A Formula-E realiza seu encerramento de temporada em Berlim, na pista montada no antigo aeroporto de Tempelhof.
O campeonato dos
carros monopostos elétricos chega a Berlim para o encerramento da atual
temporada da categoria. O palco é mais uma vez o antigo aeroporto de Tempelhof,
que no ano passado, por conta da pandemia da Covid-19, sediou uma rodada
sêxtupla, para que fosse possível encerrar o campeonato, que estava suspenso.
Desta vez, contudo, teremos apenas uma rodada dupla, com o diferencial de que
cada uma das corridas será realizada em um sentido da pista, com a seguinte no
sentido contrário, a fim de tornar mais imprevisível o cenário da corrida para
equipes e pilotos.
E tome gente embolada: temos uma diferença de apenas 23 pontos entre os dez primeiros colocados na classificação do campeonato. Do líder Nyck De Vries, da Mercedes, com seus 95 pontos, temos Robin Frijns, da Virgin, com 89 pontos; Sam Bird, da Jaguar, com 81 pontos, empatado com Jake Dennis, da BMW Andretti; Antonio Félix da Costa, da Techeetah, com 80 pontos; Alex Lynn, da Mahindra, com 78; Nicky Cassidy, da Virgin, com 76; Mith Evans, da Jaguar, com 75; Edoardo Mortara, da Venturi, com 74; e René Rast, da Audi ABT, com 72 pontos. Levando-se em conta que ainda temos 58 pontos em jogo neste final de semana, não é forçado dizer que qualquer um destes pilotos pode levar o campeonato, dependendo de sua performance, e do que acontecer com os demais pilotos. Matematicamente falando, alguns outros pilotos ainda tem até chances, como por exemplo o brasileiro Lucas Di Grassi, que é apenas o 14º colocado, com 62 pontos, contudo, suas chances necessitam de um malabarismo de resultados muito mais complexo, e que aliado ao retrospecto do piloto na temporada atual, é extremamente difícil de acontecer. Por caminho similar está Jean-Éric Vergne, o 12º colocado, com 68 pontos. E estamos falando de pilotos campeões, que conquistaram três títulos na F-E até aqui (um título para Di Grassi, e dois para Vergne), metade dos campeonatos disputados na história da categoria. Quem será o campeão desta sétima temporada?
Se os pilotos estão embolados, as equipes não ficam atrás. A Virgin ocupa uma inédita liderança no campeonato, faltando duas provas para o final, com 165 pontos, com a Mercedes logo atrás, com 158; e a Jaguar, com 156. A Techeetah tem 148, e a BMW Andretti, 143. Todos elas podem terminar com o título de equipes na temporada, a depender dos resultados em Berlim. E, se nenhum piloto conseguiu dominar a temporada, o mesmo vale para as equipes. Mercedes e BMW Andretti venceram 3 provas cada uma; a Techeetah e a Jaguar triunfaram em duas corridas cada uma; sobrando Audi ABT, Venturi, e Mahindra, com uma vitória cada uma no ano. Entre os pilotos, Nyck De Vries, Jake Dennis, e Sam Bird venceram duas vezes; e os demais pilotos, Lucas Di Grassi, Stoffel Vandoorne, Alex Lynn, Edoardo Mortara, Maximilian Guenther, e o atual campeão da categoria, Antonio Félix da Costa, venceram apenas uma corrida cada um. Bastante gente subiu ao degrau mais alto do pódio, e tem muita gente e muita equipe no bolo. Mas, só pode haver um vencedor. Qual vai ser? Uma pergunta difícil de responder no momento, pois tudo pode acontecer.
No balanço geral, a temporada da F-E até que foi razoável. Algumas provas tiveram de ser canceladas, devido às restrições decorrentes da pandemia do coronavírus, sendo substituídas por rodadas duplas, uma solução que se mostrou mais fácil de utilizar, para compensar a falta de maiores opções. E a maioria das corridas acabou sendo realizada na Europa, tendo apenas as rodadas duplas da Arábia Saudita, México e Estados Unidos sendo realizadas fora do Velho Continente. Com alguns trancos e vários barrancos, a organização da F-E conseguiu montar um campeonato com 15 corridas, o que ficou de bom tamanho.
Quanto à competição, infelizmente a categoria, em seu primeiro ano como campeonato mundial chancelado pela FIA, ficou devendo muito em certos momentos, mostrando que ainda precisa corrigir vários vícios e erros que vem se tornando crônicos na categoria, e que merecem uma revisão urgente para aprimoramento. Um deles são as desclassificações técnicas que vem ocorrendo, em quantidade até grande para uma categoria que se propõe ser um panorama do futuro das competições automobilísticas. E um dos cenários mais bizarros que vimos foi a tentativa da Audi de manobrar na segunda corrida de Londres para que seu piloto Lucas Di Grassi superasse nos boxes os pilotos que seguiam atrás do Safety Car na pista. Embora a manobra não fosse proibida pelo regulamento, era um flagrante de deslealdada para se ultrapassar os adversários, e só foi possível punir o piloto e o time porque o brasileiro não “parou” adequadamente no pit lane como deveria fazer, dando a brecha que a direção de prova precisava para corrigir o que seria uma manobra desleal, mas que era possível de ser feita, à luz do regulamento técnico vigente. Uma brecha que será corrigida, dizem os organizadores e a FIA. Mas é preciso mudar outras coisas, e não é de hoje que isso é ventilado.
Algumas corridas foram bem loucas na temporada atual, com algumas situações inusitadas, e até bizarras.
Outra mudança que
precisa ser feita é em relação ao treino classificatório, que tem penalizado
até excessivamente os líderes do campeonato, que são sempre os primeiros a
marcar tempo, pegando a pista geralmente mais suja, enquanto os colocados menos
afortunados na pontuação acabam privilegiados por pegarem o circuito em
condições teóricas mais favoráveis. Está certo que é uma maneira de favorecer
os pilotos menos bem colocados no campeonato, e tentar impedir que os líderes
consigam disparar na frente, se conseguissem sempre largar em boas posições,
ainda mais porque todas as pistas são de ultrapassagens complicadas. Mas
poderiam evoluir o formato dos treinos de modo a não penalizar demasiado os
líderes, e não favorecer tão explicitamente a turma de trás. E dar um jeito de
permitir mais de uma volta de classificação para os pilotos, como forma de
aumentar a luta por posições no grid.
Em termos de circuitos, a categoria experimentou correr em novas pistas permanentes, em Valência, na Espanha, e Puebla, no México, com resultados muito aquém do esperado, em especial na primeira corrida no circuito Ricardo Tormo, onde vários competidores tiveram “pane seca elétrica”, ficando sem energia para completar a corrida, uma vez que, além do consumo de energia excessivo, o decréscimo de carga dos carros imposto pelo tempo em regime de Safety Car ajudou a complicar a situação de muitos pilotos, tornando as voltas finais um verdadeiro drama de sobrevivência na pista. Em Puebla, o que desgostou os pilotos foram as más condições do asfalto do circuito, uma vez que o traçado era até mais interessante do que o normalmente utilizado no autódromo Hermanos Rodrigues, na Cidade do México, que não pode ser utilizado este ano por estar servindo como hospital para os casos de Covid-19.
Já a pista mista indoor/offdoor montada no Excel Centre em Londres até teve um visual diferente, mas ficou bem complicado fazer ultrapassagens, e em alguns momentos tivemos colisões nas tentativas de ultrapassagens, devido ao traçado estreito. Dentro do imenso galpão do local, impossível não imaginar estar em um circuito indoor gigante de kart, dando um ar diferenciado às provas. Diria que esta experiência ficou no meio-termo: não foi de todo ruim, mas precisa de melhorias. Com algumas mudanças, pode oferecer um traçado que propicie maiores disputas e pegas entre os pilotos.
Os circuitos precisam de mudanças, a fim de melhorar as condições de disputa, ainda mais porque, em breve, a categoria adotará a terceira geração de carros, muito mais rápida que a atual. Alguns traçados possuem trechos truncados ou estreitos demais, inviabilizando as ultrapassagens, necessitando de retificações urgentes. E, com os carros sendo mais velozes, os trechos mais favoráveis para disputas de posições devem se tornar mais difíceis, já que serão percorridos em menos tempo. Como a nova geração de baterias deve ser mais potente, é de se imaginar o que farão para aproveitar essa evolução dos sistemas. Com maior potência, e consequente maior autonomia, podemos ter corridas mais longas, e também circuitos maiores, que possibilitem melhores disputas de posição, e não resultarem em “trenzinhos” de competidores com poucas opções de mudanças. A F-E já fez algumas mudanças em pistas, visando resolver isso, com resultados bem animadores, mas precisa continuar estudando essas mudanças. Todo mundo quer show, e principalmente, disputas. Se ultrapassagens muito fáceis tiram a graça, deixa-las quase impossíveis também não é viável, até porque, com os ânimos exaltados, alguns pilotos acabam indo para o vai ou racha, com toques de rodas e carros, que poderiam render disputas mais empolgantes se tivessem um pouco mais de espaço para usarem. É verdade que, diante das dificuldades criadas pela pandemia da Covid-19, este assunto ficou em segundo plano: conseguir viabilizar e disputar o campeonato passou a ser a principal preocupação, e não se pode dizer que estão errados.
Lucas Di Grassi (acima) e Sérgio Sette Câmara (abaixo) tiveram um campeonato com mais baixos que altos na F-E em 2021.
E, pelo menos nesse quesito, o traçado montado dentro do imenso pátio de Tempehof ajuda a propiciar uma corrida com mais opções de disputa, já que a largura da pista é mais generosa, e os pilotos podem batalhar por posições sem correrem riscos demasiados de ralar nos muros ou nos outros competidores. E com as corridas sendo disputadas em sentidos inversos, obtém-se provas com panoramas e possibilidades bem distintas. Em outras palavras, a emoção deve ser garantida tanto no sábado quanto no domingo. E valendo o título da temporada.
A rodada dupla de Berlim também marca a despedida de duas marcas no certame. Presente desde o início da categoria, primeiro com apoio, e depois como time oficial, a Audi decidiu redirecionar seus esforços de competição para outras áreas, optando por encerrar sua aventura na F-E. Até o presente momento, não se sabe o que será feito do time, que é uma parceria da Audi com a ABT, que pode muito bem continuar na competição, como uma escuderia independente, em que pese a informação de que provavelmente não haverá essa permanência, o que reduziria o grid atual de 24 para 22 carros. Quem também está dando adeus é a BMW, que tem no time de Michael Andretti sua escuderia oficial na categoria, a qual já anunciou que segue na competição, e continuará utilizando o trem de força da empresa bávara, agora em regime de equipe cliente. Assim como a Audi, a BMW está alterando suas metas de participação em competições, visando outros objetivos. A Virgin, equipe que usa o trem de força da Audi, pode continuar como equipe cliente, ou utilizar outro trem de força. A DS, que tem na Techeetah seu time oficial na categoria, já anunciou que pode fornecer seu trem de força para outros times, se tiverem interesse.
Para os brasileiros, a temporada foi de mais baixos do que altos. Se Sérgio Sette Câmara padeceu durante todo o ano com a falta de competitividade da equipe Dragon/Penske, que não lhe permitiu maiores vôos na competição, ocupando apenas o 22º lugar, com 16 pontos, por outro lado, Lucas Di Grassi tinha maiores expectativas, já que a Audi, se não tinha o melhor carro, estava em teoria longe de não ser competitiva. Mas ambos amargam o fato de estarem atrás de colegas de equipe na classificação. Sergio viu seu ex-parceiro Nico Muller ficar em 19º na classificação com 30 pontos. Já Di Grassi viu seu novo parceiro René Rast ficar melhor classificado toda a temporada, com o alemão sendo o 10º colocado, com 72 pontos, e ele, Di Grassi, estar em 14º, com 62 pontos.
Em termos de divulgação, o certame elétrico teve sua estréia na TV aberta brasileira, com todas as corridas sendo transmitidas pela TV Cultura. E, numa mudança inesperada, o campeonato continuou a ser exibido também na TV por assinatura, com o SporTV assumindo a competição, que até o ano passado era transmitida com exclusividade pelo Fox Sports. E podemos dizer que ambas as emissoras cumpriram bem o seu papel, oferecendo aos fãs nacionais da velocidade mais uma opção de competição.
E agora, chegamos ao momento final da temporada. Hora de sabermos quem será o campeão. Um nome já conhecido, ou mais um piloto que será coroado como vencedor? Acompanhemos as corridas, e esperemos que apresentem um espetáculo condizente com o encerramento do campeonato, e a decisão do título. Que venha a largada...
Atenção para os horários das provas da F-E em Tempelhof: a corrida neste sábado será disputada às 9:00 Hrs., enquanto a de domingo terá largada às 10:30 Hrs., ambas pelo fuso horário de Brasília. As duas corridas terão transmissão ao vivo pela TV Cultura, em canal aberto; e pelo SporTV, na TV por assinatura.
A Indycar retorna ao circuito misto do autódromo do Indianápolis Motor Speedway para mais uma corrida da temporada 2021. A prova terá transmissão ao vivo pela TV Cultura a partir das 13:45 Hrs., horário de Brasília, neste sábado. E já no próximo final de semana teremos mais corrida, com a etapa de Gateway, última prova em circuito oval do calendário, que terá ainda as provas de Portland, Laguna Seca, e Long Beach, encerrando a competição.
Quem também acelera neste final de semana é a MotoGP, com a segunda prova da rodada dupla na Áustria, com o GP da Áustria. A corrida terá transmissão ao vivo pelo Fox Sports a partir das 9:00 Hrs., horário de Brasília.
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