sexta-feira, 28 de maio de 2021

CAMPEONATO RELANÇADO

Duas realidades opostas em Mônaco: Charles LeClerc (acima) fez a pole, mas não conseguiu largar para a corrida. E Max Verstappen (abaixo) acabou ganhando de presente a ponta, e rumou firme para a vitória nas ruas do principado.


            E a temporada 2021 da F-1 ganha um tempero renovado com o resultado do Grande Prêmio de Mônaco, uma corrida que foi a tradicional “procissão” sem ultrapassagens ou momentos de destaque, mas que cumpriu o seu objetivo de “relançar” a disputa de um campeonato que muitos já temiam estar de novo endereçado a Lewis Hamilton e à Mercedes. E que tem tudo para ganhar uma boa sobrevida na semana que vem, com mais uma etapa em circuito urbano, nas ruas de Baku, no Azerbaijão, onde o clima pode pegar fogo novamente.

            Max Verstappen teve o resultado que precisava em Mônaco. Além de um dia ruim para Lewis Hamilton e a Mercedes, o holandês ainda ganhou de presente a primeira posição do grid, depois que a Ferrari constatou quebra do semieixo traseiro, jogando completamente por terra a pole-position conquistada de forma dramática por Charles LeClerc, que tinha boas chances de lutar pela vitória em sua terra natal. Bater o carro no final do Q3 foi um anticlímax tenebroso para o monegasco, que havia marcado a melhor volta, e até então, era o pole-position. O câmbio escapou ileso à batida na saída da piscina, mas infelizmente o time italiano deu azar de ter surgido outro problema, que fez com que Charles nem pudesse largar. Uma pena realmente, pois com isso, Verstappen saindo na frente só perderia o GP se fizesse alguma besteira, o que não ocorreu.

            Mais do que a vitória entregue de bandeja com o abandono prematuro de LeClerc, o triunfo do holandês, aliado ao mau resultado de Hamilton, o catapultou para a liderança do campeonato, com 105 pontos, tornando-se o primeiro holandês a liderar o campeonato de F-1 até hoje, e a primeira vez que a Red Bull comanda a temporada desde 2013. Não só isso: com o mau resultado conjunto da Mercedes, o time dos energéticos também assumiu a dianteira do Mundial de Construtores, representando um revés duplo para o time alemão, que embora já previsse ter dificuldades na corrida do principado, esperava ao menos efetuar um controle de danos mais eficaz, e prevenir possíveis reveses. Bem, as coisas saíram mais ou menos: Hamilton não conseguiu avançar posições na pista, e ainda por cima, viu seu principal adversário no campeonato liderar de ponta a ponta, sem ter de se preocupar com ninguém, já que Carlos Sainz, apesar da boa prova, mostrou-se incapaz de tentar desafiar a liderança do piloto da Red Bull. Mas Lewis também não pode reclamar demais. O piloto inglês pontuou, apesar do 7º lugar, e conseguiu marcar a volta mais rápida, de forma a impedir que Verstappen abrisse maior vantagem na classificação.

            Se teve alguém que ficou extremamente chateado em Monte Carlo foi Valtteri Bottas, afinal, o finlandês teve um problema bizarro no pit stop, com a roda do pneu dianteiro não saindo, e com isso, forçando o seu abandono, quando tinha pretensões de pelo menos tentar desafiar a liderança de Max Verstappen, em uma corrida onde sua performance estava claramente acima de seu companheiro de equipe inglês. E para a Mercedes, era imperioso que o finlandês cumprisse essa missão. A situação inusitada não foi algo trivial, pois só com o retorno do carro à fábrica em Brackley que se poderia retirar a porca presa no pneu, mostrando a que ponto o azar atingiu o finlandês nos boxes do time em Mônaco. E depois disso, ter de ouvir alguns comentários que a Mercedes “sabotou” Bottas para tentar privilegiar Hamilton em Mônaco é demais...

            A corrida monegasca, como se previa, não foi nada empolgante. Mas serviu para incendiar a disputa do campeonato. Verstappen foi a 105 pontos, 4 de vantagem para Hamilton, e com isso, a briga nos próximos GPs, que corria o risco de vermos o inglês desembestar na liderança, promete ser mais quente do que se previa. E podemos esperar por mais briga em Baku, em virtude de ser um circuito de rua, embora com características diferentes de Mônaco, em especial a possibilidade de se ultrapassar. Contudo, é preciso ver como os carros se adaptarão à pista da capital do Azerbaijão. Em Mônaco, vimos a Ferrari se aproveitar das características do circuito para surpreender, e até ter chance de lutar pela vitória. E em Baku, será que o time de Maranello ainda conseguirá aprontar para cima dos rivais? Só saberemos nos treinos livres. E a Mercedes conseguirá retomar sua forma de antes, e disputar efetivamente a pole e a vitória? E o que poderemos esperar da Red Bull? Verstappen e a equipe rubrotaurina aproveitaram para tripudiar do mau dia da Mercedes em Monte Carlo, como que revidando as declarações anteriores de Hamilton e de Toto Wolf. É do jogo, mas torna-se imperativo ficar de olho na Mercedes. O time alemão já teve alguns momentos de reveses nestes anos de domínio da era híbrida, e maus dias sempre houveram, apesar de raros. O clima, segundo consta, ficou ruim no time alemão, mas como já disseram integrantes da própria Mercedes, eles tratam de estudar a fundo o dia ruim que tiveram, para analisar o que ocorreu, e tomar medidas para que isso não se repita, ou ao menos, prevenir ao máximo. E, pelo retrospecto destes últimos anos, o time de Brackley tem conseguido fazer sua lição de casa com louvor. Não foram poucas as apostas de que a Mercedes poderia desandar se pressionado pelos adversários, na pista e fora dela, apostando no comodismo de estar sempre vencendo... Bom, até aqui, estas apostas não se pagaram em nenhum momento... O que vimos foi sempre a Mercedes mostrando-se coesa e focada, e pior, com Lewis Hamilton ainda mais concentrado e determinado em colocar as coisas em seus devidos lugares. Portanto, atenção redobrada com os alemães na próxima corrida...

Sebastian Vettel (acima) desencantou com a Aston Martin em Mônaco, enquanto Lewis Hamilton (abaixo) teve seu pior resultado em corridas no ano.


            Na coluna passada eu mencionei que um dos méritos em Mônaco é que a pista oferece oportunidades de alguns pilotos conseguirem se destacar mais do que em outras pistas, especialmente se estiverem com equipamentos menos competitivos. O braço do piloto costuma aparecer mais nas ruas do principado, e com alguma sorte, conseguir brilhar no GP, em condições que seriam mais complicadas de se repetir em outras pistas. Bem, e não é que Sebastian Vettel finalmente mostrou a que veio em 2021? O alemão, agora na Aston Martin, foi um dos destaques da corrida monegasca, e conseguiu superar com um ritmo forte e uma boa estratégia de box pelo menos dois pilotos à sua frente na pista, um deles, Lewis Hamilton. O resultado foi um animador 5º lugar que abre a pontuação de Sebastian em seu novo time, e de quebra, andando à frente de Lance Stroll, que até agora tinha marcado os únicos pontos do time na temporada. Resultado importante também para a moral de Vettel, que passa Stroll na classificação do mundial, e deve dar um gás e renovada confiança no tetracampeão para começar a mostrar o que sabe em sua nova escuderia. Mas que ninguém se engane muito: o ritmo dos carros verdes ainda está devendo, e muito trabalho será necessário apenas para que seus pilotos sejam capazes de repetir a boa pontuação obtida em Mônaco.

            Quem também teve em Monte Carlo o seu melhor resultado no ano foi Sergio Perez. O piloto mexicano terminou em um honroso 4º lugar, depois de uma classificação onde ficou praticamente 1s atrás de Verstappen no grid, o que não agradava às necessidades da escuderia. Felizmente, com uma boa estratégia de corrida, o mexicano chegou mais à frente, e por algumas voltas, até pareceu que poderia tentar o pódio, pressionando Lando Norris, da McLaren, pelo 3º lugar. Mas ultrapassar nunca foi algo viável na pista, e o mexicano acabou mesmo em 4º. Está melhorando um pouco, mas ele mesmo sabe que precisa caprichar mais nas classificações, e não ter de recuperar posições na pista. Afinal, seu colega de time agora lidera o campeonato, e Perez, apesar de tudo, ainda está devendo um pouco. Mas já começa a mostrar mais empenho, e isso ajudou a Red Bull a superar a Mercedes na tabela de construtores, um objetivo claro da contratação do piloto mexicano pelo time dos energéticos. A diferença é mínima: 149 a 148 para o time austríaco, mas não deixa de ser um golpe no ego da Mercedes, que depois de duas provas onde parecia ter retomado o comando da competição, vê o reverso acontecer, com os rivais assumindo a ponta.

            Mas, há quem veja com bons olhos o mau resultado da Mercedes em Mônaco, afirmando que, uma hora ou outra, alguma coisa poderia dar errado, e neste aspecto, melhor que as coisas ruins tenham acontecido onde já se previa que poderia dar errado, e o time se concentrar em retomar o controle nas próximas corridas. Afinal, é um campeonato de 23 GPs, e não se pode dizer que as coisas já foram decididas com apenas 5 provas realizadas. Melhor ter azar agora e ter tempo para se recuperar à frente, do que ter problemas mais à frente, com menor tempo de reação. Então, podemos dizer que a disputa segue bem aberta. A Red Bull, que parecia ter sido superada pelo que havíamos visto em Portimão e Barcelona, pode ter assumido a dianteira, mas sendo o resultado de Mônaco algo um pouco fora dos eixos, as chances da Mercedes reassumir a dianteira nas próximas corridas é uma possibilidade mais do que real. Resta esperar que o time dos energéticos consiga aproveitar o momento para desenvolver melhor seu carro, e resgatar a vantagem de que parecia desfrutar no início do campeonato, mostrando que o visto em Mônaco não é apenas decorrente das características do GP monegasco.

            Com certeza poderemos esperar algumas boas emoções nas próximas corridas, ainda mais com os ânimos um pouco mais acirrados por parte da Mercedes e de Lewis Hamilton, que certamente não engoliram muito bem a derrota sofrida nas ruas de Mônaco. E conforme já mencionei, eles costumam reagir bem quando contrariados. Pode ser que as dificuldades agora sejam um pouco maiores, mas quem quer ser campeão não pode se dar ao luxo de escolher os momentos mais convenientes para ter de correr atrás do prejuízo. A Mercedes sabe bem disso, então vamos ver como se dará o duelo especialmente na próxima corrida, semana que vem. E que possamos ver um bom duelo pelo campeonato... Mônaco, apesar dos pesares de uma corrida sem maiores emoções, conseguiu cumprir com o seu papel e entornar um pouco o caldo da competição. Aproveitemos a oportunidade...

 

Lando Norris conseguiu um pódio para a McLaren em Mônaco.

 

Um time que teve altos e baixos em Mônaco foi a McLaren. Com uma pintura especial nos carros, homenageando a empresa Gulf, o time de Woking viveu duas realidades diferentes na corrida do principado. Enquanto Lando Norris conseguiu largar entre os primeiros, e com o abandono de Valtteri Bottas ganhou a chance de subir ao pódio, e obter um excelente resultado, Daniel Ricciardo não se achou durante todo o final de semana em casa, e largou bem atrás no grid, fazendo uma corrida burocrática e sem brilho, para terminar apenas em 12º lugar, sem marcar pontos, e ainda levando uma volta do companheiro de equipe. Como a Ferrari também ficou no meio a meio, vendo Charles LeClerc ter de abandonar a corrida antes mesmo de largar depois de conquistar a pole-position, sobrou apenas para Carlos Sainz Jr. honrar a equipe de Maranello na corrida, com um 2º lugar, mas sem ter tido chances de discutir a liderança com Max Verstappen. Com isso, no campeonato, a McLaren manteve sua 3ª colocação, com 80 pontos, acossada pela Ferrari, que vem logo atrás com 78 pontos. No campeonato de pilotos, Norris retomou a 3ª colocação, indo a 56 pontos, com o abandono de Valtteri Bottas, que manteve seus 47 pontos. O pódio de Sainz Jr. o deixou bem próximo de LeClerc na classificação, com o monegasco ocupando a 6ª posição, com 40 pontos, enquanto o espanhol vem logo atrás, em 7º, com 38 pontos.

 

 

A disputa do mundial de F-1 na próxima corrida, em Baku, ganha contornos mais apimentados depois de Max Verstappen declarar, após vencer em Mônaco, que Lewis Hamilton “não teve de lutar efetivamente” para ser campeão do mundo nos últimos anos. Para o piloto holandês, a posição de supremacia da Mercedes fez com que o inglês duelasse apenas com seu próprio companheiro de equipe, de modo que Hamilton não foi verdadeiramente desafiado na luta pelo título da F-1. Só que a declaração parece ignorar que Lewis foi derrotado por Nico Rosberg em 2016, assim como o fato de Sebastian Vettel ter dado luta em pelo menos duas temporadas. Mas, o holandês simplesmente minimizou o duelo oferecido pelo então piloto da Ferrari, declarando que aquela luta não foi efetiva de fato como um duelo pelo título. Uma afirmação que, no fundo, denota uma falta de respeito pelos resultados conquistados por Lewis Hamilton, mesmo levando em conta o período de supremacia da Mercedes nas pistas desde 2014. Max também se declara forte o suficiente para encarar o desafio de lutar pelo título, aproveitando o momento em que assume a liderança na classificação do campeonato. Bem, está criado o clima belicoso para inflamar a disputa nas próximas corridas, inclusive com torcedores de ambos os pilotos ajudando a apoiar o lado de cada um deles, com discussões acaloradas nos forúns de internet mundo afora. O duelo promete ser apertado, mas pelo que vimos até aqui, salvo alguns percalços, Hamilton não está deixando a desejar no duelo com o holandês, tendo se mostrado também firme e focado na briga na pista. E é tudo que os fãs querem ver: uma rivalidade declarada na pista e fora dela. E quanto mais o clima pegar fogo, melhor. Vamos ver quem vai dar as cartas nas próximas etapas...

 

 

Max Mosley, ex-presidente da FIA entre 1993 e 2009, faleceu nesta última segunda-feira, 24 de maio, aos 81 anos. A morte foi anunciada por Bernie Ecclestone, amigo e aliado de longa data de Mosley, que foi um dos fundadores da March nos anos 1970. Eleito presidente da FIA em 1993, sucedendo o polêmico Jean-Marie Balestre, Mosley teve participação fundamental no objetivo de melhorar a segurança da F-1 após o fim de semana trágico de Ímola em 1994, quando faleceram Ayrton Senna e Roland Ratzenberger. Junto com Ecclestone, ajudou a “enterrar” as equipes pequenas na F-1, além de limitar o número de times na competição, visando atrair as montadoras, movimento que não foi tão bem-sucedido como se esperava, já que em seus últimos anos à frente da FIA, começou a bater de frente com estas montadoras, ao alegar que elas não tinham compromissos duradouros com o esporte. Tentou implantar um teto orçamentário, a fim de minimizar os altos custos de competição, mas não teve força política para levar a medida adiante. Prejudicado pela revelação de um vídeo onde participava de uma orgia sexual onde aparecia vestido de oficial nazista, acabou enfraquecido politicamente, e em 2009, não concorreu à reeleição para presidência da FIA, que acabou assumida por Jean Todt, que ocupa o cargo até hoje. Curiosamente, este ano a F-1 finalmente implantou um teto orçamentário, na tentativa de manter mais viáveis os custos de competição na categoria máxima do automobilismo...

 

 

E teremos a realização das 500 Milhas de Indianápolis neste domingo, com transmissão ao vivo a partir das 13 horas pela TV Cultura. Tony Kanaan larga em 5º, e é nosso representante com melhores chances de vitória na corrida. Hélio Castro Neves parte em 8º, e temos Pietro Fittipaldi largando em 13º. Boa sorte a nossos pilotos na busca pela vitória na corrida deste ano.

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