sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A VOLTA DE RAIKKONEN

 

            Há duas semanas atrás, quando afirmei que na F-1, vez por outra acontecem algumas surpresas, eis que ocorreu uma esta semana, quando a equipe Renault, que a partir do ano que vem passa a se chamar Lotus, anunciou a contratação do finlandês Kimmi Raikkonen para ser piloto do time pelos próximos dois anos. Até então, apesar de haver conhecimento de que o campeão de 2007 havia trocado algumas idéias com o time francês, a maior expectativa sempre foi na Williams, até que, de um momento para o outro, as conversas esfriaram abruptamente, e tudo indicava que Raikkonen poderia continuar fora da categoria. A escuderia francesa, que atualmente pertence o grupo de investimentos Geni, mudará de nome em 2012, passando a se chamar Lotus, aprofundando as relações com a Próton, empresa malaia que é dona da Lotus Cars. O envolvimento começou neste ano, mas estabeleceu uma disputa com a “atual” Lotus, equipe de Tony Fernandes, que detinha dos direitos do nome “Team Lotus”, uma vez que Colin Chapman havia dividido suas empresas para preservar uma das outras em caso de dificuldades financeiras. A escuderia tem divulgado traçar planos de voltar a disputar as primeiras posições, e claro, anuncia que a contratação do finlandês é apenas o primeiro passo nesse objetivo.
            O retorno de Raikkonen é uma indicação de que Robert Kubica não deve mesmo voltar à escuderia. Pode ter pesado o rumor que circulou recentemente de que piloto polonês adiaria seu retorno à F-1 para 2013, melhorando suas condições de recuperação, para ocupar um lugar na Ferrari, com a provável saída de Felipe Massa ao fim de 2012. Verdade ou não, a reação de Eric Boullier, que declarou que Kubica não teria lugar no time se estivesse com tal intenção, pode ser um sinal de que, nos bastidores, algo ocorreu de concreto nesse sentido. E sem Kubica, a escuderia procurou o melhor nome disponível para substituir o polonês. E Raikkonen já andava à espreita, então...
            Não deixa de ser uma notícia interessante, e até bem-vinda o retorno de Kimmi à F-1. A categoria terá, então, em 2012, nada menos do que 6 campeões mundiais na pista, um recorde na história, representando nada menos do que 14 títulos: Michael Schumacher (7), Sebastian Vettel (2), Fernando Alonso (2), Jenson Button (1), Lewis Hamilton (1), e Kimmi Raikkonen (1). Praticamente todos os campeões da década passada estarão no grid em 2012, algo que certamente trará uma publicidade extra para a categoria. Agora, o que podemos esperar do retorno de Raikkonem à F-1? Nesse ponto, começam as dúvidas...
            Tomando como base o retorno de Michael Schumacher, o que se pode esperar é que o finlandês enfrente dificuldades em seu retorno. Dependendo de quem for o seu companheiro de equipe, Raikkonen pode acabar virando coadjuvante no time no próximo ano, assim como ocorreu com o heptacampeão em 2010 na Mercedes, ficando quase sempre atrás de Nico Rosberg, tanto nas corridas quanto nas classificações. Pesaram os 3 anos longe da categoria, e sem poder testar como estava acostumado em seus tempos de Ferrari, apenas na segunda metade deste ano Michael voltou a mostrar a velha garra de antigamente, mas sem exercer o mesmo domínio dentro da equipe que costumava exibir. A diferença de Michael para Nico diminuiu, mas o heptacampeão terminou o ano novamente atrás de seu conterrâneo mais jovem. Isso foi um balde de água fria para muita gente. Lembro que, quando o retorno de Schumacher foi anunciado, ainda em 2009, muitos já apregoavam que o campeonato de 2010 já tinha dono, que o maior vencedor da história da categoria estava voltando para mostrar como é que se pilotava de verdade, entre outras coisas diversas que foram ditas na época. Poucos mostravam-se céticos quanto às reais possibilidades do que Michael poderia fazer neste seu retorno.
            Pela lógica, o que dizer? Michael Schumacher detinha todos os recordes importantes da F-1, aposentou-se ao fim de 2006 talvez mais pelo fato de ter enfrentado realmente um páreo duro na disputa pelo título (Fernando Alonso, que o derrotou em 2005 e 2006) do que por decadência técnica. Ainda tinha muita lenha e gás para queimar, como mostrou sua estupenda corrida de recuperação em Interlagos naquele ano. Todos dizem que, tivesse permanecido na Ferrari, Schumacher certamente teria conquistado o título de 2007, uma vez que dificilmente o alemão teria deixado de aproveitar o racha interno da McLaren entre Hamilton e Alonso com muito mais eficiência do que Raikkonen aproveitou. E, como a Mercedes era a Brawn GP em 2009, o carro que surpreendeu o mundo da F-1, era até natural imaginar que, agora com os recursos da fábrica alemã, o carro, que foi perdendo performance durante a segunda fase do campeonato devido à falta de recursos para desenvolvê-lo, recuperasse todo o seu poderio e pudesse se apresentar como um time vencedor em 2010, com possibilidades, pelo menos, de vencer corridas e disputar o título. A realidade, contudo, tratou de mostrar outro panorama: a Mercedes só conseguiu um ou outro lugar no pódio, graças unicamente a Nico Rosberg; nenhuma vitória ou pole; e Schumacher nem de longe lembrava o piloto que massacrava seus oponentes na pista nas quase duas décadas anteriores. Boa parte do público subestimou os efeitos dos 3 anos de ausência, a possibilidade da idade pesar um pouco, as mudanças ocorridas nos carros, a falta de competitividade do modelo W01.
            Difícil dizer se Raikkonen vai ter os mesmos problemas, mas a probabilidade é que sim. Michael foi um fenômeno das pistas, uma “máquina” de vencer, como muitos chegaram a descrevê-lo. Kimmi sempre foi considerado um dos melhores pilotos da década passada, mas Michael foi o melhor de todos. Verdade que sempre teve bons carros (talvez com exceção de 2005), e na maioria das vezes o melhor carro até, mas foi um piloto mais eficiente do que o finlandês. E ainda há um aspecto que certamente poderá pesar contra Kimmi: o envolvimento no trabalho de desenvolvimento do carro, um aspecto que Michael sempre trabalhou com afinco, perdendo dias e dias nas pistas de testes da Ferrari tentando sempre achar meios de tornar o carro melhor. Raikkonen, mesmo em seus momentos mais brilhantes na McLaren e Ferrari, nunca foi muito de discutir com engenheiros e técnicos como desenvolver o carro. E com o pouco tempo de testes que haverá na pré-temporada, Raikkonen poderá levar desvantagem nesta área. Ao contrário de Schumacher, Kimmi não deixou de pilotar nestes últimos dois anos em que esteve longe da F-1, mas as exigências dos carros de rali são bem diferentes. Ainda não dá para mensurar o quanto (e como) isso poderá interferir na readaptação de Raikkonem à categoria. Nigel Mansell não voltou o mesmo que era quando retornou à F-1 em 1994 após dois anos competindo na F-Indy, em monopostos até bem similares aos F-1, embora diferentes. Pelo sim, pelo não, A escuderia já planeja usar o modelo 2009 para alguns testes particulares a fim de que Kimmi readquira ritmo com um carro da categoria.
            Muitos ainda se perguntam: quem estará voltando: o Kimmi vencedor dos anos de McLaren e que foi campeão em 2007 pela Ferrari, ou o Kimmi apático da segunda metade de 2008 e de 2009, que levou a escuderia italiana a dispensá-lo em favor da vinda de Fernando Alonso? Kimmi diz que sua motivação está intacta, e que não voltaria à F-1 apenas para fazer número, e que também não voltaria para guiar um carro ruim. Pelo sim, pelo não, a contratação do campeão de 2007 foi bem discutida pelos fãs brasileiros da ala anti-Barrichello, que não pararam de afirmar que a Renault fez sua melhor escolha. O time ainda não definiu quem será o companheiro de Raikkonen, mas os brasileiros ainda podem estar nessa parada. Muitos apontam que o segundo piloto será um “pagante”, e nesse nível, a disputa estaria entre Romain Grossjean, Vitaly Petrov e Bruno Senna, num autêntico “quem der mais, leva”. Mas não se pode deixar de considerar a possibilidade de o time não necessitar de um segundo piloto que leve patrocínio, se o grupo Próton de fato aumentar seus investimentos na escuderia, tornando dispensável o reforço de patrocínio. No caso desta possibilidade, o segundo piloto não precisaria trazer dinheiro necessariamente, e nesse caso, Rubens Barrichello ainda poderia até ser companheiro de Raikkonen, no esquema de o brasileiro desenvolver o carro para que o finlandês obtenha as vitórias. Como o time está tendo de refazer o projeto de seu carro, depois do fiasco que foram os escapamentos frontais deste ano, um piloto com base técnica e experiência, ao lado de um piloto arrojado, vencedor e campeão do mundo poderia ser uma escolha extremamente plausível. Grossjean seria um novato, e se Kimmi acaso não corresponder, devido aos 2 anos longe da categoria, o time poderia perder muito terreno até o finlandês recuperar o ritmo, no caso de Romain não conseguir dar conta do recado. Petrov poderia não render mais do que já rendeu nestes últimos dois anos. E Bruno Senna mostrou boa base técnica, e algumas boas classificações, mas ainda precisa melhorar muito em seu ritmo de corrida.
            A futura nova Lotus terá muito trabalho no próximo ano. O time, inclusive, perdeu alguns nomes de sua área técnica e gerencial. Houve até comentários que perderia os motores Renault, tendo de apelar para os Cosworths, embora isso até o momento não passe de um boato, pois se fosse sério, o time, nesta altura do ano, tendo de trocar de propulsor à ultima hora, teria mais um revés para encarar em sua preparação para 2012. Quanto isso vai prejudicar o time na próxima temporada, ainda é incerto, mas a escuderia está se mostrando audaciosa no projeto e expectativa. Muito em breve, o time deverá anunciar quem será o companheiro de Raikkonen, e a partir daí, o trabalho seguirá em ritmo acelerado ao máximo, a fim de que tudo esteja pronto no início de fevereiro do ano que vem para os primeiros testes coletivos da pré-temporada.
            Conhecido como “Homem de Gelo”, por geralmente não mostrar empolgação por quase nada em sua carreira na F-1, Kimmi certamente vai precisar de seu lado “frio” mais do que nunca para bem administrar o seu retorno à categoria, dependendo dos obstáculos e dificuldades que terá de enfrentar em 2012. E quanto melhor lidar com isso, mais rápido com certeza poderá suplantar as adversidades que porventura surgirão. É difícil dizer se terá sucesso ou não. Se vai vencer, dar show, ou apenas fazer figuração, a exemplo das dificuldades enfrentadas por Michael Schumacher.
            Mas é um belo atrativo adicional para se acompanhar o próximo campeonato da F-1. Seja bem-vindo de volta, “Iceman”. Que possa voltar a dar seus shows de pilotagem na futura nova Lotus, assim como fez em seus anos de McLaren e Ferrari...

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