Campeão da MotoGP, "Pecco" Bagnaia sofreu nas últimas corridas chegando a perder a liderança na Indonésia na prova de sábado, mas recuperando-a na corrida de domingo. Bicampeonato em perigo?
Ao contrário
da Fórmula 1, que desde a primeira etapa do campeonato já se sabia que ninguém
tiraria o título de Max Verstappen, apesar de algumas falsas esperanças, na
MotoGP o campeonato pegou fogo nas últimas etapas, com direito a reviravolta no
último final de semana, para tudo mudar de novo em pouco mais de 24 horas. Com
o triunfo na corrida Sprint no sábado, na pista de Mandalika, Jorge Martin, da
equipe Pramac, assumiu a liderança do campeonato da classe rainha do motociclismo,
desbancando o atual campeão mundial Francesco Bagnaia, que havia terminado a
prova em 8º lugar. O resultado colocou o piloto espanhol 7 pontos à frente do
italiano no campeonato, e o que parecia até então uma caminhada satisfatório
rumo ao bicampeonato por parte do piloto do time oficial da Ducati poderia
entrar em parafuso, tendo sido superado por um piloto de um time que também usa
motos da marca italiana.
Para a Ducati, apesar de momento delicado, nem tanto a se preocupar. O resultado já deixava a marca de Borgo Panigale como campeã de construtores da temporada atual da classe rainha do motociclismo, que reina na temporada 2023, mas de uma maneira diferente do que vemos a Red Bull fazer na F-1. Na MotoGP, não é apenas o time oficial da Ducati que está vencendo corridas, mas seus times satélites também estão mostrando a excelência da moto italiana, que desde o ano retrasado já vem se mostrando como o melhor equipamento do grid, e que em 2022, permitiu a Bagnaia recuperar uma desvantagem monstruosa em relação a Fabio Quartararo para se sagrar campeão da categoria com uma exibição espetacular.
Este ano, ostentando o Nº 1 em sua moto, Bagnaia vinha fazendo uma campanha sóbria, e apesar de alguns erros, vinha conduzindo a luta pelo bicampeonato com relativa tranquilidade. Mas as últimas corridas apimentaram uma situação que estava até então sob controle do atual campeão e do time oficial da Ducati. Tudo começou na prova de Barcelona, onde Bagnaia sofreu uma queda, e acabou atropelado por Brad Binder, que passou por cima de uma das pernas do italiano com sua KTM. Poderia ter sido um acidente bem mais grave, diante das circunstâncias, mas “Pecco” teve sorte de escapar com ferimentos mínimos, enquanto Enea Bastianini, seu companheiro de equipe, tinha caído na primeira curva e fraturado a mão, precisando se ausentar novamente de alguns corridas, para mostrar como a situação poderia ter sido bem pior.
Mas isso não significa que o campeão reinante escapou sem sequelas do acidente. Na corrida seguinte, em San Marino, na pista de Misano, apenas uma semana depois, era nítido como Bagnaia tinha problemas para se locomover normalmente, sentindo as dores da perna atingida na prova anterior. Ele acabou liberado pelos médicos para correr, mas teve de fazer um enorme esforço para disputar as provas do fim de semana, em especial a corrida de domingo. Então, sem estar na sua melhor forma, o objetivo era minimizar os prejuízos, e não se pode dizer que ele não foi bem: foi 3º colocado tanto na corrida curta de sábado quanto na prova de domingo. Nada mal, considerando-se a forma como estava sentindo a perna. Mas quem aproveitou a chance foi Jorge Martin, da Pramac, que já tinha sido 3º colocado na corrida principal da Catalunha, enquanto “Pecco” tinha ficado fora de combate. Martin arrasou em Misano, vencendo as duas provas do fim de semana, garantindo 37 pontos contra 23 de Bagnaia. Na etapa da Catlunha, Jorge tinha faturado 21 pontos contra 9 do campeão. Só aí foram 26 pontos de desvantagem eliminados.
A situação complicou novamente para Bagnaia na etapa seguinte, na Índia. O campeão mundial ainda salvou um 2º lugar na corrida curta, atrás justamente de Martin, que venceu de novo a prova Sprint. Mas no domingo, “Pecco” foi novamente ao chão justo na prova principal. E quem venceu de novo? Não foi Jorge Martin, mas o 2º lugar, atrás apenas de Marco Bezzechhi, da VR46, fizeram o espanhol da Pramac fechar o fim de semana indiano com 32 pontos contra apenas 9 de Bagnaia, reduzindo a desvantagem em mais 23 pontos, totalizando até ali 49 pontos a mais que o atual campeão mundial. A escalada de Jorge Martin virou a sensação da temporada, e Bagnaia se tornou a “caça”. Um bicampeonato que parecia caminhar naturalmente começou a ser colocado em xeque. Poderia Bagnaia recuperar a forma física, ainda sentindo as sequelas de Barcelona, a tempo de retomar o controle da situação, ou isso poderia ter comprometido suas chances nesta reta final de temporada?
Na etapa seguinte, no Japão, pelo visto, Bagnaia caminhava firme para ser superado na competição. Jorge Martin foi novamente impecável na corrida Sprint, com o campeão mundial finalizando em 3º lugar. A corrida do domingo terminou de forma precoce devido à forte chuva que desabou sobre Motegi, fazendo-a ser encerrada pela metade, mas novamente com Jorge Martin vencendo, à frente de Bagnaia, que ainda deu sorte de terminar em 2º numa prova onde o piso molhado se mostrava tremendamente traiçoeiro para os pilotos, com vários deles a caírem pelo caminho. Com isso, a etapa nipônica terminava novamente com Martin avançando implacável sobre a posição cimeira de “Pecco” na classificação, tirando mais 10 pontos, e ficando com o piloto da Ducati oficial na alça de mira do espanhol, numa escalada alucinante. Seria mesmo questão de tempo até Bagnaia perder a liderança, e de favorito, virar o azarão na luta pelo título, com Martin a tomar a posição de favorito na disputa. Imaginem só: um piloto de um time satélite roubando o protagonismo do piloto do time oficial. Vergonhoso? Nem tanto. Para a Ducati, embora a situação pudesse ser constrangedora, não era tanto assim. “Uma Ducati vai ganhar, é isso que importa.”, foi a resposta. E ela está correta. Afinal, a Pramac é o principal time satélite da marca italiana, e o único a usar o mesmo modelo da Desmosédici do time de fábrica, a GP23, enquanto os times satélites VR46 e Gresini competem com o modelo GP22, que foi campeão ano passado com Bagnaia.
Desnecessário dizer que, na competição de equipes, a Ducati oficial está longe de liderar o campeonato, e isso ocorre porque o time praticamente só tem contado com “Pecco” na temporada 2023. Enea Bastianini, que no ano passado foi o 3º colocado no campeonato, vem tendo uma temporada das mais azaradas, tendo perdido várias corridas em decorrência de lesões desde a primeira prova do ano, em Portugal. E nas corridas em que conseguiu participar, não conseguiu render o que poderia, de modo que é apenas o 20º colocado no campeonato, com apenas 36 pontos. E Michelle Pirro, seu substituto nas provas em que esteve afastado, foi ainda pior, tendo apenas 5 pontos marcados, e a 27ª colocação na tabela.
E então chegamos a Mandalika, na Indonésia, e o que todos imaginavam aconteceu: Jorge Martin deu outro show na corrida Sprint, obtendo mais uma vitória, e com um inexpressivo 8º lugar numa corrida apagada, Bagnaia caiu para a 2ª posição no campeonato. O favoritismo no campeonato mudava definitivamente de mãos, com o piloto da Pramac assumindo pela primeira vez a liderança de um campeonato na MotoGP. Martin parecia imparável, e é bom que se diga que o piloto ficou inconformado no ano passado, quando Enea Bastianini acabou escolhido para defender o time principal no lugar de Jack Miller, que foi dispensado para esta temporada. Martin disputava com Bastianini a indicação, e agora, parecia estar em êxtase colocando o atual campeão mundial “Pecco” Bagnaia no bolso. Será que os planos do bi do piloto italiano estariam com os dias contados?
Ainda era cedo para afirmar isso, e a corrida de domingo mostrou que não se pode comemorar antes da hora. Em uma largada fulminante, Jorge Martin saiu da 6ª posição no grid para assumir a liderança da prova em Mandalika já na primeira curva, mostrando estar mesmo imparável. E ele foi conduzindo a corrida com autoridade, como novo líder do campeonato. Estaria consumando ali seu domínio e a liderança de vez? “Pecco” iria conseguir reagir, como precisava de fato fazer? Bom, ele foi à luta. Se o arranque da Martin, ganhando seis posições e a liderança já na primeira curva foram impressionantes, a primeira volta de Bagnaia não ficou atrás: largando em 13º, o atual campeão mundial fechou a primeira volta já em 6º lugar, e seguiu escalando o pelotão, a ponto de na 3ª volta já assumir a 3ª posição na corrida, atrás apenas de Martin, da Pramac, e de Maverick Viñalez, da Aprilia. O espanhol da Pramac, contudo, apertava o ritmo, e começava a abrir vantagem sobre os concorrentes, dando a impressão de que mais uma vez, levaria a vitória sem sofrer oposição. Bagnaia começava a duelar pela vice-liderança da corrida, mostrando uma combatividade ímpar nestas últimas provas, bem mais condizente com sua posição de campeão mundial. Mas ficava a dúvida se ele conseguiria alcançar Jorge e discutir a liderança da corrida.
Mas, na 12ª volta, eis que Martin errou sozinho, quando já abria pouco mais de 2s de vantagem na liderança, e caiu na curva 11 do circuito indonésio. Foi uma ducha de água fria para o espanhol. Vendo que o rival estava fora da corrida, Bagnaia teve mais tranquilidade para duelar com Viñalez, agora o líder da prova, superando o piloto da Aprilia algumas voltas depois, e reassumindo a liderança de uma corrida no campeonato. Mas não foi uma vitória fácil. Bagnaia nunca abriu mais do que 1s na liderança, e viu Maverick ficar muito perto dele até a bandeirada de chegada, e não só isso: Fabio Quartararo, na melhor prova da temporada com a Yamaha, vinha forte para tentar discutir até a vitória, mas o campeão de 2021 não conseguiu superar seu ex-companheiro de time, acabando por terminar a corrida em 3º. Com isso, “Pecco” não apenas voltou a vencer, o que não acontecia desde a etapa da Áustria, quando venceu as duas corridas do fim de semana, mas retomou a liderança da competição, com 18 pontos de vantagem sobre Jorge Martin, que ainda está folgado na vice-liderança, com 45 pontos de vantagem sobre Marco Bezzecchi, da VR46, outro time satélite da Ducati, e 3º colocado na classificação.
Era importante para Bagnaia se reafirmar e se impor novamente na competição. As etapas seguintes à prova da Catalunha, onde foi atropelado, foi um momento complicado que certamente bagunçou sua performance, e poderia até ter comprometido o restante da temporada, se a sorte fosse diferente, e os ferimentos sofridos fossem bem mais sérios. “Pecco” parece ter tido a “sorte dos campeões”, sem a qual nenhum piloto consegue vencer um campeonato, e conseguiu retomar a dianteira do campeonato, em um momento onde Jorge Martin já começava a ascender de forma implacável na temporada. É verdade que a vitória pode ter vindo em um erro de Martin, e fica a dúvida se o piloto da Ducati oficial conseguiria ter alcançado e vencido se o rival da Pramac não tivesse caído, até porque Bagnaia não conseguiu escapar de Viñalez como Martin vinha fazendo, o que dá a entender que uma nova vitória era muito provável, e que o espanhol poderia ter aberto até mais vantagem, se “Pecco” fosse o 2º colocado.
Por isso mesmo, a disputa continua mais do que aberta, e com o duelo entre ambos recomeçando já nesta sexta-feira, com os primeiros treinos em Phillip Island, na Austrália, próxima parada da MotoGP. Mais do que nunca, é imprescindível que Bagnaia mostre novamente a grande performance de Mandalika, onde se tornou o primeiro piloto a vencer uma corrida largando fora das 4 primeiras filas desde Marco Melandri na etapa da Turquia em 2006, quando o então piloto da Honda largou da 14ª colocação para vencer a corrida no Istambul Park.
A pista de Phillip Island é o palco do GP da Austrália neste final de semana.
Jorge
Martin terá de ser mais comedido se quiser ainda aspirar ao título. O espanhol,
em ascensão meteórica, já vinha falando pelos cotovelos sobre ganhar o título,
e de certo modo, ele não tem nada a perder, enquanto Bagnaia, por ser o atual
campeão, tem que dar respostas à altura de sua condição de favorito, justificando
sua liderança. Mas a prepotência de Martin o fez cometer um erro infantil em
Mandalika, e jogar o seu esforço na prova de domingo ao chão junto com ele.
Precisamos ver se ele aprenderá a lição para tomar mais cuidado, ao mesmo tempo
em que Bagnaia precisa repetir a performance da Indonésia para impedir uma
reação do rival da Pramac. Ainda temos cinco corridas para fechar a temporada,
com muito chão pela frente, e como se pode ver, tudo ainda pode acontecer. Os
18 pontos de vantagem de “Pecco” de nada valerão se ele não se impor novamente,
e voltar a dar as cartas na disputa. Um novo fim de semana azarado, e tudo pode
mudar, num vira-vira que pode acometer tanto Martin quanto Bagnaia. E Martin já
começou arrepiando liderando o primeiro treino na Austrália, mostrando que vai
continuar com tudo. Bagnaia que fique atento...
E quem ganha é o público, que parece terá muitas mais emoções nesta reta final de temporada da MotoGP do que se poderia imaginar. Quem irá vencer de fato? Vamos acompanhar e com muito gosto esta disputa que ainda pode render muito...
A Fórmula 1 inicia hoje os treinos oficiais para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, em Austin, no Circuito das Américas. E teremos mais uma corrida com prova Sprint, de modo que hoje teremos apenas um treino livre e já o treino de classificação para a corrida de domingo, com as atividades de sábado ficando apenas para as atividades da corrida Sprint, com sua respectiva classificação e prova. Daniel Ricciardo volta ao grid nesta etapa, após recuperar-se da fratura sofrida numa das mãos na etapa da Holanda, tendo sido substituído por Liam Lawson na Alpha Tauri desde então, com o piloto até conseguindo demonstrar boa performance para um novato. Mesmo assim, a Red Bull optou por colocar Daniel novamente como titular no time B para a temporada do ano que vem, com Lawson ocupando a posição de piloto reserva e de testes, ainda que tudo possa mudar no time dos energéticos, que está com os nervos à flor da pele com a possibilidade de Sergio Perez ainda vir a perder o vice-campeonato de pilotos para Lewis Hamilton, dado o histórico de resultados fracos do mexicano nas últimas corridas. Perez teria até recebido um “ultimato” de Helmut Marko de que se perder o vice-título estaria fora da Red Bull em 2024, tendo ou não contrato, e o que vemos é o tradicional método de fritura do dirigente, e a pouca vontade de dar a atenção devida ao piloto mexicano na escuderia, mesmo com o título de Verstappen já consagrado na etapa de Losail. Curiosamente, Ricciardo acabou envolvido indiretamente em uma gafe dos organizadores do GP em Austin, que grafaram seu nome como “Riccardo” no box da escuderia italiana, errando a grafia. Outra mancada curiosa foi no cartaz dos pilotos, onde colocaram Felipe Drugovich no lugar de Lance Stroll, errando a dupla titular da Aston Martin.
Mudanças na transmissão da F-1 no GP dos EUA. A corrida Sprint, amanhã, sábado, tem largada para as 19:00 Hrs. no horário de Brasília, e por coincidir com o Jornal da Band, a emissora exibirá a corrida curta ao vivo apenas no canal Bandsports, na TV por assinatura, e no site band.com, e no serviço Bandplay. A emissora aberta transmitirá o VT completo da prova a partir das 22:00 Hrs. No domingo, a corrida terá largada às 16:00 Hrs., com transmissão ao vivo do canal aberto, e VT completo às 22:00 no Bandsports. E a emissora não terá Mariana Becker como repórter na cobertura desta etapa. Por problemas familiares de última hora, Mariana anunciou que não estará presente tanto em Austin quanto na semana que vem, na Cidade do México, para o GP do México, retornando apenas no GP de São Paulo, no dia 5 de novembro. Em seu lugar, a emissora paulista escalou Thiago Fagnani, repórter conhecido no meio do automobilismo nacional pelo trabalho na Stock Car, a principal categoria do esporte a motor no Brasil. Quem estará de volta também é Reginaldo Leme, que se ausentou na transmissão da prova do Qatar devido a uma cirurgia já agendada e que reassume sua posição de comentarista na prova dos Estados Unidos.
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