sexta-feira, 1 de agosto de 2025

BALANÇO DA FORMULA-E 2025

Oliver Rowland foi o grande campeão da temporada da F-E, e venceu de forma até dominante, aproveitando o excelente carro e trem de força da Nissan.

            A Formula-E encerrou mais uma temporada, e pode-se dizer que foi um bom campeonato, em que pese o título ter sido conquistado por antecipação por Oliver Rowland com duas provas de antecedência, deixando para a rodada dupla de Londres a disputa pelo vice-campeonato. E a temporada teve muitos méritos, em especial as melhorias que foram implementadas na evolução do modelo Gen3, que proporcionaram nova dinâmica às provas da competição, que ficaram ainda mais disputadas do que já eram, pelo menos na maioria das oportunidades.

            As inovações implantadas no novo modelo Gen3EVO, aliado aos novos pneus mais macios da Hankook, entre outros efeitos, ressuscitaram o recurso do “Modo Ataque”, que voltou a ser efetivo nas corridas, se usado corretamente. Os pneus usados nos dois últimos campeonatos anteriores, por serem muito duros e resistentes, patinavam muito com a potência extra, e os novos compostos, mais moles e aderentes, puderam proporcionar aos competidores um uso muito mais eficiente da potência extra dos carros, ajudando a dinamizar as disputas com o recurso, que vinha sendo até criticado recentemente, por fazer os pilotos perderem posições e não lhes proporcionar chances reais de recuperação nas corridas. Outro recurso que finalmente fez sua estréia foi o pit boost, o recarregamento rápido, implantado em uma das corridas em rodadas duplas realizadas. Os resultados ficaram mais ou menos, mas é uma questão de tempo até que times e pilotos consigam fazer melhor uso do novo recurso, que a princípio bagunçou um pouco com as estratégias de todo mundo, mas pelo menos não apresentou problemas de grande monta ao ser utilizado pela primeira vez nas corridas da competição.

            Foi um campeonato onde os pilotos se sobressaíram, principalmente, em relação a seus times. A melhor mostra é o novo campeão, Oliver Rowland, que dominou a competição tão logo assumiu a liderança do campeonato, depois de um início claudicante no Brasil, mas fazendo bom uso das qualidades do excelente trem de força da Nissan, que assumiu o protagonismo na briga pelo campeonato, contra Porsche e Jaguar, que decepcionaram na luta que prometiam travar. Rowland praticamente correu sozinho na Nissan, já que seu companheiro de time, Norman Nato, não conseguiu demonstrar os mesmos resultados do piloto inglês, que se tornou campeão com todos os méritos. Na Porsche, o duelo entre o então campeão Pascal Wehrlein e o português Antonio Félix da Costa foi mais parelho, mas o alemão se saiu melhor, e conseguiu o único triunfo da marca alemã com seu time oficial na temporada, que apesar de ter conquistado os títulos de equipe e fabricantes, ficou efetivamente devendo na briga, uma vez que sua dupla de pilotos nunca esteve em ponto de ameaçar Rowland na luta pelo título, e pior, Wehrlein acabou atropelado por Nick Cassidy na reta final da temporada, perdendo até o vice-campeonato para o neozelandês da equipe Jaguar, terminando em 3º lugar, enquanto o português classificou-se em 5º ao final da temporada.

Em um ano irregular da Jaguar, arrancada no final da temporada garantiu o vice-campeonato ao piloto neozelandês.

            A Jaguar, aliás, foi um time de altos e baixos, mais baixos do que altos propriamente. Se Mith Evans conseguiu a proeza de vencer a primeira corrida em São Paulo, onde largou em último, foi um indício equivocado do que o time apresentaria durante o ano, ficando fora da tão esperada briga pelo título. É verdade que, apesar de tudo, a Jaguar ainda foi o time com mais vitórias no ano, 6, contra 4 da Nissan, e o arranque final de Nick Cassidy nas provas finais foi louvável, mas veio muito tarde para tentar mudar o panorama da competição. Cassidy, ao lado de Rowland, foi o piloto com mais triunfos no ano, e é uma pena que o piloto escolheu pular fora do time inglês para o próximo ano, quando as coisas finalmente parecem ter entrado nos eixos. A Jaguar, aliás, foi outro time desnivelado entre seus pilotos, assim como a Nissan: Mith Evans até venceu duas provas, mas esteve sempre à sombra de Cassidy, terminando o ano apenas em 13º lugar, enquanto o colega foi vice-campeão.

            Nada menos que 8 pilotos, de 7 times diferentes venceram corridas, sendo que a Jaguar foi a única a ver seus dois pilotos triunfarem no ano. A DS Penske viu Maxximilian Gunther vencer duas corridas, mas o excesso de abandonos e outros resultados abaixo do esperado deixaram o piloto apenas em 10º lugar no campeonato, enquanto seu companheiro Jean-Éric Vergne, mesmo sem vencer, mas sendo bem mais constante, terminou o ano em 6º lugar. Na Envision, Sébastien Buemi encerrou um longo jejum de vitórias de vários anos, voltando a vencer uma corrida, mas foi só: terminando várias corridas sem pontuar, o piloto suíço foi apenas o 12º colocado na competição, e seu companheiro Robin Frijns foi ainda pior, terminando a temporada apenas em 19º lugar. Stoffel Vandoorne foi outro piloto que só não passou totalmente em branco porque venceu uma etapa, e isso o impediu de terminar mais para trás na classificação com a Maserati, tendo fechado o ano em 14º lugar, mas bem melhor do que o companheiro de equipe Jake Hughes, que finalizou numa melancólica 16ª posição. E, por fim, Dan Ticktun fecha a lista dos pilotos vencedores de ePrix, com seu primeiro triunfo na competição, o que foi uma grande vitória para ele, e principalmente para seu time, a nova Kiro, que voltou ao degrau mais alto do pódio, onde esteve por duas oportunidades, na primeira temporada da competição, quando foi campeã de pilotos com Nelsinho Piquet, quando o time ainda se chamava China Racing. A escuderia mudou de nome e de direção ao longo dos anos, mas nunca mais havia voltado a se destacar na competição, e esteve perto de fechar as portas ao fim da temporada passada, quando uma operação junto a novos investidores, com ajuda de Ticktun, ajudou o time a assumir sua nova identidade, ganhando inclusive apoio da Cupra, e conseguindo fechar um acordo para usar o trem de força da Porsche, ainda que de especificação anterior à atual usada pelo time de fábrica e pela Andretti. Mas para uma escuderia que penava para conseguir que seus pilotos conseguissem pontuar, o resultado neste ano foi mais do que impressionante: Ticktum terminou o ano em 11º lugar, e o time ganhou de fato vida nova. Mas foi outra escuderia onde apenas um piloto se destacou, já que o outro piloto marcou apenas 1 ponto durante todo o ano.

Pascal Wehrlein não conseguiu brigar pelo bicampeonato com a Porsche.

            Outros times tiveram destinos diferentes durante a competição. Com uma atuação claudicante nos dois últimos campeonatos, devido a um trem de força pouco competitivo, a Mahindra fez grandes progressos neste ano, e seus dois pilotos, ainda que não tenham vencido nenhuma corrida, andarem perto do primeiro lugar em várias oportunidades, marcando um crescimento muito bem vindo para a escuderia indiana. Nyck De Vries e Edoardo Mortara terminaram o ano em 8º e 9º lugares, o que não foi nada mal. Talvez um pouco de sorte tenha falhado em vários momentos, mas é do jogo, e quem sabe eles estejam mais fortes no próximo ano. Em compensação, a Andretti ficou sem vencer o ano inteiro, e Jake Dennis ficou frustrado de não apenas não voltar a vencer, como de poder brigar novamente pelo título, terminando o ano apenas em 7º lugar, mas ainda assim muito melhor do que Nico Muller, que chegou muito bem conceituado pela Porsche, mas teve um ano bem apático, terminando apenas em 15º lugar.

            E a McLaren? No seu último ano de participação na F-E, a escuderia brilhou unicamente com Taylor Barnard, seu piloto revelação, que a determinado momento flertou com a vitória, mas acabou vendo as chances do primeiro triunfo na competição escaparem pelos mais variados motivos. Ainda assim, Barnard fez uma temporada admirável, e terminou em 4º lugar, tendo até brigado pelo vice-campeonato, muito mais do que Sam Bird, seu veterano companheiro de time, que passou o ano completamente em branco, terminando apenas em 18º lugar, e despedindo-se da F-E, categoria onde estava presente desde a primeira corrida, enquanto Barnard já garantiu sua posição no grid para o próximo ano.

            Alguns nomes, como Antonio Felix da Costa, podem não estar presentes no próximo grid. O português quer disputar também o WEC, mas a Porsche, time pelo qual disputou a competição, quer exclusividade na F-E, e Antonio e Wehrlein andaram se estranhando feio em alguns momentos. Com um time a menos no grid, a disputa por vagas fica mais complicada também, tanto para a manutenção de quem já está lá, quando para a chegada de novos nomes em potencial. Mas o principal, que foram as disputas de pista, foram bem elevadas durante a maior parte das corridas do ano. Se por um lado a nova pista de Jeddah, na Arábia Saudita, foi bem-vinda no calendário, em substituição à pista de Diryah, nas cercanias de Riad, por outro lado, a pista de Miami, em Homestead, não agradou, e não retornará à competição no próximo ano, que já tem sua prova de estréia para dezembro, novamente em São Paulo.

            Nem tudo, porém, são flores, e a categoria sofreu alguns reveses que precisam ser vistos com cuidado. O primeiro deles refere-se aos pneus. Desde que a F-E foi lançada, os carros sempre usaram os mesmos pneus, fossem para pista seca, ou molhada, numa medida de economia, inclusive com número de jogos limitado por fim de semana por carro. Com grande durabilidade, pit stops só eram necessários em caso de um pneu furado, ou um problema no carro, como uma asa quebrada. O fato de possuírem ranhuras, como os pneus de uso cotidiano, quebravam o galho nas corridas sob chuva, que eram bem raras na competição. Só que este ano houve vários momentos em que as etapas acabaram ocorrendo com chuva, e com chuva até forte, de modo que estes pneus começaram a se mostrar difíceis de serem utilizados em tais condições, criando até problemas potenciais de segurança para os pilotos no meio do piso molhado, e dificultando as corridas, ao invés de ajudar a potencializar as disputas. A adoção de pneus específicos para chuva poderia ser uma opção a ser estudada seriamente para estes casos, a fim de melhorar a tração e segurança para os pilotos, que teriam maior controle de seus bólidos no piso molhado. É verdade que isso poderia encarecer os custos, mas não seria tanto assim, se considerarmos que estes mesmos jogos durariam a corrida inteira, se necessário, caso chovesse.

            A Formula-E também sofreu uma perda no grid: a McLaren anunciou que está ingressando no Mundial de Endurance, e com isso, resolveu tirar o seu nome da competição dos carros elétricos. O time, que levava o nome da escuderia de Woking, até procurou novos investidores que assumissem a estrutura e permitissem a continuidade da equipe na categoria, mas infelizmente as tratativas não deram resultados, e como consequência o grid perde dois carros para o próximo campeonato, ficando reduzido a 20 carros. E olha que quase poderia ter perdido dois times, pois a Maserati, também com problemas financeiros, está saindo da competição, mas para sorte da F-E, a Stellantis deve assumir a escuderia, com um novo nome, muito provavelmente Citron, ou talvez Opel, duas das marcas mais icônicas do grupo ligadas ao automobilismo, para continuarem as atividades no próximo campeonato.

Lucas Di Grassi: ano difícil com novo equipamento da Lola/Yamaha.

            Para o Brasil, a temporada foi de parcos resultados. Além da boa estréia de campeonato, com a corrida de São Paulo dando início à temporada, e onde vimos uma corrida cheia de alternativas e com muitas disputas, e até um resultado inesperado onde o vencedor largou praticamente na última posição, nossos representantes no grid não puderam fazer muita coisa nesta última temporada. Lucas Di Grassi, estreando no novo trem de força da associação Lola/Yamaha, que trouxe duas marcas clássicas de volta ao grid em um campeonato de monopostos mundial, lutou contra o noviciado do equipamento, em um time da ABT reformulado para a nova associação, e como não poderia deixar de ser, brigou muito para conseguir pontuar com um equipamento que nem de longe é dos mais competitivos, mas que mostrou evolução durante a temporada, e quem sabe, pode render mais no próximo campeonato, tanto mais que Lola e Yamaha já estão comprometidos com a nova era dos carros Gen4, prometendo grandes esforços para não serem apenas “mais um nome” no grid da competição. Di Grassi levou o time nas costas, conquistando os únicos pontos da escuderia no ano, já que seu companheiro de time Zene Maloney terminou o ano praticamente zerado. Lucas conseguiu até um pódio inesperado na etapa de Miami, marcando seu regresso a um resultado TOP-3 depois de dois anos, e está garantido na escuderia para o próximo campeonato.

            Sergio Sette Câmara ficou a pé depois que a operação para transformar a equipe ERT na atual Kiro fez o time aceitar o piloto David Beckman, da Porsche, mas ganhou a chance de disputar a rodada dupla de Berlim substituindo Norman Nato, e apesar de ter mostrado uma boa performance, não deu muita sorte com os resultados, e quando tudo indicava que poderia assumir a vaga de Nato no próximo campeonato, o fato do piloto ter vencido as 6 Horas de Sâo Paulo parece ter convencido a Nissan a continuar com ele por enquanto, algo que ainda não foi oficializado, mas que deixa as chances do brasileiro voltar a ser titular bem mais escassas. Felipe Drugovich até performou bem em Berlim, mas parece estar cada vez mais próximo de estrear enfim na F-1 pela nova equipe Cadillac, onde é um dos pilotos cotados para compor a dupla do novo time da categoria máxima do automobilismo. Mesmo assim, o cartão de visitas foi dado, e Felipe, que já tinha impressionado nos testes de novatos realizados anteriormente, pode vir a ser uma opção para os times, caso surjam oportunidades, e se o piloto estiver disposto a encarar a oportunidade a tempo integral.

            Foi um bom ano para a F-E, em termos de competição, e especialmente no aspecto técnico, tendo recuperado alguns detalhes que faziam o diferencial da categoria, e que precisavam ser revistos. Ainda há alguns problemas aqui e ali, mas que não comprometeram, e esperamos que o próximo campeonato seja ainda melhor, com mais disputas, emoções, e brigas. Que venha a próxima temporada, portanto...

 

 

E a Formula 1 chegou a Hungaroring para a disputa do GP da Hngria, e pelo que vimos na pista hoje, a McLaren está mais do que sobrando na pista, com Lando Norris e Oscar Piastri praticamente fazendo os demais concorrentes comerem poeira. Fica a dúvida sobre quem vai levar a melhor no time papaia. No fim de semana passado, Norris parecia estar com a situação sob controle, mas na corrida, foi surpreendido por Piastri logo no início da prova, e dali em diante o australiano simplesmente comando a corrida como bem quis, com o piloto inglês pouco reagindo ao colega de time, e proporcionando uma dobradinha sem maiores sustos. Norris vinha de resultados melhores nas etapas anteriores, e dava a pinta de que poderia desbancar o colega de time da liderança do campeonato, mas com a performance em Spa, Piastri parece ter colocado as coisas em ordem. Mas aqui na Hungria o buraco pode ser mais embaixo, já que a pista, travada, é de difícil ultrapassagem, e largar na frente é mais do que fundamental, portanto, não apenas brigar pela pole, como fazer uma boa largada será crucial. Vamos ver quem ganhará essa disputa...

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