A temporada 2024 da Fórmula 1 nem começou, mas já tivemos algumas “bombas” neste início de ano que certamente dão o que falar, sendo o mais recente a notícia de que Lewis Hamilton irá defender a Ferrari em 2025, na mais espetacular troca de escuderia de um piloto na competição na última década. Um assunto que está bombando mais do que qualquer outra coisa, dada a importância do acontecimento, ainda que seja somente para o próximo ano. Mas, pouco antes dessa notícia vir à tona, a F-1 tomou uma das mais vergonhosas e cretinas decisões de sua história recente, em algo onde ela certamente não merece o menor comedimento nas críticas a serem feitas, mas levar pau e da forma mais contundente possível, pela falta de caráter e sem-vergonhice apresentadas.
Refiro-me à recusa de permitir a entrada da Andretti como time de competição no grid da categoria máxima do automobilismo. Um “não” que, tivesse argumentos razoáveis, poderia até fazer sentido, porém, não é o caso vivenciado. Muito pelo contrário, a maioria dos times do grid acabou fazendo um coro despudorado contra ter uma 11ª equipe no grid, não escondendo de ninguém que o principal e único motivo era não querer mais ninguém para dividir o bolo dos lucros da competição, pura e simplesmente.
Mas, obviamente, e acreditando que os fãs e o resto do mundo são meros trouxas, como fazem certos políticos brasileiros que são endeusados por uma legião de ignorantes e imbecis, eis que a Liberty Media resolveu apresentar justificativas de sua decisão que são apenas para “americano ver”, de tão irreais e cretinas. Uma patifaria sem tamanho, para não mencionar outros adjetivos muito menos educados e ofensivos.
A justificativa começa alegando que a Andretti não agregaria valor ao grid da F-1, ao contrário, a equipe dos Estados Unidos é que estaria se valendo da F-1 para agregar valor a si mesma, e não à competição, onde a única forma de mostrar valor seria sendo competitiva. Eles disseram em alto e bom som que o novo time não será competitivo, e portanto, será apenas prejudicial ao grid, alegando que sua presença acarretaria gastos extras apenas, pura e simplesmente, sem trazer benefício algum à categoria.
Alegar que a Andretti não será competitiva? O carro nem está pronto, mas se formos usar isso como justificativa, então no ano passado tivemos apenas um time realmente competitivo, que foi a Red Bull, que ganhou quase tudo, enquanto os demais times, podemos dizer, foram incompetentes para competir com a equipe dos energéticos, e certamente a temporada de 2023 foi um dos anos mais maçantes e monótonos da competição em todos os tempos, à exceção, claro, dos torcedores de Max Verstappen, o campeão reinante.
E, se formos falar de forma mais restrita, o que dizer da performance ainda mais pífia de times como Haas, Williams, e Alfa Romeo? Até mesmo a Alpha Tauri foi uma escuderia miserável em boa parte da temporada passada. Duvido muito que a Andretti tivesse desempenho tão ruim, se a F-1 aceita estes times já existentes com estes desempenhos no grid.
A F-1 não julgou "sérias" as capacidades da Andretti e da Cadillac para competir na F-1, mas tentaram passar a todo custo uma rasteira na Andretti para seduzir a marca norte-americana de carros.
A Liberty fala em
agregar valor, mas nem dá chance de se provar esse valor. E a Andretti não
pretende simplesmente fazer uma “aventura” na F-1, mas competir de fato. Entre
os argumentos usados para justificar a falta de capacidade do novo time está em
alfinetar sua participação nas categorias onde compete, alegando que a Andretti
apenas se vale de equipamentos de terceiros, enquanto na F-1 é preciso
construir o próprio carro, e que eles não teriam o “Know How” necessário para
isso. É verdade que, tanto na Indycar quanto na Formula-E, as categoria usam
equipamentos padronizados. A Dallara fornece os chassis para todos os times da
Indycar, enquanto na F-E isso é feito pela Spark. A categoria de monopostos
norte-americana usa propulsores Chevrolet e Honda, sendo que a Andretti usa os
motores japoneses; na F-E, o time usa os trens de força da alemã Porsche. Mas
alegar que, por causa disso eles não seriam capazes de conceber um carro de F-1
é forçar a barra, achando que a Andretti não sabe o tamanho do desafio que a
espera no objetivo de competir na categoria máxima do automobilismo mundial. Se
formos ver o raciocínio inverso também pode ser usado: a McLaren participa
tanto da F-E quanto da Indycar, e nestes campeonatos com equipamentos
padronizados, o time de Woking não vem tendo resultados que os coloquem como
favoritos ao título de ambas as categorias. Ora, quem sabe fazer bons carros na
F-1 (pelo menos se usarmos como parâmetro a segunda metade do ano passado) não
consegue ter um desempenho superior quando usa equipamentos iguais aos dos
concorrentes? Então a McLaren não teria assim tanta competência como time. O
raciocínio é apenas para rebater a idéia imbecil que se formula para denegrir a
capacidade da Andretti como time de competição apto a participar da F-1, e
justiça seja feita, o time de Woking é o único que luta efetivamente pela
inclusão da Andretti no grid, evocando os preceitos mais corretos da disputa na
pista. Já a Alpine/Renault, ora defende, ora parece ficar em cima do muro. Infelizmente,
eles são minoria para fazer frente ao pensamento egoísta e bairrista dos demais
times, que com isso assumiram também a primazia do pensamento da FOM/Liberty. E
causa nojo alguém de tanta vivência na F-1 como Stefano Domenicalli, CEO da
Liberty hoje, falar essa ladainha toda, teorizando que alguém com seu currículo
teria bons motivos para reforçar ainda mais a F-1 com novos times. Ou eles
esqueceram que, junto com a Andretti, viriam também novos potenciais
patrocinadores para a F-1, não apenas no time da Andretti, mas podendo apoiar as
demais escuderias.
A Liberty coloca até os promotores de GPs na justificativa, ao alegar que eles teriam gastos extras nos autódromos para cuidar de mais um time, sendo que eles não têm nada a ver com tal argumentação. Eles compram um “pacote” ao sediar uma corrida de F-1, e não ficam vendo se tem equipe X ou Y no grid. Para eles, quanto mais carros no grid, melhores as chances de terem uma corrida mais atrativa, ainda que teoricamente. Usar isso como se fosse um argumento para “protegerem” os promotores de GPs beira o ridículo, quando eles não vem apresentando taxas cada vez mais escorchantes para se poder sediar um GP, prática que já vem de longa data, desde os tempos aúreos de Ecclestone & Cia. Bela desculpa... Será que as taxas cada vez mais astronômicas não prejudicam eles então...?
O que chamou atenção foi a Liberty ter apresentado tantas “razões” para justificar sua decisão, como que tentando dissimular sua clara intenção de fazer a F-1 permanecer um “Clube do Bolinha” fechado apenas aos atuais participantes. Talvez com receio de a Andretti apelar aos tribunais europeus, algo que seria bem possível, até porque o regulamento da FIA estabelece um limite de 12 times e 24 carros no grid, ou seja, há vagas sobrando. Mas reservam-se o direito de decidir quem pode ou não participar, sob a desculpa de que “proteger” a imagem da competição. É sério isso, porque não é!
Alegar que, ao tentar correr em 2025, no último ano de um regulamento técnico que mudará em 2026, adiciona dificuldades iniciais que “irão comprometer” a viabilidade do projeto é outra falácia das mais abjetas. Como se a Andretti não tivesse ciência disso, já que as novas regras para 2026 já são conhecidas de todos. Isso de fato poderia ser algo a complicar a entrada da Andretti, pelo esforço de ter de se dedicar a dois projetos de carros, sendo que um deles só teria utilidade mesmo em um ano, tendo de ser descartado para o seguinte, pelas mudanças técnicas. Adiar a entrada para 2026, junto com as novas regras, seria o procedimento mais correto. Porém, eles não abrem essa possibilidade em nenhum momento de suas “justificativas”.
Michael Andretti volta a ter um tremendo desgosto com a F-1. Antes foi como foi tratado como piloto, em 1993, e agora, recebe novo desaforo como dono de equipe.
A entidade chega até
mesmo a atacar a entrada da GM apenas em 2028 usando isso como mais outra
justificativa para alegar que o projeto do time dos Estados Unidos não é sério
como parece ser, alegando que nem mesmo motor eles possuíam para garantir sua
participação. A Andretti nunca escondeu que sua intenção, de início, era
competir com uma unidade de potência já existente, em especial da Renault, com
quem tinha até um pré-contrato, que apesar de já ter expirado, e não sido
renovado, poderia ser reefetivado sem maiores problemas. Algo muito plausível,
e nada que comprometesse a seriedade da iniciativa, como a Liberty tenta fazer
crer na maior cara de pau. Um tempo maior para a GM produzir sua unidade de
potência lhes daria condições de construir um propulsor bem mais confiável, uma
vez que todos os fabricantes atuais do grid já estão com seus projetos sendo
desenvolvidos para estréia em 2026 do novo regulamento técnico. Não haveria
problemas em a Andretti correr com propulsores Renault em 2026 e 2027, antes da
chegada efetiva da Cadillac como fornecedora de motor.
Mas, aqui, novamente uma justificativa estúpida é apresentada: ter de fornecer motor a mais um time “pressionaria” os fabricantes do grid atual, como se a Renault, principal candidata a fornecedora, não tivesse condições de construir mais unidades, sendo que atualmente ela só tem seu próprio time, a Alpine, como usuária dos propulsores. E aqui, vale lembrar de um detalhe importante que deixa a marca francesa em desvantagem na competição: por ser a única usuária de seus equipamentos, ela não tem como obter dados de desenvolvimento e uso de suas unidades de potência na mesma eficiência dos demais concorrentes, que tendo mais de um time como usuários, podem fornecer muito mais feedback para seus engenheiros evoluírem os equipamentos, o que seria vantajoso para a Renault até, que contaria com o trabalho da Andretti para obter mais dados de seus equipamentos.
Mas, claro que aqui, até esse fornecimento é tratado como “vítima”, tendo sido mencionado que as unidades francesas seriam alvo de “espionagem industrial” ou similar por parte da escuderia para fornecer à GM dados cruciais de desenvolvimento necessários para a concepção de um propulsor deste tipo de porte e tecnologia. Nossa, a GM iria “roubar” os dados dos propulsores Renault! Que idéia mais viajada! Será que a GM não teria competência para fazer seus próprios propulsores? E, claro, chegaram a usar até isso contra a própria GM, que não estaria envolvida de forma “séria” no projeto, para contrapor ao que a Ford estaria fazendo, já tendo firmado acordo de desenvolvimento com a Red Bull Powertrains para concepção da nova unidade de potência da escuderia dos energéticos em 2026. Aliás, seria interessante vermos o confronto Ford X GM na F-1, e eles até admitem que isso seria um atrativo, mas trataram de jogar pedras no projeto assim mesmo, colocando mais e mais obstáculos a cada passo dado pelos Andretti na tentativa de conseguir entrar no grid.
Michael Andretti se cercou dos detalhes necessários para mostrar capacidade para entrar no grid, de forma séria e calculada. Já há um carro sendo testado em túnel de vento, certo, sob as regras ainda vigentes em 2025, mas já se preparando para entender a dinâmica e funcionamento do bólido, visando uma estréia efetiva mesma em 2026, com as novas regras técnicas que entrarão em vigor. E eles estão mais do que certos em começar já, pois competir na F-1 não é algo trivial, e diferente do que foi feito em 2009, quando a FIA fez uma seleção de novos times com resultados desastrosos para engordar o grid, agora o processo de seleção da entidade que comanda o automobilismo mundial foi bem mais criterioso e acima de tudo, técnico. Não por acaso, de três candidatas que surgiram quando a entidade abriu o prazo para candidatos interessados, o projeto da Andretti foi o único aprovado, enquanto os outros dois acabaram não ganhando a chancela para seguir adiante com seus planos.
Mas, até mesmo essa aprovação é colocada em dúvida pela Liberty, ainda que de forma velada, e não escancarada, mas que só quem não quer ver ignora. A FIA e a Liberty não andam se bicando bem ultimamente, e para a empresa dos EUA, a aprovação da FIA foi um “golpe” para fazer a F-1 engolir o novo time a contragosto, e não que a Andretti tenha capacidade de competir a sério. Seria mais uma jogada de Mohammed Ben Sulayem para medir forças com a Liberty, já que no ano passado o presidente da FIA andou dando algumas declarações que deixaram a empresa furiosa, alegando tentativa de desqualificar o campeonato da F-1, entre outros pecados. Aceitar o novo time seria visto por eles como uma capitulação frente à FIA, numa disputa de poder entre ambas que penderia então para a entidade sediada em Paris.
Aliás, se estamos vendo esse cabo de guerra entre a FIA e a FOM/Liberty, agradeçam a Bernie Ecclestone, que ao construir seu império criando a então FOCA para gerir os interesses comerciais da competição, tratou de amarrar tudo em diversos contratos, entre eles o famoso “Pacto de Concórdia”, acordo que regulamenta direitos e obrigações de todos os participantes da F-1, de forma a garantir seus interesses, e até para se garantir caso a FIA viesse a ter um presidente hostil a ele, deu um jeito de garantir a praticamente independência do gerenciamento da F-1 em relação à FIA. Mas, no fim, com a venda da FOM para a Liberty Media, quem dançou foi justamente Ecclestone, uma vez que os novos proprietários não viram lugar para ele em sua estrutura de comando, e o inglês ficou meio a ver navios, não apitando mais nada na categoria. Mas as sequelas dos acordos gerenciais ficaram. E são eles que estão atravancando a situação.
E tudo se resume a dinheiro, pura e simplesmente, como a maioria das equipes fez questão de deixar claro desde o início, alegando que os demais times teriam “prejuízo” com a entrada do novo time, que por sua vez, ganharia acesso aos lucros gerados pela F-1, os quais não lhes seriam merecidos. Segundo eles, com o momento atual de popularidade da categoria, e o teto de gastos, os times participantes atuais estão, pela primeira vez, saudáveis em termos financeiros, e a entrada da Andretti colocaria essa estabilidade em risco, por diminuir o quinhão que cada time recebe dos lucros da competição.
Mas é claro que, nas justificativas, nada disso aparece, pelo menos, não descaradamente. O motivo maior é a defesa da “agregação de valor” à F-1, e na opinião deles, fica claro o viés de apresentar a Andretti apenas como uma empresa oportunista tentando se aproveitar do grande e valoroso campeonato mundial da Fórmula 1, em nada de contribuindo para esse valoroso certame que disputa provas pelo mundo inteiro (ou quase, já que a África não faz parte da competição há décadas). Mas, claro, eles ainda tentam posar de bonzinhos, chegando a dizer que, assim que a GM tiver o seu motor Cadillac pronto, eles enfim provar-se-ão dignos de entrar no grid. Nossa, que bonzinhos que eles são... Contem outra, pessoal, pois essa é apenas mais uma falácia para quem quiser acreditar, como foram as tentativas de desqualificar a pretensão da Andretti.
Até mesmo a “chance” alegada pela Liberty Media de que em 2028, com a GM chegando junto, via Cadillac, eles “poderiam” então ser aceitos, mas a rigor, isso pareceu apenas uma desculpa ainda mais esfarrapada para alegarem que não fecharam as portas para a entrada do time norte-americano. Mas, quem garante que, até lá, não inventem outra razão, por mais controversa e esdrúxula que pareça, para novamente impedirem o time de entrar na disputa? A Liberty sondou a GM, com o objetivo nada sigiloso de atrair a gigante do mercado automobilístico dos EUA a vir para a F-1, sim, mas desde que fosse SEM a Andretti, ao que a montadora de Detroit deu um sonoro NÃO na cara do pessoal da entidade que gerencia comercialmente a categoria máxima do automobilismo, dizendo com todas as letras que terão de aceitar a Andretti se quiserem a Cadillac na F-1, e não o contrário. O objetivo da manobra, na maior cara dura, era alijar o principal trunfo de Andretti para provar que tem os recursos e capacidades para disputar a F-1. Basta vermos o escarcéu que a própria categoria fez quando finalmente seduziu a Audi, depois de anos de tentativas frustradas, e depois, viu o retorno da Ford ao grid, para a temporada de 2026 como outro trunfo grandioso para a categoria. Só que para estas duas, elas estão vindo associadas a times já existentes, o que serviu de grande desculpa para serem aceitas.
Diante disso, a postura da FIA, de apenas declarar estar trabalhando para se chegar a um consenso, sem mostrar muito a que veio, não indica que teremos uma solução viável, e a F-1 segue “congelada” em apenas 10 times, sendo que várias outras categorias do automobilismo se orgulham, e com razão, de terem mais participantes e empresas engajadas em seus certames do que a própria F-1, o que deveria ser um motivo ainda mais vergonhoso para a chamada “categoria máxima do automobilismo”, que neste momento, parece ser a “baixesa máxima do automobilismo”.
Esta decisão faz a Liberty Media, por coincidência uma empresa dos próprios Estados Unidos, a darem um tiro no próprio pé. Depois de anos da gestão engessada de Bernie Ecclestone na direção da FOM, a entidade que gerencia comercialmente a categoria máxima do automobilismo, a nova administração da categoria promoveu algumas mudanças importantes que foram muito bem-vindas para relaxar o ambiente extremamente fechado do grid, e permitindo uma aproximação maior dos fãs com equipes e pilotos, além de tomar algumas medidas para tentar atrair e/ou renovar a base de fãs da velocidade para a competição. Entre essas medidas, está a liberação das redes sociais, uma das grandes vertentes da internet a nível mundial, que ainda era tabu na F-1 por não “pagar direitos” sobre as imagens da categoria, uma regra totalmente inflexível na gestão do velho Bernie.
Mas agora, depois de conseguir revitalizar a imagem da F-1, devolvendo-lhe com certo orgulho o título de “categoria máxima do automobilismo”, não há como negar que a Liberty parece começar a tropeçar nas próprias pernas, além de querer tornar a categoria cada vez mais show business e menos esporte, no que podemos citar o novo GP de Las Vegas, realizado ano passado, como um passo que quase foi um fiasco total, mas que se salvou graças a uma boa corrida, apesar de tudo, e a certo jogo de cintura da situação que ficou muito perto de ser um desastre. E tudo isso para tentar, de uma vez por todas, popularizar a F-1 no maior mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos, que receberam nada menos que três corridas na temporada passada. Com outras iniciativas, como a série “Drive to Survive”, transmitida pela Netflix, parece que a Liberty vem sendo de fato bem-sucedida em criar uma legião de fãs em um mercado de apaixonados pelo automobilismo que nunca se impressionou com a F-1, preferindo seus próprios campeonatos nacionais, muito mais emocionantes e disputados, como a Nascar e a F-Indy/Indycar, ainda que mais arcaicos tecnologicamente.
E agora, a Liberty vem dizer, na maior cara dura, que a empreitada da Andretti NÃO SERÁ ACEITA para participar do grid, mesmo tendo todas as condições (exceto na cabeça deles) de fazer uma participação mais do que aceitável. E vamos lembrar que o nome Andretti é icônico no mundo do automobilismo dos Estados Unidos. Michael Andretti foi campeão da antiga F-Indy, e seu pai, Mario, além de ter sido campeão pela Lotus na F-1, em 1978 (último título conquistado pela lendária equipe de Colin Chapman), ainda já venceu as 500 Milhas de Indianápolis. A Andretti, além de sua participação na Indycar, ainda disputa a Formula-E, onde foi campeã no ano passado com Jake Dennis. Será que essa recusa, ainda mais com justificativas tão idiotas e incrédulas apresentadas, não vai gerar consequências?
Seria exagerado supor que poderia haver um boicote por parte dos fãs, mas seria divertido ver isso acontecer, até pelo descaso, e falta de caráter da decisão proferida. Mas, imaginem se os fãs se doessem, e com isso, deixassem de comparecer aos GPs em solo norte-americano? Seria engraçado, ainda mais depois de a Liberty ser a única culpada de tal decisão das mais descalabradas de sua história.
E, sobre entrar na justiça européia para fazer valer sua inclusão no grid, já que foi plenamente aprovada pela FIA, entidade que, em último caso, é a “dona” da F-1, não é algo irreal, ainda que, pelo seu histórico, a categoria máxima do automobilismo coloque na “geladeira” qualquer um que se atreva a contestá-la. Andretti poderia até conseguir seu ingresso, mas nunca seria aceita de fato, ficando na mira dos demais times, e qualquer deslize seria usado de justificativa para expulsá-la da competição, não coisa pior, não importando como isso poderia denegrir a imagem do campeonato.
O que vemos aqui é que, para muitos, a Andretti é boa demais para a F-1, e faria melhor se desse um pé na bunda da Liberty Media também, que se veria em maus lençóis se algum time no grid falir, ficando com menos que os 20 carros obrigatórios que necessita para viabilizar seus acordos comerciais. Para outros, contudo, a FOM/Liberty está mais do que correta em barrar a Andretti, caindo na lábia dos argumentos frouxos e sem valor declarados por ela. Verdadeiros fãs do automobilismo deveriam repudiar a atitude da Liberty, que cedendo aos apelos egoístas da maioria das escuderias, joga contra o pouco que resta de esporte na competição. Mesmo que usem a justificativa de que a F-1 não deve ter “tranqueiras” no grid, referindo-se aos antigos times que não tinham condições de disputar efetivamente a categoria, eles apenas embarcam no julgamento antecipado de que a Andretti será uma destas “tranqueiras”, sem dar a eles a chance de mostrarem que estão errados. Será que alguém que está investindo tanto em um projeto vai querer parecer ridículo como eles acabam aceitando que vai ocorrer? Pode acontecer, até, mas podem conferir o histórico de participação deles nos campeonatos onde estão presentes. Mesmo que não estejam disputando o título, estão longe de denegrirem a imagem da competição, mostrando postura séria e dedicada. E se preparando com tanta antecedência só reafirma o seu profissionalismo, pois não estão entrando “de última hora” na competição, mas projetando um elaborado cronograma visando fazer uma entrada digna na competição, algo que é ignorado convenientemente nas justificativas da FOM/Liberty. Estes certamente não são fãs reais do esporte como alegam tanto ser.
De tanto falar insistindo em “agregar valor”, tudo que a Liberty Media conseguiu é simplesmente denegrir a imagem da F-1 como competição séria, parecendo mais um jogo de cartas marcadas onde eles decidem quem pode correr, quem pode vencer, e outras estripulias. Defeitos existem em quaisquer lugares, mas quanto mais você quer ser grande, e importante, maior importância assumem as atitudes que se toma na condução e organização de tudo. E os tropeços, bem como atitudes questionáveis e de pura patifaria, também assumem status ainda maiores e questionáveis. Mas não é só a Liberty que deu declarações vexatórias: Guenther Steiner, ex-chefe da equipe Haas, demitido recentemente, fala que a F-1 está “protegendo a Andretti dela mesma”, ao afirmar que eles se sentem mais poderosos e capazes do que realmente são. Bem, Steiner então deveria olhar para si próprio, já que o time que comandou até recentemente, pelo seu raciocínio, nunca poderia estrear na F-1, mas teve a chance, sem ter estas firulas todas, e foi um dos mais empenhados em propagandear a recusa da equipe compatriota, sem mencionar que, no retrospecto recente, é a própria Haas que não está fazendo juz a estar no grid, falando de forma exagerada. Muito provavelmente ele advogava somente em causa própria, pois a Andretti poderia eclipsar a Haas, e roubar dela seu cartaz como time dos Estados Unidos na competição se mostrasse ser muito mais competitiva e competente, algo que não está muito difícil de se fazer dado o nível do time de Gene Haas no presente momento.
O problema é que, atualmente, o mundo parece dar cada vez mais valor e importância às atitudes questionáveis e à falta de caráter e honestidade, em detrimento das virtudes que sempre se propagou serem muito mais importantes. Não que o mundo fosse santo antes, mas ao menos, parecia se importar em parecer santo, por mais imperfeito que fosse. Ao assumir sua falta de torpeza e atitudes duvidosas, e ainda por cima ganhar apoio por ter tais atitudes, só vislumbra um panorama cada vez mais sombrio para o futuro próximo, em um panorama extremamente preocupante.
Esta coluna foi escrita em grande tom de desabafo, e lamentavelmente, não há como relatar isso de outra maneira. Cada vez mais fico decepcionado com tudo, e não é apenas com atitudes como a tomada pela direção da FOM/Liberty. E no ritmo que as coisas estão andando, nem Deus ajudará este mundo a se salvar, muito pelo contrário... Talvez seja melhor mesmo que tudo se acabe, do que persistir no rumo que as coisas andam...
Com todos os times tendo apresentado seus carros para a temporada 2024, a Fórmula 1 começa mais uma piada sem graça semana que vem, que é a pré-temporada, novamente com ridículos e miseráveis apenas três dias de duração, entre os dias 21 a 23, um vexame para uma categoria que preza ser a nata do automobilismo mundial. E com a decisão cretina de, mais uma vez, permitir apenas um carro de cada time na pista, o que dá aos pilotos apenas um dia e meio com os carros, e isso se não acontecer nenhum problema, o que transforma o que deveria ser um grande teste coletivo em um shakedown vitaminado que em nada agrega à preparação para a temporada como deveria ser. E pensar que até recentemente, tínhamos oito dias de testes de pré-temporada, em duas sessões conjuntas. Por mim, dali a pouco, a temporada vai começar com todo mundo já indo para o primeiro treino livre do primeiro GP, no cúmulo dos cúmulos. Os pilotos já reclamam que não tem tempo suficiente para trabalhar nos carros, e que imprevistos podem até inviabilizar toda a pré-temporada de algum time e/ou piloto, dependendo do que ocorrer, mas a F-1 teima em seguir nessa toada. Completamente ridículo este tipo de procedimento... Saudade dos velhos tempos, onde a F-1 não insultava os fãs dessa maneira tão desavergonhada, e todo mundo podia curtir muito melhor as expectativas da pré-temporada...
O circuito de Sakhir abre a temporada 2024 da Fórmula 1, mais uma vez após sediar uma ridícula pré-temporada minúscula de apenas três dias de testes. |
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