sexta-feira, 7 de maio de 2021

ACABOU A DISPUTA?

A Mercedes pareceu levar alguma vantagem na corrida de Portugal, dominando a corrida com alguma segurança, apesar dos esforços de Max Verstappen. Efeito da pista, ou o time alemão está de fato retomando as rédeas da competição?

            E Lewis Hamilton venceu mais uma corrida. O piloto da Mercedes chegou ao seu 97º triunfo na F-1 domingo passado cruzando em primeiro lugar no GP de Portugal, no mesmo palco onde, no ano passado, havia se tornado o novo recordista de vitórias da categoria máxima do automobilismo, ao averbar sua 92ª vitória, e deixar para trás o recordista anterior, o heptacampeão Michael Schumacher. Max Verstappen bem que tentou, mas acabou novamente perdendo o duelo, e ficou em 2º lugar, com Valtteri Bottas fechando o pódio em um 3º lugar que poderia ter sido até 2º, não fosse um problema de sensor que limitou a potência de sua unidade de força. O heptacampeão abriu 8 pontos de vantagem para o piloto holandês, que estava com uma expressão bem contrariada ao fim da corrida. Já acabou a disputa pelo título de 2021, como alguns até começam a apregoar mundo afora?

            Eu não começaria a comemorar, ou a desgostar de tal fato. Tem muito chão pela frente ainda, e o que vimos em Portimão pode mudar de pista para pista, começando já neste final de semana, em Barcelona, onde teremos o GP da Espanha, novo palco da temporada, onde certamente haveremos de ver um novo embate entre o piloto da Mercedes e o da Red Bull. Max cometeu alguns erros na etapa portuguesa, mas Hamilton também deu alguns escorregões. Mas o novo triunfo do inglês parece ter sido um golpe forte para o piloto holandês, que desandou a fazer críticas, e até a desejar “nunca mais voltar a Portimão”, reclamando do piso de baixa aderência do circuito lusitano. Bom, mas isso foi igual para todo mundo. A diferença é que alguns conseguiram se virar melhor com isso do que outros, assim como alguns times em relação a outros, de modo que a choradeira de Verstappen está sendo encarada mais como choro de perdedor. Ou seria a frustração de ver que, mesmo dando tudo de si, Max não estava conseguindo se impor contra Hamilton e Bottas como precisava fazer? OK, ele superou o finlandês, mas Bottas teve um problema em sua unidade de potência que lhe roubou força em determinado momento da corrida, o que facilitou a Verstappen superá-lo na pista, o que poderia não ter ocorrido caso isso não ocorresse. Para alguns, isso denota que a Red Bull já não teria a mesma vantagem que se viu na pré-temporada, com a campeã Mercedes conseguindo equilibrar o jogo, e até já conseguindo retomar o favoritismo no campeonato, ainda que por margem estreita, sobre a rival dos energéticos.

            Ou pode ter sido um caso específico para a pista de Portimão, que pode não se repetir em Barcelona, palco da corrida deste fim de semana. O circuito da Catalunha até estaria sendo visto com certa preocupação por Toto Wolf, chefe da Mercedes, a respeito das possibilidades da escuderia neste GP. Um detalhe interessante sobre a pista de Barcelona é que seu traçado possui vários tipos de curvas, tendo sido, na maioria dos últimos anos, o palco mais utilizado para os testes da pré-temporada, uma vez que esta variedade de curvas permite à pista expor as virtudes e defeitos dos carros que lá competem. Se for verdade que a Mercedes deu sorte em Portimão, então isso pode de fato mudar as perspectivas em Barcelona, uma vez que a pista catalã poderia ressaltar os problemas de instabilidade apresentados na traseira do carro alemão, enquanto o monoposto rubrotaurino, mais bem concebido e aerodinamicamente estável, poderia ter suas qualidades ressaltadas, e demonstrar supremacia no GP da Espanha.

Lewis Hamilton (acima) chegou a 97 vitórias e mais importante, abriu 8 pontos de vantagem na classificação. E Max Verstappen (abaixo) estava bem azedo ao fim da corrida, declarando que espera não voltar mais a Portimão. O holandês sentiu o golpe?
           


            Uma dúvida que poderemos começar a ver parte da resposta já nos treinos livres de hoje. Se a Red Bull de fato se ajustar melhor à pista, certamente vai querer mostrar isso de forma clara, até para tentar abalar a confiança da Mercedes, e reafirmar que Portugal teria sido um ponto fora da curva, com o time austríaco ainda a gozar de certa vantagem técnica no campeonato. Depois de ter uma pré-temporada complicada, e ver uma Red Bull mais forte do que nunca, muitos se perguntavam como a Mercedes reagiria para tentar manter seu domínio na F-1. Se o GP do Bahrein mostrou que, com um pouco de sorte e estratégia, e a garra de Lewis Hamilton, poderia reequilibrar a disputa, ainda favorável a Max Verstappen e à Red Bull em termos técnicos, o triunfo do holandês em Ímola, apesar da performance confiante do holandês, ficou a dúvida de quão contundente seria sua vitória, se Hamilton não errasse e saísse da pista, quase abandonando a corrida ali mesmo na curva Tosa, e tendo a sorte de retomar a prova e ainda terminar em 2º. Uma volta mais rápida nos últimos instantes do GP da Emilia-Romagna conferiu a Lewis manter a liderança do campeonato por apenas 1 pontos. A expectativa de um duelo ferrenho entre ambos pelo título vinha se confirmando. E, em Portugal, apesar de pequena, pareceu que a Mercedes tinha uma vantagem na pista, a ponto de Bottas ter conseguido a pole-position, apesar dos erros de Verstappen na classificação. Será que a reação da Mercedes já chegou? É a grande pergunta do momento, e cuja resposta é crucial tanto para o time alemão quanto para a Red Bull. Por isso mesmo, a necessidade de se impor na pista, e descobrir se o que vimos no Algarve foi de fato real, ou uma melhor adaptação da Mercedes à pista em relação à Red Bull. Se os rubrotaurinos retomarem a dianteira na pista catalã, o duelo tem tudo para seguir pelo resto do ano, sem que saibamos quem poderá levar a taça, pois até aqui, tudo indica que será uma disputa onde quem errar menos sairá vitorioso. Sempre se falou que o sucesso na F-1 reside nos detalhes, e isso vai ser conferido a fundo este ano entre os dois principais pilotos de ambas as equipes. E para quem achava que Hamilton, depois de dominar nos últimos anos sem ter tido uma ameaça de fato real na luta pelo título, ao menos em tempo integral, poderia sair em desvantagem na briga, o inglês está mostrando estar mais afiado do que nunca para o duelo. Tem cometido alguns erros, mas até agora tem conseguido contornar, com alguma sorte, estes percalços, para azar de Verstappen, que na sua melhor chance de ser campeão até agora, precisa se esmerar para não dar vantagem ao rival, assim como sua equipe.

            Considerado um talento até maior do que Hamilton para muitos, Verstappen obviamente foi alçado ao posto de favorito principal na luta pelo título, depois dos bons resultados da Red Bull na pré-temporada, e da excelente classificação no grid do Bahrein, onde enfiou um tempo considerável em Hamilton. Apesar de sair derrotado no domingo, todos viram que foi por pouco, e que ele ainda era, disparado, a carta principal do baralho, mesmo que Lewis ainda pudesse dar trabalho. E o triunfo em Ímola serviu não apenas para desabafar, como até reafirmar o favoritismo ao título. Algo parecido com o que vimos na temporada de 1993, quando Alain Prost era o favorito destacado, e Ayrton Senna, com um carro inferior, o azarão. Bem, o brasileiro deu trabalho, mas a certo momento da temporada, o favoritismo de Prost e da equipe Williams, a potência da F-1 naqueles tempos, se impôs. Aconteceria isso novamente agora?

            Bem, tudo indica que a Mercedes conseguiu corrigir parte do comportamento arisco da traseira do modeloW12, um carro que é bom lembrar nunca foi considerado ruim, apenas não era tão competitivo quanto o modelo RB16B da Red Bull. Dominante na F-1 desde o início da era híbrida, em 2014, a Mercedes já havia dado mostras de que sua supremacia desde então não se devia apenas uma excepcional unidade de potência, a melhor do grid desde 2014, mas também à qualidade de seus pilotos, e à incrível coesão de seu grupo técnico, que sempre soube reagir nos momentos em que foi necessário dar uma resposta à concorrência, o que ocorreu em algumas ocasiões, especialmente quando a Ferrari surgiu como uma ameaça forte em 2017 e 2018. A Red Bull, por outro lado, sempre começava o ano atrás, mas conseguia grandes progressos na segunda metade das temporadas, por vezes até chegando perto da Mercedes, mas sem chances reais de ameaçar a luta pelo título, fosse de pilotos, ou de construtores. Mas, nestes momentos de aproximação dos rubrotaurinos, é de se ressaltar que o time alemão, com muita vantagem na tabela, muitas vezes já estavam concentrados no projeto do ano seguinte, de modo que seu carro já não tinha atualizações, o que explica parte da aproximação dos rivais, sem contestar a qualidade de seus trabalhos e esforços em tentar chegar mais perto.


Max Verstappen ainda está tendo problemas com os limites de pista. Em Portimão, perdeu a melhor volta da corrida por extrapolar o limite da zebra, um aviso que foi dado de forma clara aos pilotos no fim de semana.

            Mas, e agora, quando a Mercedes, enfim, começou o ano de forma mais débil que seu maior oponente? Esquecem-se que em 2017, a Ferrari saiu melhor na primeira metade do ano, e os alemão tiveram que suar para retomarem a dianteira, o que foram conseguir na segunda metade, tentando na primeira apenas não deixar os italianos desgarrarem demais na frente. Quando a Mercedes conseguiria virar o jogo nesta temporada? Ainda mais com limites orçamentários, e tendo que dividir atenção com o projeto de 2022, sob novas regras técnicas, e frente a um time onde seu corpo técnico também é de respeito, a começar por Adrian Newey, mago da aerodinâmica na F-1? Os esforços empreendidos em Brackley sugerem que a Mercedes pode ter conseguido equilibrar o jogo com a Red Bull, mas ainda é preciso comprovar isso de forma mais realista. E a Red Bull não ficou tanto assim para trás, como se presume pelo que vimos em Portimão. Se foi uma sorte com a pista, Barcelona poderá responder se a Red Bull ainda tem toda a força da pré-temporada, ou se o jogo está de fato, equilibrado. Estas duas hipóteses ainda nos conferem a esperança de uma temporada extremamente disputada entre os dois times e entre Hamilton e Verstappen, para deleite dos fãs da velocidade, que há tempos almejam por esse embate titânico na pista.

            Por outro lado, existe a chance de a Mercedes realmente ter retomado a dianteira, e seu carro hoje ser novamente o melhor da F-1, mesmo sem apresentar aquela vantagem absurda de tempos recentes. Não precisa ser uma vantagem grande, claro, mas apenas suficiente para “podar” as asas da Red Bull em suas expectativas de luta pelo título. E, se isso de fato ocorrer, seria um golpe contundente no time austríaco se a Mercedes deixasse isso claro em Barcelona. Poderia abalar o moral do time dos energéticos, e de sua principal estrela, Max Verstappen. O holandês, aliás, sofreria outro duro golpe, depois da derrota em Portimão, onde viu os carros alemães à sua frente, mas com poucas chances de superá-los. E o sonho de enfim ser campeão, novamente escapar entre seus dedos... Um golpe também para a Honda, que não mediu esforços para deixar a F-1 em estado de graça, principalmente com a conquista do título, e ter conseguido progressos notáveis em sua unidade de potência este ano, ajudando a Red Bull a estar em sua melhor forma desde a temporada de 2013, seu último ano como campeã da categoria máxima do automobilismo.

            Será que teremos uma resposta clara neste final de semana? A Mercedes conseguiu reverter as expectativas? Hamilton voltará a nadar de braçada rumo ao título? Ou a Red Bull continuará sendo favorita, precisando apenas aparar suas arestas e eliminar seus passos em falso? Verstappen continuará vindo com tudo, ou poderá se deixar abalar mais do que deveria, se acabar se frustrando mais uma vez? Vejamos o que a pista de Barcelona nos mostrará...

 

 

A pista de Barcelona terá uma novidade este ano: a curva 10 foi reabilitada para sua antiga configuração, quando possuía um raio mais longo e progressivo, que era utilizado até a primeira metade da década retrasada, quando foi substituída por uma curva mais fechada, obrigando os competidores a fazer uma freada mais forte. Enquanto o pessoal da MotoGP elogiou a iniciativa, alguns da F-1, como Lando Norris, questionaram se a mudança da curva favorecerá ultrapassagens no local. Para o piloto da McLaren, o fim da necessidade de frear forte no trecho irá dificultar as possíveis ultrapassagens, já que os carros contornarão a curva em velocidade maior. A área de escape no local também recebeu as devidas mudanças para conferir segurança ao trecho recuperado. Para alguns, seria preciso também eliminar a chicane no trecho final do traçado, que quebra a velocidade dos carros na entrada da reta dos boxes, dificultando as manobras de ultrapassagem no local. Infelizmente, Barcelona não tem rendido boas corridas na F-1 nos últimos anos, mas não é apenas culpa da pista: o excesso de testes feitos no circuito em quase todas as pré-temporadas dos últimos anos fizeram com que os times conhecessem praticamente cada centímetro do traçado catalão, de modo que todos tem os melhores ajustes para a pista, o que dificulta surgirem surpresas nos treinos, e muito menos na corrida, em condições normais, o que tem resultado na maioria das vezes em autênticas procissões em alta velocidade no GP da Espanha, o que possivelmente poderá se repetir mais uma vez este ano. A conferir...

 

 

E a Bandeirantes vai completando o rol de anunciantes da Fórmula 1. No início das transmissões, em março, apenas a Claro havia comprado cota de transmissão na emissora paulista. Agora, já para este final de semana, já temos quatro anunciantes: além da Claro, temos a Philco e a Heineken, que entraram depois. E nesta semana, o Banco do Brasil juntou-se ao grupo, perfazendo um total de quatro anunciantes, e mostrando que a aposta da emissora na categoria máxima do automobilismo começa a se mostrar promissora do ponto de vista econômico. Falta a audiência melhorar, mas em alguns momentos, a Bandeirantes já tem conseguido até chegar à vice-liderança no horário das corridas, o que não deixa de ser significativo. A Globo ainda segue na ponta da audiência, mas já há quem diga que a antiga casa da F-1 no Brasil começa a se sentir incomodada com a escalada da Bandeirantes. Seja como for, os fãs da velocidade aos poucos vão conhecendo o modo como a nova emissora está tratando a F-1, e apesar de precisar melhorar em alguns pontos, o panorama vem sendo positivo, e esperemos que continue evoluindo e melhorando a cada nova corrida...

 

 

E a Formula-E está de volta a Monte Carlo para a disputa do ePrix de Mônaco. E a grande novidade será o uso do traçado utilizado pela Fórmula 1 pela primeira vez na categoria dos carros monopostos totalmente elétricos, que nas edições anteriores utilizava uma versão reduzida da pista monegasca, cortando logo após a Saint Devote para descer rumo à marina, utilizando todo o trecho junto ao porto, passando pela piscina e pela Rascasse. Serão inevitáveis as comparações com o desempenho dos F-1 frente aos da F-E, esquecendo-se de que os carros elétricos tem uma proposta diferente, e sua evolução claramente ainda está muito distante dos carros da categoria máxima do automobilismo. Mas poderemos ter uma idéia mais próxima de quão grande é esta diferença, lembrando que os carros da F-E vão pouco a pouco melhorando de performance, e devem ser ainda mais rápidos quando passarem a utilizar o novo modelo Gen3 futuramente. Em teoria, a velocidade mais baixa, se comparada à F-1, deve oferecer melhores chances de ultrapassagem no circuito monegasco, algo muito difícil de ser feito na F-1. Geralmente as corridas da categoria sempre são mais agitadas por correrem em pistas de rua. Veremos o que poderão render no traçado integral de Monte Carlo... A corrida tem largada às 11 hrs. deste sábado, com transmissão pelo SporTV2 na TV por assinatura e pela TV Cultura em sinal aberto.

Acima, o traçado do ePrix de Mônaco utilizado nas edições anteriores. Abaixo, o traçado da prova deste ano, aproveitando o traçado da F-1.


 

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