quarta-feira, 23 de março de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – SETEMBRO DE 1999 – 24.09.1999

            Voltando a trazer um de meus antigos textos, esta coluna foi publicada no dia 24 de setembro de 1999, e o assunto em discussão era o fato de a F-1 ter, naquele final de temporada, quatro pilotos potenciais como candidatos ao título. Um feito incomum, para a categoria máxima do automobilismo, que se acostumara a ter apenas dois postulantes ao título em tempos mais recentes naquela década. Mika Hakkinen, David Coulthard, Eddie Irvinne, e Heinz-Harald Frentzen, eram os duelistas que, separados por apenas 10 pontos, faziam todo mundo ficar empolgado com a imprevisibilidade de quem seria o campeão, já que a temporada vinha apresentando várias surpresas. Bem, acabou dando Hakkinen, que conquistaria o bicampeonato. E Irvinne e Frentzen nunca mais brilhariam na F-1, infelizmente, tendo perdido as chances na melhor oportunidade que tiveram em suas carreiras na categoria máxima do automobilismo. De quebra, alguns tópicos rápidos com comentários a respeito de alguns acontecimentos ocorridos naquela semana. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...

DISPUTA A QUATRO

            Depois de muitos anos, enfim a Fórmula 1 volta a ter mais de 2 aspirantes ao título na reta final da temporada. Os eleitos são os atuais líderes na classificação, o finlandês Mika Hakkinen e o irlandês Eddie Irvinne, o alemão Heinz-Harald Frentzen, e o escocês David Coulthard. E com 3 escuderias diferentes no páreo: McLaren/Mercedes, Ferrari, e Jordan/Mugen-Honda. E com 3 etapas para encerrar o campeonato. Nada mal para um ano em que todo mundo esperava um passeio da McLaren, dada a superioridade exibida pelo carro prateado nos testes da pré-temporada.

            Se no ano passado foi justamente Michael Schumacher que salvou o campeonato da monotonia, equilibrando as forças entre a Ferrari e a imbatível McLaren, a ponto de levar a decisão para a última etapa, este ano, curiosamente, é a ausência de Schumacher a principal causa para este inusitado equilíbrio no certame.

            Em primeiro lugar, a McLaren se superestimou, achando que, sem o bicampeão alemão, a luta pelo título estaria terminada e faturada por Woking. Seria apenas uma questão de tempo e de decidir quem ficaria com o título, Hakkinen ou Coulthard. Não foi bem assim: a McLaren tropeçou em si mesma, e a concorrência soube se aproveitar disso. Os casos da Áustria e da Alemanha foram o melhor exemplo desta situação. Ambas as provas tinham tudo para serem vencidas pela McLaren, mas foram parar nas mãos de Irvinne, que tem se mostrado até aqui, como sortudo e oportunista. Pior: David Coulthard resolveu partir para a luta do título, e escreveu certo por linhas tortas; se a vitória do escocês na Bélgica foi o melhor exemplo de como a coisa deve ser feita, os incidentes ocasionados pelo escocês em Zeltweg e Hockenhein deixaram a McLaren em situação perigosa no campeonato.

            Mas, se Coulthard reivindicava o direito de disputar o título e cometeu vários erros na ânsia de provar isso, Mika Hakkinen também acabou bobeando, como em Monza, onde errou sozinho quando liderava a corrida e deu adeus a uma vitória praticamente certa.

            Enquanto isso, Heinz-Harald Frentzen, que no ano passado a esta altura era considerado uma tremenda desilusão na Williams, simplesmente deu a volta por cima. Frente a um Damon Hill desmotivado em seu último ano na F-1, além de ter tido inúmeros azares o piloto inglês, Frentzen renasceu na Jordan e levou o time adiante, vencendo na França graças à estratégia do time, e repetindo a dose em Monza, depois do erro grosseiro de Hakkinen. O resultado é que agora o alemão, que já foi o maior rival de Schumacher na equipe Mercedes de Esporte-Protótipos, entrou firme na luta pelo título, com apenas 10 pontos de desvantagem para os líderes. E a Jordan vai atingindo finalmente o status de equipe de ponta, com 3 vitórias no currículo até agora. E a equipe ocupa ainda a terceira posição no mundial de construtores, ficando atrás apenas da McLaren e da Ferrari...

            Enquanto Frentzen avançava e Hakkinen patinava, Irvinne, lutando contra as adversidades – e contra a própria equipe, afirmam alguns, vai cavando seus pontos, e está empatado com o finlandês da McLaren na liderança da competição. E, polêmico como sempre, Eddie agora está acusando a equipe de não se esforçar o necessário para lhe dar o título. O discurso, feito em Monza, teve uma vida meio curta, pois então o time italiano fez novas sessões de testes e conseguiu melhoras no carro. Mas agora surgiu outro complicador na situação, que contribui para colocar mais lenha na fogueira. E, curiosamente, este complicador é Michael Schumacher.

            Schumacher declarou ontem que a McLaren é favorita em Nurburgring, e que a Ferrari não tem chances de vencer em condições normais. Tal declaração valeu de Irvinne comentários nada elogiosos à atitude do colega de equipe, que já adiou sua volta à F-1 para o GP da Malásia, se for mesmo retornar. Paira no ar a desconfiança, cada vez mais forte, de que o alemão só não voltou ainda a correr para não ter de ajudar Eddie Irvinne a ser campeão. Os fãs italianos estão começando a ficar desconfiados desta situação, e se as coisas ficarem neste ritmo, Michael pode não ir muito longe em Maranello se continuar dando mostras de tais atitudes.

            Pelo sim, pelo não, Luca de Montezemolo está pessoalmente em Nurburgring para acabar com a boataria de que a equipe possa estar sabotando o irlandês ou, no mínimo, não se empenhando muito para ajudá-lo a ser campeão. Curiosamente, Jean Todt é quem mais manifesta descontentamento com a atual situação de Irvinne na luta direta pelo título, pois sempre preferiu Schumacher. Estaria Todt na mira de Montezemolo?

            Enquanto a Ferrari vive suas crises de intrigas, a McLaren tenta recuperar sua tranqüilidade, e a Jordan vem prometendo entrar firme na briga pelo título, o que se supõe que a disputa promete esquentar como nunca a esta altura do campeonato, e que tudo pode acontecer. Mika Hakkinen, David Coulthard, Eddie Irvinne, ou Heinz-Harald Frentzen? Quem será o campeão? Ninguém pode afirmar com certeza, e isto é o melhor que o campeonato de F-1 poderia esperar em muitos anos. Vamos curtir ao máximo.

 

 

A última vez que a Fórmula 1 teve 4 pretendentes ao título tão perto do fim da temporada foi em 1986. Naquele ano, a disputa havia ficado entre o inglês Nigel Mansell, o francês Alain Prost, e os brasileiros Nélson Piquet e Ayrton Senna. Alain Prost levou a melhor contra a toda-poderosa Williams e levou o troféu. Será que tal zebra pode acontecer novamente?

 

 

O GP da Europa, a ser disputado em Nurburgring neste fim de semana, pode ter um elemento extra de emoção: o tempo. A meteorologia prevê chuva para amanhã, quando será feita a classificação para a corrida, e também para o domingo, dia da prova. Isso pode embaralhar a situação de muita gente, e começando já pela definição do grid, pois é vital largar bem neste circuito, que possui poucos pontos de ultrapassagem.

 

 

Christian Fittipaldi retorna ao cockpit de seu Swift/Ford neste fim de semana, quando a F-CART disputa o GP de Houston. Christian passou pelos exames médicos e foi liberado para correr. Com 101 pontos na classificação, o piloto brasileiro ainda é o 6º colocado no campeonato. E um circuito de rua, uma das especialidades do jovem Fittipaldi, já faz prever um bom retorno para o brasileiro na Newmann-Hass.

 

 

Juan Pablo Montoya tenta definir em Houston a disputa pelo título da F-CART. O adversário mais perigoso é Dario Franchiti, embora Paul Tracy e Michael Andretti ainda estejam matematicamente na luta. No ano passado Franchiti venceu a prova texana debaixo de uma chuva torrencial. Mas tudo pode acontecer, e a concorrência, além de partir para o ataque, espera que Montoya cometa algum erro na pressão de querer definir o título o mais rápido possível. Tudo é válido. Vamos ver o que vai acontecer...

 

 

Na F-1, a Minardi não vê com bons olhos o campeonato de 2000: sem opções, a equipe pode acabar tendo de usar os motores Hart, os piores motores da categoria atualmente, para disputar o campeonato. A Arrows já acertou o fornecimento dos motores Mecachrome, mas o time de Faenza, sem conseguir agüentar o pagamento de aproximadamente US$ 20 milhões pelo propulsor francês, não vai ter outras alternativas...

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