quarta-feira, 11 de outubro de 2023

ARQUIVO PISTA & BOX – MARÇO DE 2000 – 10.03.2000

Trazendo mais uma de minhas antigas colunas, esta foi publicada no dia 10 de março de 2000, na sexta-feira dos primeiros treinos oficiais para a temporada da Fórmula 1 daquele ano, abrindo tão esperado segundo milênio. Muitas expectativas, como é de praxe em um início de temporada, para vermos o que se confirmaria do que foi visto nos testes da pré-temporada, que naqueles tempos eram realmente uma pré-temporada de respeito, e não a frescura que temos nos últimos anos, de dias contados com os times ainda por cima andando apenas um piloto de cada vez na pista, em miseráveis três dias de atividades. Foi a temporada que marcou o retorno da Ferrari ao título, depois de mais de duas décadas de jejum, o mais longo vivido pelo time de Maranello até então (e que corre o risco de ser igualado nos dias atuais em mais alguns anos, se não tomarem jeito no time), com Michael Schumacher. Também seria o ano de uma nova vitória brasileira na F-1, depois do último triunfo, obtido ainda em 1993, com Ayrton Senna. Rubens Barrichello, autor da façanha, defendendo agora a poderosa Ferrari, contudo, não teve liberdade do time para tentar lutar pelo título, com Lucca de Montezemolo falando com todas as letras que o único objetivo do time era fazer o piloto alemão campeão, e que o brasileiro não poderia sonhar com isso. Começava ali uma era de hegemonia da Ferrari e de Schumacher, que iria até 2004, com o alemão conquistando nada menos que 5 títulos consecutivos, tornando-se até então o maior piloto da história da F-1, em termos de títulos e estatísticas, até ser igualado e superado por Lewis Hamilton recentemente. Confiram o texto com as expectativas que tínhamos então para aquela temporada, e boa leitura para todos...

HORA DE ACELERAR

          Chegou a hora! Hoje os carros entram novamente na pista montada dentro do Albert Park, no centro de Melbourne, Austrália, para o início de mais um campeonato mundial de Fórmula 1. Tudo o que foi mostrado nos testes da pré-temporada agora poderão ser confirmados (ou não?) e veremos quem está de fato pronto para dar as cartas neste ano.

          A McLaren, como de costume, chegou à Austrália com toda a pinta de favorita, tal como em 1999. Resta saber se o time prateado está pronto para evitar repetir o desaire que se viu na corrida do ano passado. O time de Ron Dennis não teve adversários na classificação do grid, dominando toda a primeira fila, com o finlandês Mika Hakkinen na pole-position. Mas, na corrida, a vitória ficou com Eddie Irvinne, da Ferrari, que obtinha nesta pista a primeira de suas 4 vitórias na categoria.

          O time prateado acabou vitimado pela falta de fiabilidade de seus carros. Mika Hakkinen teve problemas no acelerador, abandonando a prova após 21 voltas. Um pouco antes, David Coulthard já havia sido vítima de problemas no sistema hidráulico de seu monoposto, e também deixara a corrida. Com Michael Schumacher a também enfrentar problemas que o fizeram terminar a corrida entre os últimos que cruzaram a linha de chegada, a prova australiana ganhou um contorno totalmente novo, com Irvinne, Heinz-Harald Frentzen, e até Ralf Schumacher a sonharem com a vitória, que acabou ficando com o piloto da Ferrari.

          Aliás, a Ferrari chegou a Melbourne pronta para o que der e vier. O clima no time, que ficou ruim no ano passado devido à “rebeldia” de Irvinne, que se sentiu no direito de reinvindicar mais espaço no time, ajudou a complicar o ambiente interno. Por mais justas que fossem suas reinvindicações por mais atenção do time italiano, a política do time, de atenção total a Michael Schumacher acabaria por se mostrar um grave erro, quando a escuderia ficou sem o alemão após a prova de Silverstone. Espera-se que não cometa o mesmo erro este ano.

          Nas expectativas, fica a dúvida de quem vai conseguir abalar o domínio McLaren/Ferrari na categoria. A Benetton tenta, pela enésima vez, voltar a discutir as vitórias nos GPs, mas o modelo B200 não tem mostrado ser capaz de fazer muito mais do que o apresentado pelo time no último ano, e os pilotos Giancarlo Fisichella e Alexander Wurz vão ter de se desdobrar para conseguir até mesmo chegar ao pódio. Mas a dupla, que entra em seu 3º ano consecutivo no time multicolorido, parece incapaz de superar as deficiências dos carros.

          Na Jordan, o clima é de otimismo. Depois da excelente temporada do ano passado, a ordem é continuar crescendo, e quem sabe, adquirir status de time grande em definitivo. Heinz-Harald Frentzen renasceu no time do irlandês Eddie Jordan, voltando a exibir as belas performances que já o fizeram ser considerado mais talentoso até do que Michael Schumacher quando correram nos Esporte-Protótipos. E o novo motor Honda promete muito mais desempenho do que o velho propulsor desenvolvido e mantido pela Mugen. Damon Hill, contudo, parece ter perdido parte da sua motivação, e se não a recuperar, poderá muito bem estar disputando sua última temporada pelo time.

          Os demais times devem se manter na luta pelas posições intermediárias. A Williams quer crescer, mas precisará ver em que ponto se encontra o novo motor BMW, que volta à categoria depois de mais de uma década. O novo FW22 parece ter nascido bem, o que já é algo positivo para fazer crer que o time inglês possa sonhar em dias melhores, mas vencer novamente parece ser prematuro. Mas surpresas podem ocorrer, e a BMW não é do tipo que vem fazer apenas figuração.

          Na Jaguar, muita expectativa do que o novo time da Ford poderá fazer neste ano. O time de Jackie Stewart cresceu bem em 1999, e agora contando com apoio e logística total da Ford, que adquiriu o time e o rebatizou de Jaguar, espera-se que mantenha pelo menos a linha de crescimento verificada no ano passado, e quem sabe possa disputar lugares nos pódios com alguma freqüência. Mas ainda é cedo para dizer quais são as verdadeiras chances do time. Mas a Ford não quer apenas ser mais uma fábrica na categoria, e quer vir para ganhar de vez.

          Quem também não quer apenas fazer número é a BAR. Depois da desastrosa temporada de estréia no ano passado, a ordem no time é manter os pés no chão e nada de vôos ousados. A nova parceria com a Honda foi boa para reforçar o status do time, e a reformulação da área técnica, bem como um envolvimento maior por parte da Reynard, que projeta e constrói os carros do time, do qual é sócia, podem mostrar frutos logo de cara. Os carros fizeram bons tempos nos testes, mas no ano passado também haviam mostrado certo potencial, que depois não conseguiu ser confirmado. Mas, além de mais performance, é preciso haver também confiabilidade, caso contrário, Ricardo Zonta e Jacques Villeneuve poderão ver seus esforços de pilotagem virarem poeira.

          A Sauber vem com Pedro Paulo Diniz e Mika Salo, mas o time suíço deve continuar brigando no pelotão intermediário. Apesar de usar o motor Ferrari do ano passado, o carro do time não inspira muito otimismo. Assim como Pedro de La Rosa e Jos Verstappen também não podem ter muitas esperanças na Arrows. Tom Walkinshaw, quando adquiriu o time, tinha grandes planos, mas infelizmente, nunca conseguiu concretizar nada que fizesse a escuderia inglesa crescer realmente na categoria, e o que se vê hoje é a Arrows de volta às velhas e costumeiras brigas do pelotão intermediário, e por vezes até na rabeira do grid.

          E quem tenta fugir de ficar no final do grid é a Prost. O time do tetracampeão mundial, ex-Ligier, não conseguiu também crescer como se imaginava nos planos de Alain Prost, muito pelo contrário. Apesar de contar com bons aportes de empresas da França, a escuderia parece não conseguir sair do lugar, e as parcerias começam a se desgastar. Há rumores de que a Peugeot pode pular fora da F-1 se não vir resultados este ano, e sem o apoio de um fabricante de motores, o time pode ficar ainda mais complicado.

          Na rabeira de tudo, temos a Minardi, que vai e vem, sempre com recursos limitados, vira-se como pode, e vai para mais uma temporada. Menor e mais pobre time da categoria, pontuar já será considerado uma vitória para o time de Faenza, que nada mais pode aspirar do que isso. Giancarlo Minardi já teve melhores dias na categoria, mas segue firme na parada, resta saber até quando, ainda mais que nos dias de hoje praticamente todos os times estão associados a algum grande fabricante automotivo, que tem virado regra na F-1. Sem apoio de tal monta, a Minardi não pode ter mesmo muitas esperanças.

          Bem, é hora de vermos como os primeiros treinos oficiais se apresentam, que pela hora do Brasil, já aconteceram nesta madrugada, antes que esta coluna esteja sendo lida. Esperemos por novidades e surpresas, e que a competição seja boa...

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