E cá estamos nós com mais uma de minhas antigas colunas, esta publicada no dia 25 de junho de 1999, há pouco mais de 22 anos atrás, um bom tempo. E o assunto era o triunfo de Gil de Ferran na etapa de Portland do campeonato da F-Indy naquele ano, que encerrava alguns jejuns bem chatos, tanto em termos profissionais, quanto em termos de torcidas. Não era para menos: tínhamos pilotos às pencas na categoria de monopostos dos Estados Unidos, mas as vitórias andavam mais escassas do que poderia imaginar. Com alguns de nossos pilotos dispondo de carros competitivos, era complicado ver triunfos escaparem a torto e a direito. Mas assim é o automobilismo: nem tudo dá certo quando queremos, e muitas vezes, basta apenas um detalhe para tudo dar errado. Era seguir em frente e continuar tentando, que uma hora as coisas se encaixariam. Gil havia trocado a equipe Hall pela Walker em busca de melhores condições de competição, e de disputa do título, mas isso só viria a acontecer de fato no ano seguinte, em 2000, quando passou a defender a poderosa Penske, mas isso é assunto para um outro texto antigo. Por hora, uma boa leitura a todos, e em breve trago mais colunas antigas aqui...
QUEBRA DE JEJUNS
Enfim, deu vitória brasileira na F-CART. A conquista de Gil de Ferran em Portland, no domingo passado, encerrou alguns jejuns bem incômodos para muita gente na categoria. O principal, para a torcida brasileira, foi ver novamente um piloto brasileiro no degrau mais alto do pódio, o que não acontecia desde a vitória de Maurício Gugelmim no GP de Vancouver de 1997, ou seja, 29 corridas sem uma vitória de nossos pilotos, o que inclui toda a temporada do ano passado. Numa estratégia no melhor estilo “Schumacher”, Gil pisou fundo na pista do circuito de Portland para conseguir vantagem suficiente para seu último pit stop, e para compensar, a equipe Walker foi perfeita nos boxes. Já estava na hora do azar acabar.
Mas o jejum de triunfos brasileiros na F-CART não foi o único a ter fim com a vitória de Ferran. A Goodyear, que ultimamente vem sendo massacrada pela rival Firestone na categoria, não conseguia vencer uma corrida há 25 provas, desde o triunfo de Michael Andretti no GP de Miami, em Homestead, na abertura da temporada de 1998. No atual campeonato, Gil é praticamente o último nome de peso da Goodyear, já que a equipe Newmann-Hass debandou este ano para a Firestone, deixando a fábrica norte-americana sem nenhum time de ponta para desenvolver seus compostos. Outro time tecnicamente de ponta, a Penske, anda perdida no desenvolvimento de seu carro, e não consegue dar parâmetros de competitividade à altura das necessidades da fabricante de pneus. Gil enfatizou que a Goodyear está melhorando sistematicamente seus compostos, mas a Firestone ainda está na frente, especialmente por contar com a grande maioria dos times e pilotos de competição, o que lhes dá uma quantidade muito maior de informações para o desenvolvimento dos pneus. A Goodyear, com poucos pilotos, não consegue reunir tantos dados como o desejado, mas está fazendo o que pode.
Para Gil de Ferran, foi o fim de um jejum ainda mais longo: há 49 corridas que o brasileiro não vencia uma prova, sendo que seu último triunfo foi justamente no circuito onde hoje começam os treinos para mais uma etapa, o aeroporto do Burke Lakefront, em Cleveland. Em 1996, o circuito foi palco de uma luta titânica entre Gil de Ferran e Alessandro Zanardi. Gil, mesmo com um carro inferior ao italiano, e numa pista onde ultrapassar não é problema devido à grande largura da pista, conseguiu segurar o italiano da Chip Ganassi atrás de si. Para Gil, a vitória serviu para reabilitar a sua imagem na categoria e no próprio Brasil, onde as críticas costumam ser implacáveis, depois de ficarmos tanto tempo acostumados com as vitórias de Émerson Fittipaldi. Gil teve um péssimo ano em 1998, mas já está de volta à sua melhor forma, e sua equipe, a Walker, está mais competente, e competitiva este ano. E numa categoria tão equilibrada, qualquer fator a mais é um importante aliado.
A equipe Walker que o diga: o time enfrentava um jejum de vitórias que já durava anos, desde que Robby Gordon conseguiu os primeiros triunfos do time em 1995. De lá pra cá, a equipe não conseguiu mais voltar ao degrau mais alto do pódio, até domingo passado. Depois de enfrentar diversos problemas com os motores da Ford, a vinda de Gil de Ferran em 1997, trazendo junto os motores Honda, deu nova vida ao time, tanto que Gil, mesmo sem vencer na temporada, conquistou o vice-campeonato, fazendo da regularidade e constância sua maior arma, subindo no pódio na maioria das corridas daquele ano. E no ano passado, quando tudo indicava que Gil iria disputar o título pra valer, o time acabou andando para trás, cometendo erros diversos que arruinaram as chances do brasileiro em várias corridas. Como desgraça pouca é bobagem, Gil também andou cometendo vários erros também, mas em várias provas a falta de confiabilidade do carro deixou o piloto a pé. Para este ano, a escuderia procurou evitar os mesmos erros, e aumentou sua estrutura, incluindo um segundo carro, que seria pilotado pelo japonês Naoki Hattori. Mas Hattori bateu forte em Miami, e não volta a pilotar neste campeonato. Mas a partir de Portland, a Walker voltou a contar com dois carros, tendo assumido o piloto Mimo Gidley o segundo carro do time. Apesar de nem conseguir chegar perto da performance do piloto brasileiro, Gidley ajuda na obtenção de informações para o desenvolvimento do chassi e pneus. E a equipe continua firme em seu objetivo: o carro melhorou muito nas últimas duas corridas e, faltando 12 etapas no atual campeonato, Gil está confiante em disputar efetivamente o título.
Realmente, o otimismo melhorou depois da vitória de Gil. E que nossos outros pilotos entrem firmes também na luta pela vitória e pelo título na F-CART. Christian Fittipaldi é outro que vem batendo na trave já há algumas etapas, e pode quebrar o seu tabu a qualquer momento também.
A Penske está praticamente abandonando a idéia de desenvolver o seu próprio chassi. Na etapa de Cleveland, tanto Al Unser Jr. como Tarso Marques usarão chassis comprados da Lola. Os resultados ainda não apareceram, mas os pilotos já enxergam uma luz no fim do túnel, e confiam numa recuperação gradativa da performance da escuderia.
Hoje começam os treinos oficiais em Magny-Cours para a disputa do GP da França de F-1. E o ambiente começou com um jogo de empurra-empurra: tanto Mika Hakkinen quanto Michael Schumacher colocam o rival como o favorito à vitória na prova francesa. Hakkinen, com a liderança do mundial nas mãos, tenta jogar mais pressão sobre o bicampeão alemão, que já anda tenso depois do erro cometido no Canadá, quando bateu sozinho enquanto liderava a corrida. A própria Ferrari não gostou do acidente e o jogo de empurra do alemão no paddock de Magny-Cours também não agradou aos dirigentes do time italiano. E, ainda por cima, o time de Maranello teve de passar um sermão em Eddie Irvinne, que andou falando demais a respeito de seu contrato de piloto com o time, especialmente os detalhes que lhe impõe ser totalmente submisso a Michael Schumacher na pista, e que deve sempre correr a favor do piloto alemão. Outro assunto que começou a agitar o ambiente foi o anúncio da aposentadoria de Damon Hill, que já abre uma vaga em um time de bom potencial para o próximo ano, a Jordan. Houve reações a favor e contra. Bernie Ecclestone, mais radical, pediu que Hill saísse já da categoria. Hill, mantendo a postura de cavalheiro, e acima de tudo, de piloto profissional, diz que pretende cumprir o seu contrato até o fim do ano.
Rubens Barrichello está com a cotação em alta na F-1: já há boatos de negociações do piloto brasileiro com a Ferrari, e até a McLaren, para o próximo ano, além da própria Stewart, claro. Depois das performances de David Coulthard nas últimas corridas, já é dada como quase certa a saída do piloto escocês do time de Ron Dennis. Fica a dúvida do que a McLaren pode fazer em relação a Ricardo Zonta, atualmente piloto da BAR, mas que continua ligado à McLaren, e que poderia ser aproveitado no time prateado na próxima temporada. Há quem não descarte até uma troca dupla dos pilotos do time inglês, e também não ser pode negar a possibilidade de a escuderia contar com dois pilotos brasileiros em 2000...
O novo calendário provisório da F-1 para a próxima temporada coloca a categoria de novo nos Estados Unidos, em uma prova que será disputada em uma nova pista mista que será construída dentro do Indianápolis Motor Speedway. Com 17 etapas, a principal novidade, além da corrida estadunidense, é o período de duração do campeonato: o mundial começará em fevereiro e terminará no início de outubro. O calendário definitivo só será anunciado em outubro. A China, mais uma vez, não irá conseguir sediar uma etapa da F-1, enquanto a Malásia passará a abrir a temporada...
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