Voltando a trazer mais um texto
sobre as pistas que sediaram provas na história da Fórmula 1, depois de
dissertar sobre o circuito de rua de Detroit, cidade que teve o privilégio de sediar
sete provas de um Grande Prêmio de F-1, nos anos 1980, hoje vamos falar um
pouco sobre a pista que substituiu a capital do automóvel como sede do GP dos
Estados Unidos, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Foi mais um circuito
de rua que, apesar de não ter sido detestado como Detroit, infelizmente também
não durou muito tempo no calendário da F-1. Confiram no texto abaixo, e boa
leitura para todos...
PHOENIX
Dando
seguimento à trajetória complicada dos circuitos da história da Fórmula 1 nos
Estados Unidos, é hora de abordar a pista da cidade de Phoenix, capital do
Estado do Arizona, que teve o privilégio de sediar o Grande Prêmio dos Estados
Unidos por três oportunidades, entre as temporadas de 1989 e 1991. Já havia
dissertado a respeito do circuito urbano de Detroit, que sediou a prova
estadunidense em várias oportunidades na década de 1980, mas o descontentamento
de equipes e pilotos com a pista vinha crescendo a cada edição, e todos
ansiavam por um novo palco para a corrida em terras do Tio Sam. Detroit,
contudo, seguia firme em termos contratuais para manter a sua corrida, que em
tese estaria garantida até 1991.
Mas, antes
disso, em 1986, Guy Gonyea, ex-piloto de corridas e empresário, iniciara
entendimentos com o então prefeito de Phoenix, Terry Goddard, sobre a
possibilidade da cidade sediar uma etapa do Campeonato Mundial de Fórmula 1 da
FIA, a fim de aumentar a visibilidade mundial da cidade como um importante
destino turístico. Com o apoio de Goddard e de autoridades municipais, Gonyea
conduziu então um extenso estudo de viabilidade, obtendo o apoio de várias
organizações empresariais da cidade. Garantido o apoio à sua idéia de
realização do GP, Guy Gonyea iniciou então as negociações para levar a F-1 para
o Estado do Arizona, idéia que deixou Bernie Ecclestone interessado, diante das
críticas crescentes que a pista de Detroit vinha recebendo.
Novas
reuniões foram sendo feitas, mas com Detroit ainda possuindo um contrato de
realização do GP em ordem, tudo o que Phoenix poderia fazer era esperar.
Contudo, após a corrida de 1988 na capital do automóvel, a cidade de Detroit
recusou-se a investir na melhoria da infraestrutura de suporte ao Grande Prêmio
de F-1, visando sanar parte das críticas recebidas. Com tratativas de tentar
realocar a prova de F-1 no Belle Isle Park não tendo obtido resultados, Detroit
resolveu substituir a prova de F-1 pela F-Indy, e então Phoenix entrou no mapa
da FIA e da então FOCA, como novo palco para o GP de F-1 dos Estados Unidos.
Iniciou-se
uma corrida contra o tempo para providenciar as condições necessárias para
permitir a realização de um Grande Prêmio de F-1 em um circuito urbano na
capital do Arizona, tendo sido assinado um contrato prevendo a realização da
prova por cinco anos, em janeiro de 1989. Com o calendário já confirmado,
Phoenix literalmente “herdou” a data que seria da realização do GP em Detroit,
marcado para o dia 4 de junho de 1989, de modo que a cidade teve apenas cerca
de quatro meses para preparar-se para receber os carros da F-1. Foi projetado
um circuito de 3,798 Km de extensão, com cerca de 15 curvas, a imensa maioria
todas em 90º, já que foram montadas nas ruas do centro da cidade. Foi
necessário providenciar um recape de todas estas ruas, bem como construir
arquibancadas, garagens e boxes para as escuderias utilizarem.
Apesar dos receios
quanto à temperatura da cidade em pleno mês de junho, a corrida se manteve
firme na data que havia herdado, e equipes e pilotos, depois de finalmente
darem adeus ao “pesadelo” da pista de Detroit, encontraram outros problemas na
capital do Arizona, começando justamente pelo calor forte do deserto que ronda
a cidade. E isso acabou resultando em uma corrida cheia de abandonos, inclusive
do pole-position, Ayrton Senna, que havia marcado a primeira pole do circuito
com o tempo de 1min30s108, com McLaren MP4/5 Honda. O brasileiro ainda faria a
melhor volta da prova antes de abandonar, com o tempo de 1min33s969. A vitória
acabou com seu companheiro de equipe Alain Prost, com Riccardo Patrese, da
Williams/Renault em 2º lugar, e um incrível Eddie Cheever, da
Arrows/Cosworth-Mader a fechar o pódio em 3º lugar, lembrando que Eddie nasceu
justamente em Phoenix.
No ano
seguinte, a Fórmula 1 decidiu não correr o erro de voltar a Phoenix no mês de
junho. Desta vez, a corrida dos Estados Unidos iria abrir a temporada de 1990,
disputando o GP no mês de março, em temperaturas bem mais amenas. Deu certo,
desta vez com 14 carros a terminarem a prova. Gerhard Berger, com McLaren
MP4/5B Honda, largou na pole-position, com o tempo de 1min28s664, com o
austríaco também fazendo a melhor volta da corrida em 1min31s050. A corrida foi
marcada pelo duelo entre Ayrton Senna, da McLaren/Honda, com Jean Alesi, da
Tyrrel/Cosworth, com o intrépido francês surpreendendo a todos ao liderar a
corrida com autoridade, e dar trabalho a Senna na luta pelo liderança da
corrida. Mas Senna venceu a parada, com Alesi terminando em 2º lugar. Thierry
Boutsen, da Williams/Renault, fechou o pódio naquela ocasião.
Em 1991, o
circuito sofreu algumas modificações, com o objetivo de tentar facilitar as
ultrapassagens, dilema frequente em se tratando de pistas de rua. Embora
mantivesse o mesmo número de curvas, a extensão foi reduzida para 3,721 Km, o
que fez com que o número de voltas do GP, de 72, passasse para 81. As
modificações foram infrutíferas, já que tornaram o trecho de reta da Washington
Street mais curto, apesar de criarem um trecho teoricamente mais favorável à
disputa de posições. O circuito, claro, ficou mais rápido, como se comprovou na
pole de Ayrton Senna, com McLaren/Honda, marcando o tempo de 1min21s434. A
volta mais rápida da prova acabou com Jean Alesi, agora defendendo a Ferrari,
com o tempo de 1min26s758. Curiosamente, todos os pilotos que marcaram as
melhores voltas em cada edição da corrida de Phoenix não terminou a prova. O
pódio foi composto só de campeões mundiais: Ayrton Senna venceu a corrida
liderando de ponta a ponta, com Alain Prost, da Ferrari, em 2º lugar; e Nélson
Piquet, com Benetton/Ford, fechando o pódio.
Parecia que, apesar dos
pesares, Phoenix se manteria firme no calendário da competição, apesar de parte
dos moradores locais onde era montado o circuito não gostar a realização do GP
de F-1. Mas, no segundo semestre de 1991, Bernie Ecclestone comunicou aos
organizadores que a cidade estava fora do calendário de 1992. O motivo do
cancelamento da corrida era que Ecclestone queria incluir o Grande Prêmio da
África do Sul na temporada de 1992, e que esta corrida oferecia melhores
condições de realização, uma vez que em Phoenix, o público do GP era baixo, e a
cidade teria dificuldades de aumentar a capacidade de arquibancadas.
Basicamente, com o fim do apartheid na país sul-africano, Bernie não perdeu
tempo em reagendar a corrida que existia até meados dos anos 1980, quando
acabou sendo retirada do calendário pela pressão contra o regime racista do
apartheid. Era uma oportunidade muito mais atrativa para Ecclestone do que
manter a corrida de Phoenix, de modo que ele não pensou duas vezes em cancelar
o GP, até pagando a rescisão do contrato de realização da corrida na capital do
Arizona, que nunca mais veria os F-1 desde então.
Ecclestone,
contudo, caiu do cavalo: Embora a F-1 tenha corrido em 1992 e 1993 na África do
Sul, neste ano o circuito de Kyalami, que sediava o GP, mudou de dono, e os
novos proprietários decidiram que a realização do GP de F-1 era cara demais, de
modo que a África do Sul jamais retornou ao calendário. Tivesse permanecido em
Phoenix, talvez a cidade continuasse sediando o GP dos Estados Unidos por mais
algum tempo, mas o que Ecclestone conseguiu foi deixar os Estados Unidos de
fora da F-1 por quase uma década, até o país voltar ao calendário no ano 2000,
agora em um circuito misto construído dentro do traçado oval do Indianapolis
Motor Speedway, mas isso é história para um outro dia...
Primeira largada da primeira corrida da F-1 em Phoenix, em 1989
(acima). O forte calor castigou carros e pilotos naquele dia, e apenas seis
pilotos terminaram a corrida. No ano seguinte, Ayrton Senna e Jean Alesi deram
show na pista (abaixo), lutando pela vitória.
Em 1991, Phoenix sediaria seu último GP de F-1, e o pódio contou com
Ayrton Senna, o vencedor, ao lado de Alain Prost (2º colocado) e Nélson Piquet
(3º lugar).
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