E acabou-se a falação. Foi confirmada esta semana a renovação, pelo período de cinco anos, o contrato de realização do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, que estará presente no calendário da categoria máxima do automobilismo em 2021, se tudo correr normalmente. E no seu palco mais tradicional: o circuito José Carlos Pace, em Interlagos, São Paulo, capital. E boas novas (ou más, para alguns): os direitos de transmissão seguem indefinidos para o próximo ano, mas com a Globo confirmando que está negociando a permanência do campeonato em sua grade de programação. Ainda não está confirmado, mas tudo indica que podemos ter novidades em breve, com os fãs tendo a oportunidade de continuarem a ver as provas em TV no Brasil. Dois anúncios muito importantes, e que servem para recolocar as coisas em seus devidos lugares, depois de muita conversa fiada, esquemas frouxos, e indefinições para o próximo ano.
Muitos se perguntavam como é que a Liberty Media aceitou negociar os direitos da F-1 para o Brasil com a Rio Motorsports, especialmente sabendo o que ocorreu em relação aos direitos de transmissão da MotoGP em nosso país, com a empresa dando um calote na Dorna, e obrigando a Disney, proprietária dos canais Fox Sports, que passaram a transmitir as provas da motovelocidade, a acertarem as pendências, a fim de manter as transmissões que vinha fazendo. Ainda mais se levarmos em conta que os direitos da F-1 são bem mais caros do que os da MotoGP. Se o grupo já não tinha honrado os compromissos com a entidade que organiza o campeonato das duas rodas, como se esperava aguentar o compromisso com a categoria máxima do automobilismo?
E antes os problemas fossem referentes apenas aos direitos de transmissão de campeonatos esportivos, mas o buraco da Rio Motorsports é muito mais embaixo, e cheio de furos e confusões, que podem ser resumidos em poucas palavras: Autódromo de Deodoro. Sim, o “fabuloso” novo circuito de classe internacional da cidade do Rio de Janeiro, que em breve sediará provas tanto da F-1 quanto da MotoGP... Se ele existisse de fato, ou fosse construído realmente, o que não vai acontecer... Pelo menos, não tão já, especialmente depois da reprovação dos relatórios ambientais sobre a Floresta do Camboatá, onde a pista seria erguida. Uma história cabeluda, e cheia de detalhes obscuros, onde basta apenas saber que não teria como dar certo. Ninguém sabia dizer como a Rio Motorsports arranjaria o dinheiro necessário para uma obra de tal magnitude, e por mais que houvessem promessas de não uso de dinheiro público, podem estar certos de que haveria maracutaias no meio, envolvendo nomes graúdos da classe política, e outros.
Uma história que já
vem de mais de uma década, e que nada de positivo promoveu até agora, muito
pelo contrário. Uma conversa fiada que serviu de pretexto para se destruir o
circuito de Jacarepaguá, para a construção, a toque de caixa, do tão propalado
Parque Olímpico, com vistas aos Jogos Panamericanos, e por fim, os Jogos
Olímpicos. Um projeto que certamente encheu as burras de dinheiro de muita
gente, em esquemas e negociatas que não trouxeram benefício nenhum à cidade do
Rio de Janeiro, além dos prejuízos das contas e manutenção das estruturas de
competição erguidas. Estruturas que hoje caminham para se tornarem ruínas em
tempo recorde, em mais um flagrante caso de dinheiro jogado fora, às custas do
contribuinte, sem mencionar que entre os jogos pan-americanos e os olímpicos, o
complexo ainda passou por “reformas de adequação”, desculpa cretina para
roubarem ainda mais dinheiro dos trouxas que, lamentavelmente, acreditaram
nesta ladainha toda, preferindo a euforia e a embriaguez de sediarmos
competições de nível “mundial”. Um festival de rolos e picaretagens que, pelo
menos no caso do autódromo, não será levado a cabo, ao menos conforme eles
esperavam.
Tanto que a própria Rio Motorsports, vendo que a barra certamente iria pesar, e que desta vez poderia não conseguir se safar ou enrolar o suficiente para evitar ter de dar explicações, “abriu mão” dos direitos da F-1, que estão novamente sem nenhum detentor no Brasil. A desculpa para justificar tal atitude foi outra furada, alegando que o impacto da pandemia comprometeu a viabilidade da operação, etc e tal. Ora, mas a compra dos direitos já tinha sido “oficializada” em plena pandemia, e não antes, com todo o seu impacto econômico já sendo sentido há vários meses... E olhem que nas últimas semanas, vínhamos tendo boatos de que a TV Cultura poderia até ser a nova emissora da F-1 no Brasil, em um acordo de transmissão que parecia até razoável, de acordo com as especulações.
A pista de Interlagos continuará sediando o GP brasileiro de F-1, para felicidade dos fãs da velocidade.
Mas, esqueçam tudo
isso. A F-1 continua no Brasil, e no seu melhor, aliás único, palco capaz de
receber a categoria máxima do automobilismo, o Autódromo de Interlagos. O novo
contrato, assinado esta semana, é por cinco anos, com opção de renovação por
igual período, o que sugere que a F-1 deve continuar por aqui pelos próximos
dez anos. Os valores do acordo não foram divulgados, mas tudo indica que foram
aceitos e combinados, e com isso, o circuito paulistano deve continuar firme e
forte por mais uma década, com seus planos de privatização deixados de lado por
enquanto, conforme pretendia o governador de São Paulo, um dos mais empenhados
nesta pretensão até algum tempo atrás. E a turma que defendia a F-1 no Rio de
Janeiro quebra a cara de forma incontestável, e eles não foram os únicos a ter
de voltar atrás em seus planos.
Em primeiro lugar, friso com todas as letras que não sou contra o Rio de Janeiro ter um novo autódromo. Muito pelo contrário. E nem torço contra o Brasil. O Rio merece, e muito, voltar a ter uma praça automobilística, como já aconteceu no passado. O que não se pode aceitar é que isso seja feito da maneira errada, e com pilantragens e politicagens rasteiras. O Estado do Rio está um caos, tanto financeiro quanto administrativo, e isso se deve aos picaretas dos políticos, e seus aliados, que há décadas vem pilhando a entidade federativa, e deixando a população ao deus-dará. Ou acham que é mera coincidência os governadores das últimas duas décadas e pouco mais estarem todos na cadeia ou enrolados com a justiça, se não por causa dos rolos e roubalheiras que fizeram? E olhem que ainda há muitos outros políticos vigaristas, e muitos outros patifes ligados a eles, que ainda precisam ir parar atrás das grades e restituírem os imensos prejuízos causados à população. Essa história malfadada do Autódromo de Deodoro não acaba por aqui. Podem estar certos de que, mais dia, menos dia, essa turma voltará com tudo tentando recomeçar esse projeto que só tem como objetivo garantir lucros e vantagens, não necessariamente legítimos, a um grupo com interesses escusos, e que não estão nem aí para as necessidades do povo. Foi um recuo tático para não se comprometerem, visto que não conseguiriam dar conta da situação.
Que tudo seja feito da maneira correta, e que no futuro, o Rio possa ter de fato uma praça esportiva para as competições do esporte a motor, mas que isso não seja realizado através de mamatas e politicagens vagabundas. O povo merece mais respeito, tamanho o descaso já recebido até aqui. E olhe que há muito a ser acertado, e vai ser difícil colocar as coisas nos eixos, até pelo rumo das eleições municipais deste domingo, levando-se em conta os candidatos na disputa, sendo que alguns deles deveriam estar vendo o sol nascer quadrado, fosse este um país sério...
E quem não lidou com a coisa de forma séria nisso foi a Liberty Media, para cair numa conversa sem garantias da Rio Motorsports, e que agora se vê obrigada a negociar com a Globo para tentar manter a F-1 em evidência na TV brasileira. Os executivos do grupo norte-americano devem ter caído mais em si depois da divulgação dos prejuízos causados pela pandemia da Covid-19, e que os números de audiência da categoria no Brasil são de fato importantes para as estatísticas de alcance mundial que a F-1 apresenta a seus patrocinadores potenciais. Um desfalque da F-1 na programação da TV brasileira impactaria estes números, especialmente em um momento onde vários patrocinadores, diante dos problemas da pandemia, estão revendo seus gastos, já que suas receitas também foram afetadas, e que para se manter os valores pagos normalmente, é preciso que hajam números de audiência que os justifiquem, ou do contrário, o que veremos são mais empresas preferindo gastar suas verbas em outros lugares... Algo que causaria pesadelos para a Liberty Media, que na ânsia de querer aproveitar-se do momento, pode ter exagerado na dose quando começou a negociar a renovação com a TV Globo impondo valores mais elevados aos já cobrados no antigo contrato...
E, gostem ou não, a Globo é a emissora nacional com o maior alcance e estrutura técnica para se transmitir a F-1. Falou-se em um possível acordo com a TV Cultura, que precisaria montar uma equipe de transmissão caso quisesse exibir a categoria máxima do automobilismo, em especial um time de reportagem para acompanhar in loco todas as corridas mundo afora, além da contratação de pessoal especializado como narradores e comentaristas. Mas haveria outro problema também: o alcance nacional da emissora pública paulista, que embora possa ser captada livremente em todo o Brasil, não possui a mesma penetração da Globo, apresentando índices de audiência muito mais modestos. Mesmo que a presença da F-1 turbinasse a audiência da Cultura, isso impactaria negativamente nos preços de patrocínio a serem cobrados por quem quisesse anunciar nas transmissões, gerando muito menos receita, e talvez, não permitindo a viabilidade da operação, diante dos gastos necessários para o projeto deslanchar.
E com os prejuízos batendo à porta, parece que a Liberty Media acordou, e viu que precisará ser mais flexível na negociação dos contratos de transmissão. E não apenas com a Globo, mas com as demais emissoras que transmitem as corridas, que certamente também viram suas receitas com as transmissões das corridas diminuírem, e vão querer readequar seus gastos. Ou então a F-1 ficaria “encalhada”, sem ter interessados em transmitir as corridas. Exagero? Talvez, mas como afirmei, em um momento onde é preciso garantir o fluxo de caixa positivo, ou o menos negativo possível, querer cantar de galo pode ser um verdadeiro tiro no pé. Para a Globo “topar” continuar exibindo as corridas, certamente só concordará em pagar um valor mais condizente, até porque as condições certamente serão outras, como a vinda do serviço oficial de streaming da F-1 para o Brasil, o que deixaria o produto não sendo “exclusivo” da TV Globo, e por isso mesmo, valendo menos a ser pago, já que a Globo terá concorrência às suas exibições. Em teoria isso poderia ser positivo, pois a Liberty Media quer um tratamento melhor por parte da emissora, que há tempos relegou os treinos livres e classificatório apenas aos canais pagos do SporTV, além de não exibir mais o pódio, e se alguém notou, recentemente a emissora anda boicotando até mesmo o clipe oficial de abertura das transmissões, fazendo seus narradores e comentaristas batendo papo durante este momento. Mesmo que tenha que se contentar com um valor menor a receber pelos direitos de transmissão, a concorrência com o streaming poderia fazer a Globo ter de melhorar um pouco sua transmissão das corridas, se não quiser perder audiência, e com isso, não poder cobrar tanto de seus anunciantes interessados.
A Globo, por outro lado, pode também ter dado um golpe de mestre, ao anunciar que não iria mais transmitir a F-1, e com isso, fazer a Liberty Media se enrolar sozinha, ao se associar à Rio Motorsports, sabendo que o grupo não teria suporte para levar seus planos adiante, e que agora, novamente procurada pelos norte-americanos, que se veem pressionados por seus patrocinadores, terão de ser menos duros na negociação de um novo acordo de transmissão. Com o GP do Brasil assegurado no calendário, o que era um ponto crucial para se manter o interesse dos fãs no país, é claro que torna-se atrativo para a Globo continuar como emissora oficial da F-1 no Brasil, pelo preço certo, é claro.
Ao que parece, teremos um horizonte muito mais promissor no Brasil para a F-1 do que poderíamos esperar há várias semanas. Muito se falou e muito se prometeu, mas o castelo que se erguia promissor desmoronou a olhos vistos, e agora, é preciso trabalhar para não se perder o que já se tinha conquistado por aqui. Um pouco de realidade vem a calhar, especialmente neste momento onde vemos muitas conversas idiotas proliferarem-se pelo país e pelo mundo, sobre os mais variados assuntos, ajudando somente a causar celeumas e confusões entre as pessoas...
Momento de decisão na MotoGP neste final de semana. Com a vitória alcançada no domingo passado, Joan Mir, da equipe Suzuki, tem 37 pontos de vantagem na liderança da classe rainha do motociclismo, e pode encerrar a fatura, conquistando o título da temporada 2020, caso mantenha diferença de 26 pontos ao fim da prova no domingo em Valência. Ficará restando então apenas a etapa de Portugal, em Portimão, para fechar a temporada, com um máximo de 25 pontos em jogo. Fabio Quartararo, o vice-líder, levou um belo tombo, literalmente, em suas pretensões de título ao cair logo nas primeiras voltas na corrida de domingo passado, e terá de torcer para um milagre para que Mir não saia do circuito Ricardo Tormo com a taça da temporada. Algo complicado, uma vez que o piloto da equipe rival japonesa tem se mostrado eficiente e prudente nas últimas etapas, sem se envolver em confusões na pista. Como desgraça pouca é bobagem, as motos da Yamaha tiveram um desempenho ridículo na pista valenciana no último domingo, enquanto a Suzuki andou bem e fez dobradinha no pódio, com Alex Rins terminando em 2º lugar. Se a marca nipônica dos três diapasões não acertar o rumo de suas motos, a Suzuki não precisará nem fazer muito esforço para conquistar o título da competição. O FoxSports mostra a corrida ao vivo a partir das 10 horas da manhã.
E outra decisão, a mais óbvia do ano, até agora, é a da Fórmula 1, com Lewis Hamilton tendo a chance de encerrar matematicamente a disputa de 2020, e levantar o seu heptacampeonato. O palco é o belo circuito de Istambul, que voltou ao calendário diante dos problemas causados pela pandemia do coronavírus. Circuito muito elogiado pelos pilotos, a pista turca tem tudo para promover uma boa corrida, se bem que as Mercedes continuam deitando e rolando em qualquer tipo de pista. Depois da prova turca, termos ainda a rodada dupla em Sakhir, no Bahrein, e a etapa final, em Abu Dhabi. E, devido ao recrudescimento de casos da pandemia, a F-1 voltará a ter um GP com portões fechados. A TV Globo exibe a prova a partir das 7 horas de domingo. Hamilton tem 85 pontos de vantagem sobre Valtteri Bottas. Se chegar à frente do finlandês, em qualquer posição, encerra a disputa do título.
Vista área do belo traçado da pista de Istambul, onde a F-1 corre neste final de semana.
Um comentário:
Muito estranha essa história. Fica óbvio que tem coisas que nunca foram divulgadas para o público. Primeiro a Liberty Media flerta com um projeto nebuloso e cheio de inconsistências e irregularidades como esse do autódromo de Deodoro no Rio. Depois é anunciado oficialmente o contrato com a Rio Motorsports, uma empresa no mínimo duvidosa. Agora de repente o contrato é "rescindido", sem explicações, sem esclarecer que tipo de cláusula de rescisão existia.
Será que tudo isso foi um grande blefe, e desde o início se pretendia manter Interlagos e a Globo, apenas tentando o ângulo mais vantajoso possível?
A Liberty Media tem executivos experientes; antes da assinatura do contrato já sabiam do calote da Rio Motorsports envolvendo a MotoGP e a Fox sports e mesmo assim levaram o negócio em frente. Eles sabiam perfeitamente que nenhuma outra TV aberta no Brasil tem a infraestrutura da Globo para transmissão. Também tinham conhecimento - como disse o Dória - que Interlagos já é um autódromo pronto e não apenas um projeto duvidoso.
Tem muito mais coisas aí do que foi divulgado.
De todo o artigo só não concordo que Interlagos seja o único autódromo no Brasil em condições de receber um GP de F1.
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