A F-1 marcou novamente besteira na condução de um GP este ano, agora na prova australiana, exagerando na dose. Até onde isso vai?
Difícil dizer o que anda acontecendo na Fórmula 1 ultimamente, no que tange às regras da categoria, e à sua utilização. A chamada “categoria
máxima do automobilismo” parece estar virando uma categoria que de máxima, parece ser a imbecilidade, tamanhas as palhaçadas que temos visto em tempos recentes. E pior, quanto mais parecem querer
botar ordem na casa, mais parecem transformar o certame numa verdadeira casa da mãe Joana, onde não seguir as regras já gera debates, mas seguir as regras parece complicar ainda mais a situação.
Não é de hoje que bato na tecla de que a FIA parece complicar ainda mais as regras, ao invés de simplificar. Além de limites completamente imbecis para o número de certos equipamentos que podem ser utilizados pelos pilotos, em um campeonato cada vez mais longo, a entidade ainda bate cabeça com regras que, teoricamente, até podem fazer sentido pela justificativa apresentada, mas que na prática, só ajuda a “queimar” o filme da F-1, que já anda com seus problemas, e parece deixar até mesmo seus comissários de corrida perdidos, tomando decisões ou atabalhoadas, ou exageradas. E tudo em nome do “show”, que se já não anda muito bom, só fica pior ainda quando são tomadas atitudes que bagunçam ainda mais a situação, ao invés de resolver.
Um exemplo é o debate, aparentemente eterno, sobre a palhaçada da decisão de 2021 em Abu Dhabi, onde Michael Masi simplesmente deixou a luta correr solta entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, quando as regras ditavam que todos os retardatários teriam que passar à frente do Safety Car, o que não foi feito, tirando apenas aqueles que se encontravam entre os dois detentores do título, o que negligenciou o direito de quem vinha atrás de ter chances de entrar na briga, não pelo campeonato, lógico, mas pela vitória na corrida. Poderia não ter dado em nada diferente do que ocorreu, mas também poderia ter acontecido o contrário, com Verstappen sendo atacado, e talvez até superado por quem vinha atrás, e mudar o destino da decisão. Isso vai gerar bate-boca por muito e muito tempo, e a própria FIA admitiu depois que a decisão de Masi acabou sendo errada, mas findo a temporada, o estrago já foi feito, e se Hamilton perdeu o título, que seria o seu 8º, Verstappen vai carregar sempre a pecha de “título forjado” na opinião de muitos, o que não seria justo com o piloto holandês, que merecia ter tido uma conquista sem máculas, como foi a de 2022. Bem, a FIA tentou dar uma “arrumada” na situação no ano passado, mas como vimos, ela mesma se complicou em alguns momentos.
Claro, errar é humano. Mas insistir no erro é burrice, e assim, para 2023, o que deveríamos esperar era que a entidade se tocasse, e parasse de procurar pelo em ovo, se preocupando mais com assuntos realmente relevantes, do que ficar se concentrando em querer promover a competição, quando na verdade só está conseguindo “tacar mais fogo” na situação, e com isso, desagradar a gregos e troianos. Na Arábia Saudita, por exemplo, o uso do Safety Car para retirada do carro quebrado de Lance Stroll, da Aston Martin, foi completamente desnecessário, na medida em que o canadense tinha conseguido deixar seu bólido junto a uma saída, onde foi prontamente retirado da pista, sem maiores percalços. Uma bandeira amarela no setor teria sido suficiente, e num exagero, talvez o Safety Car virtual, por uma volta ou duas no máximo. Mas não, tascaram logo o Safety Car, que ao contrário de outras ocasiões, só serviu para deixar a prova, que já não era nenhum show de disputas e duelos, ainda mais morna e tediosa, pois todos os pilotos aproveitaram para fazer seus pit stops únicos, matando as estratégias de corrida diferenciadas que poderiam ter sido utilizadas pelos competidores. Se a intenção era promover um “reset” na corrida, com mais disputas e emoção, o tirou saiu completamente pela culatra, e com várias críticas pela atitude.
Bom, o que dizer então do GP da Austrália? A corrida já ia ter novidade, quando anunciaram que teria 4 zonas de DRS na pista do Albert Park, contra as 3 do ano passado, deixadas de última hora porque as 4 zonas poderiam ser exageradas. Gosto da pista australiana, mas sei lá, o Albert Park raramente consegue apresentar uma corrida decente, e a prova deste ano, mais uma vez, não parecia ter grandes atrativos. Verstappen acabou surpreendido na largada, mas seria questão de tempo até o holandês recuperar a ponta, dada a supremacia do carro da Red Bull, que só não fez dobradinha porque Sergio Pérez teve em Melbourne todo o azar que não teve no ano até aqui. Mas ele não foi o único: Alexander Albon, na melhor prova da Williams dos últimos anos, vinha bem quando acabou acertando a barreira de pneus logo na primeira curva, o que promoveria a entrada do Safety Car para colocar ordem na bagunça, certo? ERRADO! Os comissários resolveram logo tascar uma bandeira vermelha, e interromper a prova para colocar tudo em ordem, com mais calma e segurança. Dessa forma, imagino, resetariam novamente a corrida, e promoveriam uma melhor atração para todo mundo, fosse no autódromo, fosse mundo afora, pelas transmissões da corrida. Nos velhos tempos, isso se justificava. Lembro do GP do México de 1987, quando alguém escapou na Peraltada, bateu forte, e desmantelou além do carro a proteção de pneus. Na época, não existia o precedimento do Safety Car, de modo que a corrida foi interrompida, e depois de tudo consertado, a prova foi retomada, mas com um detalhe: tempos agregados. Ou seja, os tempos de antes da interrupção da prova eram considerados, e agregados aos tempos de corrida pós-retomada. Dessa forma, Nigel Mansell, que liderava com folga antes da interrupção, venceu a corrida, mesmo tendo sido superado por Nélson Piquet, que asssumiu a dianteira na relargada, e sumiu na dianteira, mas sem conseguir abrir o suficiente para anular a vantagem do inglês.
Mas, nos dias de hoje, corridas interrompidas mandam para o espaço o tempo de prova disputado até então, reagrupando todo mundo, e resetando a disputa. A única coisa que se mantém é a ordem da prova. Só que, com o procedimento do Safety Car, o lance de interrupção de uma corrida deve ser reservado para situações muito graves, que exijam procedimentos bem mais amplos para debelar a situação. O carro de Albon ficou em posição perigosa, e detritos foram espalhados na pista, assim como a barreira de pneus ficou danificada. NADA, porém, que não pudesse ser resolvido com a presença do Safety Car, pois tudo poderia ser resolvido sem maiores problemas. O carro de Albon teria sido removido sem complicações, a pista não ficou tão suja assim, e a barreira de pneus não foi desmantelada com a batida. Mas, novamente, exageram na dose. Sem necessidade, mais uma vez. E daí, vieram com outra genialidade: relargar com carros parados no grid!
OK, isso nem parece assim tão absurdo, afinal, a corrida havia sido interrompida geral. O procedimento de relargada com o carro de segurança não teria esse problema, já que seria em movimento, em fila indiana, se tivesse sido corretamente utilizado. Mas, já que resolveram apimentar a situação, assim foi, e pelo menos, não se arrumou maiores confusões por isso. E a corrida seguiu seu ritmo, mas novamente, sem apresentar uma emoção maior do que o que já mostrava. Max Verstappen controlava a prova a seu bel-prazer, com Lewis Hamilton vindo em segundo, fazendo o mesmo em relação a Fernando Alonso, que até ameaçava vez ou outra, mas nunca conseguiu consumar um ataque ao heptacampeão. Só Perez dava um pouco de graça, vindo lá de trás, tendo largado dos boxes, e mesmo assim, sem empolgar tanto como poderia, pelo carro que tinha nas mãos. Mas, com os problemas de freios que já havia tido, e que complicaram totalmente sua classificação, não se podia culpar totalmente o mexicano se ele ainda tivesse receio disso no carro durante a corrida.
E aí, a batida de Kevin Magnussen a duas voltas do final da corrida. Apesar da violência da pancada, que arrancou o pneu direito traseiro de sua Haas, e de uma posição perigosa após a primeira curva, e faltando apenas 2 voltas para se encerrar a prova, tudo certo termos um Safety Car, e encerrar a corrida, mesmo sob bandeira amarela, não é? Que nada! resolveram apimentar ainda mais a situação, com nova bandeira vermelha, e colocar todo mundo para relargar, faltando as duas voltas. E lá foi todo mundo de novo para o grid, em largada parada. O show tinha que ser bom, e nada de terminar em bandeira amarela, imagino que devam ter pensado. Só que, desta vez, o pessoal se enrolou na relargada, com vários problemas, obrigando novamente uma bandeira vermelha, e tudo parado de novo. Carlos Sainz tocou em Fernando Alonso, fazendo o espanhol rodar. Pierre Gasly tentou evitar a confusão, mas acabou atingindo seu próprio colega de time Esteban Ocón, promovendo uma batida dupla da Alpine. E mais lá atrás, Logan Sargent abalroava Nyck De Vries... Depois, talvez a atitude mais patética de todo o fim de semana: ao invés de anular a relargada, e declarar a prova encerrada, fizeram todo mundo esperar mais meia hora, até anunciarem o retorno dos carros à pista, para fazerem a volta final, atrás do Safety Car, e liberando os pilotos apenas para cruzarem a linha de chegada e receberem a bandeirada de encerramento da corrida. Uma palhaçada total.
Pior para a dupla da Alpine, que nessa, perdeu suas posições de pista, já que não tinham como retornar para a volta final devido à batida de seus dois pilotos. Fernando Alonso, que tinha rodado pelo toque de Sainz, mas não batido, pode retomar sua posição de pista, mas o piloto da Ferrari tomou uma punição esdrúxula de 5s pelo toque no compatriota da Aston Martin, e como todo mundo estava junto, atrás do Safety Car, Carlos foi jogado para fora da zona de pontuação, sem a menor chance de defesa. Uma verdadeira zona... A F-1 precisa disso?
A FIA já havia se enrolado quando aplicou a Fernando Alonso a punição de 5s por alinhar o carro de forma errada na posição de largada, quando vimos que ele não foi o único a fazer isso, mas acabou sendo o único a ser punido, revelando uma falha na aplicação da regra, que aliás, não resultou em ganho para nenhum dos pilotos, até mesmo Alonso. E depois, o rolo com relação ao pagamento da punição, avisada tardiamente, e que no final, acabou revertida com a apelação da Aston Martin, obrigado a entidade a ser mais clara com suas próprias regras, que agora foram mais específicas do que pode ou não fazer. Mas, ao mesmo tempo, precisa ser tão detalhista em assuntos que não se traduzem em vantagem propriamente dita? A F-1 ficou atulhada de regras disso, e daquilo, que muitas vezes representam apenas preciosismo regulamentar, que só serve para encher o saco de todo mundo, sem de fato contribuir para a melhoria do espetáculo, que precisa ocorrer, mas que, quando se revela tedioso, não pode também sofrer interferências ao bel prazer da interpretação das regras. Isso acaba com a credibilidade da competição, e acaba trazendo ao protagonismo dos eventos as falhas das regras e sua aplicação, algo que deveria ficar discretamente ignorado. Mas, pior de tudo, é não saber o que fazer para corrigir a situação, contribuindo para complicar ainda mais ao invés de achar uma solução.
Que as corridas tem devido melhores disputas e emoções, é preciso manter a coerência da disputa. Intervenções durante a realização de uma corrida precisam ser bem avaliadas para que cumpram o seu propósito primordial, que é oferecer a segurança e condições necessárias para se efetuar algum trabalho ou procedimento crucial para solucionar algum acontecimento anormal durante a competição. Logicamente que isso irá impactar no andamento da corrida, podendo prejudicar alguns e favorecer outros. Todo mundo aceita isso, e é apenas uma questão de sorte ou azar, dependendo de cada um. Mas a intervenção tem de ser aplicada conforme a necessidade, e não com o intuito de “turbinar” o show, caso a corrida esteja sendo monótona. Na Arábia Saudita, o tiro já havia saído pela culatra. Na Austrália, ao invés de aplicar a lição demonstrada em Jeddah, eles resolveram dobrar a aposta, e mais uma vez, o tiro saiu novamente pela culatra, onde não apenas não melhoraram a situação, como deram ares de completo amadorismo e perda de controle sobre o que fazer, denegrindo a imagem da F-1 como uma categoria séria e profissional.
Duas situações totalmente opostas em 2023, em relação a 2022: Max Verstappen vence em mais um triunfo (acima), enquanto Charles LeClerc teve outro final de semana para esquecer (abaixo).
Há regras demais, e parece estar havendo bom senso de menos. E a FIA, como já mencionei, ao invés de simplificar as regras, ou torná-las mais objetivas e compreensíveis, parece caminhar na direção oposta. E acordos “tácitos” entre os participantes, que poderiam ser uma chance para se pacificar alguns procedimentos, acabam por vezes virando um efeito bumerangue com resultados igualmente desastrosos. Falei da situação de Abu Dhabi 2021, onde rolou o que rolou, para que não se terminasse a prova em bandeira amarela, e choveram críticas. Mas, em Monza, no ano passado, o regulamento foi seguido conforme se determinava, e a prova terminou atrás do Safety Car, em um final que muitos consideraram brochante, por não ter sido com os carros em disputa. O problema não são apenas os regulamentos, mas as pessoas, que parecem não saber o que querem de fato, algo que também não ajuda a acharmos uma melhor solução. Algo que mais bom senso ajudaria, e muito, a evitar discussões inúteis, e compreender e lidar com eventos que ocorrem. Mas a F-1 parece insistir em tropeçar em si mesma, mesmo quando o melhor meio de resolver algo é a solução mais simples a ser adotada, como se houvesse uma necessidade de deixar tudo muito mais complicado do que é de fato. E depois das palhaçadas cometidas, reclamam das consequências...
Em tempo, algumas horas mais tarde, domingo passado, a Indycar disputou o GP do Texas, no circuito oval de Forth Worth, e faltando duas voltas para o final, Romain Grosjean, da Andretti, bateu no muro, provocando bandeira amarela, que garantiu a vitória de Josef Newgarden com Patrício O’Ward em 2º lugar numa disputa que tinha sendo roda a roda. A prova texana terminou com bandeira amarela, e ninguém ficou exatamente deprimido por causa disso. Ao contrário da F-1, que quis inventar demais, e mostrou que perdeu completamente as estribeiras...
Fernando Alonso vem sendo uma das sensações da temporada. O bicampeão, depois de apostas furadas na condução de sua carreira na F-1 nos últimos anos, parece ter dado o tiro certo quando anunciou sua transferência para a Aston Martin no meio do ano passado, deixando uma Alpine que parecia claudicante quanto a seus objetivos na catégoria máxima do automobilismo, e declarando que seu novo time tinha “fome de vitória”. E o asturiano, com um carro competitivo, volta a mostrar toda a sua qualidade como piloto, e mesmo sendo o decano do grid, tem lenha para queimar, e com o novo AMR23, já tem três pódios em três corridas na temporada 2023, ocupando a 3ª colocação no campeonato, com 45 pontos. Mas a disputa para ver quem será a segunda força da temporada no grid promete ser apertada. A Aston Martin começou bem, mas precisará manter o ritmo de desenvolvimento de seu carro para fazer frente aos rivais. Na Austrália, a Mercedes se recuperou um pouco, e terminou à frente do time inglês com Hamilton, em uma corrida onde a Ferrari mais uma vez se enrolou, e não conseguiu mostrar o que poderia render. Fernando está fazendo o seu papel de liderar o time na pista, e Lawrence Stroll, proprietário do time, já estaria cobrando vitória da escuderia, um objetivo possível, mas somente se algo acontecer com a Red Bull, que mostrou ser ainda imbatível na pista em condições normais. Como em algum momento algo poderá dar errado, cabe a Alonso estar de prontidão para se encontrar no lugar certo, no momento certo, para aproveitar essa oportunidade, e se colocar como candidato à vitória. Não vai ser fácil, mas pode acontecer. Quando, contudo, não dá para saber...
Terceira corrida do ano, e terceiro pódio seguido para Fernando Alonso, com a Aston Martin. Uma das sensações do ano até aqui.
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