A MotoGP inicia a temporada de 2022 em uma nova era. Valentino Rossi, o “Doutor”, pendurou o capacete ao fim da temporada passada, e ninguém duvida que será estranho olhar para o grid na prova de Losail neste domingo, e não ver o famoso “46” alinhar para a largada. O piloto italiano de Tavulia fará falta, não tanto pelos resultados, que já não eram expressivos nos últimos tempos, mas pelo carisma que o heptacampeão transmitia ao público, e que fez dele o maior fenômeno mundial das duas rodas nas últimas duas décadas.
Excelente comunicador, carismático, Valentino soube transformar o seu sucesso e transcender os limites da MotoGP, que até então era apenas mais uma categoria de competição. Não que a MotoGP, antes chamada de Mundial de Motovelocidade, nunca tenha tido seus ícones. Muitos nomes que fizeram história na categoria foram ovacionados e conquistaram suas imensas torcidas ao longo de suas participações. Mas nenhum deles conseguiu mudar a imagem da categoria como Rossi conseguiu. Ele conquistou o público não apenas torcedor das competições esportivas, como conseguiu atrair legiões que até então não davam muita bola para a MotoGP. Isso fez a classe rainha do motociclismo experimentar um crescimento ímpar, chegando a lugares e agregando mais e mais fãs, que no decorrer dos anos, passaram a encher as arquibancadas das corridas.
E a torcida de Rossi, em particular, assumiu as cores de seu ídolo, ocupando por vezes setores inteiros para torcer pelo “Doutor”. Até quem não era fã do piloto italiano acabava se rendendo à admiração pelo heptacampeão. E muitos ficavam decepcionados quando ele sofria um abandono. E cada vitória era uma comemoração efusiva de Valentino para com o público. A MotoGP ganhou muito com isso, não apenas comercialmente, mas em termos de novos participantes no grid, onde quase metade dos pilotos atuais teve inspiração ou ajuda de Rossi para encontrarem seu ideal de vida. Valentino se alimentou da MotoGP, e esta também se alimentou das benesses promovidas por Rossi, numa simbiose mútua onde todos ganharam, e que hoje faz da competição das duas rodas uma das gigantes do esporte a motor mundial, com uma fama e popularidade impensáveis na era pré-Rossi.
Mas, o tempo passa, e a “era” Rossi se encerrou. Pelo menos dentro da pista, já que Valentino agora passou para o lado de dentro dos boxes, como dono de seu próprio time, a VR46, que participa da Moto2, e este ano faz sua estréia completa como equipe na classe rainha. Isso, por si só, ajuda a manter a velha torcida do “Doutor”, que agora torcerá por seu time, não pelo piloto. Mas, e dentro da pista? Quem será o novo ícone da MotoGP?
Difícil responder a essa questão. Por melhores que sejam os nomes atuais do grid, eles ainda não conseguiram alcançar o mesmo status e fama que o “Doutor” arregimentou ao longo de mais de vinte anos de participações na competição, ainda que possam ter resultados que mais do que justificam sua posição de novos mitos do esporte. Mas, também surge uma outra questão a respeito: a MotoGP precisa de um novo ícone como foi Valentino Rossi?
Se não dá para responder à primeira pergunta, a segunda é mais fácil de dar uma resposta: a MotoGP tem condições de seguir em frente sem um novo “Rossi” na competição, na acepção de piloto famoso que ultrapassa os limites da pista e da categoria. A classe rainha do motociclismo cresceu e se tornou o que é hoje graças aos atos de Valentino, e sempre será eternamente grata ao “Doutor” pelo feito que ele conseguiu realizar enquanto piloto e astro do esporte. Mas a MotoGP aprendeu suas lições, e hoje, oferece um dos mais atrativos campeonatos do mundo do esporte a motor, não apenas pelo que demonstra dentro da pista, mas fora dela, sabendo se comunicar com o público, e promovendo seu certame com extremo profissionalismo e competência, e dando seguimento aos ensinamentos mostrados pelo heptacampeão.
E ainda oferece um rol de talentos para ninguém botar defeito, capazes de oferecer duelos em alta qualidade, e muita disposição para cativar o público, mesmo que ainda estejam abaixo do que era capaz Rossi. Talvez não vejamos arquibancadas inteiras vestidas com a cor e torcendo por um único piloto, mas eles estarão lá para apoiar seus ídolos e manter a MotoGP em evidência esportiva. E apreciando os ases e equipes da competição.
Marc Márquez (acima) quer voltar a reinar na MotoGP, como fazia até 2019, e pode infernizar o atual campeão Fabio Quartararo (abaixo), que busca o bicampeonato.
O que todos esperam este ano é um duelo triplo, entre o atual campeão, Fabio Quartararo, o vice-campeão Francesco Bagnaia, e o retorno com tudo de Marc Márquez, o maior nome do grid da MotoGP na última década, cujos números encontravam eco apenas nos de Valentino Rossi. Quartararo tem a difícil missão de defender seu título, tarefa que promete ser bem mais complicada este ano do que ter conquistado o certame em 2021. A Yamaha parece não ter evoluído tanto quanto as equipes rivais, a ponto de Quartararo já colocar até mesmo o seu futuro no time dos três diapasões em dúvida, se seu equipamento não for tão competitivo quanto o dos adversários. Pelo seu lado, Bagnaia é a grande aposta da Ducati, por mais que equipe e piloto tentem negar o favoritismo implícito pelo bom desempenho demonstrado pela equipe nas etapas finais de 2021, e boas performances vistas nos testes da pré-temporada, que facilmente podem colocar a Desmosédici como a melhor moto de todo o grid. E, claro, o mais óbvio: o esperado retorno da “Formiga Atômica”, que já avisou que não precisa estar 100% totalmente recuperado para lutar pelo título, dando a entender que está muito mais inteiro agora do que em seu retorno ano passado, ainda mais com a Honda tendo boas impressões sobre as mudanças efetuadas em seu equipamento, e que prometem revigorar a equipe japonesa, que virou coadjuvante nos dois últimos anos, sem ter como contar com sua principal estrela.
E é bom não se esquecerem da Suzuki, que deu uma repaginada em seu equipamento, e com Joan Mir, que quer o bicampeonato. O piloto continuou mostrando uma regularidade e constância impressionante no ano passado, mas a performance da moto, especialmente em classificação, ficou devendo para as concorrentes mais fortes, Yamaha e Ducati. Os testes da pré-temporada mostram que os japoneses fizeram sua lição de casa, e podem dar dor de cabeça aos rivais.
Um pouco mais atrás, tentando reencontrar o seu rumo, a KTM ainda parece estar no meio do grid na relação de forças da competição este ano. Depois do bom momento vivido em 2020, a equipe austríaca desandou no ano passado, e mesmo tendo obtido duas vitórias, esteve longe de repetir a performance do ano anterior, quando tudo indicava que a marca iria conseguir lutar pelo título da competição.
Francesco Bagnaia: vice-campeão de 2021 seguiu carreira no motociclismo inspirado e apoiado por Valentino Rossi.
Quem
quer surpreender mesmo é a Aprilia, que agora em vôo solo, e com status de time
de fábrica, quer aproveitar para enfim obter sua primeira vitória na classe
rainha. E, quem também quer dar a volta por cima é Maverick Viñales, que saiu
pela porta dos fundos da Yamaha no ano passado, no meio da temporada, e ficou
com sua imagem queimada perante muitos fãs por ter perdido a cabeça e a
estabilidade após ficar na sombra do novo companheiro de equipe Fabio Quartararo.
De candidato a campeão em potencial a demitido pelo time oficial da Yamaha no
meio do ano certamente foi um baque contundente. Fica a dúvida se o piloto irá
conseguir se recuperar. Viñales não é o primeiro a passar por maus pedaços e
cair em quase completo descrédito e ter de lutar para recuperar-se na pista e o
prestígio perdido. Johaan Zarco, por exemplo, ficou bem queimado após perder as
estribeiras há algum tempo atrás e vem conseguindo recuperar sua imagem na
Pramac, onde fez excelentes provas no ano passado, flertando até com a vitória
em várias oportunidades. Por outro lado, também temos exemplo de pilotos vitoriosos
que despencaram na competição e não conseguiram mais recuperar sua imagem, como
Jorge Lorenzo, que não teve uma passagem dos sonhos como imaginava pela Ducati,
depois de deixar a Yamaha. Após sair brigado do time italiano, o espanhol foi
tentar se recuperar na Honda, e o que poderia ser sua redenção virou um
pesadelo completo quando acabou esmagado por Marc Márquez no time nipônico, sem
conseguir se entender com a moto japonesa. O baque foi tanto que Lorenzo
resolveu pendurar o capacete, mesmo sendo tricampeão da categoria. Qual
trajetória Viñales vai refletir: a redenção ou o purgatório? A conferir nas
corridas deste ano.
Há ainda muito mais a ser oferecido ao público. Teremos o maior campeonato da MotoGP desde sempre, com 21 corridas, encerrando-se somente em novembro, e estreando oficialmente em mais dois países, confirmando o crescimento da categoria, tanto mercadológica quanto esportivamente. Pode ser que eles venham a encontrar outro ícone que represente a classe rainha do motociclismo, mesmo que sem toda a capacidade demonstrada por Valentino Rossi, mas se não achar, não ficará tão ruim quando poderia se imaginar alguns anos atrás, quando a dependência da MotoGP do “Doutor” era muito, muito maior. Eles têm condições de andar com as próprias pernas atualmente, e podem apostar que saberão fazer isso com muita competência. Então, vamos à competição, que é hora de acabar com a abstinência das disputas em alta velocidade nas duas rodas! É hora de acelerar fundo com a MotoGP 2022!
Fiquem ligados nos horários da MotoGP para as disputas no domingo. A transmissão na TV por assinatura será no canal ESPN 4, antigo Fox Sports 2. As competições também estarão disponíveis no serviço de streaming Star +, do Grupo Disney, oferecendo aos fãs da velocidade que possuem acesso a este serviço de poderem acompanhar as corridas da MotoGP e suas categorias de acesso. A largada da Moto3 está marcada para as 9:00 Hrs. Em seguida, às 10:20 Hrs., é a vez da Moto2 entrar em ação. E fechando o dia, em Losail, é a vez da classe rainha, a MotoGP, dar a largada do campeonato de 2022, a partir das 12:00 Hrs., todos horários de Brasília.
A situação de Nikita Mazepin está complicada. Com a guerra rolando solta na invasão famigerada de Vladimir Putin e o exército russo na Ucrânia (enquanto os manifestantes russos que pedem paz e o fim da guerra recebem de presente as bordoadas da polícia russa e são presos sem a menor cerimônia pelas forças de segurança de seu próprio país por discordarem de seu presidente), a FIA resolveu que não baniria os pilotos russos, e que eles poderiam competir sem bandeira em suas respectivas competições. Só que no caso de Mazepin o buraco é mais embaixo, e bota embaixo nisso: o russo só garantiu lugar na equipe Haas graças ao “paitrocínio” da Uralkali, uma gigante russa do ramo de fertilizantes de sua família, porque pelo talento apenas, Nikita nem seria notado pelo time de F-1. Mas, com boa parte do mercado financeiro e econômico mundial cortando laços com a Rússia em represália ao conflito, torna-se insustentável para o time continuar com o apoio da empresa russa, até porque os pagamentos oriundos da Rússia estão sendo dificultados pelo boicote dos sistemas financeiros. E sem pagar, Mazepin provavelmente deve dizer adeus à sua condição de titular da equipe de Gene Haas. Até o fechamento desta coluna, ainda não se tinha uma posição de quem seria o seu substituto. Gunther Steiner, chefe da escuderia norte-americana, declarou que Pietro Fittipaldi, que já é piloto reserva e de testes do time, seria o substituto natural. Mas começam a rolar outras hipóteses, sendo que uma delas seria que Antonio Giovinazzi poderia assumir o cockpit do russo como novo companheiro de Mick Schumacher. Giovinazzi ficou sem lugar na F-1 para este ano após ser dispensado da Alfa Romeo, e arrumou lugar na equipe Dragon para disputar a temporada 2022 da Formula-E. Mas parece que o italiano detestou a categoria, em especial o carro pouco competitivo do time de Jay Penske. Como Giovinazzi ainda mantém laços com a Ferrari, esta poderia realocá-lo no time da Haas, que aliás usa a unidade de potência dos italianos, além de vários outros componentes e sistemas do carro. O “empréstimo” poderia significar também um abatimento nos pagamentos dos propulsores utilizados, entre outras benesses. Se isso se confirmar, e precisando desesperadamente de recursos para competir no mundial, após ficar sem os rublos do pai de Mazepin, não seria nada difícil Pietro dançar nessa combinação, e ver Giovinazzi assumir como novo titular da escuderia, já que o brasileiro não tem patrocinadores fortes para bancar uma disputa financeira pelo lugar na Haas. Com a segunda sessão coletiva de testes da F-1 programada para a próxima semana, talvez tenhamos novidades a respeito. Comenta-se que até Nico Hulkenberg poderia entrar na jogada, mas o piloto alemão, apesar de seus bons prognósticos de talentos, também não anda com uma carteira recheada, a exemplo de Pietro. Vejamos como a situação irá se desenrolar.
E a prova da Rússia na F-1 acaba de dizer “do svidaniya” (adeus, em russo). A direção da F-1 praticamente encerrou o contrato de realização da corrida do país, que até então estava oficialmente “suspenso”. Com a decisão, a Rússia foi praticamente riscada do mapa da categoria máxima do automobilismo deste e pelos próximos anos. O contrato atual ia até 2025, sendo que este ano seria a última realização da prova na cidade de Sochi, aproveitando o traçado montado no parque olímpico da cidade. Para 2023, a corrida passaria a ser realizada em São Petesburgo. Uma medida até mais dura do que se imaginava, até porque a FIA não puniu os pilotos russos que participam de competições fora de seu país, apenas determinando que eles não podem correr sob a bandeira russa, e devem usar bandeira neutra. Daniil Kvyat, piloto russo com passagem pela F-1, e atualmente piloto reserva da Alpine, e piloto titular da equipe G-Drive no enduance, disse que era injusto o tratamento que os esportistas russos estavam recebendo. Não deixa de ter certa razão, mas alguns esportistas, infelizmente, possuem ligações, ainda que indiretas, com o governo russo, e aí fica mais complicado defender a neutralidade deles, mesmo que não tenham de fato nada a ver. No caso de Nikita Mazepin, por exemplo, o problema é que a empresa de seu pai, um bilionário russo, é cercada de suspeitas de negócios escusos favorecidos por ter laços com o Kremlim, então... Infelizmente, isso ainda vai dar muito pano para discussões, e o povo ucraniano, lamentavelmente, não será o único a sofrer com os efeitos deste conflito insano desencadeado por Vladimir Putin. Rezemos para que o pior não venha a acontecer...
Max Verstappen teve seu contrato renovado com a Red Bull até 2028, e com substancial aumento salarial, passando dos estimados 22 milhões de euros por temporada para 50 milhões de euros. O holandês passará a ser o piloto mais bem pago da categoria, se estes valores forem confirmados. Dizem que Lewis Hamilton ganha cerca de 36 milhões de euros por ano...
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