Vitória antológica de Max Verstappen na chuva no GP de São Paulo, e praticamente garantindo o tetracampeonato mundial.
Se ainda havia alguma
esperança, ainda que tênue, de Lando Norris chegar ao título da temporada 2024
da Fórmula 1, o resultado do GP de São Paulo domingo passado sacramentou
definitivamente o título do piloto holandês Max Verstappen, que ainda não
fechou matematicamente a conquista, mas é mera formalidade. Será o quarto
título do piloto da Red Bull, que pode sagrar-se campeão já em Las Vegas, a
depender do que ocorrer na pista, não importando se ainda teremos mais duas
etapas para fechar a temporada. E com todos os méritos.
O desafio já era complicado, dado o modo como a McLaren e Norris vinha tirando a desvantagem pontual para Verstappen. Com o melhor carro da competição, equipe e piloto não souberam aproveitar o seu momento, e permitiram ao holandês ir administrando a situação com razoável confortabilidade, ainda que Max tenha perdido as estribeiras em algumas oportunidades, mostrando estar sentindo a pressão, e tomando certas atitudes na pista que não se justificavam, o que lhe rendeu diversas críticas, várias delas, justas, por sinal.
Críticas que o piloto holandês mandou enfiar nos jornalistas domingo passado, depois de um show monumental na pista de Interlagos, onde o tricampeão largou em 17º, e venceu a corrida com uma performance soberba, deixando todos os demais pilotos no chinelo, especialmente Norris, que largando na pole-position, já começou a vacilar logo na largada, quando permitiu que George Russell saísse melhor e tomasse a liderança da corrida, que ele custaria muito a recuperar. Um piloto que quer ser campeão do mundo não pode vacilar dessa maneira, seja para qual piloto for na pista. E vimos um repeteco depois ainda pior, quando Norris ficou “entalado” atrás de Charles LeClerc, da Ferrari, sem que o inglês conseguisse superar o monegasco, que estava levando a Ferrari nas costas. Isso acabou por relegar Norris a uma ínfima 6ª posição na bandeirada. Sem comentários. Helmut Marko descreveu o problema de Lando, de que ele não tem o “instinto matador” de Verstappen. Alguém pode questionar a declaração do dirigente, por mais puxa-saco que ele sempre tenha sido do holandês? Basta comparar o desempenho que vimos de Norris e de Verstappen. Norris partiu da pole, e em tese tinha tudo para se manter na frente... Mas não foi o que vimos.
Enquanto isso, partindo lá atrás, em 17º lugar, Verstappen dava um dos maiores shows de sua carreira, passando os concorrentes no melhor estilo Ayrton Senna, e conseguindo chegar rapidamente entre os primeiros colocados. Se é verdade que ele deu sorte na bandeira vermelha, não é menos verdadeiro que ele se colocou mais do que por méritos próprios na posição ideal para fazer proveito do momento, ganhando um pit stop gratuito enquanto alguns rivais, especialmente o inglês da McLaren, não tiveram a mesma sorte. Dali em diante, foi apenas uma questão de atacar no momento certo, assumir a liderança, e dar tchau para todo mundo rumando firme para a vitória, a primeira desde o GP da Espanha, seu último triunfo, cerca de 10 GPs atrás. Mas justamente quando precisava reagir, eis que Norris resolveu cometer erros, seguindo reto no S do Senna, e mostrando ali que já estava irremediavelmente derrotado na luta pela vitória em Interlagos, mas também no campeonato de pilotos de 2024. Com pista livre, e muito melhores condições de visibilidade, Verstappen pode ter tido facilidade para imprimir um ritmo mais veloz, repetidas vezes, mas isso não diminui a sua genialidade em pilotar daquela maneira no molhado, onde o menor erro poderia ser fatal.
Max Verstappen no ataque, na chuva, superando seus adversários um a um, como a Ferrari (acima), ou a dupla da Alpine (abaixo), após a relargada, e assumindo a liderança da corrida.
Méritos também para a Red Bull que apesar dos pesares, soube manter a cabeça fria em meio às interpéries da corrida, e conseguiu, depois de treinos e classificação complicados, providenciar um carro que permitisse a Max demonstrar todo o seu talento no molhado, algo que Mercedes e Aston Martin não conseguiram proporcionar a seus pilotos ases na chuva. Fernando Alonso não conseguiu aproveitar as condições instáveis de chuva para driblar os limites de seu pouco competitivo carro, acabando até por errar durante a corrida, mas nada tão bizarro como foi ver seu colega de time Lance Stroll sair da pista e ainda ficar atolado numa manobra imbecil na caixa de brita na curva do lago. Já Lewis Hamilton, que também não conseguiu apresentar uma performance decente na curva, teve talvez o carro mais instável de todo o ano, sendo nítida a diferença de comportamento entre seu carro e o Russell, bem mais estável. Os dois campeões, contudo, mesmo que estivessem com seus carros minimamente melhor ajustados, certamente não conseguiriam fazer frente à monumental atuação de Verstappen. E antes que alguém comece a dizer que isso é desculpa furada, é preciso lembrar que até mesmo Ayrton Senna, o “mago” das provas de chuva, já teve algumas atuações horríveis em pista molhada, mostrando que nem mesmo ele era infalível se não tivesse um carro minimamente decente nestas condições.
Norris já tinha tido uma saia justa no sábado, na corrida Sprint, onde precisou da ordem do time para ganhar a corrida, uma vez que Oscar Piastri havia largado na frente e mantinha-se na liderança, sem que Lando conseguisse efetivamente tomar a dianteira por conta própria, como deveria ser praxe para quem quer brigar pelo título. Piastri, por sua vez, não demonstrou muito companheirismo em ceder logo a posição, como deveriam combinar, para facilitar as coisas e ele ajudar o time neste momento com maior presteza. Mas também falta de pulso da McLaren em combinar de forma mais efetiva este tipo de situação, o que o time já tinha demonstrado falta de tato na etapa da Hungria, que causou uma desnecessária celeuma sobre a escuderia, sobre quem deveria vencer a prova. Sempre se questionou se aqueles pontos não fariam falta a Norris quando chegasse a hora do embate com Verstappen, mas depois do que vimos domingo, tal discussão torna-se completamente inócua.
Afinal, agora a distância de Verstappen para Norris é de “apenas” 62 pontos. Temos 3 provas, e mais uma Sprint até fecharmos a temporada em Yas Marina, tendo um total de 86 pontos em jogo. O que já era complicado ficou praticamente impossível, e somente um azar monumental de Verstappen, aliado a vitórias incontestáveis de Norris poderiam reverter essa situação, algo muito, muito difícil de ocorrer, embora não impossível. Mas, depois do resultado de Interlagos, a sorte de Lando foi selada, e ele terá de se contentar com o vice-campeonato, e isso se a Ferrari não vir para cima com tudo nestas etapas finais, podendo entornar o caldo, e na pior das hipóteses, fazer o piloto da McLaren amargar a 3ª posição final na classificação, inclusive com o time de Maranello podendo levar o título de construtores no lugar da equipe de Woking.
Por outro lado, também
se torna mais premente as críticas ao excesso de agressividade de Verstappen em
provas recentes, como nos Estados Unidos e no México, onde o holandês meio que
extrapolou nos duelos com Norris. Nada daquilo era necessário, bastando apenas
marcar o inglês, para neutralizar tanto quanto possível os prejuízos advindos
dos resultados normais. Bastava Max pilotar como fez em Interlagos, mostrando
que não precisava estrebuchar daquele jeito na pista como andou fazendo. Ele
será campeão com todos os méritos, e poderia passar sem cometer algumas mazelas
na pista dando a entender que parece vulnerável sobre pressão direta, o que
poderia até ter comprometido mais seus resultados.
E a McLaren sentiu o golpe, tanto que agora vem dizer que o objetivo sempre foi o título de construtores, e não o de pilotos, mas se fosse assim de fato, não justificava a troca de posições entre Piastri e Norris na corrida Sprint, como fizeram. Vale lembrar que esta é uma nova McLaren, com uma direção que há tempos já não consta com seus nomes históricos, como Ron Dennis no comando de tudo. Zak Brown ainda precisa aprender a disputar títulos a fundo, e para isso, precisa aprender com os erros cometidos este ano, e não foram poucos, e levar isso como aprendizado para 2025. Já foi um grande mérito o time de Woking ter conseguido alcançar o patamar técnico atual, contando com um dos melhores carros do grid, e candidato ao título de construtores, se lembrarmos de anos recentes onde a escuderia inglesa era mera figurante na competição, onde até mesmo chegar ao pódio parecia tarefa impossível. Se conseguir manter sua coesão técnica, continuando a apresentar bons carros, uma hora vai voltar a encontrar o caminho das pedras para voltar a ser campeã de pilotos também.
No presente momento, embora conte com uma dupla reconhecidamente talentosa, tanto Lando Norris quanto Oscar Piastri ainda precisam de mais traquejo e vontade férrea para entrarem firmes em uma luta pelo título, num patamar muito mais exigente do que o necessário para vencer uma corrida ou outra. Um traquejo que sobra em Max Verstappen, e que o holandês não hesita em partir para o ataque com tudo, ainda que por vezes demonstre descontrole emocional dependendo da pressão. Resta esperar para ver se ambos assimilam as lições desta temporada, para tentarem a sorte novamente no próximo ano. Será um teste de fogo tanto para a escuderia de Woking quanto para Norris e Piastri. Uma nova derrota, a depender das circunstâncias, poderia comprometer seriamente a imagem da McLaren e de seus pilotos enquanto competidores capazes de vencer e de lutar pelo título de campeão de fato. E pode ser complicado se livrar desta má fama, se ela pegar de vez.
Veremos a decisão do título em Las Vegas? Para a Liberty Media, que promove a corrida, e jogou toda a sua reputação nela no ano passado, poderia ser emblemático fazer o campeão sair nos Estados Unidos, onde aposta alto na popularização da F-1, com direito a ter 3 GPs por ano atualmente. Mas para Max, será só mais uma corrida. E ele vai cuidar de dar o seu melhor. Se o título vier, ótimo. Se não vier, certamente continuará muito bem encaminhado. Virou mera formalidade para o holandês. Os concorrentes que façam melhor no próximo ano, se quiserem encerrar o domínio do piloto holandês. Este ano até que saiu melhor que a encomenda, do modo como a temporada começou. Já estamos no lucro, apesar de mais um título do piloto da Red Bull. Que venha 2025 então...
Lewis Hamilton teve seu melhor momento na etapa brasileira quando guiou o McLaren MP4/5B com o qual Ayrton Senna foi bicampeão em 1990. O heptacampeão deu algumas voltas pela pista debaixo de chuva com o carro, levantando a torcida que lotava o encharcado autódromo paulistano, evocando também as lembranças do tricampeão brasileiro, ídolo de Hamilton, em sua pilotagem na chuva. Hamilton, contudo, foi além, e pegou de um fiscal a bandeira brasileira, emulando o gesto de Ayrton na última vitória de sua carreira, na Austrália em 1993, dando mais uma volta pela pista segurando nossa bandeira. Houve algumas escaramuças sobre a escolha de Lewis para guiar a McLaren de Senna, com alguns ex-pilotos, Rubens Barrichello e Émerson Fittipaldi, criticando abertamente a opção de Hamilton guiar o carro de Senna, e não um brasileiro, mas se levarmos em conta que Hamilton sempre se declarou um fã de Senna, a escolha não é tão polêmica assim, lembrando que em outra ocasião, Gerhard Berger guiou a mítica Lotus preta e dourada que Ayrton guiou em seus tempos de Lotus, de 1985 a 1986, e ninguém fez estardalhaço disso na ocasião. O grosso do público aplaudiu Hamilton em suas voltas pelo circuito, e depois quando o piloto estacionou o carro no meio da reta dos boxes e ainda posou novamente com a bandeira brasileira ao lado do carro. Lewis fez questão de afirmar que foi uma das maiores honras de sua carreira poder guiar o carro de seu ídolo. O carro, aliás, era o mesmo chassi com que Senna correu no Japão em 1990, e ainda guardava marcas da batida que o brasileiro deu na Ferrari de Alain Prost logo na largada do GP, resultando no abandono de ambos, mas cujo resultado dava o bicampeonato a Senna, numa espécie de revanche e vingança pelo que Prost havia feito com ele no ano anterior na mesma pista.
Lewis Hamilton ao volante do McLaren MP4/5B de Ayrton Senna, com a bandeira do Brasil, e guiando na chuva, emocionou os fãs.
Se Max Verstappen deu um grande show em Interlagos, não foi menos épica a performance da dupla da equipe Alpine, Esteban Ocón e Pierre Gasly, que aproveitaram-se também da chance de trocar pneus durante a bandeira vermelha, e se posicionaram nas primeiras colocações da prova quando de sua relargada. Óbvio que ambos acabaram sucumbindo à pilotagem magistral do piloto da Red Bull, que até ficou algumas voltas atrás, mas tanto Ocón quanto Gasly souberam se manter firmes na pista, especialmente Pierre, que passou boa parte do final da corrida sendo acossado por George Russell, mas conseguiu garantir o pódio com a 3ª colocação, enquanto Ocón, já de saída para a Haas em 2025, garantiu a dobradinha do time francês no pódio brasileiro com seu 2º lugar. O pódio duplo fez a Alpine dar um salto na pontuação, onde pontuou só no GP brasileiro mais do que em toda a temporada até aqui (35 contra 14), e fez a escuderia saltar para a 6ª posição, com 49 pontos, deixando Haas, Visa RB e Williams para trás, uma vez que estava à frente apenas da Sauber, que estava (e ainda está) completamente zerada no ano. Foi um resultado para lavar a alma do time francês na temporada, e até da Renault, que está de saída da F-1 ao fim da próxima temporada, diante dos altos custos de fabricação de um propulsor da categoria. Para não mencionar de Ocón e Gasly, que vinham tendo um ano dos mais complicados com o pouco competitivo carro da escuderia, que mais dissabores deu do que satisfação propriamente.
E o Brasil enfim voltará a ter um piloto no grid da F-1 em 2025, depois de sete anos, com a confirmação de Gabriel Bortoleto como titular na Sauber, futura equipe Audi. A comentar em breve por aqui...
A Formula-E, diante dos problemas das chuvas torrenciais que atingiram a região de Valência, na Espanha, causando inúmeros estragos e deixando muitos mortos e desabrigados, precisou alterar sua programação da pré-temporada, que estava marcada para ocorrer esta semana no Circuido Ricardo Tormo, nas cercanias da cidade. Embora o autódromo não tenha sofrido danos com os temporais, a principal estrada de acesso ao autódromo sofreu danos, dificultando a passagem dos veículos. Porém, a direção do certame de carros elétricos achou por bem não ocupar a pista, diante da necessidade das autoridades locais precisarem canalizar todos os seus recursos no socorro às regiões afetadas, e por isso, mudou o palco dos testes da pré-temporada para a pista de Jarama, localizada na zona norte de Madri, a capital espanhola.