sexta-feira, 29 de agosto de 2025

CADILLAC: PRIMEIROS PASSOS

Vallteri Bottas (acima) e Sergio Perez (abaixo): o retorno. Eles irão compor a dupla titular do novo time da Cadillac, que estréia na F-1 na próxima temporada.


            A Cadillac confirmou esta semana sua dupla de pilotos para sua temporada de estréia na F-1, que acontece em 2026, e os rumores ventilados se confirmaram: Valtteri Bottas e Sergio Perez serão aqueles que defenderão a marca norte-americana no grid da categoria máxima do automobilismo.  A nova escuderia optou pela experiência plena para sua primeira temporada na competição, contrariando as expectativas que davam inicialmente uma combinação de juventude e experiência para a empreitada, onde um dos nomes seria um novo talento, aliado a outro piloto, já experiente, a quem caberia capitanear o novo time dentro da pista.

            Nomes como Mick Schumacher, e até mesmo de Felipe Drugovich foram ventilados nestes rumores, enquanto na parte da experiência, Bottas e Perez estavam entre os palpites. E a experiência ganhou a parada, e no próximo ano teremos a volta de ambos ao grid da competição, de onde saíram no final de 2024 pela porta dos fundos. Bottas fez um ano melancólico com a Sauber, mais pela falta de competitividade do carro do que por sua capacidade, em que pese o finlandês também não ter feito nenhuma performance de encher os olhos. Restou-lhe voltar à Mercedes, time que defendeu por vários anos, como piloto de testes, a fim de pelo menos se manter próximo da competição. Já Sergio tinha contrato para esta temporada, e até para 2026, mas as dificuldades apresentadas pelo carro da Red Bull no ano passado, quando o modelo RB20 caiu de performance frente a evolução da concorrência, e com Perez sendo arrastado diante da incapacidade de extrair performance do bólido como Max Verstappen fazia, pesou sobremaneira na decisão do time dos energéticos de rescindir o contrato com o mexicano, dispensando-o.

            Para alguns, a Cadillac já entraria com o pé esquerdo na F-1, só pela contratação destes dois pilotos, esquecendo-se de que, apesar da forma como vivenciaram a temporada de 2024, ambos têm muito mérito em suas carreiras. Podem não ser gênios, mas são competentes, e em seus melhores momentos, venceram corridas, e estiveram em destaque no campeonato, estando longe de serem braços duros ao volante. Ambos marcaram pole-positions, venceram corridas, e tem um largo currículo na competição, que neste momento, é o que mais interessa à Cadillac, que terá muitos desafios a vencer em sua temporada de estréia na F-1. E, portanto, conhecimento é essencial, lembrando que não basta ter pessoas gabaritadas, é preciso combinar seus talentos e garantir o perfeito entrosamento para que a eficiência seja a melhor possível. Já vimos vários casos de escuderias que dispunham de recursos a rodo, mas fracassaram porque não conseguiram fazer com que seus talentos funcionassem de acordo com o que era necessário, e não é demérito a Cadillac apresentar uma postura mais cautelosa em seu início de operações, onde o arrojo pode ser mais prejudicial do que vantajoso.

            Por isso mesmo, a opção pelo mais seguro. Perez e Bottas, apesar do ano sabático, não estão desatualizados em relação aos procedimentos gerais de atividades de uma escuderia de F-1, e com relação ao carro, a temporada de 2026 é nova para todo mundo do ponto de vista de entrada do novo regulamento técnico, sobre o qual a Cadillac já está construindo o seu carro. E o feedback que tanto Bottas quanto Perez poderão dar neste sentido será crucial para se obter respostas necessárias à compreensão do comportamento do bólido na pista. E, por isso mesmo, a prática e vivência de ambos será muito importante.

            Com o anúncio feito da dupla de pilotos, portanto, os trabalhos de pista devem começar já em outubro, usando um chassi da Ferrari de 2023. O time de Maranello será o fornecedor das unidades de potência que serão inicialmente usadas pela nova escuderia, enquanto a Cadillac segue desenvolvendo seu próprio projeto de unidades de potência, que deverão ser utilizadas a partir da temporada de 2028, na melhor das hipóteses.

            Apesar destes argumentos todos, muitos ainda afirmam que a Cadillac erra feio na escolha de sua dupla de pilotos, e não faltaram opiniões contrárias neste sentido, algumas vindas até mesmo de nomes conhecidos no meio, como Jacques Villeneuve, campeão da temporada de 1997, que afirmou que, apesar da experiência, será preciso ver qual versão de Bottas e Perez veremos em 2026, lembrando que apenas o quesito da experiência não afirma se você é bom ou rápido, embora admita que, no estágio inicial de suas atividades, a Cadillac precisa minimizar certos riscos, e entende plenamente a escolha feita por eles, enquanto outros profissionais também defenderam as justificativas da escolha do novo time para sua dupla titular de sua temporada de estréia. De fato, não dá para agradar a gregos e troianos, e com a disputa mais acirrada do que nunca por uma vaga no grid, é compreensível as críticas feitas, mesmo as bem mais formuladas e ambasadas. Uma delas, claro, é em relação a Felipe Drugovich, que para muitos, perdeu mais uma chance de estrear no grid, e que vai acabar amargando para sempre a posição de “piloto reserva e de testes”, repetindo a experiência de Pietro Fittipaldi, que apesar de ser elogiado por sua capacidade e velocidade, só teve oportunidade de disputar duas corridas na Haas em todas as temporadas em que ficou como piloto reserva e de testes do time, nunca tendo sido efetivado como titular, e com o time preferindo até pilotos completamente novatos, como foi o caso da temporada em que correram com Mick Schumacher e Nikita Mazepin, com resultados muito insatisfatórios. Na Aston Martin, onde está, parece crescer cada vez mais a percepção de que Drugovich parece figura decorativa, onde um dos pilotos, Lance Stroll, por ser filho do dono, tem assento garantido, e Fernando Alonso, garantido para 2026, pode muito bem se estender a 2027, se o novo carro que está sendo projetado por Adrian Newey para o próximo ano for realmente competitivo, limitando novamente as possibilidades de Felipe vir a ser titular na escuderia.

Felipe Drugovich (acima) e Mick Schumacher (abaixo) foram nomes que circularam nos boatos de que poderiam ser um dos titulares da nova escuderia, mas ficaram a ver navios, com a decisão de optarem por dois nomes experientes.


            Com a estréia da Cadillac, a F-1 verá o embate entre duas marcas dos Estados Unidos, ainda que em posições distintas. A Ford retorna à categoria, como parceira da Red Bull no fornecimento de suas unidades de potência, depois de se retirar da competição ao fim de 2004, quando detinha a posse da equipe Jaguar, que no ano seguinte se tornaria a Red Bull, quando a empresa de energéticos comprou a escuderia da montadora norte-americana. E a Cadillac, marca pertencente à General Motors, é grande rival da Ford no mercado dos Estados Unidos, e estreará como equipe, sendo que em alguns anos ela também terá suas unidades de potência, para uso próprio, e de terceiros que vierem a se interessar pelo equipamento. Por mais que digam que a parceria com a Red Bull já coloca a Ford em vantagem, é preciso ver também como será o desempenho do trem de força que está sendo desenvolvido pela parceria entre as duas empresas. Não existem dados divulgados a respeito de como estaria o desenvolvimento dos propulsores, com alguns dizendo que o motor será competitivo, enquanto outros afirmando que o desempenho demonstrado nas bancadas está muito aquém do esperado, mas nenhuma confirmação oficial mesmo de como andam os trabalhos. E a Cadillac, claro, que terá de aprender como as coisas funcionam na F-1, e nenhum time estreante conseguiu fazer uma temporada de arromba na competição, por mais recursos que possua. O que não quer dizer que a primeira temporada da Cadillac esteja fadada ao fracasso, apenas que o sucesso será difícil, e a primeira temporada tem tudo para ser bem complicada.

            Se formos lembrar da Toyota, a última grande montadora a se aventurar na categoria com um time próprio, a empresa japonesa treinou um ano inteiro antes de estrear propriamente, tendo comprado um chassi da Arrows e usado as mais diversas pistas para treinar e acumular conhecimento, tanto sobre acerto de carro quanto de motor, e naquela época, este tipo de procedimento era bem mais simples do que é atualmente. A Cadillac não terá como repetir todo esse procedimento de preparação, o que por si só já dá uma indicação de como as dificuldades poderão ser grandes.

            Mesmo assim, a chegada da Cadillac ao grid precisa ser mais do que comemorada, pois em um momento onde a F-1 vira um clube “exclusivo”, onde só poucos podem entrar, como ficou patente na novela que testemunhamos para que esta nova equipe pudesse chegar ao grid, termos mais dois carros na competição é mais do que necessário, lembrando dos tempos onde tínhamos 26 carros largando, e até carros que não largavam, porque tínhamos mais carros que vagas, e os treinos de classificação eram de morte para alguns, porque inevitavelmente haveria quem ficaria de fora, não importa quanto eles se esforçassem. Ainda tem interessados querendo entrar no grid, talvez em 2027, e quem sabe, se eles forem bem-sucedidos, consigamos voltar a ter pelo menos um grid com 24 carros na competição...

            A Cadillac ainda tem muito chão pela frente até os testes da pré-temporada de 2026, quando finalmente irá colocar seu primeiro carro na pista, e confirmar se conseguiu fazer um bom trabalho de preparação ou não para a sua estréia na F-1. Até lá, só podemos torcer para que dêem conta do recado, e consigam fazer a melhor estréia possível, pelo bem da competição, em favor dos fãs da velocidade, que querem cada vez mais disputas e brigas na pista, em favor da emoção e da competição… Que venha a nova escuderia de F-1!

 

 

A F-1 volta de suas férias de verão, e o palco é a pista de Zandvoort, na Holanda. O circuito tem data para deixar a F-1, e portanto, os fãs terão de aproveitar as últimas oportunidades de torcerem em seu próprio país para seu ídolo máximo, Max Verstappen, que nos últimos anos encheu a torcida de alegrias com as vitórias obtidas na pista. Mas este ano o buraco na Red Bull é bem mais embaixo, e o tetracampeão holandês precisará de muita sorte para conseguir brigar novamente pela vitória, a depender de como estará a favorita McLaren, que vem dominando a competição, para não mencionar que até Mercedes e Ferrari tem conseguido desempenhos melhores que o time dos energéticos. Mas o holandês tem conseguido surpreender em alguns momentos, já tendo vencido duas provas no ano, e até mesmo a última prova sprint, na Bélgica. Quem sabe Zandvoort seja um lugar onde a Red Bull renda melhor, e Max consiga brindar sua torcida com uma exibição esplendorosa? Lógico que eles ficarão na torcida por isso… No ano passado, a Red Bull ainda conseguia exibir um desempenho decente nas mãos de Verstappen, que até chegou a brigar pela liderança da corrida, antes de ser superado por Lando Norris, com uma McLaren que já era o melhor carro do grid. Mas, assim que o inglês assumiu a liderança, as chances de um novo triunfo evaporaram, e Max teve de se contentar com o segundo lugar. Este ano a parada promete mesmo ser mais complicada, e os treinos livres de hoje não foram muito empolgantes, com o holandês ficando a quase 0s6 de distância do tempo de Norris, sem mencionar que Verstappen chegou a escapar da pista na primeira curva, após o treinamento de largada, quase batendo o carro e complicando a situação. Pode ser que as coisas possam mudar para este sábado, e para a corrida, dando maiores esperanças de briga para alimentar as esperanças dos torcedores, mas nada é garantido.

Max Verstappen escapou da pista em Zandvoort e quase bateu. Início não muito promissor para o holandês no GP de casa.

 

 

Com três triunfos na pista de seu país, Max Verstappen, aliás, lamenta a saída da pista de Zandvoort do calendário da F-1. O circuito optou por não renovar o seu contrato para sediar o GP, de modo que a etapa de 2026 será a última a ser realizada na pista. Max, claro, só manifestou um desejo: de que Zandvoort são seja substituído por mais alguma pista de rua insossa, preferindo que o lugar da etapa holandesa no calendário seja ocupado por um circuito de verdade. Mas os pilotos não parecem muito sentidos com a saída de Zandvoort. O traçado é estreito, e as reformas feitas décadas atrás tornaram a pista muito travada para a extensão que possui, e com estes carros atuais da F-1, tremendamente grandes, as brigas de posições na pista ficam complicadas. Particularmente, o traçado original era melhor em termos de proporcionar emoções à corrida, embora o desenho atual seja mais elaborado. Mas o problema mesmo é a extensão, muito curta entre os trechos, para otimizar as disputas. Zandvoort é a segunda menor pista do calendário, com apenas 4,259 Km de extensão, maior apenas que a pista de Mônaco, portanto... As reformas efetuadas para receber de novo a F-1 até conseguiram produzir alguns detalhes interessantes, como as curvas inclinadas onde os pilotos podem ter mais um traçado, mas mesmo assim, isso não chegou a compensar totalmente o design travado que a pista possui.

 

 

Como seria de se esperar, o novo campeão da Indycar, Álex Palou, rechaçou qualquer possibilidade de ir para a F-1, atribuindo a “notícia” a boatos plantados por terceiros interessados em que a Ganassi tivesse um carro sobrando no grid para outros pilotos. Segundo ele, não haveria como ir para a categoria máxima do automobilismo, e diante das dificuldades e particularidades de adaptação, precisar de pelo menos duas temporadas para se aclimatar devidamente e batalhar por resultados significativos. E isso se o time fosse competitivo. A Red Bull era o time que o espanhol defenderia, como novo companheiro de Max Verstappen, de acordo com os boatos veiculados, mas como mencionei na coluna retrasada, o time dos energéticos inicia em 2026 uma nova parceria em termos de fornecimento de unidades de potência, com a saída da Honda e a entrada da Ford, em que ninguém ainda sabe se serão competitivos no seu primeiro ano. Sem mencionar que a escuderia austríaca precisa melhorar o projeto de seu carro, que neste ano, não se mostra capaz de brigar pelo título, e que não fosse por Verstappen, poderia estar lutando no meio do pelotão, conforme mostram as performances de Liam Lawson e Yuki Tsunoda no segundo carro da escuderia. Palou está no melhor time da Indycar, a Ganassi, e já é tetracampeão em apenas seis temporadas disputadas na competição. Como mencionei, trocar o certo pelo duvidoso seria muito arriscado, e o espanhol não está disposto a correr este risco… Pelo menos, por enquanto. Pode ser que ele mude de opinião no futuro, mas no presente, dificilmente a F-1 verá Palou ao volante de um de seus carros no grid da competição… Mas, como o próprio Chip Ganassi, dono da escuderia que Palou defende, fala sobre certos assuntos, “nunca diga nunca…”, lembrando que tudo pode mudar no futuro, dependendo das circunstâncias… Veremos o que acontecerá...

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

HAVOC SERIES - A TEMPORADA DE 1987 – PARTE VIII

O acidente de Nigel Mansell encerrou prematuramente a disputa do título da temporada de 1987, coroando Nélson Piquet como tricampeão mundial de F-1.

            E aqui chegamos à parte final desta série de postagens trazendo todas as corridas da temporada de 1987. Com duas provas para o encerramento da temporada, o duelo entre Nigel Mansell e Nélson Piquet agora era exclusivo da dupla da Williams, e o brasileiro chegava a Suzuka, novo palco do GP do Japão, depois das primeiras corridas realizadas nos anos 1970, na pista de Fuji, e é claro que a Honda estava eufórica: pela primeira vez faria um campeão de pilotos, como ele poderia sair no circuito de sua propriedade, nos arredores de Nagoya. E como se daria essa luta? Mansell chega mais pressionado do que nunca: afinal, Piquet ainda portava 12 pontos de vitória, e apenas vencer não era suficiente, Nélson precisaria não marcar pontos, no mínimo, para o inglês assumir o controle da situação na provável decisão que fosse feita em Adelaide, na Austrália, duas semanas depois.

            Mas Mansell nem chegou a correr: sofreu um violento acidente nos treinos classificatórios de sexta-feira, tentando ser mais rápido que Piquet, que foi 1s mais rápido que ele, e isso acabou definindo o título a favor do brasileiro. Mansell não poderia disputar o GP por ordem médica, e com isso, seria impossível ainda levar a disputa para a próxima corrida. E assim, Piquet alinhou para a largada na 5ª posição do grid como mais novo tricampeão da história da F-1. Uma conquista que, como ele mesmo frisou, não havia sido conquistada em Suzuka, mas durante todo o campeonato, a mais pura verdade. Seu conjunto de resultados foi o mais impressionante visto até ali, e o piloto que mais pontos conquistou na luta de um título, uma marca contundente para a época.

            E a Williams... Bem, a Williams teve o desgosto de apostar quase descaradamente no cavalo errado, e perder sua aposta! Depois de ficar escaldado na segunda metade de 1986, quando viu que o time queria fazer Mansell campeão, mesmo que isso significasse deixa-lo de lado, Nélson tratou de começar 1987 com o desconfiômetro mais do que ligado. O acidente em San Marino, que lhe deixou sequelas pelo restante da temporada, poderia ter complicado tudo, mas Piquet soube se adaptar o suficiente para ninguém saber o quanto ele estava debilitado... Não para pilotar fundo, mas naquele limite necessário para ser efetivamente campeão. E mesmo assim, ele conseguiu desestabilizar Nigel Mansell o suficiente para derrota-lo na pista, e nos boxes, e olhe que a equipe ainda resolveu tirar a suspensão ativa de cena, porque Piquet se entendia com ela, enquanto Mansell não, e disseram que isso era para não “influenciar” a disputa. Alguém acreditou nessa conversa fiada?

            Mas é claro que ainda tivemos uma corrida naquele fim de semana... Gerhard Berger conquistou a pole-position, com a Ferrari, enquanto Alain Prost e sua McLaren dividiam a primeira fila. Thierry Boutsen (Benetton) e Michele Alboreto (Ferrari) estavam na segunda, e Piquet, apenas na 5ª posição. Curiosamente, como Mansell não pode participar da corrida, a prova ganhou outro brasileiro, com Roberto Moreno sendo autorizado a largar, tendo feito o 27º tempo na classificação. No início, Berger imediatamente impôs sua autoridade, construindo uma vantagem firme na liderança. Prost, em sua McLaren, talvez o único piloto capaz de desafiar Berger pela vitória, sofreu um furo em um pneu na primeira volta e, portanto, estava fora de disputa. Prost, no entanto, fez uma corrida soberba para subir pelo pelotão terminando fora dos pontos, em 7º lugar, mas com o consolo de ter a volta mais rápida da corrida. A Benetton de Boutsen ficou em segundo no início, mas não conseguiu suportar o ritmo estabelecido por Berger, caindo para o quinto lugar. Piquet passou grande parte da corrida atrás do Lotus de Senna, mas não conseguiu encontrar uma maneira de superar seu compatriota, e ainda por cima, teve o azar de abandonar a prova com problemas mecânicos em sua Williams. Stefan Johansson, na McLaren, grudou em Berger, mas o piloto austríaco respondeu e voltou a abrir vantagem, e conquistou uma vitória firme, acabando com o jejum de triunfos do time italiano, que vinha desde o GP da Alemanha de 1985. Ayrton Senna passou dramaticamente Johansson na última volta para ficar em um heróico segundo lugar, e dando à Honda motivos para comemorar, com um de seus pilotos no pódio. Michele Alboreto, na segunda Ferrari, até fez uma uma corrida agressiva para terminar em quarto lugar, com Thierry Boutsen e Satoru Nakajima, o ídolo local, completando os pontos. De salientar que o terceiro lugar de Johansson foi o 54º e último pódio do motor Porsche turbo V-6 projetado pela parceria da marca alemã com a TAG, que foi usado pela primeira vez na Fórmula 1 pela McLaren no Grande Prêmio da Holanda de 1983. Confiram então o vídeo completo do GP do Japão de 1987 postado no You Tube pelo usuário MrViniciusF1 no link abaixo:

 

https://www.youtube.com/watch?v=4DoZpVa7qQw

 

Mas havia ainda uma corrida para encerrar a temporada de 1987m e ela seria realizada duas semanas depois da prova de Suzuka, na distante Adelaide, na Austrália, prova que desde 1985 passou a fechar a temporada da F-1. Gerhard Berger, com a Ferrari, encerrava a temporada em alta, e conquistava novamente a pole-position para a corrida final no circuito urbano de Adelaide. Alain Prost, da McLaren, dividia a primeira fila do grid, e logo atrás, Nélson Piquet e Ayrton Senna ocupavam a segunda fila, com o novo tricampeão mundial largando na 3ª posição, logo à frente do compatriota da Lotus. E havia de novo a presença de Roberto Moreno no grid, com a pequena AGS, largando em 25º, um feito para um carro tão pouco competitivo. Nigel Mansell, em recuperação médica, ficava de fora, e em seu carro teria Riccardo Patrese, que seria seu companheiro de equipe na Williams em 1988. Patrese, então, reeditava na Williams, ainda que por apenas esta corrida, a parceria que teve com Nélson Piquet quando foram companheiros na equipe Brabham, em 1983, e por coincidência, outro ano em que o brasileiro também foi campeão da F-1. Com a luz verde, Piquet passou por Berger para assumir a liderança ainda na primeira chicane, enquanto Alessandro Nannini, da Minardi abandonou imediatamente depois de bater no muro logo na saída. Mas Berger, confiante depois de sua vitória na corrida anterior no Japão, repassou Piquet ainda na primeira volta, e começou a abrir vantagem a partir dali, mostrando que seria novamente difícil discutir a vitória com o austríaco.

A batalha pelo segundo lugar entre Piquet, Prost, Michele Alboreto e Ayrton Senna mudou pouco até a volta 35, quando Piquet parou nos boxes para trocar pneus e caiu para o sexto lugar. E alguns pilotos começaram a ter problemas com os freios. Teo Fabi, com a Benetton, foi o primeiro a abandonar por este problema, que também levou ao abandono Stefan Johansson na McLaren, em sua prova de despedida do time de Woking. Só que, logo depois, Alain Prost também ficaria pelo caminho, e Nélson Piquet também despedia-se da Williams com problema similar, ficando sem terminar as corridas finais da temporada já na condição de campeão mundial. Com estes problemas, Berger, Senna e Alboreto ficavam como os três primeiros na pista, seguidos por Boutsen e Patrese, mas este também ficou pelo caminho faltando poucas voltas para a bandeirada final. Ao fim das 82 voltas, Gerhard Berger e Michele Alboreto conseguiram uma grande dobradinha para a Ferrari no encerramento da temporada. E Thierry Boutsen terminava o ano com um belo 3º lugar. Inicialmente, porém, Ayrton Senna havia terminado em 2º lugar, posição até que lhe dava o vice-campeonato mundial na classificação, porém, na verificação pós-corrida, descobriu-se que os dutos de freio no Lotus do brasileiro Senna eram grandes, resultando em sua desqualificação da corrida, promovendo então Alboreto, inicialmente o 3º colocado, para o 2º lugar, e Boutsen em terceiro. Jonathan Palmer, da Tyrrel, ficou em quarto, com Yannick Dalmas (Lola) em quinto e, vejam só, Roberto Moreno (AGS) em sexto, marcando não apenas o seu primeiro ponto na F-1, mas também o primeiro ponto do Campeonato Mundial da equipe AGS. Confiram então o vídeo completo do GP da Austrália de 1987 postado no You Tube pelo usuário MrViniciusF1 no link abaixo:

 

https://www.youtube.com/watch?v=sgzRhWhRDfQ

 

E assim, encerramos esta série de postagens que trouxeram todas as corridas da temporada de 1987, que consagrou o tricampeonato de Nélson Piquet, que se juntava a lendas da história da F-1 como Jackie Stewart e Niki Lauda, e talvez o mais importante, de um piloto que derrotou seu próprio time na briga para ser campeão mundial, visto como a Williams dava uma preferência por vezes descarada até a Nigel Mansell. Isso seria impensável nos dias de hoje, para não mencionar que é muito difícil um piloto esconder segredos de seu time. Mas agora, ficamos para começar em breve um projeto similar, trazendo as corridas da temporada de 1988, que consagrou Ayrton Senna como campeão mundial da categoria máxima do automobilismo. Portanto, nos vemos em breve, quando dermos início a este novo projeto aqui no blog, na sessão de vídeos da Havoc Series...

Nélson Piquet conquistou o título de 1987 com todos os méritos, com uma campanha cerebral, vencendo até mesmo a própria equipe, que preferia ter Mansell como campeão.