O circuito holandês de Zandvoort está oficialmente de volta à F-1.
E hoje começam os
treinos da F-1 na pista de Zandvoort, que faz seu retorno ao mundial da
categoria máxima do automobilismo depois de mais de 35 anos. A última corrida
no circuito foi disputada em 1985. E, diferente daqueles saudosos tempos, os
holandeses têm um ídolo nacional para torcer. Max Verstappen é a estrela da
casa, e um dos responsáveis pelo retorno do circuito holandês ao circo da
categoria máxima do automobilismo, aproveitando a fama do intrépido piloto da
Red Bull.
Um retorno que deveria ter ocorrido no ano passado, mas que diante da pandemia da Covid-19, que virou pelo avesso o mundo inteiro, acabou cancelada, assim como várias outras corridas. E neste ano, enfim, está podendo fazer o seu retorno. E com público, graças ao avanço da imunização no país, apesar de algumas restrições. Portanto, chegou a hora da torcida holandesa fazer a sua festa em solo próprio, uma vez que, nos últimos anos, sem um GP nacional, os torcedores foram manifestar seu apreço a Verstappen nos GPs de países próximos, como Alemanha, Bélgica, e Áustria, cujas arquibancadas foram coloridas de laranja pelos fãs alemães.
E não dá para ignorar que o sonho de todos é ver um repeteco do que ocorreu nas duas corridas disputadas em Zeltweg, na Áustria, este ano, onde Max Verstappen deitou e rolou em cima da concorrência, e principalmente, de Lewis Hamilton, desde já o “inimigo público número 1” declarado por parte da torcida presente, que deve vaiar o heptacampeão com grande vigor, não apenas por ser o grande rival de seu ídolo, mas especialmente depois do ocorrido em Silverstone, onde ambos os pilotos se tocaram, resultando no abandono do holandês da prova, que acabou vencida por Hamilton. E que muitos torcedores desejam que se repita no circuito holandês, com os papéis invertidos: abandono de Hamilton, e vitória de Verstappen, que reassumiria a liderança do campeonato, perdida após o GP da Hungria.
Com um traçado de 4,259 Km de extensão, e 14 curvas, Zandvoort passou por uma grande reforma para voltar a receber a categoria máxima do automobilismo, já que as instalações antigas não eram compatíveis com as atuais necessidades das escuderias da F-1. Na verdade, o circuito venceu uma disputa com outra pista holandesa, Assen, um dos mais icônicos circuitos do Mundial da MotoGP, onde é chamado de “Catedral” pela turma de competição das duas rodas. Infelizmente, o traçado atual de Zandvoort não é o mesmo de antigamente, e de relevante mesmo, só a mudança feita na última curva, que dá acesso à reta dos boxes, e que ficou inclinada, bem ao estilo das pistas ovais da Indycar, e contando inclusive com o softwall, o muro de segurança que equipa estes circuitos. O grau de inclinação é de 18º, e deve causar um certo frisson nos corredores, que entrarão com tudo na reta do circuito. Aliás, esta curva ganhou o nome de Arie Luyendyk, que foi um nome importante das categorias Indy nos anos 1990 nos Estados Unidos, tendo vencido as 500 Milhas de Indianápolis em 1990 e 1997.
E um dos problemas que os pilotos terão neste novo circuito é em fazer ultrapassagens. Há muitas curvas e os trechos de retas são pequenos, de modo que as disputas de posição serão complicadas, especialmente para quem largar de trás. E ainda tem um agravante: a pista é estreita, o que complica ainda mais a situação. Já era um agravante nos velhos tempos, quando a pista não tinha problemas crônicos de ultrapassagem por possuir um traçado mais aberto e menos travado. Mas atualmente, isso pode transformar a prova holandesa em uma procissão igual à vista nas ruas de Mônaco, o que vai tornar a classificação para o grid tão decisiva quanto, pois quem largar na frente pode ter praticamente a corrida ganha. E, infelizmente, não há como recuperar o traçado antigo, já que parte do terreno ao redor foi ocupado por bairros residenciais.
A disputa pela pole-position deve ser intensa, e será interessante ver quem irá se dar melhor neste “novo” velho circuito que retorna à categoria. E depois do fiasco que foi o não-GP da Bélgica no domingo passado, o anseio dos fãs é que haja uma corrida de verdade, para variar. E, dependendo do resultado, podemos ver nova mudança na liderança do campeonato, já que a diferença entre Lewis Hamilton e Max Verstappen agora é de míseros 3 pontos. Os dois pilotos devem duelar pela vitória no circuito holandês, e algo que todos querem saber é se a Mercedes conseguiu reequilibrar a disputa o suficiente para lutar a fundo pelo título da temporada, já tendo encerrado as atualizações do modelo W12 para se concentrar no carro de 2022, enquanto a Red Bull pretende apostar tudo por tudo no RB16B para ser novamente campeã este ano. Em Silverstone, Hamilton conseguiu reverter as expectativas, e dar a alegria da vitória à torcida britânica. Max Verstappen conseguirá fazer o mesmo feito diante de seu público, no GP de seu país? Começaremos a ver alguns indícios da resposta já hoje mesmo, pois sendo um circuito desconhecido de todos os times, todo mundo vai usar os treinos livres desta sexta a fundo para encontrar os melhores ajustes para os carros, e tentar definir suas estratégias de corrida.
Que Zandvoort possa fazer um bom retorno à F-1, e apesar dos prognósticos, consiga nos surpreender apresentando uma emocionante corrida...
De coincidência, o último GP disputado em Zandvoort, e a corrida deste ano, tem o fato de que ambas as corridas foram protagonizadas por bólidos impulsionados por motores turbo. Se nos dias de hoje os nomes dos propulsores são Renault, Mercedes, Honda, e Ferrari, só a marca alemã não estava presente no grid da pista holandesa em 1985. Nélson Piquet foi o pole-position naquele ano, com a Brabham/BMW turbo, em uma temporada onde a equipe fundada por Jack Brabham exibia seus últimos resquícios de competitividade, com um carro até rápido, mas de performance inconstante, e de fiabilidade ainda pior, digladiando-se com pneus da Pirelli que eram inferiores aos Goodyear, que equipavam os demais times vencedores. E o calvário de Piquet começou logo na largada, quando o brasileiro não conseguiu arrancar daquela que foi sua única pole-position na temporada, ficando parado no grid, e caindo para o último lugar, tendo uma luta inglória para tentar recuperar posições e algum resultado decente, o que era quase impossível de fazer. Tanto que o brasileiro terminou apenas na 8ª posição, 1 volta atrás do vencedor, Niki Lauda, com a McLaren/TAG-Porsche, que conquistava ali a última vitória de sua gloriosa carreira na F-1, que encerraria ao fim daquela temporada, aposentando definitivamente o capacete. Lauda havia largado apenas em 10º lugar, e fez uma corrida combativa, bem ao seu velho estilo, em uma temporada onde o veterano piloto, que havia conquistado o tricampeonato na temporada anterior, já mostrava que não estava mais rendendo como gostaria de fazer. Alain Prost, que havia largado em 3º lugar, terminou em 2º, fazendo uma dobradinha da equipe McLaren na corrida. O pódio foi completado por Ayrton Senna, com a Lotus/Renault, em mais uma boa prova do brasileiro, que havia largado em 4º lugar, mas não teve como desafiar a performance dos carros de Ron Dennis, e precisou batalhar para segurar um aguerrido Michele Alboreto, com a Ferrari, para não perder seu lugar no pódio, uma vez que seu motor Renault estava falhando de forma intermitente. Keke Rosberg, que havia largado na 1ª fila, ao lado de Piquet, com a Williams/Honda, ficou pelo meio do caminho, abandonando com problemas de motor. A corrida foi a 11ª prova da temporada de 1985, que contou com 16 corridas, e ao fim do GP holandês, Alain Prost assumia de forma decidida a liderança do campeonato, com 56 pontos, 3 à frente de Alboreto. Os dois pilotos chegaram à Holanda empatados em 50 pontos, mas com Prost classificado em 1º lugar por ter 4 vitórias, contra apenas 2 de Alboreto, no único ano em que o italiano disputou o título mundial da F-1. Infelizmente, para a Ferrari, e principalmente para Michele, seria seu último resultado positivo na temporada: Alboreto abandonou as 4 últimas corridas do ano, e fez um melancólico 13º lugar na Itália. Já Prost venceria em Monza, e com mais 2 pódios em 3º e um 4º lugar, terminaria o ano como campeão, com 73 pontos válidos contra os 53 de Alboreto, o primeiro título do “Professor” na F-1, que ainda venceria as temporadas de 1986, 1989, e 1993.
Mas a história do GP da Holanda, ou mais propriamente, Grande Prêmio dos Países Baixos, é bem antiga. Começou com a terceira temporada da F-1, em 1952, e teve o italiano Alberto Ascari vencendo as duas primeiras edições da corrida, defendendo a Ferrari. O GP esteve ausente na temporada de 1954, mas em 1955, viu o argentino Juan Manuel Fangio, com a Mercedes, faturar a vitória. A Holanda ficaria novamente de fora do calendário da categoria máxima do automobilismo em 1956 e 1957, retornando em 1958, para ver Stirling Moss, com a Vanwall, vencer a corrida. De 1958 a 1985, Zandvoort esteve presente em todas as temporadas da F-1, sediando o Grande Prêmio da Holanda, com exceção da temporada de 1972.
O escocês Jim Clark é o maior vencedor da F-1 na pista de Zandvoort, com 4 triunfos, obtidos nas temporadas de 1963, 1964, 1965, e 1967. Jackie Stewart vem a seguir, com 3 vitórias, conquistadas em 1968, 1969, e 1973, empatado com Niki Lauda, também com 3 triunfos, nas edições de 1974, 1977, e 1985. Alberto Ascari, Jack Brabham, James Hunt e Alain Prost subiram ao degrau mais alto do pódio holandês em duas ocasiões cada um. E houve apenas uma vitória brasileira neste GP, obtida em 1980, por Nélson Piquet, com a Brabham/Ford, no ano em que terminou como vice-campeão da temporada.
E Kimi Raikkonen anunciou sua aposentadoria definitiva da F-1, ao fim da atual temporada da categoria máxima do automobilismo. Atual recordista de GPs disputados na F-1, Kimi estava fazendo praticamente figuração nos últimos anos, desde que foi dispensado pela Ferrari para a chegada de Charles LeClerc. Kimi é até hoje o último piloto a ser campeão pela Ferrari, em 2007, superando por um ponto a dupla da McLaren naquele ano, formada por Fernando Alonso e Lewis Hamilton, que se digladiaram durante todo o ano, e acabaram permitindo a conquista do piloto finlandês, que ocorreu aqui em Interlagos, em uma prova onde Felipe Massa, atendendo aos anseios do time italiano, declinou da luta pela vitória no GP do Brasil, para a conquista de Kimi. Mesmo com a conquista do título, o finlandês acabou dispensado pela Ferrari ao fim da temporada de 2009, devido ao seu desinteresse na competição, com a escuderia promovendo a entrada de Fernando Alonso no seu lugar na temporada de 2010. Kimi foi se divertir em outras categorias automobilísticas nos dois anos seguintes, retornando à F-1 em 2012 na Lotus, fazendo duas excelentes temporadas em 2012 e 2013, até vencendo corridas, em um time que não era tão competitivo quanto Ferrari, Red Bull, e McLaren. Chamado de volta à Ferrari, o finlandês substituiu seu antigo companheiro de equipe Felipe Massa no time de Maranello a partir de 2014, quando o brasileiro se mudou para a Williams. A segunda passagem de Raikkonen pela Ferrari foi bem mediana, tendo ficado sempre à sombra de seus companheiros de equipe Fernando Alonso (2014) e Sebastian Vettel (2015 a 2018). Mas, pelos serviços prestados à Ferrari, esta o realocou na Alfa Romeo, a antiga Sauber, que foi abraçada pela marca da primeira campeã da F-1, e hoje pertencente ao Grupo Ferrari. E, nestas últimas temporadas, Kimi continuou fazendo parte do grid, mas deixando de ser protagonista das disputas.
Desnecessário dizer que a F-1, quando precisa mostrar traquejo e competência, costuma dar alguns tiros no próprio pé. Foi o que vimos domingo passado, na Bélgica, quando tivemos um GP que na verdade não foi um GP. OK, as condições de tempo em Spa-Francorchamps não eram viáveis para se disputar uma corrida. Já tínhamos visto a batida de Lando Norris na última parte da classificação no sábado, e uma batida de nada menos de seis carros na W Series, ambos os acidentes praticamente no mesmo ponto, a saída da Eau Rouge e a tomada da Raidillon, um dos trechos mais velozes do circuito belga. Depois de vários adiamentos, que se constatasse a impossibilidade de se realizar a corrida, adiando-a para a segunda-feira, ou cancelando o GP, praticamente. Mas não, nada tão simples. Fizeram os carros dar algumas poucas voltas atrás do Safety Car, e então encerraram a prova, inclusive com atribuição de vitória, que ficou para Max Verstappen, que largava na pole, e os pontos respectivos, mas reduzidos à metade. Mas, como se chama de corrida, algo que não foi corrida, pura e simplesmente? Uma corrida é uma disputa, e com a carro de segurança à frente, tudo o que não houve foi disputa, pois não havia luta por posições, ninguém podia ultrapassar ninguém, e como você pode dar pontos, se o pessoal praticamente não batalhou por eles como deveria ser? Quando se fala que a F-1 tem um monte de regras esdrúxulas e inúteis, os artigos regulamentares que usaram como justificativa para se fazer o que foi feito resumem bem quão incapaz a FIA pode ser. Por mais que se apregoe respeito às regras, estas deveriam ser evoluídas e melhoradas para quando fossem necessárias. A F-1, contudo, parece só se mexer na base do tranco, pois a situação de domingo poderia ter sido muito melhor conduzida, não fossem regras imbecis, e falta de jogo de cintura para se contornar a situação. E, com a próxima corrida no fim de semana seguinte, o que deveria ser mais uma justificativa para se cancelar de vez a corrida, já que não haveria como correr na segunda-feira, acaba jogando contra também, já que entre as pistas de Spa, na Bélgica, e Zandvoort, na Holanda, são cerca de 300 quilômetros, tanto é que todo o material das equipes já se encontrava no paddock da pista holandesa no início da tarde de segunda mesmo. Com alguma sorte, poderia se disputar a prova belga na segunda-feira, e teríamos uma corrida. Talvez sem público, mas quantas provas ficaram sem público por causa da Covid-19 desde o ano passado? A Indycar já fez isso várias vezes, em que pese sua estrutura ser bem menor do que a da F-1. E, suspender a corrida, para realiza-la em outro momento também expõe um problema que a categoria vem criando nos últimos tempos: o inchaço do calendário, de modo que não sobram datas viáveis que poderiam ser utilizadas em caso de corridas suspensas por problemas climáticos. Com uma temporada prevendo 23 corridas, e que se concluirmos 22 já será muito, não há praticamente um fim de semana livre para se realizar a prova belga em outro momento. Depois desse fiasco, a FIA promete rever os regulamentos para evitar que o caso se repita, mas a mancha na reputação de profissionalismo da categoria vai ficar. E repito: não correr foi o certo. Mas poderiam ter tomado tal decisão sem tanta palhaçada... Veremos se farão bom uso dessa experiência no futuro...
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