quarta-feira, 20 de agosto de 2025

HAVOC SERIES - A TEMPORADA DE 1987 – PARTE VIII

O acidente de Nigel Mansell encerrou prematuramente a disputa do título da temporada de 1987, coroando Nélson Piquet como tricampeão mundial de F-1.

            E aqui chegamos à parte final desta série de postagens trazendo todas as corridas da temporada de 1987. Com duas provas para o encerramento da temporada, o duelo entre Nigel Mansell e Nélson Piquet agora era exclusivo da dupla da Williams, e o brasileiro chegava a Suzuka, novo palco do GP do Japão, depois das primeiras corridas realizadas nos anos 1970, na pista de Fuji, e é claro que a Honda estava eufórica: pela primeira vez faria um campeão de pilotos, como ele poderia sair no circuito de sua propriedade, nos arredores de Nagoya. E como se daria essa luta? Mansell chega mais pressionado do que nunca: afinal, Piquet ainda portava 12 pontos de vitória, e apenas vencer não era suficiente, Nélson precisaria não marcar pontos, no mínimo, para o inglês assumir o controle da situação na provável decisão que fosse feita em Adelaide, na Austrália, duas semanas depois.

            Mas Mansell nem chegou a correr: sofreu um violento acidente nos treinos classificatórios de sexta-feira, tentando ser mais rápido que Piquet, que foi 1s mais rápido que ele, e isso acabou definindo o título a favor do brasileiro. Mansell não poderia disputar o GP por ordem médica, e com isso, seria impossível ainda levar a disputa para a próxima corrida. E assim, Piquet alinhou para a largada na 5ª posição do grid como mais novo tricampeão da história da F-1. Uma conquista que, como ele mesmo frisou, não havia sido conquistada em Suzuka, mas durante todo o campeonato, a mais pura verdade. Seu conjunto de resultados foi o mais impressionante visto até ali, e o piloto que mais pontos conquistou na luta de um título, uma marca contundente para a época.

            E a Williams... Bem, a Williams teve o desgosto de apostar quase descaradamente no cavalo errado, e perder sua aposta! Depois de ficar escaldado na segunda metade de 1986, quando viu que o time queria fazer Mansell campeão, mesmo que isso significasse deixa-lo de lado, Nélson tratou de começar 1987 com o desconfiômetro mais do que ligado. O acidente em San Marino, que lhe deixou sequelas pelo restante da temporada, poderia ter complicado tudo, mas Piquet soube se adaptar o suficiente para ninguém saber o quanto ele estava debilitado... Não para pilotar fundo, mas naquele limite necessário para ser efetivamente campeão. E mesmo assim, ele conseguiu desestabilizar Nigel Mansell o suficiente para derrota-lo na pista, e nos boxes, e olhe que a equipe ainda resolveu tirar a suspensão ativa de cena, porque Piquet se entendia com ela, enquanto Mansell não, e disseram que isso era para não “influenciar” a disputa. Alguém acreditou nessa conversa fiada?

            Mas é claro que ainda tivemos uma corrida naquele fim de semana... Gerhard Berger conquistou a pole-position, com a Ferrari, enquanto Alain Prost e sua McLaren dividiam a primeira fila. Thierry Boutsen (Benetton) e Michele Alboreto (Ferrari) estavam na segunda, e Piquet, apenas na 5ª posição. Curiosamente, como Mansell não pode participar da corrida, a prova ganhou outro brasileiro, com Roberto Moreno sendo autorizado a largar, tendo feito o 27º tempo na classificação. No início, Berger imediatamente impôs sua autoridade, construindo uma vantagem firme na liderança. Prost, em sua McLaren, talvez o único piloto capaz de desafiar Berger pela vitória, sofreu um furo em um pneu na primeira volta e, portanto, estava fora de disputa. Prost, no entanto, fez uma corrida soberba para subir pelo pelotão terminando fora dos pontos, em 7º lugar, mas com o consolo de ter a volta mais rápida da corrida. A Benetton de Boutsen ficou em segundo no início, mas não conseguiu suportar o ritmo estabelecido por Berger, caindo para o quinto lugar. Piquet passou grande parte da corrida atrás do Lotus de Senna, mas não conseguiu encontrar uma maneira de superar seu compatriota, e ainda por cima, teve o azar de abandonar a prova com problemas mecânicos em sua Williams. Stefan Johansson, na McLaren, grudou em Berger, mas o piloto austríaco respondeu e voltou a abrir vantagem, e conquistou uma vitória firme, acabando com o jejum de triunfos do time italiano, que vinha desde o GP da Alemanha de 1985. Ayrton Senna passou dramaticamente Johansson na última volta para ficar em um heróico segundo lugar, e dando à Honda motivos para comemorar, com um de seus pilotos no pódio. Michele Alboreto, na segunda Ferrari, até fez uma uma corrida agressiva para terminar em quarto lugar, com Thierry Boutsen e Satoru Nakajima, o ídolo local, completando os pontos. De salientar que o terceiro lugar de Johansson foi o 54º e último pódio do motor Porsche turbo V-6 projetado pela parceria da marca alemã com a TAG, que foi usado pela primeira vez na Fórmula 1 pela McLaren no Grande Prêmio da Holanda de 1983. Confiram então o vídeo completo do GP do Japão de 1987 postado no You Tube pelo usuário MrViniciusF1 no link abaixo:

 

https://www.youtube.com/watch?v=4DoZpVa7qQw

 

Mas havia ainda uma corrida para encerrar a temporada de 1987m e ela seria realizada duas semanas depois da prova de Suzuka, na distante Adelaide, na Austrália, prova que desde 1985 passou a fechar a temporada da F-1. Gerhard Berger, com a Ferrari, encerrava a temporada em alta, e conquistava novamente a pole-position para a corrida final no circuito urbano de Adelaide. Alain Prost, da McLaren, dividia a primeira fila do grid, e logo atrás, Nélson Piquet e Ayrton Senna ocupavam a segunda fila, com o novo tricampeão mundial largando na 3ª posição, logo à frente do compatriota da Lotus. E havia de novo a presença de Roberto Moreno no grid, com a pequena AGS, largando em 25º, um feito para um carro tão pouco competitivo. Nigel Mansell, em recuperação médica, ficava de fora, e em seu carro teria Riccardo Patrese, que seria seu companheiro de equipe na Williams em 1988. Patrese, então, reeditava na Williams, ainda que por apenas esta corrida, a parceria que teve com Nélson Piquet quando foram companheiros na equipe Brabham, em 1983, e por coincidência, outro ano em que o brasileiro também foi campeão da F-1. Com a luz verde, Piquet passou por Berger para assumir a liderança ainda na primeira chicane, enquanto Alessandro Nannini, da Minardi abandonou imediatamente depois de bater no muro logo na saída. Mas Berger, confiante depois de sua vitória na corrida anterior no Japão, repassou Piquet ainda na primeira volta, e começou a abrir vantagem a partir dali, mostrando que seria novamente difícil discutir a vitória com o austríaco.

A batalha pelo segundo lugar entre Piquet, Prost, Michele Alboreto e Ayrton Senna mudou pouco até a volta 35, quando Piquet parou nos boxes para trocar pneus e caiu para o sexto lugar. E alguns pilotos começaram a ter problemas com os freios. Teo Fabi, com a Benetton, foi o primeiro a abandonar por este problema, que também levou ao abandono Stefan Johansson na McLaren, em sua prova de despedida do time de Woking. Só que, logo depois, Alain Prost também ficaria pelo caminho, e Nélson Piquet também despedia-se da Williams com problema similar, ficando sem terminar as corridas finais da temporada já na condição de campeão mundial. Com estes problemas, Berger, Senna e Alboreto ficavam como os três primeiros na pista, seguidos por Boutsen e Patrese, mas este também ficou pelo caminho faltando poucas voltas para a bandeirada final. Ao fim das 82 voltas, Gerhard Berger e Michele Alboreto conseguiram uma grande dobradinha para a Ferrari no encerramento da temporada. E Thierry Boutsen terminava o ano com um belo 3º lugar. Inicialmente, porém, Ayrton Senna havia terminado em 2º lugar, posição até que lhe dava o vice-campeonato mundial na classificação, porém, na verificação pós-corrida, descobriu-se que os dutos de freio no Lotus do brasileiro Senna eram grandes, resultando em sua desqualificação da corrida, promovendo então Alboreto, inicialmente o 3º colocado, para o 2º lugar, e Boutsen em terceiro. Jonathan Palmer, da Tyrrel, ficou em quarto, com Yannick Dalmas (Lola) em quinto e, vejam só, Roberto Moreno (AGS) em sexto, marcando não apenas o seu primeiro ponto na F-1, mas também o primeiro ponto do Campeonato Mundial da equipe AGS. Confiram então o vídeo completo do GP da Austrália de 1987 postado no You Tube pelo usuário MrViniciusF1 no link abaixo:

 

https://www.youtube.com/watch?v=sgzRhWhRDfQ

 

E assim, encerramos esta série de postagens que trouxeram todas as corridas da temporada de 1987, que consagrou o tricampeonato de Nélson Piquet, que se juntava a lendas da história da F-1 como Jackie Stewart e Niki Lauda, e talvez o mais importante, de um piloto que derrotou seu próprio time na briga para ser campeão mundial, visto como a Williams dava uma preferência por vezes descarada até a Nigel Mansell. Isso seria impensável nos dias de hoje, para não mencionar que é muito difícil um piloto esconder segredos de seu time. Mas agora, ficamos para começar em breve um projeto similar, trazendo as corridas da temporada de 1988, que consagrou Ayrton Senna como campeão mundial da categoria máxima do automobilismo. Portanto, nos vemos em breve, quando dermos início a este novo projeto aqui no blog, na sessão de vídeos da Havoc Series...

Nélson Piquet conquistou o título de 1987 com todos os méritos, com uma campanha cerebral, vencendo até mesmo a própria equipe, que preferia ter Mansell como campeão.

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