Eu não começaria a comemorar, ou a desgostar de tal fato. Tem muito chão pela frente ainda, e o que vimos em Portimão pode mudar de pista para pista, começando já neste final de semana, em Barcelona, onde teremos o GP da Espanha, novo palco da temporada, onde certamente haveremos de ver um novo embate entre o piloto da Mercedes e o da Red Bull. Max cometeu alguns erros na etapa portuguesa, mas Hamilton também deu alguns escorregões. Mas o novo triunfo do inglês parece ter sido um golpe forte para o piloto holandês, que desandou a fazer críticas, e até a desejar “nunca mais voltar a Portimão”, reclamando do piso de baixa aderência do circuito lusitano. Bom, mas isso foi igual para todo mundo. A diferença é que alguns conseguiram se virar melhor com isso do que outros, assim como alguns times em relação a outros, de modo que a choradeira de Verstappen está sendo encarada mais como choro de perdedor. Ou seria a frustração de ver que, mesmo dando tudo de si, Max não estava conseguindo se impor contra Hamilton e Bottas como precisava fazer? OK, ele superou o finlandês, mas Bottas teve um problema em sua unidade de potência que lhe roubou força em determinado momento da corrida, o que facilitou a Verstappen superá-lo na pista, o que poderia não ter ocorrido caso isso não ocorresse. Para alguns, isso denota que a Red Bull já não teria a mesma vantagem que se viu na pré-temporada, com a campeã Mercedes conseguindo equilibrar o jogo, e até já conseguindo retomar o favoritismo no campeonato, ainda que por margem estreita, sobre a rival dos energéticos.
Ou pode ter sido um caso específico para a pista de Portimão, que pode não se repetir em Barcelona, palco da corrida deste fim de semana. O circuito da Catalunha até estaria sendo visto com certa preocupação por Toto Wolf, chefe da Mercedes, a respeito das possibilidades da escuderia neste GP. Um detalhe interessante sobre a pista de Barcelona é que seu traçado possui vários tipos de curvas, tendo sido, na maioria dos últimos anos, o palco mais utilizado para os testes da pré-temporada, uma vez que esta variedade de curvas permite à pista expor as virtudes e defeitos dos carros que lá competem. Se for verdade que a Mercedes deu sorte em Portimão, então isso pode de fato mudar as perspectivas em Barcelona, uma vez que a pista catalã poderia ressaltar os problemas de instabilidade apresentados na traseira do carro alemão, enquanto o monoposto rubrotaurino, mais bem concebido e aerodinamicamente estável, poderia ter suas qualidades ressaltadas, e demonstrar supremacia no GP da Espanha.
Considerado um talento até maior do que Hamilton para muitos, Verstappen obviamente foi alçado ao posto de favorito principal na luta pelo título, depois dos bons resultados da Red Bull na pré-temporada, e da excelente classificação no grid do Bahrein, onde enfiou um tempo considerável em Hamilton. Apesar de sair derrotado no domingo, todos viram que foi por pouco, e que ele ainda era, disparado, a carta principal do baralho, mesmo que Lewis ainda pudesse dar trabalho. E o triunfo em Ímola serviu não apenas para desabafar, como até reafirmar o favoritismo ao título. Algo parecido com o que vimos na temporada de 1993, quando Alain Prost era o favorito destacado, e Ayrton Senna, com um carro inferior, o azarão. Bem, o brasileiro deu trabalho, mas a certo momento da temporada, o favoritismo de Prost e da equipe Williams, a potência da F-1 naqueles tempos, se impôs. Aconteceria isso novamente agora?
Bem, tudo indica que a Mercedes conseguiu corrigir parte do comportamento arisco da traseira do modeloW12, um carro que é bom lembrar nunca foi considerado ruim, apenas não era tão competitivo quanto o modelo RB16B da Red Bull. Dominante na F-1 desde o início da era híbrida, em 2014, a Mercedes já havia dado mostras de que sua supremacia desde então não se devia apenas uma excepcional unidade de potência, a melhor do grid desde 2014, mas também à qualidade de seus pilotos, e à incrível coesão de seu grupo técnico, que sempre soube reagir nos momentos em que foi necessário dar uma resposta à concorrência, o que ocorreu em algumas ocasiões, especialmente quando a Ferrari surgiu como uma ameaça forte em 2017 e 2018. A Red Bull, por outro lado, sempre começava o ano atrás, mas conseguia grandes progressos na segunda metade das temporadas, por vezes até chegando perto da Mercedes, mas sem chances reais de ameaçar a luta pelo título, fosse de pilotos, ou de construtores. Mas, nestes momentos de aproximação dos rubrotaurinos, é de se ressaltar que o time alemão, com muita vantagem na tabela, muitas vezes já estavam concentrados no projeto do ano seguinte, de modo que seu carro já não tinha atualizações, o que explica parte da aproximação dos rivais, sem contestar a qualidade de seus trabalhos e esforços em tentar chegar mais perto.
Por outro lado, existe a chance de a Mercedes realmente ter retomado a dianteira, e seu carro hoje ser novamente o melhor da F-1, mesmo sem apresentar aquela vantagem absurda de tempos recentes. Não precisa ser uma vantagem grande, claro, mas apenas suficiente para “podar” as asas da Red Bull em suas expectativas de luta pelo título. E, se isso de fato ocorrer, seria um golpe contundente no time austríaco se a Mercedes deixasse isso claro em Barcelona. Poderia abalar o moral do time dos energéticos, e de sua principal estrela, Max Verstappen. O holandês, aliás, sofreria outro duro golpe, depois da derrota em Portimão, onde viu os carros alemães à sua frente, mas com poucas chances de superá-los. E o sonho de enfim ser campeão, novamente escapar entre seus dedos... Um golpe também para a Honda, que não mediu esforços para deixar a F-1 em estado de graça, principalmente com a conquista do título, e ter conseguido progressos notáveis em sua unidade de potência este ano, ajudando a Red Bull a estar em sua melhor forma desde a temporada de 2013, seu último ano como campeã da categoria máxima do automobilismo.
Será que teremos uma resposta clara neste final de semana? A Mercedes conseguiu reverter as expectativas? Hamilton voltará a nadar de braçada rumo ao título? Ou a Red Bull continuará sendo favorita, precisando apenas aparar suas arestas e eliminar seus passos em falso? Verstappen continuará vindo com tudo, ou poderá se deixar abalar mais do que deveria, se acabar se frustrando mais uma vez? Vejamos o que a pista de Barcelona nos mostrará...
A pista de Barcelona terá uma novidade este ano: a curva 10 foi reabilitada para sua antiga configuração, quando possuía um raio mais longo e progressivo, que era utilizado até a primeira metade da década retrasada, quando foi substituída por uma curva mais fechada, obrigando os competidores a fazer uma freada mais forte. Enquanto o pessoal da MotoGP elogiou a iniciativa, alguns da F-1, como Lando Norris, questionaram se a mudança da curva favorecerá ultrapassagens no local. Para o piloto da McLaren, o fim da necessidade de frear forte no trecho irá dificultar as possíveis ultrapassagens, já que os carros contornarão a curva em velocidade maior. A área de escape no local também recebeu as devidas mudanças para conferir segurança ao trecho recuperado. Para alguns, seria preciso também eliminar a chicane no trecho final do traçado, que quebra a velocidade dos carros na entrada da reta dos boxes, dificultando as manobras de ultrapassagem no local. Infelizmente, Barcelona não tem rendido boas corridas na F-1 nos últimos anos, mas não é apenas culpa da pista: o excesso de testes feitos no circuito em quase todas as pré-temporadas dos últimos anos fizeram com que os times conhecessem praticamente cada centímetro do traçado catalão, de modo que todos tem os melhores ajustes para a pista, o que dificulta surgirem surpresas nos treinos, e muito menos na corrida, em condições normais, o que tem resultado na maioria das vezes em autênticas procissões em alta velocidade no GP da Espanha, o que possivelmente poderá se repetir mais uma vez este ano. A conferir...
E a Bandeirantes vai completando o rol de anunciantes da Fórmula 1. No início das transmissões, em março, apenas a Claro havia comprado cota de transmissão na emissora paulista. Agora, já para este final de semana, já temos quatro anunciantes: além da Claro, temos a Philco e a Heineken, que entraram depois. E nesta semana, o Banco do Brasil juntou-se ao grupo, perfazendo um total de quatro anunciantes, e mostrando que a aposta da emissora na categoria máxima do automobilismo começa a se mostrar promissora do ponto de vista econômico. Falta a audiência melhorar, mas em alguns momentos, a Bandeirantes já tem conseguido até chegar à vice-liderança no horário das corridas, o que não deixa de ser significativo. A Globo ainda segue na ponta da audiência, mas já há quem diga que a antiga casa da F-1 no Brasil começa a se sentir incomodada com a escalada da Bandeirantes. Seja como for, os fãs da velocidade aos poucos vão conhecendo o modo como a nova emissora está tratando a F-1, e apesar de precisar melhorar em alguns pontos, o panorama vem sendo positivo, e esperemos que continue evoluindo e melhorando a cada nova corrida...
E a Formula-E está de volta a Monte Carlo para a disputa do ePrix de Mônaco. E a grande novidade será o uso do traçado utilizado pela Fórmula 1 pela primeira vez na categoria dos carros monopostos totalmente elétricos, que nas edições anteriores utilizava uma versão reduzida da pista monegasca, cortando logo após a Saint Devote para descer rumo à marina, utilizando todo o trecho junto ao porto, passando pela piscina e pela Rascasse. Serão inevitáveis as comparações com o desempenho dos F-1 frente aos da F-E, esquecendo-se de que os carros elétricos tem uma proposta diferente, e sua evolução claramente ainda está muito distante dos carros da categoria máxima do automobilismo. Mas poderemos ter uma idéia mais próxima de quão grande é esta diferença, lembrando que os carros da F-E vão pouco a pouco melhorando de performance, e devem ser ainda mais rápidos quando passarem a utilizar o novo modelo Gen3 futuramente. Em teoria, a velocidade mais baixa, se comparada à F-1, deve oferecer melhores chances de ultrapassagem no circuito monegasco, algo muito difícil de ser feito na F-1. Geralmente as corridas da categoria sempre são mais agitadas por correrem em pistas de rua. Veremos o que poderão render no traçado integral de Monte Carlo... A corrida tem largada às 11 hrs. deste sábado, com transmissão pelo SporTV2 na TV por assinatura e pela TV Cultura em sinal aberto.
Acima, o traçado do ePrix de Mônaco utilizado nas edições anteriores. Abaixo, o traçado da prova deste ano, aproveitando o traçado da F-1. |
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