e o estadunidense Josef Newgarden, da Penske.

Scott Dixon iniciou a temporada 2020 vencendo no Texas (acima), e fez um arranque fulminante com três vitórias consecutivas, assustando a concorrência nas provas seguintes, com uma Ganassi aparentando estar muito mais forte que os demais times.


            Temos 54 pontos em jogo na etapa das ruas de São Petesburgo, com Dixon liderando o campeonato com 32 pontos de vantagem para Newgarden, que apesar de tudo, conseguiu adiar para a etapa final a decisão do título, que no início da temporada, parecia que seria uma barbada para Dixon, que fez uma arrancada fulminante para vencer as 3 primeiras corridas da competição, enquanto os demais pilotos batiam cabeça tentando se acertar nas provas. Ficamos até espantados quando vimos Félix Rosenqvist vencer a 4ª corrida, e com isso, garantir o 4º triunfo consecutivo do time de Chip Ganassi, que na correria que se transformou a temporada, sem muito tempo e condições para os times trabalharem seus carros adequadamente parecia ter um entrosamento mais acurado. E, no que tange aos motores, a Chevrolet parecia estar levando um nocaute atrás do outro da Honda, que aproveitava cada momento.

            Mas, nas etapas de Iowa, a concorrência, em especial, a Penske, começou a reagir, vencendo as duas etapas no circuito oval com seus pilotos Simon Pagenaud e Josef Newgarden. Só que parecia um revide apenas momentâneo. Na Indy500, os times da Honda deitaram e rolaram sobre os da Chevrolet, com a vitória na Brickyard Line sendo conquistada pela segunda vez por Takuma Sato, que travou um belo duelo com Dixon nas voltas finais da corrida. E o neozelandês faturaria mais uma vitória na primeira prova em Gateway, conquistando seu 4º triunfo na temporada, e aparentemente, disparando de forma isolada para a conquista do título. Para o atual bicampeão da categoria, Josef Newgarden, era preciso reagir imediatamente, ou o sonho de chegar ao tricampeonato teria de ser adiado para o ano que vem.

            O problema é que, historicamente, Dixon é um piloto extremamente experiente, que sabe conservar o seu equipamento, e atacar no momento certo da corrida, além de de planejar sua estratégia, e procurar não se envolver em confusões que possam comprometer sua posição. Seu grande trunfo sempre foi a constância e regularidade, e a capacidade de minimizar prejuízos quando o carro não está em condições de vencer, sabendo alcançar resultados que dificilmente seriam obtidos por um piloto menos qualificado. Àquele momento, a vantagem de Scott na classificação era de 117 pontos, e cerebral como costuma ser, era quase um atestado de campeonato já encerrado. Ou acontecia um desastre, ou Newgarden conseguisse uma reação espetacular na competição, do contrário Dixon poderia correr para o hexacampeonato sem problemas. Mas não podemos nos esquecer que a Indycar é uma categoria onde o improvável sempre tem maiores chances de surgir do que em outras categorias, de modo que nunca poderíamos achar que a competição acabou antes do tempo.

Josef Newgarden precisou dar duro na pista para reverter as expectativas de favoritismo de Scott Dixon e recolocar a Penske na disputa pelo título. O piloto quer o tricampeonato e manter o Nº 1 em seu carro.


            E foi o que aconteceu: Newgarden venceu na segunda corrida de Gateway, e tentava uma reação do jeito que fosse possível. A tarefa era difícil, mas não se podia baixar os braços. Mas mesmo assim, ainda era preciso que Dixon tivesse algum momento ruim, e não é que ele surgiu? Ocorreu na rodada dupla de Mid-Ohio, onde Newgarden conseguiu subir ao pódio na primeira corrida, e Dixon foi apenas o 10º colocado. De pouco em pouco, a imensa vantagem do piloto da Ganassi ia sendo desmantelada, e isso se repetiu na segunda prova de Lexington, onde Dixon mais uma vez foi apenas o 10º, depois de errar na corrida e rodar sozinho, perdendo muitas posições que comprometeram suas chances de tentar estancar a sangria de pontos naquela etapa. O próprio neozelandês assumiu que seu fim de semana em Mid-Ohio não foi como ele esperava, mas isso não era apenas sobre o carro estar menos competitivo: ele próprio admitiu que podia ter pilotado melhor. E Newgarden começava a ter esperanças de tentar alcançar o rival, mesmo que a situação ainda fosse difícil.

            E quais as chances de Dixon colocar ordem na casa, e fazer Josef cair na real de que suas chances de alcança-lo eram ainda pequenas? Não havia garantias de que o mau momento de Scott em Mid-Ohio se repetisse na nova rodada dupla no misto de Indianápolis, até porque Dixon já havia vencido ali este ano. Mas, se teve algo que pudemos ver nas várias rodadas duplas que diversas categorias tiveram esse ano, é que mesmo as provas feitas neste esquema dificilmente apresentam panoramas similares. Podem ser no mesmo circuito, mas os resultados dificilmente são os mesmos. Se o piloto da Ganassi havia brilhado para vencer naquele local em julho, já no início deste mês, a situação foi bem diferente. Newgarden que o diga: o norte-americano venceu de forma firme a primeira prova, com Dixon em um modesto 9º lugar que certamente não era o resultado esperado. E, com um 4º lugar do piloto da Penske na segunda corrida na rodada dupla no misto do IMS, junto a um “apenas” 8º lugar de Dixon, a vantagem do neozelandês foi reduzida a 32 pontos, restando apenas a prova deste domingo em São Petesburgo. Se não foi tudo com que Newgarden sonhava, tampouco não deixou de ser um revés para Dixon, que podia ter encerrado a disputa pelo título, e agora vai para a corrida final precisando decidir o embate.

            Perto dos 117 pontos que já teve após a primeira corrida em Gateway, é uma redução considerável, mas nem por isso, desprezível, muito pelo contrário. Isso ainda torna Dixon o franco favorito para conquistar o título de 2020, com Newgarden tendo menos chances que o rival da Ganassi. Em um resumo simples, o piloto da Penske precisa da vitória mais do que nunca, mas mesmo assim, ele precisará torcer para que Dixon tenha um dia ruim, ou pelo menos abaixo da média na prova de São Petesburgo. São 54 pontos em jogo, 50 pela vitória, mais pontos extras para quem marca a pole, e para quem lidera a corrida.

            Para liquidar a fatura, basta a Dixon um 9º lugar na corrida na Flórida. Isso levaria o neozelandês a 524 pontos, e caso Newgarden vencesse a corrida e ainda marcasse todos os pontos extras, ele só empataria com o piloto da Ganassi, que ainda assim levaria o título pelo segundo critério de desempate, o de segundos lugares, onde tem um a mais que o piloto da Penske. Se Newgarden vencer e marcar apenas 1 ponto extra, bastaria um 11º lugar para Dixon, o que levaria ambos a ficarem com 521 pontos, e se repetir a decisão no critério de desempate. Se Newgarden terminar no máximo em 2º lugar, e não marque nenhum ponto extra, tudo fica ainda mais complicado, porque Dixon poderia terminar em 21º lugar, sem pontos extras, e levar o título por 1 ponto (511 a 510). E lembremos que o pior resultado em corrida de Dixon este ano foram as etapas de Mid-Ohio, onde ele terminou em 10º. Se o neozelandês terminar em 8º, leva a taça, não importa o que Newgarden faça. A pressão maior estará com o piloto da Penske, mas depois do que ocorreu nas últimas corridas, Dixon também não pode relaxar como preferiria, tendo de ir para o ataque, tanto quanto possível, ainda mais depois que sua planejada reação nas últimas duas corridas no IMS não terem acontecido, com seu desempenho tendo ficado aquém do que ele próprio esperava.

            Josef Newgarden venceu a corrida em São Petesburgo no ano passado, mas isso não quer dizer muita coisa agora. É um bom indício, mas apenas isso. A Penske e seu piloto precisam dar tudo por tudo para largar na frente e lá ficarem até a bandeirada, e ainda assim, torcer para que Dixon chegue no máximo em 10º lugar. Mas falta combinar com o rival, que sabe exatamente onde precisa chegar, para inviabilizar os esforços de Newgarden. Mas ao mesmo tempo, não podemos esquecer dos demais pilotos, e da própria característica da pista. São Petesburgo é um traçado de rua que usa uma das pistas do aeroporto local da cidade. O traçado é de difícil ultrapassagem, e mesmo na reta dos boxes, as disputas de posição são complicadas. Dependendo da posição de largada, tudo pode ficar complicado para a corrida, exigindo uma boa estratégia para tentar subir na classificação. E não se pode contar com a benevolência dos demais competidores: a imensa maioria quer tentar fechar o ano em alta, e muitos ainda estão batalhando por seu lugar ao sol no ano que vem. Qualquer erro no acerto do carro, ou no treino de classificação, pode virar um pesadelo, e talvez acabar com a disputa antes mesmo dela começar. Por isso mesmo, apesar de que conseguir um 8º lugar pode até parecer algo fácil para Scott Dixon e a Ganassi, isso não quer dizer que tudo será mais simples para eles como pode sugerir. E se Newgarden não estiver na posição de conseguir a vitória, tudo fica ainda mais fácil para Dixon.

            Vai ser um fim de semana tenso para ambos, e apenas um deles irá comemorar ao fim da prova de domingo. Para Newgarden, seria um título conseguido “in extremis”, conseguindo reverter um cenário que muitos diziam ser impossível acontecer, se alcançar o tricampeonato. Para Dixon, a inscrição definitiva de seu nome nos anais das categorias Indy, ficando abaixo somente de A. J. Foyt, que faturou 7 títulos na antiga F-Indy. Quem quer que vença, fará mais do que juz à conquista do título da competição. Só nos resta aguardar, e ver quem levantará a taça do campeonato. A prova terá transmissão ao vivo no domingo pelo canal pago Bandsports, e o serviço de streaming DAZN, a partir das 15:30 Hrs. E que venha a bandeira verde da largada!

 

 

Oliver Askew, que acabou substituído por Hélio Castro Neves na equipe McLaren nas duas últimas provas no traçado misto de Indianápolis, por questões médicas, já está recuperado, e retoma o seu carro neste final de semana em São Petesburgo, na sua prova de despedida da escuderia, que já anunciou sua dispensa, e a contratação do sueco Félix Rosenqvist para o seu lugar para a temporada de 2021. O time ainda pode resolver correr com três carros, mas procura patrocínio para viabilizar a operação para todo o campeonato, em que poderia contar com o piloto brasileiro. O time já renovou com o mexicano Patricio O’Ward, que vem fazendo uma excelente temporada no time, ocupando a 5ª posição no campeonato.

 

 

A Penske terá quatro carros na pista em São Petesburgo. Além de Josef Newgarden, Simon Pagenaud e Will Power, todos com contratos renovados para 2021, o time terá também a presença de Scott McLaughlin, que defendeu o time da Penske no campeonato australiano da Supercars. Especula-se que Scott possa defender o time da Penske na Indycar em 2021, porém o esquema de patrocínio ainda não estaria garantido. Essa teria sido uma das razões para Roger Penske liberar Hélio Castro Neves para procurar lugar em outros times, com o encerramento de sua participação no IMSA Wheater Tech Sportscar, com seus outros pilotos na competição de endurance dos Estados Unidos também sido liberados para procurar novos ares. Ligado à Penske desde o ano 2000, Helinho gostaria de permanecer no time, já que tem firme desejo de ainda competir de forma integral na Indycar, e negocia sua participação com alguns times. Esperemos que ele possa achar um lugar competitivo para mostrar do que ainda é capaz na categoria.

 

 

A Fórmula 1 retorna a Portugal, após mais de duas décadas, e o belo circuito de Portimão, no Algarve, enfim faz sua estréia na competição. Há muito que o novo circuito português merecia sediar um GP de F-1. Pena que foi preciso a pandemia da Covid-19 para que a categoria máxima do automobilismo, precisando de opções na Europa, resolvesse escolher a pista lusitana para isso, já que em condições normais, nos últimos tempos, Bernie Ecclestone praticamente leiloou as corridas a países fora da Europa que aceitavam pagar suas taxas exorbitantes para se realizar um GP. Mas, não há garantia alguma de que o circuito volte a receber novas corridas quando a situação se normalizar, uma vez que a Liberty Media também parece estar indo no mesmo caminho de Ecclestone para conseguir mais dinheiro dos promotores, especialmente quando a situação mundial se normalizar. Mas torçamos para que Portimão possa proporcionar uma boa corrida, e que possamos ter a chance de vermos mais GPs nesta pista em futuro próximo. Tivemos uma boa corrida em outra pista inédita no calendário este ano, em Mugello, na Itália. Que Portimão, outra pista inédita, possa repetir a dose, neste ano tão atípico que estamos vivendo.

O belíssimo autódromo de Portimão, no Algarve, em Portugal, recebe os carros da F-1 neste final de semana.

 

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