Hora
de encerrar 2014, e para a última postagem deste ano, trago a Cotação
Automobilística em hora extra, até porque teve alguns acontecimentos que
merecem ser devidamente avalizados e classificados no mundo da velocidade neste
último mês do ano. Boa leitura a todos, com o velho esquema de sempre nas
avaliações: EM ALTA (caixa na cor verde); NA MESMA (caixa na cor azul); e EM
BAIXA (caixa na cor vermelho-claro). E a Cotação Automobilística agora dá uma
pausa, com a próxima edição desta sessão vindo apenas no final do mês de fevereiro
de 2015, quando estaremos já próximos do início dos campeonatos
automobilísticos do próximo ano.
EM ALTA:
Rubens
Barrichello: Depois de mais de 20 anos de disputa de campeonatos mundiais pelo
mundo agora, o recordista de participações em corridas na F-1 voltou a sentir o
gosto de ganhar um campeonato. Em sua segunda temporada completa disputando a
Stock Car nacional, Rubinho chegou ao título da competição, terminando o ano
com 2 vitórias no campeonato, a primeira delas na prova mais prestigiada do
certame, a Corrida do Milhão. A comemoração do piloto foi feita com a presença da
família, e os dois filhos do piloto acompanharam cada momento. Barrichello está
de bem com a vida, e se não chegou a ser campeão na F-1, paciência. E o título
da Stock lava a alma do piloto mais controverso que já tivemos no automobilismo
mundial, o que comprova que ele sempre foi um bom piloto. Não foi excepcional,
mas foi um bom piloto. Infelizmente, para uma grande parte da torcida,
acostumada com os feitos de Émerson, Piquet e Senna, ser bom nunca seria
suficiente...
Lucas
Di Grassi: O piloto brasileiro vem tendo um desempenho consistente no
campeonato de carros elétricos, a Fórmula E. Com 3 corridas disputadas, Lucas
acumula uma vitória, um segundo e um terceiro lugares, e lidera o campeonato da
categoria, que tem tudo para se firmar como uma categoria viável e de
prestígio. Enquanto nossos outros pilotos no certame acumulam altos e baixos,
Di Grassi vem combinando prudência com arrojo, escapando de problemas durante
as corridas e maximizando as possibilidades de bons resultados. Mas ainda é
cedo para afirmar que o brasileiro é favorito disparado ao título: a competição
vem mostrando alguns bons pegas, e os resultados têm sido bem variados em
termos de performance para vários pilotos, e que é preciso ficar atento para
evitar cair em armadilhas que surjam pelo caminho.
Jenson
Button: O campeão de 2009 foi o vencedor da disputa para ser o companheiro de
Fernando Alonso na McLaren em 2015. Depois de ter sido criticado publicamente
por Ron Dennis, e ver sua carreira na F-1 ser quase dada por encerrada, Jenson
deu a volta por cima e fará mais um campeonato no próximo ano, o qual deverá
muito provavelmente ser o último mesmo de sua carreira na categoria. Button fez
várias corridas com performances acima do esperado para o fraco carro do time
deste ano, mas mesmo assim parecia estar em desvantagem na disputa pela vaga
com Kevin Magnussem, que era um piloto muito mais barato, e teoricamente com
potencial comercial maior. Tudo indica que Ron Dennis perdeu a parada para
manter Magnussem, que ficará como terceiro piloto e reserva da escuderia em
2015. E Button, que já trabalhou com os japoneses de 2004 a 2008, terá boa
experiência para contribuir no desenvolvimento do novo motor turbo japonês, que
estréia no próximo ano, e quem sabe, ter uma despedida decente da categoria, se
for mesmo seu último ano.
Toyota
campeã no WEC: Quem espera sempre alcança, e pelo menos no Mundial de
Endurance, a Toyota enfim viu seus esforços serem correspondidos, o que nunca
aconteceu em quase uma década de competição na F-1. O time japonês já havia
conquistado o título de pilotos do campeonato quando chegou para a prova final
em Interlagos, aqui no Brasil, mas faltava coroar a conquista com o título de
construtores, e o troféu foi garantido no autódromo da capital paulista. Depois
de uma excelente estréia em 2012,
a escuderia nipônica levou um baile da Audi no
campeonato do ano passado, mas conseguiu dar a volta por cima nesta temporada,
com um desempenho muito melhor e sem tantos altos e baixos. Mesmo assim, ainda
há uma meta a ser cumprida pelos japoneses: vencer as 24 Horas de Le Mans, o
que não foi possível nesta temporada, por problemas surgidos em seus carros na
mais tradicional corrida de longa duração do mundo. E, claro, repetir a
conquista do título da competição em 2015...
Porshe:
o time alemão voltou às competições de protótipos depois de uma longa ausência,
e todo mundo esperava por boas disputas neste campeonato. Com um início meio
conservador, os carros da escuderia foram evoluindo sua performance ao longo da
temporada, começando por deixar os até então imbatíveis Audi na saudade nas
provas finais. E os esforços foram coroados com a vitória na etapa final, em
Interlagos, marcando a primeira vitória de um protótipo da marca em mais de 15
anos. O objetivo agora é desbancar os japoneses da Toyota, que foram campeões
neste ano, e mostrar que a Porshe não voltou às competições de longa duração
apenas para fazer figuração. E com a autoridade de quem tem nada menos do que
16 vitórias nas 24 Horas de Le Mans, é bom levar o aviso dos alemães bem a
sério...
NA MESMA:
Calendário
da F-1 2015: O calendário da categoria máxima do automobilismo terá 20 corridas
no próximo ano. Além de todas as etapas que tivemos este ano, a novidade será a
volta do GP do México, disputado pela última vez em 1992. Mas ainda não será
desta vez que teremos o "famoso" GP de Nova Jérsey, que Bernie
Ecclestone tanto queria emplacar. Chegaram a divulgar um calendário constando a
etapa da Coréia do Sul, que foi uma imbecilidade por parte da entidade, com
justificativa ridícula de tentarem prevenir um processo, esquecendo totalmente
da logística da situação, com uma semana de diferença para a etapa da Espanha.
Não precisava deste tipo de jogada na divulgação do calendário do ano que vem.
Situação
da equipe Caterham: O time verde que estreou em 2010 na F-1 com o nome de Lotus
e que pertencia a Tony Fernandes conseguiu disputar a última corrida do
campeonato de 2014, em Abu Dhabi, graças a uma vaquinha virtual onde arrecadou
o valor necessário para disputar a etapa final da competição. Mas o time, na
prática, acabou, mas parece que ainda meio que não se deram conta, pois estão
com a inscrição feita para o campeonato do ano que vem (a ser confirmada, é
verdade). Depois de todos os rolos enfrentados durante este campeonato, seja lá
quem estiver comandando o que sobrou da escuderia, deveriam pelo menos assumir
que a vaca já foi para o brejo e fechar o time em definitivo, como fez a
Marussia, que até ainda tentou ver se conseguiria continuar competindo, mas
vendo que não teria mesmo jeito, jogaram a toalha e venderam tudo o que tinham
para tentar pagar as dívidas pendentes, que não eram poucas. A rigor, só mesmo
um milagre para o time continuar existindo, mas mesmo que isso venha a ocorrer,
a escuderia já estará destinada a apenas fazer figuração, pois nem carro novo
terá condição de apresentar. Eles deviam cair na real e fechar logo de uma vez.
Escuderias mais estruturadas e respeitadas já tiveram essa decência em outros
tempos na categoria...
Michael
Schumacher: Após praticamente um ano desde que sofreu o acidente em que bateu a
cabeça com violência em uma pedra em uma estação de esqui na França, o estado
de saúde do heptacampeão de F-1 ainda é nebuloso e cheio de mistérios. A
família do piloto continua extremamente reservada, e divulgando pouquíssimas
informações de seu real estado, que até agora seria de uma luta difícil para
restaurar um mínimo de normalidade da vida de uma pessoa. Schumacher não
estaria conseguindo falar, nem conseguiria fazer nada por si só. Tudo indica
que as condições de recuperação do ex-piloto continuam evoluindo de forma
extremamente lenta. Se há real possibilidade de melhoras a ponto de voltar a
ter uma vida normal, em que no mínimo não dependa da outras pessoas para fazer
tudo, talvez nunca se saiba a público. Mas continua a ser um desfecho triste e
inglório para o maior piloto que a F-1 já teve em sua história.
Bernie
Ecclestone: Quem achava que seria dessa vez que iria se livrar do octogenário
mandatário da FOM, e por tabela, da F-1, quebrou a cara. Bernie conseguiu se
safar do processo que sofria por suborno na justiça alemã, e ainda foi
reconfirmado pela CVC, acionista principal da categoria-mor do automobilismo
mundial, como principal diretor executivo. O ponto positivo é que Bernie
conhece a F-1 como poucos; o ponto negativo é que ele tem idéias ultrapassadas
sobre vários aspectos que precisariam ser modernizados, e não arreda pé de seus
pontos de vista, a não ser que o barco esteja na iminência de afundar, o que
infelizmente a F-1 ainda não dá mostras de sofrer. O perigo é que quando isso
ocorrer, poderá ser tarde demais para salvar a situação...
Devoção
a Ayrton Senna: Mesmo 20 anos depois de sua morte, a devoção ao tricampeão
continua em alta, e a TV Globo parece que não consegue deixar de fazer apologia
ao "supercampeão" que o brasileiro foi. E já estão fazendo, de
maneira sutil, até comparação com o fato de Felipe Nasr resolver adotar o
número 12 em 2015, ao invés do 40 adotado este ano quando treinou com a
Williams, como se isso fosse operar milagres no primeiro ano de Felipe como
piloto titular na categoria. Devagar com o andor, pessoal, ou o mais novo
brasileiro no circo vai ser o mais próximo candidato a ser "queimado"
aos olhos do torcedor brasileiro. Nasr terá um ano complicado, e se a Sauber
conseguir pontuar regularmente, já será um bom resultado, mais do que isso já
será pedir demais. Mas será que a torcida, sempre incentivada pela Globo na
busca de um novo fenômeno das pistas, vai deixar? A conferir na próxima
temporada...
EM BAIXA:
Nazareth
Speedway: Não é só no Brasil que circuitos de corridas acabam sendo abandonados
e destruídos. Nos Estados Unidos, o circuito oval de uma milha da cidade de
Nazareth está largado, literalmente, com o mato cobrindo até mesmo trechos da
pista que viu a última vitória de Émerson Fittipaldi na finada Fórmula Indy, em
1995. A
pista pertencia a Roger Penske, mas ele a vendeu há vários anos atrás. Depois
que perdeu as corridas da F-Indy, o circuito ainda sediou algumas etapas da
Indy Racing League até 2004. Em seguida, a pista começou a ser desativada, e
hoje está literalmente em ruínas. Segundo consta, a família Andretti, que
reside em Nazareth, teria tentado comprar o circuito com o intuito de
reativá-lo, mas os atuais donos, que estariam ligados à Nascar, teriam
interrompido as negociações tão logo souberam das intenções dos Andretti de
tentar reativar a pista. Verdade ou não, o fato é que a Nascar há tempos tenta
garantir sua hegemonia no interesse do americano por velocidade, e não vê
exatamente com bons olhos as tentativas da IRL de se fortalecer, pois iria
competir com seu público. Seja lá como for, enquanto essa queda de braço não se
resolve, e sejam lá quais os motivos para as negociações não avançarem, o que
restou da pista vai se deteriorando ainda mais, aumentando as dificuldades de
uma possível reativação do autódromo, pela necessidade cada vez maior de
reformas gerais em todos os aspectos.
Crise
financeira na F-1: O campeonato de 2014 terminou, mas agora começou a corrida
rumo a 2015, e as equipes continuam com suas dificuldades de obtenção de
patrocínio. A Lotus é mais um time que está na berlinda, tendo perdido pelo
menos 4 patrocínios de vulto com o encerramento da competição deste ano. Os
petrodólares de Pastor Maldonado continuam firmes, sabe-se lá até quando, com a
crise econômica da Venezuela começando a balançar cada vez mais as finanças da
PDVSA, para não mencionar que a péssima tempoorada diminuiu ainda mais os
repasses da FOM ao time. A única esperança é fazer um campeonato melhor em
2015, mas o problema será conseguir produzir um carro competitivo para o
próximo ano. O modelo de 2014 claramente não foi competitivo, e não foi
problema apenas da falta de potência do motor Renault...
Marussia:
O time que adentrou a F-1 em 2010 com o nome de Virgin, que era inicialmente
Manor, e depois mudou para a atual denominação, entregou os pontos
definitivamente e fechou as portas. Todo o acervo da escuderia está sendo
vendido inclusive indo a leilão na internet para tentar pagar as dívidas pendentes.
Até a sede já foi vendida, e quem aproveitou a oportunidade foi Gene Hass, dono
do novo time que está se preparando para estrear na F-1 em 2016, que comprou as
instalações do time na Inglaterra para ter uma sede de operações na Europa, a
fim de facilitar suas atividades. Com isso, Max Chilton ficou sem carro para o
próximo ano, e o coitado do piloto Jules Bianchi continua internado em estado
grave, mas agora em um hospital na França, mais próximo da família. Ao menos
assumiram que a situação chegou ao fim da linha e não tentaram disfarçar as
dificuldades, ao contrário da Caterham, que ainda acredita que poderá voltar à
pista em 2015...
Troca-troca
na Ferrari: O time de Maranello continua reestruturando a escuderia de F-1 para
a próxima temporada. Quem dançou agora no time foram o projetista Nikolas
Tombazis, e o diretor Pat Fry. Tombazis havia sido o principal nome por trás
nos projetos dos últimos carros da escuderia para o mundial de F-1, e portanto,
a demissão até que demorou. Outro que acabou dispensado pela escuderia foi o
responsável pela área de análise de performance do pneus, Hirohide Hamashima.
Luca Marmorini, responsável pela área de motores, foi outro que foi para o olho
da rua. Sobrou até mesmo para Pedro de La Rosa, que era piloto de testes da
escuderia no simulador: o espanhol foi substituído por Steban Gutiérrez e
Jean-Éric Vergne, que assumirão as funções. E até Marco Mattiacci acabou
dispensado, o que muitos consideraram um exagero, pois ele nem teve tempo de
mostrar o seu trabalho devidamente à frente da escuderia. Em seu lugar entrou
Maurizio Arrivabene. Veremos o que toda esta sacudida vai produzir nas
performances do time italiano em 2015...
Pontuação
dobrada na última corrida do campeonato da F-1: Um pouco de bom senso ainda
parece existir na cartolagem da F-1, e a regra totalmente sem nexo da pontuação
dobrada aplicada este ano na última corrida do campeonato, em Abu Dhabi, não
será utilizada em 2015. Ninguém gostou da regra, nem pilotos, nem escuderias, e
muito menos o público. Mesmo assim, ainda teimaram em aplicar a norma na
corrida de encerramento deste ano. E que não volte mais, pois não havia
justificativa nenhuma que explicasse esta pontuação em dobro, que poderia muito
bem ter produzido grandes injustiças na decisão do título, dependendo das
circunstâncias. Felizmente a F-1 não precisou dessa bizarrice para definir o
campeonato...